Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 22 de setembro de 2012


De volta ao começo
 
Pois é, amigos leitores, depois de passar o ano de 2011 em Vitória da Conquista, apoiando minha filha e dando aulas numa Faculdade de Arquitetura, depois ficar entre Brasília e Fortaleza o primeiro semestre de 2012 e apenas em Fortaleza após o falecimento de minha mãe, no final de maio, finalmente retorno para minha casa na minha pequena e querida Rio de Contas.
É como se eu tivesse dado a volta ao mundo e voltasse para casa.
Amo as noites estreladas e serenas desta cidade. Amo suas montanhas, o vento que balança as árvores da minha rua e que me trazem recados de lugares distantes, amo a educação e gentileza das pessoas, a maneira como seus habitantes sabem aproveitar a vida, apesar dos pesares, o cheiro das madrugadas, que tantas vezes me fizeram abrir minha porta e me sentar no muro da escola em frente, às quatro horas da manhã.
Venho de muitos sofrimentos e muitos descobrimentos também. Sofrimentos de dores de amores desfeitos e descobrimentos que fiz em viagens por lugares nunca dantes navegados, dentre os quais a África, o Ceará e o interior do Piauí, todos eles fascinantes.
Cabo Verde foi uma escola. Sentir o cheiro da África, pisar os meus pés nas suas terras, ver com meus próprios olhos como vivem nossos irmãos de lá, foi como retirar um véu que distorcia minha visão e me fazia enxergar aquele continente como se estivessemos no século XVI. A nova África está lá, esperando por nós, brasileiros, com suas contradições e suas belezas.
Bobagem ir a Europa, muito mais longe. Vão à África, nossa mãe. É linda e vale a pena.
O Piauí tambem foi uma surpresa, já contada também neste blog, principalmente o Vale do Gurguéia e o Parque Nacional da Serra da Capivara. Vale a pena conhecer.
Fiz essas viagens para amenizar a tristeza que me ia pelo peito e, junto com meu amigo Adriano Araujo, fui renascendo aos poucos, juntando os pedaços e voltando a vida, reconstruindo a vontade de viver, de fazer planos e de ser feliz.
O Ceará também foi muito importante. Não só pelas suas linda praias, mas pelo interior magnífico, muito mais desenvolvido do que supomos pelas lentes comprometidas das televisões sudestinas (Globo, Record, SBT e Bandeirantes). Ótimas estradas e cidades bem estruturadas, que revelam um estado em pleno desenvolvimento. Como diziam os mineiros na década de 60, o Ceará trabalhou em silêncio e é uma surpresa muito boa conhecê-lo.
Ao contrário do Piauí, não se trata de um potencial ainda começando a se desenvolver, mas de uma sociedade já muito avançada no seu crescimento e desenvolvimento, embora as marcas de séculos de pobreza e atraso ainda sejam visíveis.
Tudo isso foi muito bom, mas melhor ainda é poder voltar para Rio de Contas, onde tenho minha casa e meu escritório (que prazer em reabri-lo!) e poder reencontrar velhos amigos e conhecidos.
Viajar é ótimo, mas voltar pra casa é o melhor da viagem.
Pra quem não sabe, Rio de Contas e uma pequena e linda cidade da Chapada Diamantina, na Bahia, onde enterrei meu coração.


Rapidinhas

Incêndios em favelas

    
     Não é estranha a sequência de incêndios em 34 favelas de São Paulo, a cidade governada pelos conservadores do PSDB de Serra, junto com o PSD (ex-DEM) de Kassab?
     Todas as favelas incendiadas se encontram em terrenos altamente valorizados, em áreas centrais da capital paulista. No último, no início da semana passada, a Prefeitura não forneceu nenhum apoio aos moradores, que passaram a noite ao relento. Uma empresa nas imediações foi quem abriu suas portas para acolher os que ficaram sem suas casas.
     Carlos Lacerda, quando incendiava as favelas do Rio de Janeiro na década de 60, pelo menos retirava os moradores. Agora parece que grupos ligados aos especuladores, com o silêncio cúmplice da direita que governa a cidade, decidiu queimar as favelas com os moradores dentro.
     Qualquer semelhança com os fornos crematórios nazistas não é mera coincidência.

Provocações
 

     E por falar em nazismo, o filme com críticas ao Islamismo, feito por um amador nos Estados Unidos, seguido da publicações de charges contra o Islã por um semanário francês, são manifestações explícitas de intolerância religiosa, que escondem o racismo contra árabes e até contra os judeus (no caso do semanário francês).
     Porque atacar assim uma religião que tem centenas de milhões de seguidores no mundo?
     Como nos sentiríamos se eles começassem a publicar charges ofensivas sobre Jesus Cristo?
     Isso é um absurdo, uma provocação fascista, que se esconde sob o manto da liberdade de opinião.
     Acho que o princípio da liberdade religiosa deve estar acima do suposto direito das pessoas dizerem o que querem. A liberdade de se expressar não pode servir para ameaçar a liberdade dos outros de professarem sua fé. 
     Por muito menos Julian Assange está preso numa embaixada em Londres e o soldado americano que revelou os telegramas ao site Wikileaks, está preso incomunicável, nos Estados Unidos, o que mostra que a tal liberdade de expressão pode ser restrita, quando incomoda os poderosos.
     E na França, a justiça proibiu manifestações de muçulmanos contra a publicação. Mas manifestar-se publicamente também não se enquadra no livre direito de expressão? Então existe liberdade para axincalhar uma religião e não há liberdade para manifestar o desagrado com isso?
     Todas as religiões unem a humanidade em torno da idéia de um ser divino e, como tal, merecem ser respeitadas. A liberdade de culto é um direito fundamental reconhecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O ataque contra o islamismo é um ataque contra a liberdade religiosa de todos nós.

A Máfia da CBF


     Romário, mais uma vez, denunciou o técnico Mano Menezes e a CBF, pela prática de associação entre a convocação de jogadores  e a valorização de seus passes para venda ao exterior, que estaria beneficiando dirigentes brasileiros, em prejuízo da qualidade da nossa seleção.
     Nesta última denúncia ele pede a intervenção da Presidente Dilma Roussef na entidade que comanda o nosso futebol, para acabar com as negociatas que estão fazendo fortunas às custas da nossa seleção nacional.
     O estranho é que os grandes órgão de imprensa silenciaram sobre as denúncias do baixinho, como se estivessem participando do esquema.
     Está na hora de abrir essa caixa preta chamada CBF e fazer uma faxina lá dentro.
     A vitória da seleção por 2x1 contra a fraquíssima seleção argentina não convenceu ninguém, muito menos os torcedores que foram ao estádio Serra Dourada em Goiânia e pediam a volta de Felipão.

Poesia da Semana
 
Pus meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois abri o mar com as mãos,
para meu sonho naufragar.
 
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
 
O vento vem vindo de longe
a noite se curva de frio
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio...
 
Chorarei quanto for preciso
para fazer com que o mar cresça
e o meu navio chegue ao fundo
e meu sonho desapareça.
 
Depois tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas
 
Cecília Meireles




O Paiz

A praça é do povo

     O comício do candidato do PDT, Cristiano, em Mato Grosso, distrito a 1.500 metros de altitude, no município de Rio de Contas, na Chapada Diamantina, mostrou que quando o povo quer, não há articulação ou manipulação eleitoreira que consiga impedir que ele tome as praças e expresse a sua vontade de mudança.
     O atual prefeito, e sua equipe inerte, que passaram quatro anos perseguindo os cidadãos riocontenses sem trazer nenhum benefício à cidade, usaram de todos os métodos lícitos e ilícitos para impedir a aliança entre todas as forças vivas da cidade para tirá-los do poder.
     Até a falsificação de atas da convenção do PT foi tentada, mas quanto mais eles querem obrigar o povo a votar no seu esquema falido e corrupto, mais o povo se revolta e apóia o 12, do candidato da oposição.
     A situação me lembra uma fábula árabe: o sol e o vento, ao observarem um homem caminhando com um grosso casaco, apostaram sobre quem seria capaz de fazê-lo tirar seu abrigo.
     O vento então soprou uma rajada traiçoeira, que quase levou o casaco do homem, mas este, se sentindo atingido pelo frio conseguiu segurar seu abrigo e apertá-lo em torno de seu corpo. E quanto mais o vento soprava, mais o homem apertava o casaco.
     Depois foi a vez do sol e bastou este aparecer com força para que o homem retirasse seu abrigo.
     Moral da história: não é com violência e força que se conseguem as coisas, mas com razões.
     A praça da pequena e histórica Mato grosso, onde ocorreu a primeira descoberta de ouro na Bahia, no início do século XIX, se encheu de alegria e esperança no domingo, na maior concentração de sua longa história.
     Foi uma festa bonita e uma linda prévia do que o povo está preparando para o dia 07 de outubro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Paiz



Lógica Corporativa, lógica burocrática e lógica cidadã

     Impressinonante como as empresas tentam impor aos cidadãos a lógica que rege seus negócios. O mundo corporativo é movido por uma cultura própria, baseada na competição e que valoriza a capacidade de convencimento e de liderança.
     Quem já trabalhou em grandes empresas sabe o que é ouvir essas aulinhas de como se comportar, como ser "ético" (ou o que eles consideram que seja ética, como por exemplo, não usar produtos dos concorrentes), como "vender" sua imagem para ser bem sucedido, influenciando pessoas e chefes para conseguir bons resultados no seu trabalho, e até como se pronunciar nas redes sociais, evitando ser crítico, para que o olho dos empresários na rede não identifique na pessoa uma possível fonte de problemas.
     Por outro lado, quem já trabalhou em órgãos públicos sabe como funciona a lógica da burocracia. "quem pode manda e quem tem juízo obedece", diz um dos mais odiosos ditados brasileiros, que serve de justificativa para toda corrupção que anda por aí. Aliás a corrupção também existe nas empresas privadas e, frequentemente, anda de mãos dadas com a corrupção nos órgãos públicos, como podemos ver nos esquemas denunciados no escândalo conhecido como Mensalão.
     Mas a lógica burocrática, fundamentalmente, busca a riqueza através do poder, enquanto a lógica corporativa é o inverso, buscando o poder através da riqueza.
     A lógica burocratica preza antes de tudo a obediência, que garante a eficiência do poder exercido pelos que estão no comando, e através dele, seu acesso à riqueza. A lógica corporativa preza a eficiência, que garante os lucros que vão gerar o poder, que se estrutura ao redor do dinheiro.
     Contra as duas, existe a lógica da cidadania, que é a do bem estar coletivo, dos direitos civis e humanos, que se estruturam através das leis. É a lógica do progresso da humanidade em direção à um mundo melhor, onde todos tenham acesso aos bens e serviços que os valorizem como ser humanos e lhes permitam buscar a felicidade.
     O entrelaçamento dessas três lógicas, desses três discursos, se dá nos meios de comunicação e nos chamados "aparelhos ideológicos" da sociedade, (escolas, mídia, igrejas, etc), resultando numa formação discursiva que pode tender mais para uma ou para outra lógica.
     No capitalismo extremado a lógica corporativa transforma tudo em mercadoria, enquanto nos regimes com tendências estatizantes a lógica da obediência, baseada no patriotismo e em outras justificativas, prevalece. Nas sociedades profundamente democráticas, a lógica da cidadania se sobrepõe às outras duas e as domina, transformando empresas e Estado em instrumentos de progresso da humanidade.
     Nada disso, porém, fica claro para a população, que oscila entre uma e outra lógicas, enquanto vai formando sua experiência de vida coletiva. Países mais desenvolvidos tendem à terceira lógica, a da cidadania, mas como todos os demais, sofrem intensa pressão dos outros dois grupos.
     O Brasil avançou muito na cidadania, mas ainda não foi capaz de identificar com clareza os grupos que trabalham contra ela, seja no poder estatal, seja no mundo corporativo.
     O julgamento do mensalão talvez seja uma excelente oportunidade para passar isto à limpo, principalmente quando se conta com juízes da estatura de um Joaquim Barbosa, verdadeiramente comprometidos com a cidadania brasileira.
Rapidinhas
Bola murcha
     Me desculpem, mas os 8 x 0 sobre a China não me convenceram. Acho que arranjaram um adversário fácil pra encher a bola de Mano Menezes, um técnico que prima pela arrogância e pela incapacidade de montar um time ofensivo.
     Chega de terno Armani, imitando treinadores europeus, mas não resolve e na hora de dar entrevistas fica com aquela cara de idiota. Deve ter aprendido com aquele outro, o Parreira, com aquele sombrancelha levantada estilo Fabian da novela.
     Quando é que alguém vai ter coragem de desvendar a máfia que existe dentro da CBF, com treinadores convocando jogadores só pra valorizar seus passes e ganhar por fora? Romário fez uma denúncia grave sobre isto na semana passada, mas parece que a grande imprensa esta macomunada com tudo.
     Deve ter muito dinheiro rolando por baixo do pano.
     Enquanto isso, o hexa em 2014 parece um sonho cada vez mais distante.
Bola cheia
     Bahia e Vitória estão muito vivos no capeonato brasileiro, séries A e B. Os 4 x 0 do Bahia sobre o Vasco foram de tirar o fôlego (embora o Vasco não tenha jogado nada). Um time que estava na zona de rebaixamento, de repente crescer desse jeito, é mesmo impressionante.
     Enquanto isso, o Vitoria continua liderando a série B.
     Pelo visto, em 2013, se o mundo não acabar, teremos Bahia e Vitória na primeira divisão, com direito a Ba-Vi, na nova Arena da Fonte Nova, que está ficando belíssima.
     Só falta um prefeito que dê um jeito na capital bahiana.
     E viva a Bahia!

PIG, contas de luz e impostos


     A presidente Dilma teve a coragem de reduzir a conta de energia elétrica, contrariando o poderoso lobby das concessionárias de energia, que compraram as estatais no governo FHC a preço de banana.  
    A lógica  é simples: os tucanos diziam que o governo do PT não iria respeitar os contratos assinados durante a privatização, falta gravíssima no mundo corporativo e capaz de desmoralizar qualquer governo. Lula e Dilma respeitaram os tais contratos, que permitiam que empresas estrangeiras explorassem nosso mercado com preços abusivos durante 15 anos, mas agora o prazo dos contratos acabou, e a presidente pode estabelecer novos parâmetros para formação de preços, levando à redução.
     Durate os 15 anos em que os contratos duraram o PIG, Partido da Imprensa Golpista, leia-se Rede Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja, etc, nunca reclamaram dos preços, que impediam que os produtos brasileiros se tornassem competitivos no exterior.
     Agora que os preços foram reduzidos, imediatamente começaram as críticas, dizendo que os preços da energia no Brasil ainda são muito mais altos que o de vários países.
     A mesma coisa em relação aos impostos. O governo Dilma vem praticando a maior redução de impostos (ou mesmo a simples supressão deles), da história moderna brasileira. As manchetes da imprensa, no entanto variam sempre entre notícias negativas. Quando o governo arrecada muito, eles vem com o impostômetro, mostrando quantos dias os brasileiros tem que trabalhar para pagar impostos.
     Quando o governo abaixa os ditos impostos, a manchete muda para: cai a arrecadação fiscal, como se isso fosse uma coisa ruim.
     A verdade e que eles estão ficando sem ter o que dizer, enquanto assistem seus partidos de direita, DEM e PSDB, minguarem até a ameaça de extinção. Só falta agora alguém refundar uma imprensa séria neste país.

Poesia da semana

Soneto da fidelidade


De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Vinícius de Moraes
Site: Mundo das Poesias
http://mundo-das-poesias.blogspot.com/2012/08/soneto-de-fidelidade.html#ixzz26joj1RuQ
Hegemonismos
     Leio em alguns sites, debates entre "experts" norte-americanos sobre a possibilidade da China desafiar o que eles chamam de supremacia americana durante o século XXI.
     Uns apontam a decadência econômica dos Estados Unidos e a rápida ascenção da China, como indicador inequívoco de que os chineses vão ser a nova potência mundial até a metade do século. Outros dizem que não, que os Estados Unidos já deram mostras de que são capazes de se reinventar a cada crise e ressurgem sempre mais fortes e que a supremacia militar deles não poderá ser desafiada por nenhum país do mundo nos próximos 50 anos. Lembram que há alguns anos atrás se dizia que o Japão superaria os EUA e até mesmo a União Soviética iria ultrapassá-los, mas que nada disso aconteceu.
     O estranho nesse debate é que nenhum desses pensadores norte-americanos, sequer admite a possibilidade de um mundo sem hegemonias, um mundo de paz e cooperação, o que demonstra o caráter belicista do imaginário daquela nação, inclusive no seio das suas melhores universidades e, o que é pior, demonstra que não aprenderam nada com a história recente da humanidade.
     Me lembro que, na última grande expansão da União Européia, em 2004, alguns políticos daquele continente lembraram que todos, ou quase todos os países que formavam a nova União, já tinham sido impérios, em algum tempo da história. Ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, italianos, austríacos, húngaros, vikings, etc., e que todos tinham aprendido que os impérios são efêmeros, só levam à guerras e destruição e que só a cooperação e o respeito mútuo pode levar a um futuro de estabilidade.
     Quem diria, em 1939, que a máquina de guerra da Alemanha poderia ser vencida, tal a disparidade de forças entre os alemães e o conjunto dos demais países? Quem diria, em 1975, que o pequeno Vietnã, poderia vencer a incrível máquina de guerra americana que invadiu seu país com 500.000 soldados? E no entanto isso aconteceu.
     O presidente Obama, definiu uma nova estratégia militar para os Estados Unidos, elegendo a Ásia como o novo teatro de guerra americano, e fez isso no pressuposto de que a China passaria a desafiá-los cada vez mais naquela região do mundo. Agem como se o mundo fosse deles e qualquer desafio à sua hegemonia é considerado uma ameaça à sua segurança nacional.
     Não percebem que o mundo está cada vez menor e mais integrado, que as nações estão se democratizando rapidamente neste século (vide revoluções árabes) e se voltando para o desenvolvimento de suas potencialidades, o que só pode ser alcançado plenamente através da cooperação econômica. Daí ser natural o surgimento de áreas de integração econômica, como a União Européia, o Mercosul e outras pelo mundo, um mundo onde nações armadas querendo impor seus interesses aos demais vão se tornando cada vez mais anacrônicas.
     Não percebem, os experts americanos, que o que vencerá a hegemonia americana não será uma nova potência a desafiá-los, mas a cooperação cada vez maior entre as nações, e o nivelamento econômico entre elas, que forçará a nação norte-americana, em algum momento da sua história, a se reinventar de outra maneira, deixando de tentar se impor ao mundo como um poder coercitivo, que não passa de uma fachada para alimentar sua imensa indústria bélica, para se integrar verdadeiramente num mundo globalizado e unido por ideais de paz e desenvolvimento harmônico.
     Europeus, russos, chineses, indianos, africanos, árabes, assim como os latino-americanos e asiáticos em geral, já perceberam isso, enquanto os americanos ainda tentam desempenhar um papel que ficou para trás, desenhado por estrategistas do século XX para uma realidade que não existe mais.


domingo, 9 de setembro de 2012

 
O Paiz
 
Rifando o direito do povo
 
     Interessante como é a política na Bahia. O velho coronelismo e o carlismo marcaram muito esta sociedade, que luta para se libertar de suas velhas práticas. Até dentro de partidos ditos "de esquerda", como o PT, que vem renovando a política brasileira, ainda ocorrem essas manifestações.
     A eleição de Rio de Contas, pequena cidade na Chapada Diamantina onde exerço meu direito de voto, se transformou numa batalha judicial pela tentativa da direção estadual de impor uma aliança que a cidade toda rejeita, com o atual governo municipal, marcado pela perseguição política aos cidadãos e pelo imobilismo na gestão da cidade.
     Apesar do PT da cidade ter formado contra o atual gestor, numa frente com vários outros partidos da base aliada, o Diretório Estadual insiste em apoiar o prefeito, para sustentar uma aliança que formou em outro município, a 500Km de distância, numa barganha política onde o povo de Rio de Contas pagaria a conta.
     A população local, e o Partido na cidade resistem à esta imposição absurda, que tenta colocar no balcão de negócios da politicagem, o direito de escolher seu representantes na Cãmara e na Prefeitura.
     Reproduzo abaixo, na íntegra, documento (texto e foto) que recebi do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Rio de Contas, denunciando a ingerência ilegal do Diretório Estadual naquele município.
     A responsabilidade das afirmações contidas no documento é do Diretório Municipal do PT de Rio de Contas.
    
JONAS PAULO E O PT DE RIO DE CONTAS
Uma história de fraudes e falsificações
     O PT de Rio de Contas sempre fez parte da frente de Oposição à atual gestão questionável do prefeito Márcio de Oliveira Farias. Formou-se um bloco de oposição desde o ano de 2011, e em 2012 decidiu-se pelo apoio ao Dr Cristiano Cardoso do PDT como candidato à chapa majoritária e Wilton Silva, do PT como vice. Tudo normal, até aí. O que contaremos em diante demonstra a práxis fraudulenta e autoritária de como o senhor Jonas Paulo, presidente estadual do PT vem tratando sua própria militância nos interiores da Bahia e transformando esse partido em uma agremiação cartorial e em um balcão de negócios venais.    
     Em abril de 2012 o senhor Jonas Paulo juntamente com o senhor Alfredo Correia Neto, ex-candidato a prefeito pelo PT, em 2008, decidiram, de forma escusa, “entregar” o Partido dos Trabalhadores para o PSD, do prefeito Márcio Farias, como disseram várias vezes, e todas elas foram refutados pela maioria dos seus membros, inclusive a maioria da executiva municipal e do diretório municipal de Rio de Contas. Tentaram forjar um encontro municipal no dia 02 de junho de 2012, sem respeitar o estatuto, suprimiram membros filiados do PT, dentro do Sistema de Filiados (SISFIL). Ainda tentaram lançar um candidato à chapa majoritária dizendo que depois desistiriam em favor de outro candidato, ou seja, Márcio Farias. A reunião aconteceu num clima de grande tensão, e a executiva municipal entrou com um recurso na Comissão Executiva Estadual pedindo nulidade deste Encontro manipulado. Foi atendida, pois, sequer resolução alguma tinha tirado deste encontro.
     A decisão exarada pela Comissão Executiva Estadual na ocasião do recurso foi de remeter ao Diretório Municipal a decisão final para qual chapa apoiar. Foi realizada uma reunião dia 25 de junho de 2012  a portas fechadas, para a tomada de decisão,com 11 membros do Diretório Municipal,  com o acompanhamento de dois membros da Comissão Executiva Estadual, que vieram de Salvador especificamente para este fim. Desta reunião surgiu uma ata que comprova o que estamos falando. Havia duas propostas inicialmente, uma era para apoio ao PDT, com a vice na chapa, mais 13 candidatos a vereadores pelo PT em coligação com o PC do B, e a outra em apoio ao PSD, com o apoio a um candidato a vereador apenas. Um dos membros do DM no último minuto lançou uma terceira proposta: Neutralidade do PT nestas eleições. A primeira proposta venceu com 6 votos, ou seja, apoio ao PDT; a proposta de apoio ao PSD não teve nenhum voto, e a proposta da neutralidade teve 5 votos!!!Nem o vereador e o presidente da comissão executiva municipal votaram nesta proposta do PSD que tanto defendiam.
     A convenção já estava marcada para o dia 30 de junho, e aconteceu às 14:00 horas, com ampla participação popular, inclusive de todos os membros da Comissão Executiva Municipal, inclusive presidente Reginaldo Castro, secretário geral Carlos Correia de Oliveira e vereador Johny Abreu Silva. Foi fotografada, filmada, todos assinaram a ata lavrada, foram confirmados os candidatos a vereadores, enfim, foi uma convenção normal, com todos os seus ritos cumpridos, e esta ata teve 33 assinaturas.
     Registramos as coligações normalmente no TRE-BA, na Comarca Eleitoral de Livramento de Nossa Senhora. Tudo dentro da normalidade. Mas quando chegou dia 05 de julho, recebemos a notícia de que o Senhor Jonas Paulo tomou a decisão de “entregar” o PT ao prefeito Márcio Farias, ao PSD, condicionando esta entrega ao apoio do PSD de ITABUNA! Este documento que recebemos foi assinado pelo secretário geral do PT Estadual, conhecido como JOJÓ. Ficamos atônitos, perguntando como poderia isso ser possível , pois já tínhamos feito nossa convenção e registrado no TER. Então descobrimos que por orientação recebida, o secretário geral do PT municipal forjou uma outra ATA de uma Convenção que não existiu, assinada apenas por ele, pelo vereador Johny Abreu, e pelo presidente, Reginaldo Castro. Apenas três assinaturas!!! Mas ao termos o papel em mãos descobrimos que além de tudo, esta ATA FRAUDULENTA teve a assinatura do presidente FALSIFICADA!! E indicando como candidatos a vereador apenas dois membros, Johny Abreu e Marinilton Martins, este último nem assinou a ata. Esta ata coloca que a convenção teria sido realizada no mesmo espaço, mesmo horário que a CONVENÇÃO VERDADEIRA...
     E então entramos com um recurso na justiça eleitoral pedindo a nulidade desta ata e destas candidaturas. O senhor Jonas Paulo decidido a entregar o PT ao PSD, também entrou pedindo a anulação de nossa ATA. O promotor deu parecer favorável  e o juiz também deu sentença ratificando e mantendo nossa coligação com o PDT. Ao mesmo tempo, encaminhou à Polícia Federal  pedido de grafoscopia, para averiguar a falsificação de assinatura do presidente na ata fraudada.
     Na justiça estadual o desembargador considerou o recurso do senhor Jonas Paulo desprovido de fundamentos, acreditamos que por toda esta maracutaia que envolve a questão, e por não ter acrescentado nada de novo... O senhor Jonas Paulo, depois de tantas decisões contrárias a sua intenção, deve ter feito uma mágica, pois ontem, o desembargador Cintra, mudou completamente o que estava definido, por seus pares, e mandou o PT se entregar sem reclamações ao PSD do prefeito Márcio Farias.
Este prefeito ainda responde a um processo atualmente do Ministério Público que o denunciou por compra de votos através de doações de lotes em período proibido, com fraude em documentos e assédio e coerção de testemunhas.
Mas é este o quadro que a atual gestão do PT estadual apresenta. Desleal, desonesta, fraudulenta, venal e apoiadora de fraudulentos e desonestos pseudo-líderes políticos.


 
Rapidinhas
 
Pobre Salvador II
 
     Não voto em Salvador, mas tenho acompanhado o contraditório entre os candidatos à prefeitura da capital baiana.
     Mário Kertz parece ser o mais simpático e talvez o mais competente de todos, só não fala que é do mesmo partido do atual prefeito João Henrique, que aliás é uma espécie de fantasma que paira sobre a eleição: todo mundo critica a gestão, mas ninguém fala o nome dele. João Henrique, aliás, parece estar se vingando da cidade que só fala mal dele. Resolveu largar de mão.
     ACM Neto, esconde mais do que mostra. Suas propostas não significam nada, são apenas palavras vagas. "Vou chegar junto..." O que quer dizer isto? "Vou botar ordem na casa!" Isso me lembra o discurso da ditadura militar. O que será que ele quer dizer com isso? Que vai tirar os ambulantes que infestam as ruas da cidade? Baixar o cacete, no melhor estilo do seu avô?
     Pelegrino é um caso à parte. Apesar do apoio de Lula e Dilma, tem dificuldades pra crescer. Tudo que ele fala soa falso. Era melhor que ele não sorrisse, pois o sorriso também parece forçado. Ele é melhor sério, como o advogado que luta pelos pobres.
     Dele me lembro de ter ido à Ilhéus defender os estudantes que foram presos em 1989, quando eu liderava uma facção do PT, que fizeram um enorme protesto contra o aumento das passagens de ônibus no governo de Jabes Ribeiro. É uma lembrança boa, positiva.
     Mas não posso me esquecer de que ele foi o líder do governo na nefasta reforma da previdência que Lula fez em 2003 e que retirou direitos dos aposentados, violando inclusive o princípio constitucional dos direitos adquiridos. Ele como líder, não apenas defendeu a reforma, mas fez o serviço sujo de ameaçar com a expulsão do Partido os parlamentares que votassem contra. No balanço de prós e contras, não confio nele.
     Hamilton, do PSOL, é uma cara nova nas eleições e, pelo que eu soube, é um sujeito direito. Mas ele não faz propostas...só fica cantando ê,ê, ê, Hamilton 50... Podia dizer a que veio e o que faria no governo, afinal ele tem uns dois minutos, daria tempo.
     Marinho não significa nada. Da Luz é uma piada de mau gosto.
     Enquanto isso a cidade vai se acabando em buracos, sujeira e descaso. O Ministério Público deveria destituir o atual prefeito, por abandono das suas funções.
    
O fenômeno Freixo
     Marcelo Freixo vem crescendo nas pesquisas para prefeito do Rio de Janeiro.
     Ele ficou conhecido por combater as milícias cariocas e por ser um defensor dos direitos humanos.O personagem Freitas, do filme Tropa de Elite II, foi inspirado nele.
     Por sua luta contra as milícias, foi ameaçado de morte e teve que passar um tempo fora do Brasil com a sua família.
     Concorrendo pelo PSOL, Freixo tem pouco tempo de TV, mas conta com o apoio de artistas e intelectuais cariocas, como Chico Buarque de Holanda. Se continuar crescendo pode provocar um segundo turno e, quem sabe, uma reviravolta política na cidade que um dia já foi maravilhosa.
 
Esperança na Colômbia
 
 
     O presidente Santos, da Colômbia, confirmou  que serão abertas negociações entre o governo de seu país e as FARC, Forças Armadas revolucionárias da Colômbia, grupo guerrilheiro que atua desde a década de 1960 no país vizinho.
     Todos os países latinos exaltaram a iniciativa e até o Presidente dos EUA, mandou mensagem de congratulações a Santos. Apenas os republicanos norte-americanos e seu filhote, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, ficaram contra.
     Para o Brasil o fim desta guerra é muito importante, pois retira das nossas fronteiras o exército dos Estados Unidos, chamado por Uribe para ajudar a combater os guerrilheiros.
     Para o restante da América Latina também é um sinal de paz e novos tempos.
     Oxalá essas negociações sejam bem sucedidas e consigam integrar os grupos guerrilheiros na vida política colombiana, pela via constitucional.
 
Poesia da semana
 
     Reproduzo abaixo, a letra da música Revolta dos Malês, de Rafael Pondé.
     http://letras.mus.br/rafael-ponde/1049399/

 





Revolta dos Malês

Rafael Pondé

Perto do Abaeté tem um nego mandigueiro
Descendente do Malês, povo nobre e guerreiro
Faz dali o seu terreiro
Na roda de Capoeira ou orando ao Deus Allah
Veste branco às sextas-feiras
Usa xale e patuá
(seu avô era um Alufá)
Esse nego um dia fez revolta
A revolta dos Malês, foi na Bahia que se fez
A Revolta dos Malês
O canto de apear o boi
(foi o Male que trouxe)
E se você vestir um abadá
(foi o Male que trouxe)
O misticismo e a superstição
(foi o Malê que trouxe)
A moda de viola do sertão
(foi o Male que trouxe)
Tapas, Haussás, baribas
Negos e mandingas
A Revolta dos Malês foi na Bahia que se fez
A Revolta dos Malês


 
Um Rio Chamado Atlântico
A África no Brasil e o Brasil na África
 

     O que mais impressiona e surpreende o leitor deste outro livro, de Alberto da Costa e Silva, (Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro - 2011) é a percepção de quão intensa foram as relações comerciais e políticas entre Brasil e África, em séculos passados, relações estas destruídas deliberadamente pelo dominação britânica do Atlântico sul durante o século XIX.
      Ao contrário do livro anterior (A Manilha e o Libambo) a cuja resenha me dediquei nas últimas edições deste blog, Um Rio chamado Atlântico não é o resultado de uma pesquisa histórica, mas uma coletânea de artigos sobre o assunto, escrito em épocas diferentes e com o foco nas mútuas influências entre África e Brasil, perdidas da nossa memória coletiva por um século XX que nos apartou da nossa fronteira leste, o continente africano.
     Mais do que a desvendar, o livro se preocupa em restaurar ligações perdidas.
     Dentre as muitas verdades, restabelecidas pelo autor, vamos descobrindo que nossa maior ligação com a África, até o século XIX, não foi com a Luanda dos portugueses, mas com o golfo da Guiné, especialmente com Lagos na Nigéria, terra de iorubos, conhecidos no Brasil como nagôs, e cuja cultura foi a que mais resistiu às duras condições da escravidão no Brasil.
     Descobrimos que muitos príncipes vieram para o Brasil, enviados por seus inimigos, para os quais a escravidão era também uma forma de exílio, e que as sociedades secretas dos escravos os escondiam dos senhores brancos, preservando-lhes as identidades reais para protegê-los e que, muitas vezes, estas compravam suas alforrias, com suas pequenas poupanças, para mandá-los de volta, algumas vezes para que reassumissem suas funções reais.
     Descobrimos que os maracatus, onde um rei e uma rainha desfilam e são homenageados pelo povo, eram formas encobertas dos negros de render homenagem aos seus príncipes, ocultos no meio da escravaria e também que reis africanos mandavam seus filhos estudar na Bahia e que o Obá Osemwede, do Benin, e o Obá Osinlokun, de Lagos, foram os primeiros soberanos a reconhecer a independência do Brasil, formando, paradoxalmente, as últimas embaixadas de reinos africanos no nosso país, antes da partilha da África pelos europeus.
     Brazilian quarter, em lagos
     Resgatamos também o fato de que milhares de ex-escravos voltaram para a África (os retornados)e lá fundaram comunidades, mantendo alguns costumes adquiridos no Brasil. Não se integravam mais nas sociedades tribais, assim como também não tinham lugar no Brasil escravocrata, e formaram comunidades separadas, conhecidas como de brasileiros ou agudás e ergueram bairros inteiros como o Brazilian quarter na cidade de Lagos, assim como também no Togo e no antigo Daomé.
     Eles levaram para a África a arquitetura praticada no Brasil, na época, (foto acima) com a qual construíram suas residências, sobrados, igrejas cristãs e mesquitas. Ainda existem alguns exemplares dessas construções na moderna Lagos.(foto abaixo)
     Muitos descendentes desses retornados ainda falavam o português, no início do século XX e os mais velhos eram conhecidos como papais e mamães. Descobrimos também, que a famosa revolta dos malês, ocorrida na Bahia em 1835, foi um reflexo no Brasil de uma guerra santa, uma jihad islâmica, ocorrida na região do Iorubo, e comandada pelo Imame (líder espiritual) Usuman dan Fodio, cuja notícia chegou ao Brasil através dos navios negreiros, que muitas vezes traziam como cativos, prisioneiros dessas guerras e passavam a notícia aos seus compatriotas no Brasil. 
     A comunidade islâmica no Brasil, era formada por negros escravos e libertos, que mantinham sua fé oculta e professavam sua religião em segredo, já que oficialmente o Brasil imperial era um país católico e qualquer outro culto era considerado ilegal e perseguido como seita religiosa.
     Após o fim da rebelião, muitos revoltosos malés foram deportados de volta para Lagos e lá se juntaram à comunidade muçulmana local.
     Havia também muitos muçulmanos no Rio de janeiro, que se reuniam em locais privados para professar sua religião. Esses seriam descendentes do que Costa e Silva chama de diáspora baiana, formada por ex-escravos que foram da Bahia para o Rio, procurando afastar-se de seus antigos donos para começar uma vida nova. Teriam sido eles os responsáveis pela invenção do Samba, como já contam algumas resenhas da vida dos primeiros compositores do samba carioca, como Pixinguinha, todos filhos de baianas emigradas para o Rio de janeiro.
     Alberto da Costa e Silva afirma também ter visto no Senegal uma apresentação musical em que a música era idêntica ao frevo pernambucano, que ele suspeita ser, na verdade, um ritmo africano transplantado para o Brasil.
     Muito interessante é perceber que a dominação européia sobre a África foi historicamente curta: do final do século XIX a meados do XX, quando se formam as modernas nações africanas.
     Após ler Um rio chamado atlântico, me parece extremamente importante a retomada das relações do Brasil com a África, de onde veio aproximadamente a metade dos formadores da população do Brasil moderno. O colonialismo europeu nos separou das nossas raízes africanas e hoje estudamos os negros como se a história deles começasse nos navios negreiros.
      Conhecer a história das nossas relações com os povos africanos, assim como a mútua influência que Brasil e África exerceram um sobre o outro, é importante para compreender quem somos nós, quem são eles e traçar um novo rumo para as relações exteriores do nosso país.
 
     Para maiores informações sobre a influência do Brasil na África, através dos retornados, me parece interessante, também, a leitura do livro A Casa da Água, (editora Bertrand Brasil, editado originalmente em 1969) de Antonio Olinto, primeiro volume de uma trilogia sobre o tema.
 

     Maiores informações sobre este livro podem ser obtidas nos sites abaixo:
 
     

domingo, 2 de setembro de 2012

 
 
O Paiz
 
 
Privatizações x Concessões
 
     O governo Dilma vem lançando uma série de pacotes de concessões, como forma de relançar a economia, atingida pela crise dos países ricos. Primeiro foram alguns aeroportos, que precisavam ser redimensionados para receber os turistas da Copa de 2014 e para aguentar o aumento do tráfego interno de passageiros, que vem crescendo rapidamente.
     Depois seguiu-se uma nova rodada de concessões, envolvendo ferrovias, rodovias, portos e mais aeroportos, todas baseadas na lei de parcerias público-privadas (PPPs), aprovada durante o governo Lula.
     O PSDB apressou-se em dizer que o PT havia se rendido às privatizações, mas foi logo rebatido pelos petistas e pelo governo, que alegam que conceder não é privatizar, já que a propriedade permanece sendo pública, apenas sendo dada uma concessão de uso por tempo limitado, para suprir a falta de recursos para investir na infraestrutura, que o Brasil precisa modernizar urgentemente.
     Esta semana recebi da minha amiga Lilian Brower Gomes, uma análise sobre as concessões feitas pelo governo francês, ela que mora na França há tanto tempo, criticando este modelo, críticas que reproduzo abaixo:
     Aqui na França o resultado desse sistema de concessões é uma verdadeira catástofre que retira integralmente do Estado qualquer tipo de lucro, o torna dependente do dinheiro privado para a prestação de serviços ao público. Sem falar do roubo do dinheiro da população pois toda essa parte do financiamento à esfera privada vem do dinheiro público. A Sonia Rabelo mostrou isso muito bem com a história da concessão à General Motors de uma parte até agora preservada do Rio de Janeiro. Em geral aqui na França o Estado constrói as pontes e as rodovias com o dinheiro do contribuinte e depois faz as concessões para as empresas privadas que oferecem empregos precários com péssimas condições de trabalho. No caso da inglaterra deixaram a infra estrutura ferroviária se deteriorar até que o Estado fosse obrigado a retomar as rédeas, reinvestir para poder garantir um mínimo de serviço de transportes ao público....para depois fazer uma nova concessão. A empresa de trens da França era realmente ótima. Trens que respeitavam os horários, limpos, empregos sólidos. A parte do frete permitia arcar com a falta de rentabilidade do transporte de passageiros e garantir um serviço público de transportes de qualidade. Com os acordos da OMC o Estado foi obrigado a privatizar a parte de frete ferroviario, a dar em concessão sua infraestrutura feita com dinheiro público para empresas privadas que só exploram os trajetos rentáveis. Quem vai garantir os trajetos necessários ? Com que dinheiro ?
     Esse debate entre público e privado já vem de um tempo, desde o desmonte das economias estatais do bloco socialista, na década de 1990, e embora o modelo neoliberal esteja numa crise profunda, os principais países capitalistas e os agentes financeiros internacionais controlados por eles, como o FMI, o Banco Mundial e a própria Organização Mundial do Comércio, citada por Lilian, continuam a exigir que os governos implementem essas reformas privatizantes, para que recebam aportes financeiros.
     Qual é a lógica de tudo isso? Já não vivemos mais uma disputa ideológica entre capitalismo e socialismo, como no tempo da guerra fria, mas a essência desses dois sistemas parece subsistir nas disputas travadas entre as políticas econômicas implementadas pelo bloco dos países capitalistas, até pouco tempo chamado de centrais, (Estados Unidos, União Européia e Japão) e os países agora chamados de emergentes, dentre eles os chamados BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul).
     A diferença entre as políticas está no controle das políticas públicas, que no caso da Europa, EUA e Japão, permanece nas mãos do mundo corporativo (o grande capital), que decide os destinos da economia, como um governo invisível, enquanto nos emergentes está nas mãos do Estado. Então não se trata mais de privatizar ou estatizar, mas de impor à sociedade uma lógica que privilegia os interesses das grandes corporações ou sujeitar os interesses dessas corporações aos interesses do Estado, que teoricamente representa suas populações, ou seja, a cidadania dos seus países.
     No Brasil, as privatizações promovidas pelo PSDB foram realmente alienações do patrimônio público, objetivando entregar ao mundo corporativo, ou ao que eles gostam de chamar de mercado, a lógica que moldaria a própria sociedade. As concessões feitas pelo PT, parecem se pautar pelo modelo do capialismo controlado pelo Estado, ou seja, usa-se o dinheiro das corporações mas mantém-se a lógica que regula a sociedade nas mãos da cidadania.
     É claro que esse segundo modelo tem seus riscos, como bem define o comentário da minha amiga Lilian, pois a lógica pode acabar se invertendo, na medida em que o Estado comece a depender desses capitais para sobreviver, ou até para financiar certas campanhas eleitorais.
     É realmente o caso de se abrir esta discussão, para que ela se torne mais clara para o grande público.
 
 
Rapidinhas
 
E agora PT?
 
 
     Uma norma geral, para todos os partidos, é expulsar os membros flagrados em atos de corrupção.
     Todos tem feito isso, desde a direita mais sórdida à esquerda mais infantilóide. A excessão tem sido o PT. Desde o início das denúncias sobre o mensalão, ninguém foi expulso do partido, nem mesmo o ex-deputado José Dirceu, o comissário,(como é chamado pelo jornalista Elio Gaspari, se referindo aos antigos comissários políticos dos tempos das ditaduras stalinistas européias), acusado de ser o chefe da quadrilha.
     Esse tempo todo o partido vem batendo na tecla de que não existiu nenhum mensalão, que tudo foi invenção da imprensa.
     Bem, agora já temos gente condenada pelo Supremo Tribunal Federal: João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados. E agora, vão dizer que tudo foi invenção do STF? Não vão expulsar o dito cujo do partido?
 
 Nas asas da Embraer
 
     Esta semana fiz um ótimo voo num jato Embraer 195, da Azul Linhas Aéreas, entre Salvador e Fortaleza. Durante a a viagem, enquanto assistia ao entretenimento no pequeno monitor individual da minha poltrona, fiquei pensando:
     _Quem diria há alguns anos atrás, que o Brasil seria capaz de projetar e construir um avião como este, com a mais alta tecnologia embarcada?
     Os aviões da Embraer, pra quem não sabe, não tem aquela horrível poltrona do meio. São apenas dois assentos de cada lado. Muito conforto e espaço para as pernas.
     Mas quando se trata de automóveis, até hoje não fomos capazes de produzir uma marca própria. As fábricas instaladas no Brasil são todas estrangeiras e fabricam carros ao gosto do público dos seus países.
     Até a propaganda reforça isso, como se fossemos incapazes de fabricar um automóvel nosso. A Volkswagen faz questão de dizer que é alemã. Das auto (o carro), diz, nos seus anúncios. A Citroen também faz questão de dizer que é francesa, com seu slogan criative technologie (tecnologia criativa). E ainda tem aquele anúncio da mulher que congelou o marido até poder comprar um carro japones. Que absurdo! Onde estão nossos valorosos empresários que não são capazes de lançar uma marca brasileira?
     Até os chineses estão invadindo nosso mercado, eles que há alguns anos atrás só fabricavam uns carrinhos desengonçados.
     A Gurgel era nossa única marca, que já fabricava carros elétricos há muitos anos, mas faliu.
     Se somos capazes de fabricar um jato como aquele, podemos muito bem fabricar carros que atendam as nossas necessidades.
     Talvez esteja faltando uma política de incentivo à criação de marcas brasileiras.
 Declaração de voto
 
 
     Não tenho obrigação nenhuma de declarar meu voto, que é secreto, mas em se tratando da luta que se trava em Rio de Contas para libertar aquele município do jugo de uma turma muito negativa que tomou conta do poder há muitos anos, acho que é meu dever fazê-lo aqui, neste espaço semanal em que publico minhas opiniões.
     Não há dúvida que vou votar 12, em Cristiano para prefeito, já que ele representa a mudança, com seu vice do PT, permitindo que um grande arco de forças se forme para resgatar Rio de Contas das mãos dos aventureiros.
     Faltava me decidir pelo voto de vereador. Eu pretendia votar em Magdalena, vereadora atual do PSB que muito tem feito pela região dos gerais, onde tenho meu sítio. Mas em recente visita à cidade fiquei sabendo que manobras políticas do nefasto grupo do atual prefeito a impediram de se lançar a reeleição.
     Nesse caso minha decisão é votar em Angela Guedes. Não apenas porque seja minha amiga, pois temos também nossas diferenças, mas porque é uma pessoa de briga, uma pessoa sem papas na língua, capaz de enfrentar os desmandos dessa gente que está lá e que ainda deve eleger alguns vereadores.
     Precisamos de gente como Angela Guedes na Câmara Municipal, se quisermos mudar o município e meu voto é dela.


Poesia da Semana
 

"Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas não se dizem violentas as margens que o oprimem." (Bertold Brecht)


 Ainda a África

 
Tráfico e preconceito
 
     Os três capítulos finais do livro A Manilha e o Libambo, de Alberto da Costa e Silva, dizem respeito especificamente à vida política e econômica da África Atlântica, entre os séculos XVI e XVIII e à formação do conceito racista que passou a associar escravo com negro.
     Não vou resenhar aqui as extensas descrições da vida africana naquela época, mas apenas assinalar que a multiplicidade de pequenos estados e reinos que surgiam e desapareciam, ao sabor das inúmeras guerras, resultantes das tentativas de muitos deles em se assenhorar das rotas comerciais e submeter outros estados à sua servidão, guerras estas que produziam os prisioneiros que se transformavam em escravos enviados para fora da África subsaariana, pelo oceano ou pelo deserto, todo este processo era resultado da existência de excedentes produtivos, que permitiam a formação de elites econômicas, ou seja classes sociais que acumulavam riquezas e se lançavam à guerra com intuito de aumentar seu poder e suas riquezas às custas dos seus povos e de povos vizinhos.
     O estágio civilizatório da África atlântica, pulverizada em centenas de micro-estados que viviam em guerra constante, sem que nenhum deles consolidasse um poder real e duradouro sobre um território específico, foi o motor do intenso despovoamento vivido pelo continente naquela época, já que aos reinos vencedores das pequenas guerras, parecia urgente se livrar dos inimigos aprisionados, mandando-os para o mais longe possível e lucrando com isso.
     Aos árabes e europeus que compravam escravos, ou os capturavam em várias partes do mundo para movimentar suas economias movidas pelo braço dos cativos, passou a ser cada vez mais fácil fazê-lo na África, onde a oferta era sempre grande.
     "As regiões balcânicas e à volta do mar negro, até então a maior fonte de escravaria para a Europa e o mundo islâmico, tinham sido fechadas aos europeus pelos otomanos, na metade do Quatrocentos." (pg. 851)
     A diferença racial fez com que os negros começassem a ser identificados com o escravo, já que este precisava forçosamente ser uma pessoa etnicamente diferente, para que fosse possível construir uma "justificativa", aceitável para os escravizadores.
     "O que fora o habitual na Roma antiga e na Idade Média européia e sucedera algumas vezes na África tornar-se-ia impensável nas Américas: alguém ter um escravo branco." (pg. 859)
     Apesar dessa situação, os europeus não tinham nenhum domínio sobre os territórios africanos, e viviam reclusos nos 32 fortes que ao final do século XVIII tinham construído na costa atlântica. Só conseguiam penetrar no interior, pagando tributos e fazendo acordos com os reis locais, situação que permaneceria até o final do século XIX, quando se deu realmente a partilha da África entre as nações européias.
     Então temos aqui dois fenômenos:
     O primeiro é a produção de riqueza acumulada pelos excedentes produzidos por uma economia em estágio pré-mercantilista, que enriquecia e empoderava elites locais, que se voltavam à guerra como forma de aumentar poder e riquezas, produzindo um enorme contingente de prisioneiros, que também passava a ser fonte de lucros.
     O segundo é a identificação étnica do negro com o escravo, à partir do século XV, por europeus e árabes, devido a abundância de oferta na África e do fechamento dos mercados tradicionais de escravos nos balcãs e no mar negro.
     É claro que o preconceito racial que vivenciamos hoje tem sua origem nesta identificação entre negro e escravo. É por isto também que a maioria dos brasileiros não se sente indignada ao ver os negros em situação de pobreza ou miséria, panorama tristemente comum no nosso país, mas muitos se opõem a programa compensatórios como o das cotas nas universidades, por achar estranho ver negros doutores, ou por achar que estamos lhes dando algum privilégio ao tentar compensar os descendentes das vítimas da escravidão, até hoje reduzidos à pobreza pela falta de oportunidades ou pelo próprio preconceito.
    
     Nos próximas edições deste blog, pretendo seguir escrevendo sobre a África, à partir de outro livro de Alberto da Costa e Silva intitulado Um Rio Chamado Atlântico: A África no Brasil e o Brasil na África, este bem menor do que o primeiro, do qual espero ter dado conta satisfatóriamente.