Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 28 de novembro de 2010

Rapidinhas

Hillary, a guerreira

     A política externa dos Estados Unidos continua nas mãos irresponsáveis de Hillary Clinton, que usa e abusa do seu poder para criar tensões pelo mundo afora, na tentativa de preservar a hegemonia do decadente império americano.
     Ao contrário da nova era de paz prometida por Obama, Clinton parece querer desautorizá-lo, mostrando que ela sim é que deveria estar governando, na medida em que se mostra "dura" contra os adversários.
     Na Coréia vem tentando reacender a guerra desde o afundamento de um barco sul-coreano, num incidente mal explicado. Agora a própria Coréia do Sul admite que iniciou os bombardeios, mas isso não sai em nenhum jornal da imprensa golpista, que insiste na versão americana de que a Coréia do Norte é que começou.
     Veja o que disse a agência inglesa Reuters, reproduzida pelo site Operamundi:

     Na terça-feira um militar sul-coreano reconheceu que a Coreia do Sul estava realizando exercícios militares e testes balísticos na ilha de Yeonpyeong antes do bombardeio da Coreia do Norte. “Estávamos realizando regularmente exercícios militares, mas nossos tiros foram direcionadas para o oeste, nao para o norte", afirmou um oficial militar sul-coreano ao escritório da agência de notícias britânica Reuters em Seul

     A Coréia do Norte não é flor que se cheire, mas quem está provocando é o sul, que não pára de fazer exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos em águas disputadas pelos dois países.
     A indústria armamentista americana agradece.

Viva o Rio

     E por falar em guerra, a barra pesou no Rio de Janeiro, mas o governador Sergio Cabral parece mesmo decidido a retomar os territórios dominados a décadas pelos traficantes. A ocupação da Vila Cruzeiro foi emblemática, já que lá estava o principal reduto dos bandidos, junto com o Complexo do Alemão. Foi na Vila Cruzeiro que o jornalista Tim Lopes foi torturado e assassinado. A tomada desse território é uma vitória importante sobre o tráfico.
     O Brasil inteiro está apoiando a ofensiva militar no Rio para libertar a cidade dos traficantes. Os jornalistas da Globo então, estão tendo orgasmos ao vivo ao ver as tropas nas ruas. Saudades de 64?
     Só espero que esses traficantes expulsos não se espalhem pelo Brasil.

Casseta e Planeta: o fim

     Finalmente depois de 18 anos estamos livres do besteirol fascista da Globo.
     O programa cômico, que se notabilizou por suas piadas racistas e machistas que representavam todos os preconceitos da classe média carioca contra pobres, negros, gays e mulheres, havia se transformado numa espécie de "chapa branca" da emissora, com a velha formulinha de satirizar as novelas.
                                                                     Já vai tarde.
                                                                                                                                      
Prêmio Jabuti

     Outro que está cada vez menor é o Prêmio Jabuti de literatura. Premiar Chico Buarque é um tapa na cara de tantos autores nacionais muito melhores. Na verdade a premiação se tornou uma jogada de marketing das editoras, que usam gente famosa para alavancar suas vendas.
     Enquanto isso, a verdadeira inquietação literária vibra na internet e nas editoras alternativas.


Cidades sustentáveis V
(final)

A educação rural e o futuro das cidades

     Quando falamos de áreas urbanas, pensamos logo em metrópoles ou em cidades médias.
     As pequenas cidades ou as sedes dos distritos dos nossos municípios, no nosso imaginário não fazem parte do que chamamos cidades, mas do interior.
     Morar no interior pode ser sinônimo de romantismo ou de atraso, sinônimo de volta ao campo, recuperação do sentido perdido da natureza, das relações pessoais destruídas pela pressa das grandes cidades, mas também sinônimo de desemprego, baixa renda, dependência de pequenos poderes, do prefeito, do padre, do juiz, etc.
     Quando propomos para o futuro a diluição da ocupação da população sobre nosso território, com a pulverização das nossas grandes e orgulhosas cidades em pequenas comunidades sustentáveis, não estamos pensando em nenhuma volta ao campo, em nenhum romantismo, em nenhuma utopia regressiva, mas em avanços significativos, com resultados diretos na nossa qualidade de vida e no desenvolvimento das nossas potencialidades hunanas.
     Mas como construir essas comunidades diferenciadas a partir do que temos hoje, se todo o desenvolvimento industrial atrai os jovens para as grandes cidades, se toda infraestrutura necessária para se desenvolver está lá e se o agronegócio expulsa cada vez mais gente do interior?
     A mudança deve começar pela educação rural.
     Quando trabalhei no Programa de Apoio ao Dirigente Municipal de Educação, PRADIME, do MEC, fui encarregado de fazer um levantamento da infraestrutura das escolas em todo o Brasil, a partir de dados do INEP e fiquei surpreso com a precariedade das escolas rurais e a falta de programas nessa área.

     Os resultados da educação rural são sempre muito piores do que das escolas urbanas, em todo o país. Regiões com maior população rural, como o norte e o nordeste, tem indicadores piores na educação, justamente como reflexo da grande incidência de escolas rurais, o que gera conclusões equivocadas, dentre elas a de que a educação no nordeste é pior. Não é. A educação rural é pior e não há propostas para melhorá-la.
   
     Na verdade não há proposta nenhuma para melhorar a educação como um todo, o que existem são discursos, que falam em educação de qualidade, gestão disso e daquilo, mas nada muda e tudo fica na mesma, porque o sistema todo está errado. É a municipalização (e estadualização) que está errada. O sistema tinha que ser federalizado e a autonomia deveria ser das escolas (dirigidas pelas comunidades escolares) e não dos municípios ou dos estados.
     No interior, não há interesse em educar o povo. O município é um ente fraco e pobre, depende de verbas federais e não tem competencia para gerir, muito menos para propor.
     Uma das poucas propostas que surgiram nos últimos tempos, para a área rural é a das Escolas Família-Agrícolas (EFAs). Surgidas na França, em 1935, as EFAs se caracterizam pela Pedagogia da Alternância, que significa o ensino-aprendizado em espaços diferenciados e alternados.
     O Aluno alterna um período junto à família, onde observa as práticas agrícolas (convívio, trabalho, observação e pesquisa) com um período na escola (reflexão, questionamentos, análises, sínteses, aprofundamentos e generalizações) e retorna novamente à família, introduzindo o conhecimento adquirido.
     As EFAs tem sido muito bem sucedidas no Brasil (existem cerca de 180), abrindo novas perspectivas de produtividade para os pequenos produtores rurais, já que o poder público não fornece assistência técncia e extensão rural ao pequeno produtor, aumentando a produtividade e abrindo um futuro promissor à agricultura familiar, além de manter as famílias rurais unidas, na medida em que diminui muito o êxodo dos jovens para as cidades.
     Para fundar uma EFA, forma-se uma Associação de Pais e Alunos da Escola, com objetivo de representá-la juridicamente e conseguir os recursos para sua construção. Na Bahia, o Estado onde tem se difundido mais rapidamente essa proposta, existem 33 unidades, agregadas em duas associações (AECOFABA e REFAISA) e são apoiadas pelo Programa Estadual de Apoio Técnico-financeiro às Escolas Família Agrícola. Existe ainda uma associação nacional (UNEFAB).
     As EFAs atualmente são definidas como escolas públicas não estatais, mas nada impede que sejam assumidas e financiadas pelos governos.  Elas trabalham com alunos de 5a a 8a série do ensino fundamental, com o ensino médio e ainda como escola técnica em agropecuária.
     Dentre seus resultados mais significativos está o reforço do associativismo e a difusão da agricultura orgânica, à partir de conhecimentos sobre ecologia e manejo do solo.
     Em termos de urbanismo, o impacto das EFAS está na manutenção dos núcleos rurais, que podem crescer e se transformar nas futuras comunidades sustentáveis, antevistas por nós em artigos anteriores, em oposição ao contínuo crescimento das cidades.
     Reunindo agricultores em torno de novas práticas, essa nova forma de organização escolar pode ser o embrião de uma nova forma de ocupação do campo e de distribuição da população sobre o território, combatendo ao mesmo tempo o gigantismo das cidades, o uso de agrotóxicos e a formação de latifúndios exportadores, invertendo a lógica da urbanização desenfreada, cujo custo social é muito alto para a nação.
     Um tema muito interessante para planejadores urbanos, que poderiam projetar as primeiras comunidades sustentáveis em torno dessas escolas. Proposta interessante também para o Governo Federal repensar a educação e a ocupação territorial no Brasil, retomando a iniciativa do planejamento, hoje abandonado em detrimento do mercado.

Boa segunda- feira a todos

Ricardo Stumpf Alves de Souza