Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 21 de julho de 2012

Rapidinhas

Ucranianas

     Prezados amigos, vivemos em um mundo de conflitos e guerras, violência, corrupção e competição. Mas no meio de tudo isso existe gente que sabe protestar com humor. Vejam aquelas ucranianas que tem mania de tirar a roupa para protestar.
     Pelo menos um toque de beleza e brincadeira no meio de tanta confusão. Se a moda pega...
     Se elas morassem em Salvador, com certeza já teriam tirado a roupa em frente ao palácio do governo, exigindo a demissão daquele Secretário de Educação cara de pau, que continua afirmando que, após mais de cem dias de greve dos professores, tudo está normal, como se estivessemos no melhor dos mundos.
     Viva as ucranianas!
E os aeroportos?

      Faltam apenas dois anos para a copa de 2014 e não estou vendo obra nenhuma nos aeroportos.
     Os estádios já estão ficando prontos, as obras de mobilidade urbana estão sendo licitadas ou já estão em andamento, hotéis estão sendo construídos, mas os aeroportos estão parados.
     Estão esperando o que para começar as obras?
     São esperados mais de 4 milhões de turistas para os jogos. Se os aeroportos já não dão conta do tráfego aéreo e da demanda dos passageiros hoje, como vão atender toda essa gente quando chegar a hora?
     Vamos acordar aí pessoal!
Oficina de textos em Livramento
    
Recebi, para divulgação, este convite para uma oficina de produção de textos que será promovida gratuitamente para os estudantes da rede pública, entre 10 e 18 anos, na cidade de Livramento, Bahia.
     Mais uma iniciativa importante na área da cultura promovida pela professora Esther Lígia.
     Parabéns Livramento!
     
D. Eugênio Salles, o cardeal da ditadura


     Ridícula a cobertura que a Globo deu ao falecimento de D. Eugênio Sales, ex-cardeal do Rio de Janeiro, tentando vesti-lo como herói da luta contra a ditadura, invertendo os fatos históricos. D. Eugênio foi, na verdade, o maior aliado da ditadura dentro da igreja Católica no Brasil e por muitas vezes recusou ajuda a quem o procurava, para reparar injustiças ou intervir por presos desaparecidos.
     A Igreja Católica teve papel destacado na luta pela democracia sim, mas na pessoa de D. Helder Câmara e D. Paulo Evaristo Arns, dentre outros.
     Sobre isso vejam artigo de José Ribamar Bessa Freire, publicado no blog de Rubens Mascarenhas, no link abaixo.
On the road
(Na estrada)


     Fui assistir ao filme de Walter Salles, feito à partir do livro On the Road, um clássico americano dos anos 1950 e considerado a bíblia do movimento beatnik, os jovens rebeldes sem causa que viviam uma vida transgressora e desregrada, que foram os precursores do movimento hippie, dos anos 1960.
     A obra foi recebida com reações contraditórias em Cannes. Os americanos não gostaram, ao contrário de alguns europeus.
     Assistindo ao filme, porém, dá pra entender essas reações.
     Mesmo sendo uma produção americana, com atores idem, Walter Salles passa uma imagem crítica dos Estados Unidos que é tipicamente brasileira. Em nenhum momento aparece a clássica cena da bandeira americana, presente em todos os filmes made in USA, nem há aquela complascência com os problemas da sociedade deles.
     Pelo contrário, em vários momentos as contradições do país aparecem. Como na cena em que o personagem Sal Paradise, vai trabalhar numa plantação de algodão e se detém ao receber 1 dólar e cinco centavos, após um dia inteiro de trabalho, lançando um olhar questionador para o funcionário que o está pagando. Também os sobrenomes dos trabalhadores que vão sendo chamados para receber o pagamento é muito revelador: a maioria estrangeiros, hispânicos ou chineses, mostrando o sistema de exploração a que os imigrantes estão expostos nos Estados Unidos.
     Também numa cena em que eles viajam de carro pelas estradas e ouvem na rádio uma propaganda anti-comunista, dizendo que no socialismo as liberdades civis não são respeitadas, e em seguida o carro é parado por um guarda, por excesso de velocidade, que exige 25 dólares em troca de deixá-los partir, depois de fazer uma série de ameaças que desrespeitam seu direito de ir e vir.
     Ao final, quando o escritor Sal, vê os primeiros aparelhos de televisão, numa vitrine, e neles está passando uma mensagem sobre a necessidade dos cidadãos aceitarem os controles das autoridades, fica bem evidente a discrepância entre o discurso liberal e a realidade de controle governamental sobre a população, existente no país.
     Também os clichês sobre o México, tradicionalmente mostrado em filmes americanos como um local sujo e habitado por gente perigosa, é substituído por uma visão muito mais realista das cidades latino-americanas, meio bagunçadas mas acolhedoras.
     É claro que os americanos não gostaram, acostumados que estão a falar apenas aquilo que as grandes corporações permitem. Críticas só aos outros países. No que diz respeito a eles próprios, estão sempre acima do bem e do mal.
     Em outra cena, o mesmo Sal Paradise critica o general Mac Arthur, então interventor no derrotado Japão, por proibir o beijo nas ruas de Tóquio.
_Quem ele pensa que é? Pergunta o personagem, olhado com espanto pela sua própria família, pela sua crítica inconveniente.
     Mas o filme não é uma crítica aos Estados Unidos, apesar dessa visão brasileira, pelo contrário, tenta ser muito fiel ao texto. Eu não li o livro, mas suponho que o roteirista tenha se mantido muito fiel à história em que o escritor conta o seu encontro com o jovem Dean Moriarty, que vivia uma vida inconsequente de transgressões e que captava seguidores numa juventude de classe média intelectualizada, desencantada com uma sociedade conservadora.
     Esse excesso de fidelidade ao texto deixou o filme um pouco longo demais, o que faz com que às vezes olhemos para relógio, nos perguntando quanto tempo falta para terminar, já que não há um climax muito marcado na história, que indique a proximidade do final.
     Essa preocupação com a fidelidade ao texto é compreensível, em se tratando de um texto cult, que nenhum diretor americano teve coragem de filmar até hoje. Talvez apenas um estrangeiro tivesse mesmo o distanciamento necessário para fazê-lo, e é natural que ficasse preocupado com a crítica cinematográfica, que iria observar seu produto com lupa, para analisar um trabalho considerado tão difícil.
     Mas é um belo filme, que mostra com muito cuidado o desencanto de uma geração americana com a falta de opções, num país que então se afirmava como liderança mundial. A negação da sociedade, através de uma vida autodestrutiva, pelas drogas, pelo sexo e pelas transgressões aventureiras, é apenas uma prévia do que seria a história do capitalismo no pós-guerra. 
     Vale a pena ver.
Ficha técnica
A adaptação do livro de mesmo nome, de 1957, do escritor Jack Kerouac, é baseada em fatos reais e conta a história de como o escritor Sal (Kerouac, na vida real) conhece Dean (Neil Cassady) e sua mulher, Marylou (Luanne Henderson). Juntos, eles viajam pelas estradas de leste a oeste dos Estados Unidos. com os atores Garrett Hedlund (Dean Moriarty), Kristen Stewart (Marylou) e Sam Riley (Sal Paradise) que aparecem refletidos no retrovisor do carro no poster do filme e ainda, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Alice Braga, Steve Buscemi, Amy Adams e Tom Sturridge, entre outros.
,
Uma fundação cultural para Rio de Contas


     O modelo de gestão cultural compartilhado entre o público e o privado vem dando certo em vários estados brasileiros, em forma de fundações que, apesar de manterem seu caráter de entidades públicas, voltadas para o interesse coletivo, com relevante papel educativo, tem autonomia administrativa e financeira para buscar recursos próprios, além daqueles alocados pelo poder público.
     Um exemplo desse tipo de gestão é a Fundação Clóvis Salgado do governo de Minas Gerais, que gerencia vários equipamentos importantes em Belo Horizonte, aluga seus espaços para shows promovidos por entes privados e exerce suas funções educacionais e de formação de público para diversas formas de arte.
     Em Rio de Contas, guardadas as devidas proporções, poderíamos ter uma fundação que gerenciasse o Centro de Cultura, hoje entregue a uma faculdade particular, o Teatro São Carlos, hoje fechado, aguardando por uma reforma do telhado ou até por uma ampliação já definida em projeto aprovado pelo IPHAN, e o Museu Arqueológico da Chapada Diamantina, já criado por lei municipal e aguardando apenas que a prefeitura lhe ceda um espaço para funcionamento, apesar de já ser dono de um acervo importante, resultado das escavações para construção da rodovia Rio de Contas - Jussiape, e da rede de esgotos da cidade, acervo este que se encontra em Salvador, em parte em mãos da Embasa, em parte da UFBA.
     Uma Fundação Cultural poderia gerenciar também um novo espaço a ser construído para realização de espetáculos maiores e, se algum prefeito tiver a coragem de desapropriar o antigo Colégio Circea, que se encontra desativado servindo apenas de residência para o padre da cidade, poderia cedê-lo para que alguma instituição de ensino superior traga um campus avançado em alguma área de conhecimento que tenha relação com a cidade, seja a mineralogia, as ciências agrárias, a arquitetura, a música, a história, ou até mesmo a arqueologia, já que a região concentra um acervo importante de pinturas rupestres.
     Recentemente visitei o Parque da Serra da Capivara, no Piauí, e fiquei surpreso ao perceber que as pinturas do paredão de Jussiape, por exemplo, são muito mais numerosas e nítidas que as piauienses, faltando apenas um trabalho de pesquisa e divulgação. Além delas pude conhecer algumas em Livramento, em Itaberaba, as de Iraquara e tomei conhecimento de uma pintura representando uma cobra, em Rio de Contas, no distrito do Brumadinho, além das já catalogadas em Caetité. Há notícias de muitas outras.
     Sabe-se que um dos maiores problemas das cidades históricas, tombadas, é encontrar uma função urbana que lhe permita crescer sem destruir seu patrimônio. Ouro preto, em Minas Gerais, é um exemplo de solução, que lhe permitiu tornar-se um cidade universitária, trazendo a alegria dos estudantes, com seus festivais de arte e cultura, preservando seus tesouros arquitetônicos e sua cultura popular enquanto gera milhares de empregos para seus cidadãos.
     Fazer tudo isso apenas com verbas públicas do minguado orçamento municipal seria muito difícil. O formato de fundação poderia permitir aportes dos governos estadual e federal, além da independência necessária para a busca de parcerias com entes privados, que permitissem manter uma efervescência cultural constante na cidade, alimentando a indústria do turismo.
     A construção de um calendário anual de eventos, com festivais de música, gastronomia, cinema, literatura e teatro, garantiria um fluxo constante de visitantes, especialmente em épocas distantes das festas tradicionais. Cursos de formação nessas áreas poderiam atrair também moradores temporários, que trariam renda e gerariam empregos. Além disso seria possível a formação de grupos de arte permanente, como um coral, um grupo de teatro da fundação e até uma orquestra sinfônica, em parceria com a centenária Lira dos Artistas da cidade, além da multiplicação dos pontos de cultura, que seriam apoiados pela própria fundação e o apoio às manifestações culturais tradicionais da cidade, como os reizados, as pastorinhas e as manifestações da cultura negra.
     Exemplos como o de Parintins, um remoto município na divisa do Pará com o Amazonas que se tornou destino de turismo internacional à partir de um único evento anual, o seu famoso Festival Folclórico, nos mostram que é possível fazer muito nesta área.
     Rio de Contas tem tudo para se tornar um centro cultural importante na região sudoeste da Bahia e estou certo de que se houver protagonismo em políticas públicas, o Governo do Estado terá o maior interesse em se associar a elas, assim como várias empresas locais e nacionais.