Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 31 de outubro de 2010

Rapidinhas

   Sim, elas podem

     Muito legal o primeiro pronunciamento de Dilma Roussef como Presidente da República. A diferença com Lula já apareceu, na medida em que parecia que ela mesma tinha escrito e estava falando sobre o que conhecia bem. Destaque especial para a primeira coisa que ela falou, em relação às mulheres e aos pais das meninas. "Olhem as meninas nos olhos e digam: sim, a mulher pode!"
     Espero que o baixo nível dos debates forçados pelo candidato da direita, que tentou ganhar no grito, não a faça esquecer de temas que ficaram fora da campanha e que estão a muito tempo esquecidos. Um deles, o desenvolvimento e planejamento das cidades, tema do artigo de hoje. Outro, a reavaliação do sistema descentralizado de educação, que joga a responsabilidade do ensino fundamental para os municípios, entes mais pobres e fracos da federação. Outro, a forma do SUS dividir os recursos para os municípios, pagando mais ou menos por especialidades. Nada disso foi discutido, infelizmente, devido às baixarias eleitorais.
     Vamos esperar que com Dilma surja uma nova geração de lideranças capazes de aprofundar as discussões sobre a gestão pública no Brasil e sua relação com a cidadania, pois a agenda dos partidos, inclusive do PT, já está ficando superada e repetitiva, enquanto muitos problemas se avolumam.
    

    
   Vitória da esquerda em Lima

     O site Terra anunciou na quarta-feira, dia 27, a virtual vitória da candidata de esquerda à prefeitura de Lima, Susana Villarán, pelo partido Força Social.
     Depois de uma enroladíssima apuração e de muitas denúncias de tentativas de fraude, a candidata conservadora jogou a toalha e admitiu a derrota.
     Fato auspicioso, pois o Perú junto com a Colômbia é um dos últimos baluartes da direita pró-americana na América do Sul.
     Como Lima tem mais da metade do eleitorado peruano e as eleições presidenciais serão no próximo ano, isso pode significar um considerável reforço para a independencia e união do nosso continente, que aos poucos vai se levantando e sacudindo a poeira.
      Veja abaixo trecho da notícia:

 A esquerdista Susana Villarán se transformou na terça-feira na virtual prefeita de Lima, o maior colégio eleitoral do Peru, depois que sua principal rival aceitou a derrota numa eleição acirrada que pode sinalizar uma tendência de cara às eleições presidenciais de 2011.
Villarán, uma educadora de 61 anos, se transformou na primeira esquerdista a conquistar a capital do país em quase três décadas, após a disputa eleitoral de 3 de outubro.
"Há uma vitoriosa nas eleições; é (o partido) Força Social e Susana Villarán, a quem, neste momento, reconheço como vitoriosa nestas eleições e a cumprimento democraticamente desejando sucesso", declarou sua rival e conservadora Lourdes Flores, em entrevista à imprensa.
O colégio eleitoral do Peru levou mais de três semanas contando os votos das eleições municipais devido ao grande número de cédulas eleitorais com problemas. Com cerca de 97% dos votos apurados, Villarán tem 38,4% e Flores 37,6%, com estreita diferença de apenas 36.480 votos.
A mudança se dá devido à vitória dos independentes e de líderes regionalistas que deflagraram uma contundente derrota a partidos tradicionais, como o Apra.


   Cidades Sustentáveis

     As paixões despertadas em torno do tema meio-ambiente, especialmente na política, muitas vezes ocultam grandes vazios teóricos. Um deles está no meio ambiente urbano. Poucos trabalhos na área tem a seriedade que merecem, especialmente no Brasil, onde as faculdades de arquitetura e urbanismo ainda olham para o tema com estranheza.
     A questão ambiental nas cidades, não se restringe a elas mesmas, ou seja, às condições ambientais no próprio meio urbano, bastante degradadas em todo o mundo, mas se extendem ao seu impacto sobre as áreas próximas, rurais e silvestres ainda preservadas.
     As polêmicas em torno do meio ambiente planetário, vão pulando de foco em foco, na medida em que as emergências vão ocorrendo, sem que haja uma capacidade coletiva da humanidade de repensar seu modelo econômico e de ocupação urbana (e a ausência deste debate se faz sentir especialmente no Brasil, onde as cidades crescem rapidamente ao sabor das conveniências das forças econômicas predominantes).
     Já tivemos a emergência da camada de ozônio, cuja destruição ia sendo provocada pelo uso de determinadas gases industriais e que foi contornada pela substituição desses produtos. Agora vivemos a emergência do efeito estufa e o consequente aquecimento global, que deve ser contornado com a diminuição da emissão de poluentes, através da chamada economia de baixo carbono e assim vamos, de emergência em emergência, sem que no entanto a competição entre as nações nos permita parar e pensar um futuro em harmonia com a natureza.
     Sim, uma das chaves para a construção de um modelo sustentável é a união das nações, impedindo que a competição comercial as leve sempre a querer aumentar sua produção industrial para exportar mais e importar menos, gerando superavits que se transformam na maior riqueza de uns e às vezes na pobreza de outros, embora essa riqueza venha aumentando exponencialmente em quase todas elas.
     Mas em meio a esse processo louco de industrialização e consumo global, temos também um gigantesco processo de urbanização. O agronegócio expulsa as últimas famílias do campo, que abandonando suas lavouras arcaicas vão para as cidades atrás de empregos, consumo e renda.
     O crescimento populacional está longe de se estabilizar, devido a todos esses desequilíbrios, embora a urbanização e o aumento da riqueza das nações contribua muito para sua estabilização. Famílias com maior renda e bem estruturadas tem muito menos filhos. Não há pior situação para a demografia que a de famílias desestruturadas que crescem sem planejamento e sem recursos.    
     Mas devido à essa expansão contínua, novas guerras, a maioria de motivação comercial, e novas doenças, que até agora estavam restritas ás áreas silvestres, irrompem a cada hora, agravando as condições ambientais em que vivemos.
     Nas cidades o tema sustentabilidade é abordado de forma muito superficial e até mesmo irresponsável pelos meios de comunicação, na medida em que supõem que promovendo pequenas mudanças no status quo estariam resolvendo os grandes problemas. Edifícios verdes, que não passam de empreendimentos comerciais comuns com alguns pequenos acréscimos de mecanismos que economizam energia ou água, são apresentados como soluções, quando são apenas paliativos de pouquíssimo impacto, diante de todo esse processo.
     Uma grande cidade produz um imenso halo de calor, que avança muitos quilômetros ao redor, alterando as condições ambientais em todo seu entorno. A própria concentração de milhões de pessoas nas megalópoles movidas à petróleo, os meios de transporte, as plantações e criações de animais para alimentar suas populações, a impermeabilização do solo, a produção de milhares de toneladas de lixo e de esgotos domésticos e industriais, são problemas que estão muito longe de serem solucionados, numa sociedade que só pensa em consumir e acaba consumindo a si própria.
     Uma cidade para ser sustentável, deveria produzir todos os recursos que consome, inclusive a energia, reciclar todo o seu lixo e tratar todo o seu esgoto. Para que isso fosse possível seria necessário reduzir e repensar drasticamente o consumo de alimentos e os meios de transportes.
     Um modelo minimamente possível, teria de eliminar ou reduzir ao mínimo os automóveis, substituindo-os por transportes coletivos eficientes movidos a energia limpa. Teria de reservar áreas urbanas para produzir alimentos, excuindo as pastagens para criação de animais, muito extensas, e concentrando-se em alimentação de origem vegetal.
     Os percursos teriam que ser reduzidos, para que as pessoas pudessem se deslocar mais à pé ou por transportes movidos à energia humana, como as bicicletas, o que também suprimiria diversas doenças ligadas ao sedentarismo. O comércio e as habitações poderiam estar em áreas próximas, facilmente alcançáveis sem grandes deslocamentos.
     Áreas agricultáveis teriam que ser otimizadas e reduzidas, para evitar o desmatamento e de preferência estarem nos arredores das cidades, ou nos centros delas, dependendo do modelo espacial. São os antigos cinturões verdes, previstos em algumas cidades planejadas, inclusive Brasília, mas atropelados pela especulação imobiliária.
     A construção civil teria que ser estritamente regulada, não permitindo em hipótese nenhuma construções clandestinas nem especulações com a terra, que visassem aumentar seu preço, ordem que já vigorou antigamente no Brasil antes da especulação desenfreada que criou as favelas e expulsou os trabalhadores dos melhores bairros.
     Finalmente a indústria pesada, já cada vez mais robotizada, deveria se posicionar fora das cidades, ao longo de ferrovias que permitissem o escoamento dos seus produtos e o acesso fácil dos seus poucos trabalhadores.
     Ferrovias de alta velocidade, movidas a energia limpa, ligariam as muitas pequenas cidades que substituiriam as metrópoles, eliminando a aviação regional e diminuindo mesmo a de grandes distâncias, insegura e poluidora.  Aviões seriam para distâncias transatlânticas e os aeroportos também se situariam fora dos círculos urbanos.
     O termo círculo urbano não é uma coincidência. A forma mais eficaz de aproximar as duas pontas de uma cidade é curvando seu desenho, aproximando-a de um círculo, para reduzir trajetos e torná-la mais eficiente, na medida em que sua topografia permitir.
     Tudo isso e mais o uso eficiente da água, com a proteção das suas fontes e o combate ao despedício, assim como a produção de energia elétrica limpa e a estabilização do crescimento populacional, nos permitiriam ingressar num tempo em que poderíamos falar em cidades sustentáveis.
     A união das nações, que já é possível através das grandes uniões aduaneiras, acabando com as guerras, e o avanço da educação e da ciência completariam o quadro, para que a humanidade se libertasse do pesadelo em que vive e ingressasse em uma nova era.
     As velhas cidades seriam esvaziadas aos poucos e seus centros históricos preservados, como testemunhas de uma era longínqua.
     Sim, um outro mundo é possível. A utopia já está ao nosso alcance. 

     Boa segunda-feira à todos

     Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 24 de outubro de 2010

Rapidinhas

    Bolinhas de papel
    
     Quem diria que chegaríamos a este ponto, José Serra simulando agressões numa tentativa desesperada de virar as pesquisas eleitorais a seu favor, tentando transformar uma bolinha de papel num rolo de fita adesiva, com a ajuda da TV Globo.
     E se fosse um rolo de fita adesiva, que prejuízos poderia causar na sua careca um objeto tão simples? E no outro dia lá estava ele fazendo campanha sem nenhuma cicatriz na cabeça, nem uma marquinha.
     E tudo é culpa do PT, numa tentativa inútil de demonização deste partido, que já está beirando o ridículo.
     Mas o pior é a ajuda recebida da rede de televisão da família Marinho, que já tem tradição em dar golpes eleitorais para impedir que candidatos que representem o povo assumam o poder. Pra quem não se lembra, o último debate de 1989, editado para favorecer Collor numa eleição apertada como esta e o escâncalo Pró-Consult, no Rio de Janeiro, em 1982, para impedir Brizola de assumir o governo do Estado do Rio, ambos patrocinados pela Globo.
     Vem aí o último debate que, como sempre, será na Globo. Preparem-se para mais tentativas de manipulação.
     Não está na hora de mudar esse modelo de concessão das comunicações às famílias mais poderosas do Brasil e construir um modelo mais democrático, já que os canais pertencem ao governo, ou seja, à nós?

     Dados fiscais violados

     Ainda sobre a eleição, é incrível o notíciário na grande imprensa, sobre a violação dos dados dos tucanos na Receita Federal. O jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhava no jornal O Estado de Minas, de Belo Horizonte, pagou para um despachante violar o sigilo da filha de José Serra e de outros tucanos, antes do período eleitoral, para defender Aécio Neves, como ele mesmo declarou, .
     Aparentemente, Aécio se preparava para uma guerra de bastidores contra o venenoso José Serra, já que os dois pretendiam ser candidatos a presidência da República, e queria se prevenir guardando dados sigilosos das possíveis falcatruas cometidas pela filha de Serra e seu marido.
     Os dados não foram usados por ninguém para fazer o que os tucanos gostam de chamar de dossiê, ou seja, ficaram lá, guardadinhos, à espera de uma oportunidade para serem usados contra o candidato paulista, mas não foram.
     Então o único crime perpetrado foi a violação do sigilo fiscal, à mando do jornalista mineiro.
     O que o PT tem a ver com isso? Nada. Mas o esforço em ligar o episódio ao PT beira as raias do ridículo. Na edição de 22 outubro, o jornal O Estado de São Paulo, afirma que Amaury Ribeiro teria ficado hospedado num flat emprestado pelo deputado estadual Ruy Falcão, do PT, e que portanto este deputado poderia ter roubado os dados do seu computador, num momento em que ele se ausentou, já que também tinha a chave do apartamento. Quer dizer, o cara paga para alguém roubar os dados, confessa, e quer botar a culpa em alguém que lhe emprestou o apartamento? Que sentido faz isso?
     Mais adiante, na mesma reportagem afirma que o dinheiro foi pago ao despachante na mesma agência em que um participante da campanha de Dilma tem uma conta. Ora, meus amigos, então todos os outros correntistas desta agência devem ser imputados como suspeitos, porque o pagamento foi feito lá?
     O fato é que foi Amaury Ribeiro Jr. quem cometeu o crime para defender Aécio Neves, segundo suas próprias declarações. O PT nunca usou essas informações e não tem nada com isso e o esforço para imputar ao partido de Dilma, às vésperas do segundo turno, esse crime cometido por eles mesmos não passa de tentativa grosseira de manipular a opinião pública, em mais um lamentável episódio de irresponsabilidade do PIG (Partido da Imprensa Golpista).
     Até quando vamos ter que aturar isto?


Crimes de guerra americanos no Iraque

     O site Wikileaks revelou nesta sexta-feira mais 400 mil documentos secretos dos Estados Unidos sobre a guerra no Iraque, desvendando a verdadeira face daqueles que invadiram um país soberano, contra as recomendações das Nações Unidas e massacraram seu povo, em nome de uma pretensa democracia.
     O governo americano ainda não se pronunciou sobre esse novo vazamento, embora já tenha sido cobrado pela ONU e pela Anistia Internacional para que investigue todas as pessoas envolvidas nos incidentes relatados.

     Veja o que o site Operamundi revelou hoje a respeito:
Wikileaks: Militares dos EUA mataram 680 civis iraquianos em postos de controle
     Militares americanos mataram 680 civis iraquianos inocentes, sendo 30 crianças, em postos de controle no país árabe, pelos documentos divulgados pela organização WikiLeaks em seu site.
     Os militares, que tinham recebido ordens de disparar contra todo veículo que não parasse nesses controles, mataram quase seis vezes mais civis do que insurgentes. Segundo os sobreviventes de alguns desses incidentes, as tropas americanas abriram muitas vezes fogo sem aviso prévio.
     Em 14 de junho de 2005, marines americanos dispararam contra um veículo no qual viajavam 11 civis que não parou em um controle de Ramadi ao oeste de Bagdá. Nesse incidente morreram sete pessoas, incluindo duas crianças.
     As forças da coalizão que invadiram o Iraque foram também acusadas de excessos nos ataques com helicópteros.
     Na sexta-feira (22/10), a imprensa internacional noticiou que os documentos sobre a guerra informariam que os Estados Unidos tomaram conhecimento, mas não investigaram alguns casos de abusos e torturas cometidos por soldados e policiais iraquianos contra presos.

     Barack Obama, que assumiu promtendo dar um fim em tudo isso, parece estar diretamente envolvido na operação para acobertar os crimes de guerra americanos.
   Hora de avançar

     Pois é, prezados leitores, a radicalização na reta final desta campanha, coincidindo com as greves na França e em outras partes do mundo,  está me fazendo lembrar os idos de 1968, quando as massas populares começaram a ir para as ruas no mundo inteiro, em uma série de movimentos paralelos, cuja única conexão parecia ser o interesse em dar fim a uma ordem estabelecida no pós-guerra, onde o poder tinha sido partilhado por poucos em benefícios de poucos, em nome da moral, da família, da religião e da ideologia.
     Naquela época, uma mudança se fazia necessária e as forças da mudança se chocaram amplamente com as forças da ordem, numa escala planetária, que teve como consequência o mundo em que vivemos hoje. E não é pouca coisa.
     Em termos morais, as mulheres reivindicavam o direito a uma vida sexual plena e livre, como os homens, e dispunham da pílula anti-concepcional como arma para garantir que sua liberdade sexual era possível.
     Horror entre as famílias tradicionais que achavam que as mulheres tinham que casar virgens ou os homens não as aceitariam. Mas o amor livre era a palavra de ordem revolucionária.
     Na França estudantes se rebelaram contra uma reforma universitária, mas na verdade a revolta era contra a quinta república, de Charles De Gaulle, que significava o domínio das famílias e das idéias tradicionais, sobre a sociedade, que reivindicava uma democracia de massas, onde a cultura se libertasse da caretisse de uma elite conservadora e opressiva, que além de sufocar os desejos dos jovens mantinha os operários e seu movimento sindical emparedados, como se fossem marginais, ao reivindicar o direito de viver e consumir como os ricos e a classe média o faziam.
     No Brasil o protesto era contra uma ditadura que, em nome da liberdade, no tirou todos os direitos e vendeu o país aos americanos. Nos Estados Unidos era contra a guerra do vietnã e sua lógica destruidora de povos, em nome de uma luta ideologica e também contra o racismo, que mantinha os negros excluídos.
     Na Tchecoeslováquia lutava-se contra o domínio soviético e sua ditadura do proletariado, construída também em nome de uma ideologia que começava a fazer água por todos os lados.
     O mundo estava cansado, queria respirar e conseguiu. 
     De Gaulle caiu, a liberdade sexual feminina triunfou, a guerra do vietnã acabou, com a derrota dos americanos, as ditaduras latino-americanas caíram, assim como as ditaduras do leste, a União Soviética desapareceu e a América Latina se levantou, a democracia de massas se consolidou, os negros se libertaram do apartheid dentro e fora da África.
     Em poucas décadas muita coisa mudou, mas nem tudo.
     Os conservadores resisitram como puderam. Na década de 90, introduziram o neoliberalismo no vácuo ideológico do comunismo e começaram a tentar recuperar terreno, reduzindo os direitos conquistados. A resistência, porém, se deu dentro do jogo democrático. O mundo estava cansado de revoluções.
     O imperialismo americano sobreviveu, enfraquecido pela ausência de um rival que justificasse suas guerras de conquista. Na parte mais atrasada do mundo a luta se reacendeu, entre o fanatismo religioso islâmico e os interesses capitalistas. Mas o extremismo religioso caminhou na direção contrária da história, tirando direitos das mulheres, implantando ditaduras teocráticas e recorrendo ao terrorismo puro e simples, se aproximando mais da direita que das correntes libertárias.
     Do lado de cá, no entanto, a democracia nos garantiu alguns avanços. Um operário governou o Brasil, um índio governa a Bolívia, um negro governa os Estados Unidos, embora ainda estejamos longe de nos libertarmos do domínio das grandes corporações capitalistas.
     Agora a direita tenta avançar mais um pouco, retomando iniciativas cujo único propósito é reafirmar seu domínio político para explorar os pobres em benefícío de poucos, sejam eles religiosos no Irã, empresários no Brasil ou militares em Honduras e Equador.
     A direita é sempre contra a democracia, embora fale em nome dela. A direita é sempre contra a expansão dos direitos, embora fale em ordem e progresso.
     Mas do lado democrático o cansaço das revoluções também parece que vai se dissipando e os povos novamente se levantam para lutar por mais direitos. Na França luta-se contra a reforma da previdência, no mundo inteiro pelos direitos dos gays, nos países islâmicos, pelo direito a se libertar da opressão israelense, sempre apoiada pelos americanos, e pela fundação do Estado Palestino.
     E no Brasil enfrentamos uma contra-ofensiva da direita que pretende retomar o poder para nos reduzir novamente à submissão, instituir o desemprego em massa e vender o país ao velho e decadente imperialismo americano. Lutamos contra um modelo de imprensa, onde a comunicação está nas mãos das famílias mais influentes e poderosas, aliadas do grande capital, para que dominem a mente do nosso povo, implantando como um chip nos seus cérebros, as idéias que lhes interessam, os hábitos de consumo que os enriquecem, em detrimento da saúde do povo e do planeta.
     Lutamos todos também por um novo modelo econômico, que não destrua, mas preserve nosso planeta Terra, onde queremos que nossos descendentes continuem a viver por muitos milênios.
     Creio que 2010 foi um ano de semeadura e 2011 será um ano de abertura. Abertura de novas idéias, de novas realidades que se descortinarão aos poucos, em meio aos conflitos entre as forças da mudança e as que querem que o mundo ande para trás, no embate dialético que a cultura humana sempre experimenta, testando novas hipóteses, construindo novas utopias, que vão moldando o futuro e mostrando o caminho.
    
    Boa segunda-feira à todos.

    Ricardo Stumpf Alves de Souza
    
    
    
    

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Rapidinhas

    A montanha e os abutres
     Parabéns aos chilenos pela capacidade técnica e a determinação com que conduziram o resgate do mineiros presos na mina San Jose, em Copiapó, mas a manobra de marketing do Sebastian Piñera, em torno do episódio me cheira a algo podre. Isso é se aproveitar de uma tragédia para se promover.
     Todo o episódio lembra muito um filme americano antigo, cujo título em inglês era Ace in the Hole e que passou no Brasil com o nome de A montanha dos sete abutres. Esse filme de 1951, dirigido por Billy Wilder e estrelado por Kirk Douglas e Richard Benedict, entre outros, trata da exploração comercial  e  midiática feita a partir de um incidente, onde um homem ficou preso em um buraco numa montanha (para saber mais sobre o filme visite o link http://www.adorocinema.com/filmes/montanha-dos-7-abutres/).
     Não se comenta que a mina não deveria ter sido reaberta porque já tinha um histórico de acidentes e que isso foi autorizado pelo mesmo ministro de minas que estava lá participando do show midiático. Depois desse acidente, já ocorreu mais um no Chile, outro no Equador e ainda um outro na Colômbia, sem falar nos acidentes constantes que ocorrem na China.
     Seria interessante que o resgate bem-sucedido dos chilenos servisse para abrir um debate responsável sobre a segurança do trabalho em minas, ao invés de servir como pano de fundo para interesses políticos de Sebástian Piñera e seu desejo de brilhar no cenário internacional. Se o resgate foi bem sucedido, parabéns, mas é preciso explicar porque aquela mina foi autorizada a funcionar sem condições de segurança.

     PIG
     A Folha de São Paulo publicou uma denúncia de que a esposa de Serra, Mônica, teria confessado a suas alunas durante uma aula, já ter feito um aborto (para ver a notícia acesse o link abaixo http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1610201011.htm). A denúncia foi negada pela campanha do candidato da direita e não repercutiu na grande mídia, o que eu considero correto. A eleição não tem nada a ver com a vida particular da ex-primeira dama de São Paulo. Mas se fosse com Dilma a história ganharia certamente uma enorme amplificação. O mesmo ocorre com as trapalhadas de Paulo Preto, o ex-diretor do Dersa, nomeado por Serra. Nenhuma notícia a respeito na grande imprensa, que faz por merecer o apelido que lhe deu Paulo Henrique Amorim, de PIG - Partido da Imprensa Golpista, pois se comporta como um se fosse partido político e não como órgãos sérios de comunicação, pondo toda sua influência à serviço das manipulações para tentar mudar o destino das eleições.

   Rio de Contas

     Pra quem não é baiano, gostaria de esclarecer porque frequentemente falo da cidade de Rio de Contas, onde morei nos últimos 06 anos e pela qual tenho um especial interesse e carinho. Apesar de estar em Brasília, desde junho deste ano e pretender ficar por aqui mesmo cuidando de minha velha (ops) mãe, meus laços de afeto com a cidade histórica do ciclo do ouro continuam os mesmos.
     Tombada pelo Patrimônio Histórico desde os anos 80, Rio de Contas é uma jóia rara na Chapada Diamantina e lá tenho casa na cidade e uma pequena roça, onde planto um pouco de uva e de cítricos e muitos amigos preciosos de quem não quero me separar.
     Por isso, às vezes, não se espantem os leitores de outros estados ou de outros países, se eu falar de minha pequena aldeia e seus problemas, cujas soluções sempre me interessam. Afinal, acho que o mundo é composto cada vez mais de pequenas aldeias conectadas, mesmo que sejam bairros dentro de grandes cidades, ou superquadras, nesta Brasília que cresce tanto.
     Para os que se interessem em conhecer mais sobre a cidade e região, estou anexando aos blogs que sigo o Notícias de Rio de Contas, muito bem elaborado por Altemar e sugiro também alguns sites na internet que mostram as belezas deste lugar ímpar.
  
Para se informar sobre a cidade e região http://www.cidadeshistoricas.art.br/riodecontas/index.php
    
Para obter dados sobre o muncípio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Contas.


domingo, 17 de outubro de 2010

Baixarias Eleitorais

     Prezados amigos, é uma tristeza o que estamos assistindo no final dessa eleição tão importante para o Brasil. A direita acuada, prestes a ficar mais quatro anos, talvez oito, fora do poder, partiu para um vale tudo que não respeita nada nem ninguém.
     Primeiro partiram para o denuncismo, procurando algum escândalo que manchasse a imagem da candidata do PT. Veio a história da quebra de sigilo da filha do Serra, que tentaram jogar em cima de Dilma. Nunca explicaram com que propósito. Sabe-se que a filha de Serra e seu marido aprontaram muito, mas ninguém pode dizer nada, porque isso seria um dossiê para desmoralizar Serra.
     Como isso não afetou a opinião pública, fuçaram até achar uns podres de sua assessora, Erenice Guerra, e aí foi aquele dilúvio de imagens e ironias na mídia golpista, como se o detentor de um cargo público fosse responsável por tudo que seus assessores fazem. Ainda mais Dilma, que controlava todos os ministérios, como poderia ter controle de tudo o que ocorria no quarto escalão, já que confiava em sua assessora?
     Evidentemente houve um abuso da confiança que Dilma depositou em Erenice, mas não quer dizer que ela fizesse parte desses desacertos. Se assim fosse todos os ministérios estariam contaminados pela corrupção e não apenas um.
     Não satisfeitos, partiram para a utilização das religiões, insinuando que Dilma era à favor do aborto e do casamento gay, forçando a candidata a desviar seu discurso do programa de governo para responder a essa chantagem, inclusive se comprometendo a não mexer nessa legislação e prejudicando o que poderia ser um debate saudável sobre esses temas.
     Mas ultimamente a baixaria não encontra mais limites: e-mails acusando a candidata de ser homossexual, promovendo camisetas debochadas, insinuando até que existe uma profecia de que se Dilma assumir haverá uma grande tragédia, que ela estaria doente e morreria no cargo, etc, etc.
     No começo ainda se podia achar isso engraçado, mas agora, confesso, estou começando a tirar da minha lista de contatos as pessoas que mandam esse tipo de coisa, porque isso revela principalmente uma enorme falta de respeito com a democracia e com nossa nação, que está às portas de tomar uma decisão importante sobre quem nos governará nos próximos anos.
     O que parecia brincadeira está virando um exercício fascista de demolição da imagem da primeira mulher que postula a presidência em nossa história.
     Gostaria de perguntar aos leitores, o que acham que seria um governo que se elege às custas de expedientes como esse? Se amanhã qualquer um de nós, cidadãos, resolver questioná-lo, seja na justiça, seja na mídia, seja na internet, será que não seríamos também alvo desse tipo de demonização? Será que não teríamos também nossos direitos de cidadão atropelados por essa turba fascista, por essa imprensa golpista, a mesma que apoiou a ditadura e está aí até hoje defendendo sua liberdade de destruir a imagem de seus adversários, como se isso fosse liberdade de expressão?
     Será que é só isso que a turma do Serra consegue produzir? Sim, porque até agora não vi uma só proposta consistente com o que eles realmente pretendem fazer. É fácil fazer promessas populistas de aumentar salários, construir escolas, etc, quando sabemos que o único e verdadeiro programa eleitoral do PSDB é o Estado Mínimo, ou seja privatizar tudo, arrochar salários, para que a iniciativa privada assuma as rédeas do país, sem nenhum controle do Estado. E o que é o Estado? O Estado somos nós, os cidadãos. Privatizar é tirar o controle da nação das mãos dos cidadãos e jogá-lo nas mãos dos empresários, os mesmos que são donos da mídia golpista.
     Claro que os grandes empresários preferem esse modelo, mesmo que tenham ganhado muito dinheiro no governo Lula. O modelo do PSDB é o modelo dos empresários no poder. Mas eles não podem dizer isso, então vem com propostas populistas mentirosas. Lembram-se dos cinco dedos de FHC? Saúde, educação, transporte, segurança... E o que FHC fez na realidade? Privatizou e entregou tudo aos empresários. Deixou um país falido, dominado pelo tráfico, com péssimnas condições de educação e saúde. Nos transportes não fez absolutamente nada. Nos deixou com uma malha viária esburacada, acabada. Não fez um palmo de ferrovias. Tudo mentira.
     Serra no governo de São Paulo repetiu tudo. Privatizou, arrochou os salários dos professores e policiais, tercerizou a saúde e deixou as obras públicas sem fiscalização do Estado. Daí os acidentes na linha 4 do metrô, quando o chão afundou engolindo uma porção de casas e gente que ia passando na rua e na queda dos viadutos do rodoanel, porque a fiscalização das obras também é terceirizada. No caso do metrô, a empresa que fiscalizava, pertencia ao mesmo grupo empresarial da que construía a obra..
     E as rodovias? Pedágios caríssimos, tudo privatizado, ninguém consegue mais viajar pelo interior sem gastar fortunas.
     Esse é o verdadeiro modelo de Serra, oculto atrás das promessas populistas e das baixarias.
     Pensem nisso antes de passar adiante as piadinhas grosseiras sobre Dilma. Hoje é ela, amanhã seremos nós.

 História de outras vidas (31)

 Hair e a menina rica

     O ano era 1970. A cidade São Paulo.
     Eu havia ido tentar o vestibular em São Paulo e além do cursinho, me matriculei também na Escola Panamericana de Artes, onde comecei um curso desses que ensina desenho a mão livre, croquis, desenho à carvão, etc, que me ajudaria a passar nas provas específicas da Faculdade de Arquitetura da USP.
     Vivendo de uma magra mesada que meu pai me mandava, eu morava em pensões e circulava de ônibus por uma cidade que passava por uma revolução urbana, causada pela construção da primeira linha do metrô e de grandes avenidas que acompanharam a implantação da indústria automobílística no Brasil.
     Vindo de Brasília, onde a elite era composta de funcionários públicos com uma boa renda, mas com as limitações naturais da classe média, fiquei chocado ao conviver no curso Anglo-Latino com filhos da classe alta paulistana,  que exibiam um nível de luxo a que poucos estavam acostumados na época.
      Apesar do meu orçamento apertado, economizava dinheiro para ir a teatro e cinema, atividades culturais que sempre me despertaram muito interesse.
      Na Escola Panamericana, também muito elitizada na época, conheci uma garota muito bonita e simpática. Não lembro seu nome, mas nos aproximamos e surgiu um interesse mútuo cultivado em meio as conversas sobre arte.
     Eu pensava em convidá-la para sair mas não sabia como, já que ela fazia parte de uma turma cheia da grana, que chegava e saía do curso em carrões. Uma vez ela me convidou para uma festa e ingenuamente fui. Não conhecendo São Paulo procurei a rua e a casa, sem perceber que estava num dos bairros mais caros da capital paulista, e fui parar numa imensa mansão. A festa à beira da piscina estava lotada de jovens, inclusive alguns que conhecia de vista do cursinho, do mesmo estilo.
     Falavam e riam alto, criticando os mais pobres, os cafonas na gíria da época e falavam de carros, viagens à Europa e Estados Unidos, exibindo sem nenhum pudor suas riquezas e o poderio econômico de suas famílias.
     Apesar da gentileza com que a moça me recebeu me senti muito mal e acabei ficando isolado, temeroso de ser objeto de zombarias daquelas pessoas tão arrogantes e acabei indo embora à pé, do mesmo jeito que havia chegado. No outro dia, no curso, ela me perguntou o que tinha acontecido e dei uma desculpa qualquer, mas continuava interessado em convidá-la pra sair. O que fazer?
     Nessa época estreiou em São Paulo a versão brasileira do musical americano Hair, onde a grande novidade é que os atores ficavam completamente nus em uma cena. O ingresso era bem caro mas economizando aqui e ali, achei que dava para convidá-la. Assim, poderia sair com ela para um espetáculo que fazia parte do nosso assunto predileto (arte) e que estava na vanguarda das transformações que motivavam a juventude da época, inclusive daqueles abestalhados ricos amigos dela, que naturalmente só se interessavam porque era uma coisa que estava na moda e vinha dos Estados Unidos, sem nem mesmo compreender o viés crítico à sociedade americana da peça.
     Mas como levá-la à peça se não tinha carro, nem dinheiro para um taxi? Era o ingresso ou o taxi, não dava para os dois. Resolvi então partir para a originalidade e me coloquei como realmente era, um estudante sem dinheiro, amante das artes e bem interessado nela e a convidei para partilhar um pouco do meu mundo saindo comigo de ônibus, à noite, pelas ruas esburacadas de uma São Paulo em obras.
     De início surpreendida, ela acabou aceitando o convite, curiosa por essa experiência que seria sair com um cara sem dinheiro como eu, que se mostrava como era, tão diferente dos playboys a que estava acostumada.
     Fui buscá-la na sua mansão vestindo uma simples calça Lee branca (onde foram parar as jeans brancas e as Lee de veludo, tão bonitas e esportivas?) e uma camiseta Hering. Sua mãe fez questão de vir me conhecer e pareceu agradavelmente surpresa, talvez porque eu realmente sabia ser um rapaz bem educado.
     Saimos, pegamos o ônibus e fiz questão de pagar seu (caríssimo) ingresso no teatro. Tudo parecia ser uma novidade para ela. Olhava as pessoas no ônibus com interesse e um pouco de comiseração, como se nunca tivesse se aproximado de gente pobre, ou simplesmente de gente comum.
     Adoramos a peça e me lembro que na volta um homem desmaiou no ônibus. Ele estava sentado em um banco e numa curva, simplesmente caiu e ficou desacordado. Ela se levantou e correu para socorrê-lo, demonstrando compaixão e revolta por ninguém se mexer para ajudá-lo.
     Ajudei-a a levantar o sujeito e voltamos conversando animadamente até a sua casa. Ela estava muita excitada com sua aventura, parecia ter descoberto um novo mundo e me olhava com admiração, o que me enchia de orgulho. Mas ao invés de nos aproximar, tudo aquilo pareceu nos afastar mais, como se eu houvesse adquirido uma aura de herói que ela não quisesse destruir com um romancezinho comum. Nos despedimos assim, sem um beijo sequer.
     Depois disso não consegui mais pagar a escola de artes e saí do curso. Logo depois, enjoado de conviver com tanta gente idiota no cursinho, resolvi deixar São Paulo e retornei à Brasília, onde passei no vestibular da UnB, em 1971, para arquitetura.
     Nunca mais soube dela, mas quando vi o filme Hair, de Milos Forman (uma beleza de filme) no início dos anos 80 e agora que soube que o musical está de volta ao teatro em São Paulo, não pude deixar de me lembrar.
     Onde andará aquela que era uma moça bonita da Escola Panamericana em 1970? Que reflexos terá tido sobre sua vida a noite mágica, em que misturamos a realidade de uma São Paulo empobrecida e em transformação, com a riqueza cênica daquele musical, que nos anunciava novos tempos?

Boa segunda-feira à todos

Ricardo Stumpf Alves de Souza
    
(Para saber mais sobre a montagem de Hair naquela época entre no link: http://amusicanoar.blogspot.com/2007/09/hair-soundtrack-brazilian-version-1969.html )
    
    

    


domingo, 10 de outubro de 2010

Rapidinhas

Viva Tiririca

     A burguesia elitista de São Paulo odeia Tiririca. Quer cassá-lo, impedir que os 1.300.000,00 votos que ele teve ameacem o seu teatro político, onde bandidos quatrocentões, que vendem o Brasil e rifam o povo alegremente, em nome de seus negócios escusos, posem de gente séria.
     Tiririca é a negação de tudo isso, é o desmascaramento da hipocrisia da tradicional elite paulistana.
     Não é a primeira vez que esse tipo de voto de protesto faz sua aparição e irrompe com força na política brasileira. Em 1958 os paulistanos elegeram um rinoceronte como vereador. Sim, prezados leitores, num tempo em que o voto era escrito numa cédula de papel, Cacareco (esse era o nome do rinoceronte) teve imensa votação (mais de 100.000 votos), suficiente para elegê-lo vereador, superando muitos políticos "sérios".
     Em 1988 o fenômeno se repetiu, com o Macaco Tião, um chipanzé também muito bem votado (mais de 400.000 votos) para prefeito do Rio. E mesmo nas eleições passadas (2006), tivemos Clodovil, o costureiro boquirroto com a maior votação de São Paulo, seguido de Paulo Maluf.
     A diferença é que desta vez, ao contrário das anteriores, o personagem parece estar consciente do seu papel e o desempenhou muito bem durante a campanha, tornando o seu deboche o maior voto de protesto que se tem notícia no Brasil.
     E agora? O que fazer com Tiririca no Congresso Nacional? Como será seu desempenho? tentará fazer leis ou continuará sendo apenas uma negação, uma denúncia, um deboche?
     De qualquer forma ele representa muito melhor do que o PT ou os partidos ditos "conscientes", a crítica ao sistema político, incapazes de resolver os problemas nacionais e representar os interesses do povo.

Tropa de Elite 2

     O filme consegue ser melhor do que o primeiro. Assim como Tiririca, mas de forma muito mais contundente, desmascara a hipocrisia do sistema político brasileiro, mostrando a relação íntima entre bandidos e políticos e a corrupção que domina o sistema eleitoral.
     É uma pancada forte no espectador, mesmo nos mais críticos, mas como no primeiro filme, nos enche de esperança de que essa guerra possa ser ganha, principalmente enquanto houverem pessoas dispostas a denunciar e a mudar essa realidade.
     Direção, fotografia, trilha sonora e atuação do elenco excelentes.
     O ponto que foi muito criticado no primeiro filme, com a identificação dos movimentos de direitos humanos como obstáculos à justiça, é muito bem resolvido neste, na medida em que a realidade aproxima esses dois grupos, os policiais honestos e os que lutam honestamente pelos direitos humanos, numa aliança onde todos aprendem e ensinam as lições mais amargas.
     Não deixe de assistir.


     Segundo Turno

     Ao contrário do que deseja a vendida direção nacional do PV, Marina Silva parece que vai se comportar como a pessoa séria que todos a consideravam. Ao invés de trocar apoio e votos por cargos está preparando a abordagem correta, ao levar aos dois candidatos seus pontos programáticos principais. Essa era a grande contribuição que Marina podia dar ao segundo turno das eleições presidenciais, ou seja, forçar que o desenvolvimentismo de Serra e Dilma incorporasse a dimensão ambiental, sem a qual o Brasil não pode mais prosseguir.
     Vamos agora observar até que ponto essa incorporação se dará com a seriedade necessária pelos dois candidatos. Não podemos mais conviver com o desmatamento dos nossos biomas, com a tolerância das autoridades, principalmente na Amazônia. É preciso dar um basta nisso. Esperamos que o assunto seja levado ao debate do segundo turno (ao invés de se resumir a baixarias do tipo religioso em torno do aborto e outras questões de consciência). Lixo, esgotos, proteção da flora e fauna, escolha de modelos energéticos e padrões de urbanização são discussões que já passaram da hora de entrar na agenda política brasileira.
     Seguem abaixo os 42 pontos do documento que Marina encaminhou à Serra e Dilma.
1- Transparência e ética
1.1 Não instituição de qualquer mecanismo de tutela ou controle sobre a liberdade de imprensa;
1.2 Transparência das informações sobre execução orçamentária do governo federal disponibilizando na internet dados primários do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), permitindo o acompanhamento da execução dos contratos e dos processos decisórios inclusive dos conselhos de governo e agências reguladoras;
2- Reforma eleitoral
2.1 Encaminhamento ao Congresso de reforma política com adoção do voto distrital misto, lista cívica e financiamento público de campanhas.
3- Educação para a sociedade do conhecimento
3.1 Elevação do investimento em educação do setor público para 7% do PIB, priorizando novos investimentos na direção da universalização do acesso à pré-escola e à creche;
3.2 Eliminação do analfabetismo entre jovens de 15 a 30 anos até 2014 e erradicação do analfabetismo até 2018;
3.3 Valorização dos professores da rede pública na sua remuneração, acesso universal a computador e internet, programas de aperfeiçoamento, formação continuada e fóruns democráticos para aprimoramento de currículos e métodos pedagógicos;
3.4 Viabilização, nos primeiros seis meses de governo, da aprovação no Congresso da Lei de Responsabilidade Educacional e a criação do Sistema Nacional de Educação;
4- Segurança pública
4.1 Programa de subsídios à manutenção na escola ou em curso técnico profissionalizante de todos jovens em situação de risco;
4.2 Fundo nacional de segurança para complementar os salários dos policiais civis e militares de forma a garantir sua dedicação exclusiva à segurança pública;
4.3 Encaminhar, no prazo de seis meses, PEC para reforma do modelo policial brasileiro.
5- Mudanças climáticas, energia e infraestrutura
5.1 Agência reguladora independente para a Política Nacional de Mudanças Climáticas;
5.2 Publicação de estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil e, a cada três anos, seu inventário completo;
5.3 Estabelecimento de indicadores de intensidade de emissões de GEE na economia brasileira com suas metas de redução previstas em Lei, tornando-as obrigatórias;
5.4 Aumento em 10%, até 2014, da participação das energias renováveis na matriz energética brasileira;
5.5 Fim dos leilões de energia para novas termoelétricas movidas a óleo diesel ou carvão mineral;
5.6 Inclusão efetiva da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética;
5.7 Supressão do IPI sobre fabricação de veículos elétricos e híbridos;
5.8 Estabelecimento de um Plano Nacional Decenal de Infra-estrutura compatível com as metas de redução de emissões de GEE;
5.9 Moratória de novas usinas nucleares ainda não autorizadas pelo Congresso Nacional;
5.10 Criação do Sistema Nacional de Prevenção e Alerta sobre Desastres Naturais, incluindo publicação anual de mapa de áreas vulneráveis a desastres naturais;
5.11 Painel científico independente para monitorar a segurança na exploração do pré-sal;
5.12 Universalização do acesso à banda larga em todo Brasil;
5.13 Plano de geração de empregos verdes na transição para economia de baixo carbono;
5.14 Cumprimento das condicionantes socioambientais em relação ao projeto Belo Monte;
6- Seguridade social: saúde, assistência social e previdência
6.1 Comprometimento de 10% do orçamento federal para saúde conforme previsto na emenda 29/2000 e sua regulamentação no Congresso Nacional em 2011;
6.2 Programa Saúde da Família (PSF) para, pelo menos, 80% da população brasileira, até 2014 com redução de três mil para dois mil do número de pessoas atendidas por cada equipe;
6.3 Carreira para os integrantes do PSF feita de forma solidária entre governos federal, estaduais e municipais;
6.4 Aumento para 75% dos domicílios com acesso à rede de esgoto e pelos menos 50% com tratamento do esgoto coletado, até 2014, com vistas à universalização do serviço até 2020;
6.5 Implantação da rastreabilidade e rotulagem de alimentos transgênicos;
6.6 Programas sociais de terceira geração contemplando a inclusão produtiva como desdobramento dos programas de transferência de renda;
7- Proteção dos biomas brasileiros
7.1 Desmatamento zero de vegetação nativa primária e secundária, em estágio avançado de regeneração, em todos os biomas brasileiros, ressalvadas situações de premente interesse público;
7.2 Veto a propostas de alteração do Código Florestal que reduzam áreas de reserva legal, preservação permanente ou promovam anistia a desmatadores;
7.3 Implementação da meta de 10% dos biomas brasileiros incluídos em unidades de conservação;
7.4 Apresentação de Plano Nacional para Agricultura Sustentável;
8- Gasto público de custeio e Reforma Tributária
8.1 Limitação da expansão dos gastos de custeio do governo federal à metade do crescimento do PIB;
8.2 Proposta de reforma tributária nos seis primeiros meses de governo contemplando: Simplificação e restrição drástica da regressividade dos impostos; Informação clara ao consumidor do valor dos impostos na composição dos preços de produtos e serviços que adquira;
8.3 Revisão da tributação, incentivos e renúncias fiscais de acordo com impacto sobre o meio ambiente e intensidade de emissões de GEE.
8.4 Redução substancial dos cargos comissionados de livre provimento;
9- Política externa
9.1 Política externa orientada pela promoção da paz, liberdade, democracia e respeito aos direitos humanos.
10- Fortalecimento da diversidade socioambiental e cultural
10.1 Conclusão da demarcação e homologação das terras indígenas e criação de fundo para apoiar projetos indígenas e das demais populações tradicionais;
10.2 Implementação do Sistema Nacional de Cultura, ampliando seu orçamento promovendo a descentralização dos recursos e das políticas culturais;
10.3 Combate a toda forma de discriminação racial, sexual e religiosa.
     Recebi de um leitor os 42 pontos completos e já substituí os do jornal Estado de São Paulo, que havia publicado ontem. Obrigado Adriano. Pena que no debate acirrado da Band, de ontem nenhum desses pontos entrou em pauta. Creio que nos próximos debates eles entrarão.
     Particularmente gostaria de esclarecimentos em 3 pontos: o que é a Lista Cívica proposta na reforma eleitoral, e como seriam os Sistemas Nacionais de Educação e Cultura, propostos por esta agenda.
 
Boa segunda-feira à todos

Ricardo Stumpf Alves de Souza



    

sábado, 2 de outubro de 2010

   Aborto e eleições

     Prezados amigos leitores

     Até que enfim acabou a propaganda eleitoral. Não aguentava mais as mesmas conversas, os debates insossos, onde as verdadeiras intenções ficavam todas disfarçadas, pra escondê-las dos ingênuos, já que qualquer pessoa com um pouco de experiência e honestidade sabe perfeitamente distinguir tudo que está por trás do marketing.
     E não se venha falar da desonestidade dos políticos. O que tenho observado e muito nessas eleições é uma imensa desonestidade da própria sociedade, como um todo, que nun jogo de faz de conta, se faz de indignada por um lado, enquanto apóia todo tipo de manipulações, de grupos de interesse, em torno de candidaturas e políticos.
     Dentre essas desonestidades coletivas a que me provoca maior mal estar é a polêmica em torno do aborto, estimulada pelas igrejas (todas elas). Na última semana a velha elite acuada e entrincheirada na candidatura moribunda de José Serra, apoiada pelo braço conservador verde de Marina Silva, lançou ataques contra Dilma, levantando suspeitas de que ela seria a favor do aborto.
     Não vou nem comentar a leviandade de fazer tais acusações no final da campanha eleitoral, sem dar a acusada o tempo suficiente para se defender, numa manobra para forçar um segundo turno, que seria péssimo para o Brasil, porque se transformaria numa baixaria geral, lançando nossa eleição na lama, numa atitude golpista desesperada.
     Mas o que me causa esse sentimento de asco, diante da manobra, é pensar nos abortos que induzi duas mulheres a fazer, nos meus tempos de juventude. E ver esse assunto tratado assim, como um movimento a mais num jogo sem regras definidas, onde o que importa é sujar a imagem do adversário, me parece um enorme desrespeito as vítimas do aborto no Brasil.
     Sim, queridos leitores, carrego na consciência esses dois abortos, mas minha dor não é apenas pelos meus filhos que impedi de nascer, pois espírita que sou, acho que eles me vieram por outros caminhos, inclusive por uma adoção.
     Não. A dor que sinto é pelas duas jovens, hoje senhoras na faixa dos 60 anos, que após as operações feitas em clínicas clandestinas, nunca mais puderam ter filhos.
     Muito jovens, em ambos os casos, não conhecíamos, nem praticávamos o que hoje se chama sexo seguro, num tempo em que não havia AIDS. Não tínhamos comprometimento afetivo para formar uma família e criar filhos e nem renda para sustentá-los. O aborto foi uma opção de vida para nós, no que parecia apenas um adiamento da formação de uma família.
     Hoje, uma delas se dedica a cuidar de animais abandonados, o que revela a dor não superada pela incapacidade de dar amor a um filho, enquanto a outra se refugia numa pretensa dureza intelectual, muito reveladora da sua extrema fragilidade e solidão. Me culpo pelas duas. Sinto-me como se tivesse arruinado suas vidas, embora elas tenham concordado com os abortos.
     Mas a verdade, queridos leitores, é que os verdadeiros culpados são esses que em nome de religiões obrigam milhares de mulheres a se expor nessas clínicas, sem nenhuma segurança, sem nenhum cuidado com suas vidas, porque um padre ou um pastor acham que elas não tem o direito de seguir uma decisão autônoma.
     Até quando vamos tolerar que religiosos tomem decisões por nós? Porque não decidem apenas pelos de sua religiâo? Até quando vamos tolerar essa hipocrisia de dizer que no Brasil não existe aborto, quando estamos cansados de saber que ele é uma prática comum e corriqueira, e que sempre foi assim, inclusive entre os nossos indios? Até quando vamos ver jovens morrerem ou perderem a fertilidade, em nome de uma moral estúpida, que proíbe também os anticoncepcionais (inclusive as camisinhas em época de epidemia global de aids) e condena a educação sexual nas escolas, porque quer negar a existência do impulso sexual humano que existe em todos nós?
     Que moral tem a Igreja Católica, fábrica de pedófilos, para combater o aborto que suas freiras podem praticar livremente em caso de estupro? Qual a diferença para um feto, fruto de estupro, ou um feto fruto de uma aventura irresponsável? Eles não sabem de nada, são apenas fetos. Porque uns podem ser retirados enquanto outros não? Que moral tem esses igrejas, que não fazem nada para prevenir a gravidez na adolescencia das nossas jovens, para obrigá-las a ter uma criança comprometendo muitas vezes seu futuro?
     O aborto não é uma coisa boa. Ninguém, em são consciência pode dizer que gosta de aborto. Ninguém diz: eu adoro abortar! Claro que isso é uma violência, contra o corpo da mãe e do feto. Tudo deve ser feito para impedir que isso aconteça, principalmente através da educação sexual nas escolas e na distribuição livre e gratuita de anticoncepcionais, especialmente as camisinhas, de uso fácil, baratas e sem contra-indicações.   
   Mas quando a gravidez indesejada ocorre, é preciso que a mulher tenha acesso a um serviço de saúde público que lhe garanta fazer o aborto (até os três meses, no máximo) de forma a garantir a preservação da sua integridade, impedindo a infelicidade futura, ou mesmo a sua morte prematura.
     Quantas mulheres morrem por ano em clínicas de aborto clandestino no Brasil, senhores padres e pastores, por vossa culpa? Quantas mulheres vocês continuarão matando por ano, em nome da defesa da vida, com apoio de gente como Marina Silva, que diz representar as mulheres brasileiras? Quantos candidatos vocês constrangerão a dizer que são contra o aborto esgrimindo os milhões de votos que manuipulam dos seus púlpítos e impedindo as brasileiras de se libertarem dos grilhões medievais dessas religiões ridículas? 
     Chega de religião na política, chega de cinismo, chega de conservadorismo hipócrita!     
     É hora de legalizar o aborto no Brasil.
   Histórias de outras vidas (30)
   
   O canto na gruta

     Corria o ano 2.000, quando minha amiga Hanne veio do Rio Grande do Sul para fazer um passeio na Chapada Diamantina, na Bahia..
     Nessa época eu morava em Conquista e tinha uma velha camionete Ford Pampa. De lá saímos e fizemos um circuito grande, passando primeiro pela barragem de Anagé, depois Livramento e Rio de Contas, com todos os passeios que existem por lá.
     De lá saímos bem cedinho em direção à Jussiape, quando a estrada ainda era de terra, onde fomos conhecer um fantástico painel de pinturas pre-históricas. Um sujeito muito interessante nos levou lá pra ver. Ele era uma espécie de adido cultural do município, por conta própria. Era cineasta, tinha um museu particular que tinha cedido à Prefeitura e era também guia turístico. Realmente o interior do Brasil tem coisas incríveis. Num lugar tão pequeno e esquecido como aquela cidade, ali estava a inquietação cultural a nos esperar e guiar para ver aquela maravilha.
     Depois de rodar por pequenas estradas de terra, esburacadas, escalamos uma encosta íngreme e fomos dar numa imensa rocha, que formava um abrigo, sob o qual estava o painel. Um espetáculo! Figuras em vermelho, ocre e preto se misturavam na pedra empoeirada, protegida por um enorme enxame de abelhas que nos obrigava a andar cuidadosamente em silêncio.
     Curioso como em todos os sítios rupestres que conheci, lá estavam elas, as guardiãs da mensagem dos tempos pre-históricos: abelhas.
     Depois de caminhar por ali algum tempo, me sentei numa pedra e fiquei observando o painel, tentando entender aquelas figuras que pareciam brincar na minha frente. Figuras humanas, riscos aparentemente sem sentido, figuras de animais como cervos, e outros até que, de repente, ficou bem clara na minha frente a figura de nítida de um ...mamute. Sim, não podia haver dúvida. Muito bem desenhado, em vermelho, lá estava ele, o representante da megafauna, dada como desaparecida há pelo menos 5.000 anos no Brasil.
     Mas teria tanto tempo assim aquela pintura, bem à nossa frente?
     Um recado direto de alguém que viveu ali há milênios.
     No dia seguinte rumamos para Mucugê e Igatu. Depois fomos visitar as grutas do Poço Encantado e o Poço Azul, já no município de Itaetê. Engraçado: o Poço Encantado é que é azul e o Poço Azul é verde. Não entendo. Eu já conhecia o Encantado, mas desci com minha amiga. Lá nos encontramos com uma excursão que havia descido antes. Eram alemães e em determinado momento todos se sentaram sobre as pedras e ficaram admirando a extraordinária luz que entrava pela abertura acima da caverna, formando aquela imagem tão conhecida do facho de luz na água e que só acontece em determinada época do ano.
     De repente, uma das alemãs começou a cantar. Sua voz foi crescendo na gruta enquanto todos silenciavam e surgiu então uma lindíssima ária em alemão, numa voz fantástica. Arrepio geral. Não sei quantos minutos durou, mas quando cessou todos permaneceram, em silêncio, conscientes de que haviam presenciado um momento único.
     De lá fomos para Lençóis e depois Itaberaba, onde visitamos outro painel na chamada Pedra de Itaberaba, este um pouco depredado por visitantes que insistem em riscar seus nomes sobre as antigas inscrições. Nenhuma dessas inscrições tinha nenhuma proteção, a não ser a das abelhas, que também estavam em Itaberaba.
     A Chapada Diamantina, além de suas belezas naturais que encantam os turistas é também um testemunho de civilizações antigas que nos antecederam. Daquelas pedras imensas, os espíritos de nossos desconhecidos ancestrais  parecem nos olhar e não entender o que fazemos com a natureza e com os fabulosos recursos tecnológicos de que dispomos.
     Para quem viveu vidas tão primitivas quanto eles e foram capazes de nos deixar obras tão belas, feitas com a finura e a sensibilidade de verdadeiros artistas, só o canto na gruta talvez tenha sido uma resposta adequada à solidão de suas almas.

Boa eleição à todos

Ricardo Stumpf Alves de Souza