Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 28 de agosto de 2011

Rapidinhas
O futuro da Líbia


     Tomada Trípoli, seguem os últimos combates na Líbia e intensificam-se as buscas pelo ditador Muamar Kadafi, que pelo visto tinha seu plano de fuga muito bem arquitetado. Saiu pela rede de túneis que fluía à partir do seu bunker e deve ter se mandado para algum lugar seguro, junto com sua família e seus tesouros. 
     Talvez esteja em algum emirado árabe, hospedado por algum Sheik amigo, ou quem sabe na Coréia do Norte, ou Irã, onde as forças da Otan não ousam entrar.
     A discussão agora é com o futuro da Líbia, que deve ser comandada pelo CNT, Conselho Nacional de Transição, até que se estruturem instituições democráticas no país capazes de realizar eleições limpas que possibilitem a formação de um governo constitucional e uma economia integrada ao mundo globalizado, o que não significa necessariamente aderir às políticas decadentes do FMI, como bem demonstra a crise da Europa e Estados Unidos. 
     Uma Líbia democrática, tende a se tornar uma pequena potência econômica em pouco tempo, assim como o Egito, e pela sua posição geográfica, tende a desenvolver uma integração econômica muito forte com a União Européia, sua vizinha, logo ali do outro lado do mar mediterrâneo.
     A próxima pedra a cair no Oriente Médio deve ser a Síria, completando a limpeza dos ditadores nas margens do mediterrâneo (a monarquia marroquina já se apressou em promover reformas democráticas e o governo da Argélia suspendeu leis de excessão prometendo eleições livres), permitindo que todas aquelas economias se integrem, entre si e com a Europa, o que pode incluir Israel, se aquele país se libertar dos seus sonhos expansionistas sobre o território palestino.
     Com o provável reconhecimento do Estado Palestino pela ONU em setembro, estariam dadas as condições para uma expansão sem precedentes da União Européia, com a inclusão da Turquia, Síria, Iraque, Líbano, Israel, Egito, Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos, passando a ser uma União Euro-mediterrânea, com um pezinho na Ásia.
     Utopia? Vejam o mapa do Império Romano, no momento de sua expansão máxima e observem como as fronteiras naturais da Europa são o deserto de Saara, ao sul, os montes Urais à Leste e a Península Arábica a sudeste, sendo a Turquia uma passagem para a Ásia.
     Com a fronteira do leste esbarrando na gigantesca Rússia, a expansão do grande mercado europeu só pode se dar para o sul e pelas margens do mediterrâneo, consolidando o velho sonho expansionista de todas as antigas potências européias, a última das quais foi a Alemanha de Hitler.
     Quem sabe este antigo sonho imperial não se construa agora, democraticamente, pela integração econômica e política entre esses povos, libertando o mundo de tantas tensões políticas e das inúmeras guerras que se originaram na região ao longo dos séculos.

O Rio Verruga outra vez


     Como consequência da manifestação realizada pela Faculdade de Arquitetura da Fainor em defesa do Rio Verruga, no dia mundial do meio ambiente, 5 de junho, intitulada Abraço ao Rio Verruga, o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Vitória da Conquista, entrou em contato com a Fainor, aventando a possibilidade de que alunos daquela faculdade, supervisionados e orientados por professores, inciem estudos sobre a área do Rio Verruga, no sentido de subsidiar um futuro projeto de despoluição e implantação do Parque Municipal, previsto no Plano Diretor da cidade, ligando as bacias do Rio Verruga e da Lagoa das Bateias.
     O parque, cuja proposta inicial se desenvolve ao longo do curso do rio, viria atender a necessidade premente de áreas verdes e de espaços de lazer para a população da cidade (com índices de depressão entre os mais altos da Bahia), além de recuperar a saúde do único curso d'água da sede municipal, melhorando, em muito, a qualidade de vida dos seus habitantes.
     Parabéns ao Conselho Municipal do Meio Ambiente pela iniciativa. Esperamos que essa cooperação possa gerar bons frutos, englobando inclusive outras instituições da cidade.

CEDECA em Conquista

     O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, entidade sediada em Salvador e dedicada à proteção de crianças e adolescentes contra a violência, promoveu reunião em Vitória da Conquista, no último dia 19 de agosto, com o intuito de implantar um núcleo regional na cidade.
     Compareceram à reunião, representantes do Creas Central e Rural, do Coselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente, do gabinete do Vereador Vivi Mendes e do Conselho de Psicologia de Vitória da Conquista, além do CEDECA Salvador, que conduziu toda a reunião, dirigida  pela advogada, Dra. Isabella Costa.
     Excelente iniciativa do CEDECA, que traz para Conquista sua experiência em prevenção da violência contra as crianças e adolescentes. Agora o CEDECA-Conquista deve entrar em fase de estruturação, o que significa inclusive fazer uma pesquisa preliminar para conhecer melhor a realidade de Conquista e região.
     O Site do CEDECA apresenta a entidade da seguinte forma:

O que é o CEDECA?



O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente da Bahia - CEDECA/Ba , fundado em 1991, é formado integralmente por entidades sociais e administrado por um Conselho de nove ONGs, das quais se elege uma diretoria de três membros com mandato de dois anos.
O Coordenador-executivo é um técnico especializado responsável pela criação e desenvolvimento de projetos, administração, articulações e representação.
O CEDECA/Ba tem como principal missão institucional participar do esforço coletivo no sentido de assegurar proteção jurídico-social (art. 87 do ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente), oferecendo mecanismos de garantia de seus direitos fundamentais quando violados ou ameaçados.
Suas ações, estratégias e alianças são dirigidas a partir de um trabalho prévio de pesquisas setoriais, colhendo dados de uma determinada realidade ou situação, para em seguida intervir com seu instrumental sócio-político-jurídico.
Foram selecionadas, inicialmente, três linhas de ação:
  1. o combate à impunidade dos homicídios praticados contra crianças e adolescentes, que apresentava um índice de 100%;
  2. o combate à violência e exploração sexual de crianças e adolescentes, visando o desmantelamento das redes, a responsabilização do explorador e mudanças na cultura nacional e na legislação a respeito dessa problemática;
  3. a localização e identificação de crianças e adolescentes considerados desaparecidos, com o objetivo de proporcionar seu retorno e reintegração à família e à comunidade originais.
José

     Dia 27 de agosto de cada ano eu me lembro de José.
     Sim, foi nesse dia que um pequeno ser veio ao mundo, em 1975, vivendo apenas 3 dias.
     Nascido de seis meses e meio, numa época em que não haviam ainda recursos para garantir sobrevivência aos prematuros, meu pequeno filho nasceu sem que seus pulmões estivessem ainda completamente formados. Mais duas semanas de gestação e ele teria sobrevivido, mas ele se foi no dia 30.
     Eu tinha apenas 24 anos, quando carreguei seu pequeno caixão com minhas duas mãos, sozinho, enquanto a mãe se recuperava da cesariana em um hospital. Na lápide, em sua sepultura, apenas uma palavra: Zezinho, como o chamamos desde o princípio da gravidez.
     Hoje teria 36 anos. Como seria o homem José? Como teria sido sua vida?
     Uma lembrança que nunca morre em um coração de pai.
     Uma dor que não tem remédio.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Rapidinhas

Faltou uma

     A presidente Dilma anunciou a criação de duas novas Universidades Federais para a Bahia: a UFOBA (Universidade Federal do Oeste da Bahia), sediada em Barreiras e com outros campus também em Luis Eduardo Magalhães, Bom Jesus da Lapa e Barra; e a UFESBA (Universidade Federal do Sul da Bahia), com sede em Itabuna e subsedes em Teixeira de Freitas e Porto Seguro.
     Além disso anunciou uma extensão da UFBA em Camaçari, uma da UFRB (Universidade Federal do Reconcavo) em Feira de Santana e a criação aé 2013 da UNILAB (Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira, em São Francisco do Conde.
     Com isso, todas as regiões da Bahia ficam atingidas pelo ensino universitário federal, com excessão do sudoeste baiano, já que o norte do Estado já conta com a UNIVASF (Universidade Federal do Vale do São rancisco), em Paulo Afonso.
     O governador Jaques Wagner já se pronunciou sobre esta carência, dizendo que fica faltando uma Universidade situada mais ao centro da Bahia, já que a UFOBA está mais ao noroeste.
      Esta é a oportunidade para Rio de Contas reivindicar a instalação de uma universidade no município, pois a exemplo de Cachoeira, sede da UFRB, e de Ouro Preto, sede da UFOP, é uma cidade histórica, tombada pelo patrimônio, que precisa de novas funções econômicas para alavancar o seu desenvolvimento, sem prejudicar sua arquitetura antiga.
     Seu clima frio, devido à sua altitude e sua posição geográfica, ao sul da chapada e no centro da região sudoeste, lhe dão uma vantagem enorme para reivindicar a instalação desta última Universidade Federal.
     Não podemos esperar que o atual governo do município, que prima pela mesquinharia política e pelo imobilismo, corra atrás disso. É preciso que toda a sociedade riocontense se mobilize nessa luta para sediar uma Universidade Federal da Chapada Diamantina.
    
O eucalipto ameaça o Sudoeste da Bahia


     A CPT (Comissão Pastoral da Terra) e outras organizações populares ligadas à agricultura familar, denunciam que a empresa Veracel, que fabrica celulose, está pretendendo implantar um gigantesco projeto de reflorestamento no sudoeste baiano, região semiárida que já conta com poucos cursos d'água, que tendem a desaparecer rapidamente sob as florestas de eucalipto.
     Pra quem não sabe, os reflorestamentos de eucalipto, expulsam os pequenos agricultores do campo e empobrecem a terra, causando tremendo impacto social e ambiental.
     Para discutir o assunto, será realizado um seminário na UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), no dia 27 de agosto.
     É preciso que a população seja informada de um projeto tão impactante, para que não seja pega de surpresa por esse tipo de empreendimento, que ao invés de criar, tem a capacidade de exterminar empregos e expulsar os moradores do campo, criando ondas de migrantes para as cidades da região, que não estão preparadas para recebê-los, além de prejudicar a própra produção agrícola.
     Atenção Prefeitos e Vereadores de Conquista, Brumado, Tremedal, Condeúba e região. Atenção também Deputados Federais e Estaduais da Bahia, para esta ameaça contra o nosso estado.
    
Kadafi no fim


     Tropas rebeldes entraram em Trípoli, capital da Líbia, neste domingo, encurralando as forças do ditador Muamar Kadafi, que está no poder desde 1969.
     Este é o fim de um episódio sangrento da chamada Primavera Árabe, que luta para derrubar os regimes autoritários naquela região. A resistência do ditador ao avanço das forças rebeldes, durou 6 meses e mostra a dificuldade em remover esses regimes, que se acostumaram a governar com mão de ferro, numa região onde a democracia é deconhecida como cultura política.
     A próxima batalha deve ser a da Síria, onde uma dinastia de ditadores já se perpetua no poder há décadas e onde as forças de segurança não hesitam em atirar contra o povo desarmado, quando este se manifesta pelo fim do regime.
     É preciso lembrar, que esses regimes um dia contaram com grande apoio da população, na medida em que derrubaram monarquias feudais e modernizaram seus países, promovendo o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida de seus povos. mas da mesma forma que os comunistas do leste da Europa, não souberam lidar com os anseios pela democracia, quando as necessidades materiais da população já haviam sido atendidas e pretenderam perpetuar ditaduras que criavam pequenos grupos de privilegiados.
     Quando passam a massacrar seus próprio povo, essas ditaduras perdem legitimidade rapidamente e a oposição a elas só faz aumentar.
     Quem não deve estar gostando nada disso é Israel, que usava o pretexto de ser a única democracia do oriente médio, como desculpa para massacrar e ocupar as terras palestinas. Agora os povos árabes dirão como querem que seus governos lidem com Israel e, pelo que se observa no Egito, o resultado deve ser amplamente favorável aos palestinos.
Festival de Inverno em Conquista

     Cada vez melhor o Festival de Inverno de Vitória da Conquista. Desta vez brilharam no palco, Vanessa da Mata, Ana Carolina e Frejat, entre outros.
     Os artistas e visitantes se surpreendem com a dimensão e a organização do evento, e também com o frio das madrugadas conquistenses, o que levou o roqueiro J. Quest a dizer que é o único lugar onde se vê baiano de cachecol.

     Bom para mudar esse imagem do povo baiano como atrasado, preguiçoso e religioso, promovida pela mídia do sudeste, e apoiada pela Rede Bahia, da família de Antono Carlos Magalhães, que ainda domina a comunicação no estado.
     Dentre todas as apresentações, Frejat deu um banho de profisionalismo e musicalidade. Ana Carolina com seus pandeiros e Vanessa da mata rodando e cantando, também emocionaram.
     Acho que o parque de exposições já ficou pequeno para a festa.
     Que bom um festival de música na bahia sem a decadente axé-music, que ninguém aguenta mais.
     Parabéns a Conquista que se afirma cada vez mais como uma pólo de desenvolvimento econõmico e cultural no sudoeste do estado.

domingo, 14 de agosto de 2011

Rapidinhas 
Com amigos como esses...

     Caramba, mais escândalos nos ministérios ocupados pelos aliados do governo. Agora é no turismo.
     Quem viu aquele ministro octagenário tomando posse viu logo que isso não ia dar certo. Sem nenhum preconceito contra os idosos (já que agora sou um deles), o Ministério do Turismo precisava de sangue novo, inclusive para aproveitar os eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíadas) pra ver se a atividade deslanchava no Brasil.
     Mas antes mesmo de tomar posse, nosso vetusto ministro já se envolveu em um escândalo, em que pagou com verbas públicas uma farra num motel para alguns "amigos".
     Bom, pelo menos foi o que divulgou a imprensa da época.
     Mas ver policiais federais prendendo um Secretário Geral de um Ministério é uma bofetada em qualquer governo. O pior são as reclamações desses partidos, dizendo que o governo Dilma não sabe lidar com seus aliados... E mais. reclamando que o Ministro da Justiça sabia das operações da Polícia Federal e não fez nada.
     O que eles queriam, que o ministro avisasse os corruptos?
     Com amigos como esses, quem precisa de inimigos?
 
Trem bala neles!


     A oposição não se conforma com o projeto de trem bala entre Rio, São Paulo e Campinas.
     O grande argumento deles é que os Estados Unidos ainda não tem um desse tipo. Então pra que fazer um aqui? Claro, dentro da cabecinha colonizada desse pessoal não podemos ser melhores que os americanos. Temos que esperar eles resolverem fazer um para depois fazer outro por aqui, senão estaríamos afrontando os patrões deles.
     Que coisa!
     Outro dia um colunista desses da Folha da São Paulo, metido a sério, dizia que tínhamos que copiar o programa de economia de combustíveis do governo americano para os automóveis e que nós não estávamos fazendo nada nesse sentido.
     Esquece que há mais de trinta anos temos o pró-alcool, que eles mesmos sempre combateram, porque não havia nada igual no "primeiro mundo".
     Agora ninguém me convence que por trás desta campanha contra o trem bala não esteja o lobby das empresas aéreas, que vão perder muitos passageiros para o trem.
     Espero que esse trem saia logo. E mais. Que ele seja estendido a várias outras capitais brasileiras, nos libertando desse complexo de vira-latas da elite colonizada e dessas empresas aéreas que nos matam de fome e de aperto nos seus voos "econômicos".

Choque de eficiência

     O Governo federal avisa que vai cortar as verbas para os planos de mobilidade para a Copa do Mundo, que não cumprirem os requisitos técnicos econômicos, ambientais e sociais exigidos. 
     Parece que muitos governos estaduais simplesmente não dispõem de técnicos com competência para fazer os projetos e ficam enrolando ou mudando os projetos de acordo com interesses políticos locais.
     Uma pena. Isso é reflexo do hábito de fazer indicações políticas para cargos técnicos. Gente sem formação e sem capacidade, querendo arrecadar dinheiro público para obras faraônicas que depois ficam paradas por anos, como o metrô de Salvador.
     Nossa presidente parece que está sacudindo a roseira e botando as coisas nos eixos.
     Além disso ainda tem a corrupção nos ministérios. Mas disso cuida a Polícia Federal e o Ministério Público. 
     Como diziam os chineses: não importa de que cor é o gato, o importante é que ele pegue o rato!
     
2012

     Pois é, pessoal, parece que o mundo vai mesmo se acabar em 2012.
     Não o mundo físico, ou seja, o planeta Terra, como no filme, mas a civilização como tem sido até agora.
    Ver os cidadãos israelenses fazendo manifestações gigantescas, semelhantes as que acontecem no mundo árabe, pedindo políticas mais justas e democráticas, foi um sinal dos tempos. Além disso, a Europa se revolta contra seus velhos governos e partidos políticos, os Estados Unidos descem ladeira abaixo, sufocados pelo conservadorismo fanático do Tea Party, setor do Partido Republicano que quer fazer a civilização voltar ao tempo das cavernas, conseguindo com isso a façanha de nos libertar das garras do gigante imperialista.
     Parece que estamos vivendo uma nova era de mudanças em que os países vão perdendo sua importância, e a cidadania vai passando a ser um valor universal, por cima de velhos nacionalismos e ideologias ultrapassadas.
     Antes essas mudanças na civilização levavam séculos para acontecer, agora parece que estão se acelerando. Quem sabe em breve seremos um só país neste lindo planeta, numa civilização liberta de guerras, opressões, de mercados e de bancos.
       
Tecnologia e neologismos


     A coincidência de estar lendo um romance do escritor angolano José Eduardo Agualusa (Milagrário Pessoal, editora Língua Geral, Rio de janeiro - 2010) e ao mesmo tempo estar presente em um seminário sobre novas tecnologias de informação, aplicadas à construção civil (Tecnologia da Informação na Construção - TIC-2011), me expôs a um confronto de idéias surpreendente e muito significativo.
     Enquanto no romance os personagens principais, um velho professor aposentado e uma jornalista, mergulham numa busca por neologismos na língua portuguesa, passando por Lisboa, Recife e Angola, referindo-se a outros países da lusofonia (ou da lusosfera se vocês preferem ser mais contemporâneos), e descobrindo outros personagens mais radicais na defesa do idioma português, construído conjuntamente por todos seus quase 300 milhões de falantes no mundo, no seminário de Salvador abundavam neologismos e estrangeirismos, pronunciados por palestrantes com a maior naturalidade, como se todos nós tivéssemos a obrigação de conhecê-los, ou ainda, nos impondo a obrigação de conhecê-los e utilizá-los.
     Impossível não fazer a correlação entre o romance que eu lia à noite e as palestras que assistia durante o dia.
     Enquanto no livro, Agualusa nos brindava com belíssimos trechos como o que descrevo abaixo, falando sobre a importância dos quintais na lusofonia:
          Em Luanda, no Dundo, na Chibia, os quintais foram desde sempre espaços amáveis de convívio e de permuta.
          ...
          Nos quintais, em Luanda, o quimbundo misturava-se com o português. Também no Brasil o quintal foi durante séculos o lugar onde África repousava do esforço escravo. Ali se contavam histórias, cultuavam ancestrais e orixás, e se festejava a vida. Em Salvador, no Recife, São Luis do Maranhão, Ouro Preto ou no Rio de janeiro a nossa língua convivia com os idiomas indígenas e africanos, e era por eles namorada e ampliada.
           Gosto de entrar por esses quintalões antigos, em Olinda ou em Benguela, afagando os cansados muros de adobe, afastando as pesadas folhas de bananeira e a humidade ofegante, para finalmente me sentar no chão, a cabeça encostada ao tronco rugoso de alguma árvore centenária. Um abacateiro. Uma mangueira. Uma figueira. Um pau de fruta pão. Fecho os olhos e logo um vago rumor de vozes ascende da terra negra.
            Os quintais estão cheios de vozes. Para as escutar exige-se disponibilidade de espírito, ou seja, tempo e inteligência, soma de qualidades que nos dias que correm poucas pessoas possuem.
     Em um artigo relativo a implantação da tecnologia BIM na arquitetura (Building Information Modeling) , tema do seminário do qual eu participva, a revista AU afirmava em um dos seus parágrafos:
          Em escritórios de médio e grande porte também é recomendada a presença do "BIM manager", que será o responsável por criar templates, objetos e gerenciar as informações contidas nos softwares. Semelhante ao q-user, ele também deverá se atualizar constantemente para melhorar o uso do software no escritório.
     Me pergunto se tal profusão de estrangeirismos, simplesmente transcritos do inglês para o nosso dia-a-dia é realmente necessária.
     Assistindo às palestras e comunicações do seminário observei como muitos brasileiros residentes no exterior, especialmente nos Estados Unidos, se envaidecem com o uso de termos desconhecidos para a maioria dos brasileiros, que correm para tentar entendê-los e absorvê-los.
     Me entristeço com tal demonstração de colonização cultural. Os que moram fora, orgulhosos de absorver a cultura estrangeira do colonizador e os de dentro, ansiosos para não demonstrarem desconhecimento dos novos vocábulos, como se isso os diminuísse aos olhos da ciência.
     Mas ao atentar para o conteúdo das comunicações outra coisa me chamou a atenção. O palestrante que abriu o seminário, um americano legítimo, disse que devíamos cobrar dos fabricantes de novos programas de computador o atendimento as nossas necessidades, enquanto arquitetos e projetistas brasileiros. Mas os restantes palestrantes brasileiros, ao invés disso, só se preocupavam em demonstrar que estavam adaptados aos programas feitos para a realidade americana.
     A preocupação era sempre a de absorver e se adaptar e nunca de cobrar algo feito para nós.
     Triste postura.
     A excessão, para confirmar a regra, foi a de um grupo de pesquisadores da Unicamp, que mostrou-se muito à vontade em analisar a realidade das faculdades de arquitetura brasileira, desenvolvendo excelente perspectiva de adaptação das novas tecnologias à nossa realidade, sem se preocupar em beijar a mão dos estrangeiros, nem em utilizar estrangeirismos para tentar se legitimar junto a eles.
     Quais serão os arquitetos que produzirão nossa expressão arquitetônica no futuro? Tristes arremedos colonizados ou legítimas expressões da cultura lusófona brasileira? Um prato cheio para o velho professor do romance de Agualusa e uma preocupação autêntica para os que realmente se preocupam em formar novos profissionais em um Brasil que cada vez mais se afirma no mundo com uma expressão própria.
    

         
    

domingo, 7 de agosto de 2011

Rapidinhas

Dilma 3 x 0

     Nossa presidente tirou mais um ministro da era Lula.
     O agora ex-ministro Nelson Jobim, fazia parte de uma ala de direitistas que Lula incorporou ao seu governo para poder governar. Não dá pra esquecer que foi ele, como Ministro do Supremo, que defendeu a tese de que não existiam direitos adquiridos para os aposentados, naquela absurda reforma previdenciária que Lula fez logo no início do seu primeiro governo, reduzindo direitos e benefícios dos que trabalharam e contribuíram a vida toda, e criando o famoso "fator previdenciário". Tudo com a intenção de ganhar a confiança de setores do empresariado que achavam que ele ia fazer uma revolução comunista.
     Os aposentados pagaram a conta.
     Depois como Ministro da Defesa, Jobim ganhou a confiança dos generais conservadores que não querem abrir a caixa preta dos crimes que eles cometaram durante a ditadura.
     Agora com o talento de Celso Amorim, pode ser que o Brasil tenha uma política de defesa que realmente defenda nossa soberania, ao invés de fazer média com o decadente império americano.
     Depois de tirar Paloci da Casa Civil, Nascimento e sua corja dos transportes, Dilma faz mais um gol a favor do Brasil.

O Máscara

     Gente, esse mascarado aí em cima não é nenhum terrorista, nem refém da Al Qaeda. Sou eu mesmo fazendo tratamento de pele com a Dra. Simone Karst em Brasília.
     Doutora Simone cuida de mim desde 2002, quando tive um câncer de pele e fui salvo pela destreza e habilidade dela.
     Todo ano tenho que fazer uma revisão e este ano ela me mandou fazer esse tratamento chamado terapia fotodinâmica, em que a gente fica 3 horas com um produto no rosto (debaixo da máscara) e depois entra numa espécie de "forninho", para tirar todos os pontos que podem vir a se tornar câncer nos próximos anos.
     É, portanto, um tratamento preventivo.
     Muito competente e gentil a Dra Simone. Brasília pode se orgulhar de ter uma profissional a altura dela.
     E gente, por favor, usem protetor solar, para não terem que passar por isso.

Festival de Música em Livramento


     A Secretária de Cultura de Livramento, Esther Lígia, mais uma vez mostrando serviço (ao contrário do paradeiro em Rio de Contas), promove o festival de música Canta Livramento.
     As inscrições estão abertas até o dia 22 de agosto e o festival será realizado no dia 01 de outubro, na Praça D. Hélio Paschoal.
     As premiações serão de R$800,00 para o primeiro lugar, R$500,00 para o segundo e R$300,00 para o terceiro. Além disso haverá prêmios de R$200,00 para o melhor intérprete e melhor desempenho musical.
     Informações pelo (77)3444-2013, (77)3444-2037 - ramal 16 ou pelo 9966-1230, com a própria Esther Lígia.
     Parabéns Livramento.

(Conto curto)

FAXINA

     Ele não soube bem quando começou.
     Talvez quando seu amor o deixou. Sim, parece que foi isso.
     Tantos anos de dedicação respondidos com traição e desprezo.
     Seus últimos filhos já estavam a sair de casa e ele foi ficando sozinho, como sempre temeu.
     No fundo ele sempre soube que ficaria sozinho, mas tentava adiar esse dia, sendo bom para os outros, se preocupando, se desdobrando, mas no fundo... esperando. Quando o dia da solidão chegou ele se desesperou. Não sabia mais como viver.
     Sua casa vazia era um enorme monumento à derrota.
     Sim, à derrota. Se sentia velho e doente. Abandonado, sem rumo. Mas tinha que seguir porque não conseguia se imaginar se matando.
     Pensou em várias formas de se matar, mas nenhuma delas o agradou. Então resolveu seguir e começou a esvaziar tudo.
     A empregada, que vinha às sextas-feiras estranhou.
     Ele abria os armários e revirava as coisas e depois mandava jogar fora tudo que lembrasse o passado, os filhos, os amores, a vida que acabara de acabar, embora ele continuasse vivo.
     Eram montanhas de lixo na porta.
     Os meninos da vizinhança vinham catar seu lixo, pois sabiam que ali estavam coisas bem aproveitáveis, que aquele homem maduro, sabe-se lá por qual motivo não queria mais.
     Mandou um afilhado, que teimava em permanecer, cuidar da própria vida.
     Comprou uma TV nova e deu a velha ao homem que veio fazer a entrega.
     Arranjou um emprego novo e retomou um ofício que ele não exercia há muitos anos. Ficou surpreso ao ver que, apesar da idade se desempenhava bem e as pessoas o respeitavam mais do que antes.
     Começou a recusar trabalhos chatos, que fazia só para agradar aos outros, na esperança vã de que eles não o deixassem sozinho.
     Começou a emagrecer, livrando-se de décadas de banhas acumuladas na espera e no medo da solidão.
Agora que ela chegara, não precisava mais ficar esperando.
     Um dia redescobriu seus livros na estante, livros que a bagunça da casa não deixava mais que ele chegasse perto e se lembrou de como gostava deles. Sim, os livros acumulados eram a história de sua vida.
     Lembrou dos tempos em que sabia denunciar as coisas, as injustiças, as mentiras que as igrejas contavam e os jornais repetiam pra manter o povo anestesiado. Lembrou que podia sair e tomar uma cerveja na esquina, olhando a cidade silenciosa e ver como ela era bonita.
     Olhou as árvores que plantara e viu como elas lhe floriam.
     Remexendo gavetas achou seus discos e pode enfim voltar a ouvir suas músicas.
     Olhou em volta e viu que não tinha mais amigos e que aqueles a quem ele chamava de amigos eram apenas pessoas a quem ele se agarrava pelo medo de ficar sozinho. Mas não eram amigos verdadeiros.
     Havia amigos de verdade? Não importava mais.
     Resolveu vender as terras e os imóveis que acumulara durante toda a vida, como acumulava gorduras, com medo de ficar sozinho. Resolveu viajar com o dinheiro que guardara para dar aos filhos, que já cuidavam das próprias vidas. Às vezes eles ligavam, alguns diziam que se preocupavam, mas tinham que seguir suas vidas. Melhor.
     Assim começou a se livrar de tudo, das marcas que os outros deixaram na sua vida, dos medos, das reservas e recomeçou a viver.
     Finalmente a tão temida solidão chegara: ele estava livre!