Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 21 de outubro de 2012

O Paiz
 
Leviandovski
 
 
     Prezados leitores, juro que tentei evitar este assunto, para não me meter a julgar quem está habilitado a nos julgar, na mais alta corte do Estado brasileiro. Mas a atitude do revisor do mensalão, Ricardo Lewandowski, causa a mais profunda estranheza.
     Não é possível que um juiz de tão alta corte, confrontado com todas as acusações feitas pela Ministério Público e pelo relator do processo, Ministro Joaquim Barbosa, absolva todos os acusados, alegando que formação de quadrilha só existe quando é uma coisa permanente.
     Então um grupo de pessoas não pode se articular em torno de uma quadrilha para praticar crimes durante certo tempo e depois simplesmente viver do dinheiro auferido, devidamente lavado, sem precisar cometer novos ilícitos?
     E isso não seria uma quadrilha?
     Os filmes estão cheios de histórias como essa, onde os criminosos depois de conseguirem enriquecer vão viver em paraísos tropicais, usufruindo de sua fortuna, enquanto posam de cidadãos honestos.
     Segundo o ministro, então, nenhum deles seria um quadrilheiro porque abandonou o crime, passando apenas a viver dos seus frutos?
     Muito suspeita a atitude deste ministro, inclusive voltando atrás e absolvendo quem ele próprio já havia condenado.
     Isso me lembra a frase de Eliana Calmom, a Corregedora da Justiça, que disse que no judiciário brasileiro haviam bandidos de toga.  
     A impressão que dá é que o dinheiro do mensalão continua correndo por trás do julgamento, corrompendo inclusive membros da mais alta corte do país e levando ao descrédito os brasileiros, que já estavam começando a crer que havia justiça também para os ricos e poderosos neste país.
     Mais que uma leviandade, um escândalo!
 

Rapidinhas

Reta final


     Aproxima-se o desfecho das eleições municipais, com o PT jogando pesado com a presença de suas maiores estrelas, Dilma e Lula, nos principais colégios eleitorais do pais, onde procura enterrar de vez os partidos de direita que ainda lhe fazem oposição: DEM e PSDB, principalmente em São Paulo, onde Lula apostou todas as suas fichas, Salvador e Manaus.
     Em São Paulo parece que a estratégia vai sendo bem sucedida, já que lá Lula teve o cuidado de interferir desde o início com a escolha de um candidato retirado de sua própria equipe, como forma de renovar a política local cansada de ter que escolher sempre entre membros burocráticos da cúpula local do Partido.
     Em Salvador o cuidado não foi tanto, e o candidato Pelegrino tem suado para vencer o herdeiro do carlismo, também conhecido como grampinho. Na verdade, nenhum dos dois candidatos está à altura da importância da cidade e dos problemas que ela enfrenta, depois de uma série funesta de administrações populistas.
     O mesmo ocorre em Manaus, onde a gaúcha Vanessa Graziotin tem grandes dificuldades em vencer Arthur Virgílio Neto. Talvez por ser do PCdoB, enfrenta maiores resistências dentro do PT e na própria população, e também por uma certa dose de arrogância pessoal.
     O Ibope tem dado vantagem à direita em Salvador e Manaus, mas este instituto tem funcionado mais como formador de opinião do que como pesquisador eleitoral, já que tradicionalmente tem errado feio, ao menos na capital baiana.
     Deveria ser investigado pelo Ministério Público por suas constantes tentativas de manipular as eleições.
     
Ventos de paz


     A semana termina com possibilidades concretas de negociações de paz na Colômbia e na Síria.
     Na Colômbia uma corajosa mesa de negociações já foi montada em Oslo, na Noruega, entre as Farc e o governo do presidente Santos. Depois de 48 anos de guerrilhas (desde 1964), as Farc, movimento guerrilheiro surgido entre os camponeses para reivindicar justiça social, se dispõem a negociar.
     Sua principal reivindição é a reforma agrária, a que o governo incrivelmente ainda resiste. Talvez seja o último país da América do Sul que ainda não fez a sua.
     A desmoralização deste movimento, com seu envolvimento com o tráfico de drogas e o sequestro de civis, fez com que perdesse sua representatividade junto ao povo colombiano.
     O mesmo pode-se dizer do governo, principalmente no período de Álvaro Uribe, que se envolveu até o pescoço com paramilitares criminosos e também com traficantes de drogas.
     Agora, sob novas lideranças, governo e Farc parecem cansados de um teatro que não convence mais ninguém. Oxalá consigam um acordo que acabe com esta guerra, cada vez mais inútil.
     Na Síria o impasse militar e a ameaça de expansão do conflito para os países vizinhos, parece estar levando o ditador a jogar a toalha e aceitar uma negociação para uma saída honrosa.
     A única reivindicação por lá é a democracia, aceita por todos, menos pela família do ditador, que domina o país há 40 anos.
     Hora de sair e parar de matar seu próprio povo.
     Esse sujeito deveria estar sentado no Tribunal Penal Internacional. Mas se o preço para se livrar dele for deixá-lo livre, melhor assim. Afinal neste tribunal também deveriam estar sentados o ex-presidente americano George Bush e o ex-primeiro Ministro britânico Tony Blair, que começaram inutilmente a guerra do iraque que matou mais de 200.000 civis, mas ninguém fala nisso. Parece que este tribunal foi criado apenas para o terceiro mundo.
     Ainda uma boa notícia foi a liberação das viagens para os cidadãos cubanos que queiram ir para o exterior. Essa era uma das exigências dos Estados Unidos para suspender o absurdo bloqueio contra Cuba que vigora há 50 anos.
    
 
Ventos de guerra
 
 
    Por outro lado, o primeiro ministro fascista de Israel, Benjamin Netanyahu conseguiu atrair os Estados Unidos para um exercício militar conjunto, no oriente médio. Pode ser um ensaio para uma possível invasão do Irã. Aí sim teremos guerra da grossa, com milhões de mortos, capaz de envolver o mundo inteiro.
     Que os anjos iluminem as mentes desses homens para que parem com esses conflitos, que só beneficiam os mercadores de armas.

Poesia da Semana

     Deixo para vocês, como poesia da semana, esta obra prima de Horacio Sanguineti: o tango Nada, de 1944, cantando por Mercedes Sosa e Maria Graña.
     A letra original em espanhol foi traduzida por mim, portanto perdoem algum equívoco.
     Na verdade fiquei muito em dúvida com o termo yuyal, para o qual não achei uma definição segura e traduzi por quintal.
     Se alguém souber seu significado preciso por favor me corrija.
     Para ouvir a gravação, acessem o link ao final.
 
 
Nada

He llegado hasta tu casa...                           Eu cheguei até tua casa
Yo no sé cómo he podido                             Não sei como consegui 
Si me han dicho que no estás,                     Se me disseram que não estás
Que ya nunca volverás...                              E que nunca voltarás
Si me han dicho que te has ido                    Se me disseram que te foste
Cuánta nieve hay en mi alma!                      Quanta neve há em minha alma
¡qué silencio hay en tu puerta!                     Que silêncio há em tua porta
Al llegar hasta el umbral,                              Ao chegar até o umbral
Un candado de dolor                                    Um cadeado de dor
Me detuvo el corazón.                                  Me deteve o coração
Nada, nada queda en tu casa natal...           Nada, nada, resta em tua casa natal
Solo telarañas que teje el yuyal.                   Só teias de aranhas que tecem o quintal
El rosal tampoco existe                                 O roseiral tampouco existe
Y es seguro que se ha muerto al irte tú...     E com certeza morreu quando te foste
¡ todo es una cruz ¡                                       Tudo é um cruz
Nada, nada más que tristeza y quietud.        Nada, nada mais que tristeza e quietude
Nadie que me diga si vives aún...                 Ninguém que me diga se vives ainda
¿dónde estas, para decirte                           Onde estás para dizer-te
Que hoy he vuelto arrepentido a buscar       Que hoje volto arrependido para buscar
tu  Amor?                                                       Teu amor?
Ya me alejo de tu casa                                  Já me afasto de tua casa
Y me voy yo ni sé donde..                             E me vou nem sei pra onde
Sin querer te digo adiós                                Sem querer te digo adeus 
Y hasta el eco de tu voz                                E até o eco de tua voz
De la nada me responde.                              Do nada me responde
En la cruz de tu candado                               Na cruz do teu cadeado
Por tu pena yo he rezado                              Por tua perda eu rezei
Y ha rodado en tu portón                               E há girado em teu portão 
Una lágrima hecha flor                                  Uma lágrima feita flor
De mi pobre corazón.                                    Do meu pobre coração
Nada, nada queda en tu casa natal...           Nada, nada, resta em tua casa natal
Solo telarañas que teje el yuyal.                   Só teias de aranha que tecem o quintal
El rosal tampoco existe                                 O roseiral tampouco existe
Y es seguro que se ha muerto al irte tú...     E com certeza morreu quando te foste
¡ todo es una cruz ¡                                       Tudo é uma cruz
Nada, nada más que tristeza y quietud.        Nada, nada mais que tristeza e quietude
Nadie que me diga si vives aún...                 Ninguém que me diga se vives ainda
¿dónde estas, para decirte                           Onde estás para dizer-te
Que hoy he vuelto arrepentido a buscar      Que hoje volto arrependido para buscar
Tu amor?                                                      Teu amor?
He llegado hasta tu casa….                          Eu cheguei até tua casa...
http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/mercedes-sosa/nada/2274222

Carros elétricos
 
     É uma pena que o novo regime automotivo lançado pelo governo, para promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico dos veículos fabricados no Brasil, tenha deixado de lado os automóveis elétricos, que poderiam ter sido agraciados com descontos no IPI.
     Os veículos elétricos, não servem ainda para substituir os carros de passeio, por causa da sua pequena autonomia, mas podem substituir muito bem os utilizados dentro das cidades, como taxis, carros de serviços, ônibus, ambulâncias, etc, que não costumam rodar muito por dia.
     Ao contrário do que se pensa, esses veículos não são novidades no Brasil e já foram fabricados em série aqui, pela Gurgel, fabricante brasileira que fechou as portas na década de 80. Era o Itaipu, furgão elétrico lançado em 1973, e que foi muito utlilizado como carro de entregas e serviços por aqui (foto abaixo). Sua maior característica era o silêncio, o que inclusive motivou alguns atropelamentos de pedestres, que não ouviam o carro se aproximar.
 
 
     Numa época em que ainda não se falava em inovação, Amaral Gurgel, o engenheiro que fundou a fábrica com o nome dele, já fazia pesquisas na área e procurava lançar carros mais econômicos e versáteis.
     É verdade que a Gurgel pecava pelo design tosco dos seus carros e por alguns caprichos do seu dono, que se recusou a fabricar motores a álcool, achando que o programa do governo não daria certo. Ele se considerava um novo Henry Ford, mas lhe faltavam qualidades para isso. Tentou repetir uma história de sucesso, mas os tempos já eram outros. Acabou falindo e lá se foi nossa única fabricante legitimamente brasileira de veículos leves.
     Restou a Agrale, que só fabrica caminhões pequenos.
     Agora os carros elétricos estão de volta, na sua forma pura, movidos à bateria, ou na forma de híbridos, com dois motores, um à explosão e outro elétrico. O motor a explosão (gasolina) alimenta as baterias do elétrico até que este possa rodar sozinho. Então o elétrico entra em cena e o motor a gasolina se desliga automaticamente.
À esquerda o Nissan Leaf, totalmente elétrico. À direita o Fusion, híbrido da Ford.
     Seria muito importante que o regime automotivo do governo estimulasse pesquisas nessa área, para que não fiquemos na dependência de tecnologia estrangeira novamente, nós que fomos pioneiros neste tipo de veículo, estabelecendo incentivos para a produção brasileira.
     Ainda é tempo de mudar. O meio ambiente agradece.