Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 2 de janeiro de 2010




RIO DE CONTAS: A CULTURA ABANDONADA


Final




Prezados amigos leitores.

Escrevi alguns artigos e entrevistei pessoas neste blog, sobre o abandono da cultura em Rio de Contas. As respostas que recebi foram poucas. As pessoas da cidade continuam com medo de falar, de criticar, de opinar. Vencem os que apostam no silêncio e no esquecimento para que tudo permaneça como está.

Uma sociedade onde as pessoas não se sentem livres para se expressar não é democrática e, como toda sociedade autoritária, tende a se estagnar.

Essa situação me deixou numa posição de profunda descrença em relação ao governo municipal. Por um lado advoguei desde o final das eleições, que a aliança PT-PV, deveria negociar sua participação no governo Márcio, entendendo que seria estratégico participar deste governo, para não deixá-lo cair nas mãos do grupo que dominou por muitos anos a política na cidade e que tinha sido finalmente derrotado.

Minha posição conquistou alguns corações e mentes e fez com que a atual Secretária do Meio Ambiente começasse a pensar seriamente em assumir a pasta, o que finalmente aconteceu com o aval do PT de Salvador (já que em Rio de Contas o Partido ficou dividido).

Se houvesse uma negociação séria, o grupo que apoiou Neto teria certamente conquistado pelo menos mais uma Secretaria, não teríamos a influência tão grande de pessoas que vieram da gestão anterior e ocupam secretarias importantes deste governo e estaríamos projetando PT e PV para um futuro mais promissor no município.

Portanto, nunca me coloquei como oposição à Márcio e seu governo, a não ser na crítica que faço ao abandono da cultura. E no entanto a contradição se agrava. O teatro continua esquecido, numa demonstração clara de abandono e irresponsabilidade de um bem tombado pelo Patrimônio.

Já disseram que tenho um problema pessoal com o Coordenador de Cultura, o que não é verdade. Apenas acho que ele não tem perfil para o cargo. Mas lembrem-se de que esperei quase um ano para fazer a crítica. Podia ser que ele se revelasse no posto como um bom coordenador, o que não aconteceu, não é do ramo, não é artista, não tem jeito para a coisa. Talvez seja ótimo em outro lugar, mas não neste.

Mas sinceramente não acho que a culpa seja dele. Quem o indicou queria alguém inerte no cargo. Porque?

Talvez porque a cultura em Rio de Contas seja vista como entretenimento para turistas ou como circo para alienar politicamente a população.

O controle sobre a cultura garante também algumas vantagens na hora de contratar bandas para os eventos festivos, que alimentam a política clientelista de pão e circo. Quem sempre controlou isso nos governos anteriores continua no posto em que sempre esteve, controlando as festividades e as contratações dos grupos musicais (além de perseguir os opositores, como fazia antes). Ou seja, controlar a cultura em Rio de Contas é controlar a política, porque é com festa que se ganha a simpatia dos eleitores.

Tudo como d’antes no quartel de Abrantes.

Mas para não dizer que apenas critico, gostaria de alinhavar alguns pontos que considero básicos para uma política cultural digna deste nome, na nossa cidade.

Existem quatro instituições fundamentais para a cultura riocontense:


                                      1 O Teatro São Carlos

                                      2 O Museu Zofir Brasil

                                      3 O Centro Cultural

                                      4 O Museu Arqueológico da Chapada Diamantina.



O primeiro trabalho de um coordenador de cultura (ou de um Secretário de Cultura, se a cultura fosse levada à sério este município), seria resgatá-los.

Em segundo lugar seria necessário estabelecer um calendário de eventos, que não apenas trouxesse turistas para Rio de Contas, mas promovesse a nossa cultura, realizando cursos, promovendo premiações, estimulando talentos.

Só para exemplificar: junto com Claudete Eloy levamos a Mucugê a proposta de promover um Festival Nacional de Teatro Universitário e fomos plenamente acolhidos. Nesse evento haverá espaço para os grupos amadores locais de Mucugê e da região, que aproveitarão a convivência durante alguns dias com professores e alunos de teatro de todo o Brasil para estabelecerem laços e aperfeiçoar talentos através de cursos e palestras.
Pena ter que ser em Mucugê.

Esse é apenas um exemplo de evento a ser promovido em Rio de Contas.

Festivais de música, gastronomia, dança, encontros científicos nas áreas de história, botânica, mineralogia, acordos com universidades para realização de pesquisas e quem sabe até da abertura de campus experimentais...

Além disso, o fato de ser uma cidade tombada, exigiria uma política municipal de preservação do patrimônio e uma colaboração mais estreita com o Iphan.
Nada disso é sequer cogitado e nem mesmo compreendido.

Lamentavelmente não há espaço para discutir essas coisas por aqui. E tenho que dizer aos meus leitores que, diante dessa situação, não tenho mais nenhuma ilusão com o atual governo deste município.





Abraço a todos



Ricardo Stumpf