Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Hegemonismos
     Leio em alguns sites, debates entre "experts" norte-americanos sobre a possibilidade da China desafiar o que eles chamam de supremacia americana durante o século XXI.
     Uns apontam a decadência econômica dos Estados Unidos e a rápida ascenção da China, como indicador inequívoco de que os chineses vão ser a nova potência mundial até a metade do século. Outros dizem que não, que os Estados Unidos já deram mostras de que são capazes de se reinventar a cada crise e ressurgem sempre mais fortes e que a supremacia militar deles não poderá ser desafiada por nenhum país do mundo nos próximos 50 anos. Lembram que há alguns anos atrás se dizia que o Japão superaria os EUA e até mesmo a União Soviética iria ultrapassá-los, mas que nada disso aconteceu.
     O estranho nesse debate é que nenhum desses pensadores norte-americanos, sequer admite a possibilidade de um mundo sem hegemonias, um mundo de paz e cooperação, o que demonstra o caráter belicista do imaginário daquela nação, inclusive no seio das suas melhores universidades e, o que é pior, demonstra que não aprenderam nada com a história recente da humanidade.
     Me lembro que, na última grande expansão da União Européia, em 2004, alguns políticos daquele continente lembraram que todos, ou quase todos os países que formavam a nova União, já tinham sido impérios, em algum tempo da história. Ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, italianos, austríacos, húngaros, vikings, etc., e que todos tinham aprendido que os impérios são efêmeros, só levam à guerras e destruição e que só a cooperação e o respeito mútuo pode levar a um futuro de estabilidade.
     Quem diria, em 1939, que a máquina de guerra da Alemanha poderia ser vencida, tal a disparidade de forças entre os alemães e o conjunto dos demais países? Quem diria, em 1975, que o pequeno Vietnã, poderia vencer a incrível máquina de guerra americana que invadiu seu país com 500.000 soldados? E no entanto isso aconteceu.
     O presidente Obama, definiu uma nova estratégia militar para os Estados Unidos, elegendo a Ásia como o novo teatro de guerra americano, e fez isso no pressuposto de que a China passaria a desafiá-los cada vez mais naquela região do mundo. Agem como se o mundo fosse deles e qualquer desafio à sua hegemonia é considerado uma ameaça à sua segurança nacional.
     Não percebem que o mundo está cada vez menor e mais integrado, que as nações estão se democratizando rapidamente neste século (vide revoluções árabes) e se voltando para o desenvolvimento de suas potencialidades, o que só pode ser alcançado plenamente através da cooperação econômica. Daí ser natural o surgimento de áreas de integração econômica, como a União Européia, o Mercosul e outras pelo mundo, um mundo onde nações armadas querendo impor seus interesses aos demais vão se tornando cada vez mais anacrônicas.
     Não percebem, os experts americanos, que o que vencerá a hegemonia americana não será uma nova potência a desafiá-los, mas a cooperação cada vez maior entre as nações, e o nivelamento econômico entre elas, que forçará a nação norte-americana, em algum momento da sua história, a se reinventar de outra maneira, deixando de tentar se impor ao mundo como um poder coercitivo, que não passa de uma fachada para alimentar sua imensa indústria bélica, para se integrar verdadeiramente num mundo globalizado e unido por ideais de paz e desenvolvimento harmônico.
     Europeus, russos, chineses, indianos, africanos, árabes, assim como os latino-americanos e asiáticos em geral, já perceberam isso, enquanto os americanos ainda tentam desempenhar um papel que ficou para trás, desenhado por estrategistas do século XX para uma realidade que não existe mais.


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