Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 6 de maio de 2012

Rapidinhas

Um Brizola no Ministério
     A presidente Dilma continua mexendo no vespeiro da política, trazendo à tôna novas lideranças que sejam capazes de renovar o cenário, superando a velha prática de negociar com gente que se apropriou dos partidos para fazer barganhas em nome de interesses particulares.
     Ao ungir Brizola Neto como Ministro do Trabalho, ela o alçou à liderança do PDT, partido à que ela já pertenceu, reforçando uma sigla histórica que andava capenga depois das trapalhadas do ex-ministro Lupi e reforçando a base aliada com sangue novo.
     Depois dizem que ela não tem habilidade política. Não tem, decerto, para praticar o velho "é dando que se recebe", fonte de tanta corrupção e que foi prática nos últimos governos. Dilma exerce sua liderança com grande energia, usando seu carisma e popularidade para colocar a política nos trilhos.
     O velho Leonel deve estar orgulhoso lá em cima.

Fim de uma injustiça


     A decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a reserva Caramurú, no sul da Bahia, foi apenas uma questão de justiça. Trata-se de uma das reservas indígenas mais antigas do Brasil, formalizada em lei e demarcada pelo governo federal em 1938, e que havia sido presenteada por Antonio Carlos Magalhães a seus amigos e correligionários, na época da ditadura.
     Há décadas os índios vinham lutando para recuperá-la. Estive lá, em visita, em 1988, quando eles recuperaram as primeiras fazendas, logo após a Constituinte. Eram poucas as fazendas retomadas, as piores, onde não havia água. Mas os índios não desistiram e foram consolidando a reconquista de sua reserva, usurpada pelo "pequeno ditador" da Bahia.
     O chocante nessa história não é a arrogância de ACM, conhecida de todos, mas a maneira como a mídia trata o assunto, como se os índios estivessem roubando a terra dos fazendeiros, quando o ocorrido foi justamente o contrário. Ou seja, para o PIG (Partido da Imprensa Golpista), o direito de propriedade é apenas para os ricos. Quando a propriedade pertence a grupos minoritários, que não estão incluídos na sua lógica de mercado, ele não existe ou pode ser desrespeitado.
    Parabéns ao STF, que repôs as coisas no seu devido lugar.

Amigo é coisa pra se guardar...

 
     No lado esquerdo do peito, como dizia Milton Nascimento.      
     Em recente viagem ao Espírito Santo, reencontrei meu velho amigo Juca, que eu não via há uns 20 anos. Tudo graças a Odete, outra amiga e ex-colega de trabalho no Ministério da Educação, que o localizou para mim. Juca e eu nos conhecemos em Santiago do Chile, em 1972. Ele tinha 17 e eu 21, no tempo de Salvador Allende. Eu tinha ido para o Chile estudar arquitetura, fugindo da opressão da ditadura brasileira. Ele era filho de um exilado.
     Ficamos muito amigos e compartilhamos muitas experiências de vida durante aquele período, até que o golpe veio e me pegou viajando ao Brasil enquanto ele teve que ir exilado para a Suécia, onde fui visitá-lo.
     Depois disso nos vimos algumas vezes por aí, pela vida.
     Tempos depois, Juca sofreu acusações pesadas, quando era Deputado Estadual pelo Espírito Santo, fato que foi amplamente divulgado pela imprensa local e até nacional. No nosso reencontro, em longa conversa, se queixou de que foi vítima de fraudes e disse que foi inocentado de todas as acusações, mas que isso não saiu na imprensa. Ou seja, na hora de acusar a imprensa faz um espalhafato, mas na hora de inocentar silencia. Escândalo vende mais jornais do que reparação de injustiças, não é?
     Foi muito bom reencontrar com ele e ouvir dele mesmo as explicações para essas acusações tão graves.
     Coisa boa ter amigos deste quilate, do tipo que a gente passa décadas sem ver e não muda nada.
     Valeu a viagem à Vitória para ver esses dois.

Menelau e os Homens

    












     Recebi convite de Dênisson Padilha Filho, ex-Secretário de Cultura de Rio de Contas (pois é, Rio de Contas já teve um Secretário de Cultura), para o lançamento de seu novo livro; Menelau e os Homens, em Feira de Santana, dentro do evento; Celebração da Cultura dos Sertões, no Centro de Cultura Amélio Amorim, dia 08 de maio às 18,00 h. Vale a pena conferir.


Salif Këita

     A viagem a Cabo Verde me abriu as portas do riquíssimo universo musical africano, que não chega ao nosso "mercado", entulhado das porcarias que a Som Livre nos empurra.    
     O extraordinário músico do Mali, Salif Këita, canta com Cesária Évora a música Yamore. Ele canta primeiro na sua língua natal (que eu não identifico) e depois Cesária canta em Crioulo, o dialeto caboverdiano, derivado do português. A tradução em português da primeira parte está logo abaixo. O original segue depois. A letra fala das guerras e da esperança num mundo de paz. O link para ouvir está no final.

Yamore
Eu tenho fé, sim eu tenho fé
Que iremos viver sem medo
e confiar numa era mais risonha.
O olhar de nossas crianças
irá voltar a brilhar de inocência.
E entre suas gritarias o temporal talvez se acalme.
Na brandura e calmaria, nosso amor irá descansar
Dessa luta e resistência, para sobreviver na tormenta

Je t'aime mi amoré menebêff fie
Ene le arabylyla to much
Namafiye, namafiye guni yerela ba namafiye Niere a ná nifon
Ye namo kofue nerum silê don kile le, ina kola ahaha
Rile enela munuku mo sô
Nienama kofiye, soro falê é mo sonho mana osi koté
Nanana nekona, dê i lêlê fon
Je t'aime mi amoré menebêff fie Nê comf fop ach ari
Ene le arabylyla to much Xurin né bi feu J t'aim

Un tem fé, si un tem fê
No também viver sem medo e confians
Num era mais bisonho
Olhar de nos criança ta a tornar brilhar de inocença
E na mente CE esvitayada
Temporal talvez ta mainar
Na brandura y calmaria
Nosso amor ta vins cansando
De ser luta e resitencia
Pa sobreviver nas tormenta
Na brandura y calmaria
Nosso amor ta vins cansando
De ser luta e resitencia
Pa sobreviver nas tormenta


Je t'aime mi amoré menebêff fie Boi nhat zefiu, ermãos
Ene le arabylyla to much Boi etud nhiafieu , la paz
Xeritava pá, beru kuyê mobiliko yoi nhÊ
Ahaha rilê ene La munuku mo sô
In deburu ieu kordaine
Sank é noite a namo a cantor
Ê enela mulnuku mo sol
Yo sakenem mo sol
Un tem fé, si un tem fê
No também viver sem medo e confians
Num era mais bisonho
Olhar de nos criança ta a tornar brilhar de inocença
E na mente CE esvitayada
Temporal talvez ta mainar

http://www.youtube.com/watch?v=9VVa-GyhJek
Correntes antidemocráticas

     Pois é, amigos leitores, a gente sabe que tem de tudo na internet, mas fico impressionado com a constância dessas campanhas contra o Congresso Nacional e os políticos, colocando-os, todos, numa grande panela de corruptos e fazendo correntes com propostas para acabar com seus salários e os salários dos servidores públicos, como se fossem todos inimigos da nação.
     É claro que muitos políticos que andam por aí dão asa para esse tipo de campanha, e aí está o senador Demóstenes Torres para provar. Ele era um dos que mais falavam contra a corrupção e está envolvido até o pescoço com o tal Carlinhos Cachoeira, que resolveu invadir o Estado brasileiro, colocando-o à serviço dos seus interesses escusos.
     Nas prefeituras, então, a coisa é feia. Não há Controladoria Geral da União (e o baiano Jorge Hage é um bom controlador), que dê conta de todas as falcatruas em mais de 5.500 municípios, já que a justiça é muito lerda neste país e também muito sujeita aos corruptos.
     Mas as campanhas que eu recebo não são contra os corruptos, são contra o Congresso Nacional, como se ele fosse uma coisa inútil e devesse ser fechado.
     Semana passada recebi uma que dizia que o Congresso não iria aprovar a Lei da Ficha Limpa. Tive que avisar a pessoa que me enviou (ou melhor, reenviou), de que essa lei já havia sido aprovada há muito tempo pelo Congresso.
     Esta semana recebi outra (que já recebera antes várias vezes), dizendo que o Congresso estava prestes a extinguir o salário mínimo e o direito às férias remuneradas para todos os trabalhadores brasileiros. É claro que não existe tal projeto de lei.
     Lá vou eu de novo avisar a pessoa que me mandou de que tenha cuidado com o que repassa.
     Aquele e-mail de Roraima, dizendo que na reserva indígena de lá só podem entrar americanos e os brasileiros estão proibidos, etc e tal, é muito antigo e continua circulando. Pura invenção.
     Mas tem gente que parece não ter o que fazer e se elege a consciência do mundo via internet, achando que estão fazendo uma revolução moralizadora enchendo as caixas dos outros com mensagens alarmistas, sobre possíveis golpes, sobre comidas que fazem mal, correntes religiosas e outras bobagens. Um saco!
     São justamente esses que mais repassam esses e-mails contra o Congresso, que mal ou bem é a nossa representação política. Ruim com ele, pior sem ele. Já tivemos 21 de ditadura militar para saber disso.
     Hoje mesmo recebi um novo power-point falando sobre uma proposta de dois advogados gaúchos para reduzir as mordomias dos senadores e diminuir os salários dos servidores do Senado.
     Concordo que os senadores tem mordomias demais. Um carro para cada um, com motorista, é um luxo muito caro. Mas passagens aéreas para os seus Estados de origem são uma necessidade, assim como franquia para correspondências e telefonemas. Se eles fossem pagar dos seus próprios bolsos todas as despesas que a função de senador exige para representar seu Estado, não ia sobrar nada.
     Além disso, Senador é um cargo de prestígio, de fim de carreira para políticos, precisa ser bem pago. O que precisa mudar é a escolha dos suplentes, que não são eleitos pelo povo.
     Mas vá lá que possamos reduzir as despesas com eles. Mas rebaixar salários de servidores públicos? Porque um funcionário concursado não pode ganhar bem? Porque ninguém reclama dos salários dos juízes e dos servidores do judiciário? Só essa eterna campanha contra o poder legislativo? Porque não reclamam dos lucros exorbitantes dos bancos, com suas taxas absurdas e juros altísssimos? Só os parlamentares é que são culpados de tudo?
     Nos Estados Unidos o povo faz campanha contra os altos salários dos executivos das empresas que foram ajudadas pelo governo deles. Aqui ninguém toca no assunto. Todo mundo acha normal um jogador de futebol ganhar um milhão por mês, mas é um absurdo um funcionário do Congresso ganhar bem.
     Mas nesse power-point que recebi hoje, uma frase final levantava uma pontinha desse véu, quando dizia que era preciso moralizar o Congresso, caso contrário corríamos o risco de cair sob um regime socialista ditatorial.
     Vejam só, ressuscitaram a velha cantilena do perigo comunista  para justificarem a campanha contra o Congresso. Essa pegada é muito conhecida. É gente saudosa da ditadura, a velha direita que se esconde sob essas campanhas moralizadoras que a classe média adora e que já ajudaram a eleger Jânio Quadros, com sua vassoura que iria limpar a corrupção, e Fernando Collor, o caçador de marajás, dois políticos com passagem trágicômica pela Presidencia da República.
     Com certeza esses moralistas da internet são os que votam na direita, nos Demóstenes Torres, nos Marcondes Perilo e outros defensores do "mercado". É claro que muita gente bem intencionada vai na onda, achando que está prestando um serviço à nação. Mas é preciso ter cuidado com essas correntes antidemocráticas, cujo único objetivo é indispor o povo contra a democracia para permitir a volta de um regime de excessão, onde os corruptos, aí sim, nadam de braçada.
     O pior legado de uma ditadura é justamente a destruição dos controles democráticos sobre o poder político e econômico. Desde 1988 que esses controles vem sendo reconstruídos lentamente pela sociedade brasileira, que tem avançado muito nesse sentido. Falta fazer muito, é verdade, mas acabar com o Congresso seria um gigantesco passo para trás.