Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 28 de outubro de 2012

O Paiz
 
O céu muda de cor
 
     Como dizia Tancredo Neves: política é igual nuvem, a gente olha está de um jeito, a gente olha de novo e já mudou.
     O panorama político que emerge deste segundo turno tem como mudança principal, o fim da polarização entre PT e PSDB, com a ascensão de novos partidos no cenário nacional. Ao centro o PSB, que se afirma como alternativa ao PT, substituindo o PSDB, que vai se tornando um partido do norte-nordeste, com a eleição em Belém, Manaus, Maceió e Teresina, além de alguma cidades médias dispersas pelo país.
     O PSB vence em muitas capitais, como Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Aracajú, Porto Velho e Cuiabá, além de outras cidades importantes, como Campinas, Petrópolis e Duque de Caxias, algumas vezes disputando com o próprio PT, de quem é aliado no governo federal. A liderança de governador de Pernambuco, Eduardo Campos, cresce e se projeta a nível nacional, como possível sucessor de Dilma Roussef.
     A eleição de Haddad, em São Paulo, obra da engenharia política de Lula, fez com que o PT na capital paulista, voltasse a ser um símbolo de mudança, enterrando definitivamente a carreira de José Serra e fazendo perigar a permanência do PSDB no governo do Estado em 2014, principalmente com a força decorrente da incorporação do novo PSD, de Kassab, ao ministério do governo Dilma.
     Sem dúvida uma vitória expressiva. A vitória da renovação de quadros, que Lula soube fazer lá, mas o Partido em outros estados não soube ou não quis fazer, levando o eleitorado a considerar outras alternativas.
     Salvador é o retrato mais perfeito do desencanto. A eleição de ACM Neto é uma resposta direta à arrogância do Governador Jacques Wagner, diante da mais do que justa greve dos professores estaduais.   
     O governo do Estado assinou um acordo e não cumpriu, deixando que a greve se prolongasse por mais de 100 dias, sem ceder um milímetro.
     Wagner, um ex-sindicalista, não soube e não quis negociar. Pagou o preço nas urnas.
     O candidato do PT, Nelson Pellegrino, também foi uma péssima escolha. Mal visto até mesmo dentro da esquerda, Pellegrino que comandou, como líder do governo, a malfadada reforma da previdência no primeiro governo Lula, ameaçando de "excomunhão" quem votasse contra suas ordens, nunca foi um político expressivo, e não foi capaz de inspirar confiança no eleitorado.
     Sua maior bandeira de campanha foi o apoio de Lula e Dilma, além do impopular governador Wagner. Parecia que não era ele quem ia governar, mas Lula e Dilma.
     Conseguiu realizar a proeza de desentocar as cobras que estavam adormecidas, dando espaço para o carlismo voltar à cena política baiana e jogando a capital nos braços do setor mais atrasado da política brasileira.
     A capital da Bahia, que já vive um caos urbano provocado pela incompetência de sucessivos governantes populistas, deve entrar numa crise mais profunda, que vai se agravar mais ainda na eleição de 2014, se o PT local não souber se renovar e continuar prisioneiro da arrogância das direções partidárias incompetentes que o lideram atualmente.
     Quem sabe, surja uma nova força para substituir o PT, que soube se desgastar tão rapidamente no governo do Estado, mudando mais uma vez a cor do céu.
     A única vitória expressiva do PT no Estado ocorreu em Vitória da Conquista, onde Guilherme Menezes conseguiu sobreviver apesar do desgaste de 16 anos liderando o processo político da cidade.
Mas ele, como liderança já está desgastado, não tem mais futuro.
     Na esquerda temos a consolidação do PSOL como alternativa ao PT e a outros partidos de esquerda, pertencentes à base aliada, como o PCdo B, cujas derrotas em Manaus e Porto Alegre o relegam a um segundo plano.
     Note-se que o Psol, apesar de ter eleito apenas um prefeito de capital, em Macapá, teve um resultado expressivo em Belém, correndo por fora. O Pará, que já foi governado pelo PT (Julia Carepa), parece ter virado a página. Seu eleitorado de esquerda quer novas alternativas, desencantado com os governos petistas.
     O espaço está aberto. Tomara que nuvens carregadas de novas lideranças, façam chover gente de visão, para alavancar o desenvolvimento do Brasil.
Rapidinhas
  
 A tragédia dos Guaranis Kaiowás
     Os índios Guaranis-Kaiowás, do Mato Grosso do Sul cansaram de serem despejados de suas terras ancestrais, pelo agronegócio, que age com a cumplicidade da justiça dos não-índios.
     Numa carta tornada pública, expuseram suas razões e os motivos para o aumento absurdo de suicídios, principalmente entre os jovens da tribo, que não veem perspectivas de continuar vivendo como índios, fora de suas terras.
     A carta, em princípio, foi entendida como uma ameaça de suicídio coletivo da comunidade, acampada na beira do Rio Hovy, no município de Iguatemi. Depois os próprios índios desmentiram este entendimento, mas reforçaram com dados impressionantes a onda de suicídios: 863índígenas, desde 1986. Abaixo transcrevo um trecho da carta-testamento dos Guaranis-Kaiowás, que comoveu o Brasil.
     " Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui, na margem do rio, quanto longe daqui. Concluímos que vamos morrer todos. Estamos sem assistência, isolados, cercados de pistoleiros, e resistimos até hoje (...) Comemos uma vez por dia."
      "Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar todos nós aqui. Pedimos para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais."
 
     Uma tragédia que precisa ser interrompida imediatamente, com a restituição das terras imemoriais, pertencentes a esta tribo, na reserva de Dourados.

 
Stop
     Pôxa, perdemos Regina Dourado.
     Não me esqueço dela naquela novela da Globo, Explode Coração, em que ela contracenava com aquele ator engraçadíssimo, Rogério Cardoso, que fazia o Salgadinho, e ela dizia Stop Salgadinho!
     Que simpatia. Que atriz excelente. Que delícia ver ela na Globo imitando o sotaque carioca, invertendo a lógica habitual da emissora que coloca atores cariocas tentando imitar um sotaque baiano que nem existe (pelo menos não do jeito que eles fazem).
     Um dia fui a Salvador e subi com ela num elevador. Quando paramos no andar que ela ia descer, me deu vontade de dizer: stop! Mas fiquei com vergonha e me calei.
     A timidez faz a gente perder tantas oportunidades. Não quis importuná-la, mas tive vontade de abraçá-la e agradecer os bons momentos que ela me proporcionou na TV. Perdi a chance.
     Mas agradeço aqui. Obrigado Regina!
 
Eleições em Israel
     O atual primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu convocou eleições antecipadas e se aliou com a extrema direita do ministro da defesa, Avigdor Lieberman, aquele mesmo que se recusou a receber Lula, alegando que ele era "de esquerda".
     Lula estava em visita oficial ao país como presidente do Brasil e não recebê-lo foi considerado um ato hostil ao nosso país, por parte de uma autoridade. Isso dá uma idéia do que são esses ultra-direitistas que estão no governo de Israel, país que foi fundado por socialistas, em 1948.
     Netanyahu, vive acusando o Irã de estar prestes a ter armas atômicas (enquanto se recusa a discutir a existência de bombas atômicas que eles possuem "secretamente"), incitando os Estados Unidos a atacar o país dos Aiatolás, como uma forma de encobrir sua política de anexação e genocídio na Palestina.
     Agora mesmo anunciam a construção de mais 700 casas na Cisjordânia ocupada, enquanto uma pesquisa feita por um instituto de opinião de lá, revela que a maioria dos israelenses é a favor de estabelecer um regime de apartheid contra os árabes que vivem no país.
     Pra quem não sabe, o apartheid era o regime de segregação racial usado na África do Sul (com apoio de Israel e dos Estados Unidos) contra os negros de lá.
     Agora me digam, que futuro pode ter um país que baseia sua existência no racismo e no exterminío de outro povo?
     É hora do povo israelense compreender que precisa mudar, derrotando essa política expansionista suicida e elegendo um governo que dialogue com os palestinos, aceitando a solução de dois Estados e buscando um acordo de paz definitivo com os árabes.
 
Poesia da Semana
 
Ofertas de Aninha
(Aos moços)
 
Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
 
Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.
 
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências
do presente.
 
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
 
Cora Coralina (Vintém de Cobre)


 
Notícias tristes
      Muito ruins as notícias sobre o aumento da violência em várias cidades brasileiras, especialmente em São Paulo, onde parece quer o PCC passou a matar indiscriminadamente pessoas que estejam na rua. São vários casos semelhantes, em que dois tripulantes de uma moto passam atirando em pessoas que estão na rua, em bares ou no trânsito. Isto já não é mais violência de bandidos, mas sim terrorismo.
      O objetivo do terrorismo é matar inocentes para aterrorizar a população, que assim se torna mais dócil aos desejos dos que querem dominar a cidade (ou o país).
Em um dos casos, o bandido chegou a rir da morte de uma jovem de 16 anos que ele acabara de balear, fazendo ainda um comentário sarcástico: quem mandou ela reagir?
      Este é o objetivo do terror, impedir a reação das pessoas, que devem se entregar inertes aos seus caprichos.
      Em outro caso extremamente doloroso, ocorrido em Minas, um bandido matou uma menina de 11 anos, para roubar o carro onde ela seguia com a mãe. A mulher já tinha descido do carro e entregue as chaves, e mandou que a filha descesse, antes que ele saísse com o carro. O assassino então disparou friamente na criança, sem nenhuma necessidade.
 
     O que dizer a esta mãe (foto acima) que viu sua filha ser morta na sua frente?
     Na entrevista que deu a TV, declarou simplesmente: ele podia ter me levado..., mostrando sua disposição de se sacrificar em lugar da filha. Como eu gostaria de abraçá-la e chorar com ela a sua dor, que no fundo é a dor de todos nós brasileiros, acuados por esses fascínoras, enquanto seguimos prisioneiros de uma concepção liberal de justiça que está nos levando ao caos.
 
     Por isso, acho que em certos casos a pena de morte deveria valer no Brasil e a idade penal deveria ser reduzida, não apenas para 16 anos, mas acho que deveria haver uma responsabilidade crescente, à medida em que a idade vai aumentando.
      O que não é possível é continuar considerando assassinos de 17 anos como se fossem criancinhas inocentes, cuja pena vai no máximo até 3 anos e depois saem matando novamente, como tem acontecido seguidamente.
      Precisamos de leis mais duras. O que fazer com um sujeito desses que mata uma criança pra se divertir? A pena de morte no Brasil já foi decretada há muito tempo...pelos bandidos. Eles podem nos matar à vontade, enquanto que a nós só nos resta chorar e ficar pedindo paz inutilmente.
      No caso de São Paulo a questão é mais urgente e difícil, porque se trata de um desafio claro ao poder constituído, ou seja, ao governo do Estado. Mas aquelas múmias do PSDB que estão no governo há décadas, continuam achando que se responde a este desafio colocando mais policiais nas ruas e aumentando a repressão. É uma política falida, que só leva a polícia a se tornar cada vez mais violenta, atingindo mais ainda o cidadão, especialmente os pobres nas periferias.
      A polícia paulista é a que mais mata no mundo, e a segurança está cada vez pior.
      O exemplo a ser seguido é o do Rio de janeiro, que investiu em prevenção e informação.
      É a polícia secreta, infiltrada nas quadrilhas, o uso de mapeamentos e instrumentos de escuta e espionagem, que permite ao governo do Rio acuar os bandidos, expulsando-os de seus territórios, numa série de sucessos que tem conseguido derrotar os cartéis do tráfico que haviam dominado a cidade.
      Enquanto isso, o Secretário de Segurança de São Paulo diz numa entrevista que os ataques não estão relacionados, que é tudo apenas uma coincidência. Uma piadinha sinistra, para tapar o sol com a peneira.
      Em qualquer lugar civilizado do mundo, esse sujeito já teria pedido demissão.