Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rapidinhas

Uma constituinte para a Europa

     A União Européia chegou a uma encruzilhada: ou se transforma numa federação e contiua avançando na integração ou recua e abandona sua maior conquista, o moeda comum, o Euro.
     A atual crise mostrou que não adianta ter um banco central comum e uma moeda comum, se cada país tem autonomia para fazer o que quer com a sua economia. O resultado são políticas desencontradas, que formam um caldo de cultura perfeito para os especuladores.
     É claro que por trás das crises da Grécia, Portugal, Itália, Espanha e Irlanda, estão os bancos, que investiram onde não deviam, sem as garantias necessárias, muitas vezes dando aval a politicas eleitoreiras e irresponsáveis dos governos locais. Mas existe também um movimento especulatório que quer que esses países vão à falência, para impor os tais "ajustes", que implicam em privatizações e demissões em massa, reduzindo o poder dos sindicatos e aumentando o poder do capital, dentro das velhas propostas neoliberais que não convencem mais ninguém.
     Então, se os neoliberais não conseguem mais impor suas políticas através de partidos de direita, tratam de armar esses golpes especulativos para impô-las através de crises pré-fabricadas, que deixam governos e cidadãos desarmados para resisitirem ao assalto.
     A tentativa do capital europeu de impor uma Constituição neoliberal  fracassou com a recusa de holandeses e franceses em aprová-la. Agora tentam impor suas políticas de forma golpista, ilegal. A velha briga entre o que os europeus chamam de "burocracia de Bruxelas" e a vontade popular chegou a um ponto que só uma constituinte pode resolver.
     A velha direita nem fala nisso, pois uma Constituinte eleita seria soberana para construir políticas que colocassem o futuro daquelas sociedades nas mãos de seus cidadãos. A esquerda também não fala nisso, temerosa de que a perda de autonomia de seus países enfraqueça mais ainda seu poder. Mas, na verdade, não há outra alternativa ao retrocesso. Ou eles entendem que precisam se estruturar legalmente como uma federação ou a União Européia tende a se esfacelar.

O Estilo Dilma


      O Correio Braziliense reclama da falta de capacidade política da presidente, em função das medidas tomadas por ela para sanear o Ministério dos Transportes. Queriam que ela se sentasse à mesa para negociar com os corruptos, desses pequenos partidos oriundos da direita e que se abrigam agora sob as asas da chamada "base aliada".
     É claro que o Correio representa esses setores, que já tiveram tanto poder na capital federal e que agora vivem de migalhas do governo, e não se sente confortável nem para apoiar o governo Dilma, nem para deixar de apoiá-los quando eles perdem mais e mais poder.
     É uma situação ridícula e esdrúxula. Se colocam na oposição mas reivindicam apoio aos interesses dos seus aliados dentro do governo.
     Dilma resolveu o problema do Ministério da única maneira correta possível: expurgando os corruptos e indicando um ministro da confiança dela e que, ainda por cima, pertence ao PR, partido do antigo ministro. O que eles queriam? Os ministros tem que ser da confiança da presidente e não do chefe do partido. Parece que eles andaram muito mal acostumados nos últimos três governos.
     O estilo Dilma é simples e direto. Bobeou dançou.

Mia Couto


     Este é o nome do premiado autor moçambicano do livro que acabei de ler, intitutulado O último voo do flamingo (Companhia das Letras, São Paulo - 2005).
     Numa espécie de realismo fantástico africano, Couto conta as desventuras de um inspetor da ONU na longínqua vila de Tizangara, às voltas com um mistério que fazia os soldados das Nações Unidas explodirem sozinhos e, na medida em que vai nos mostrando toda a magia que regula o imaginário do povo africano, vai também revelando a grande tragédia da corrupção que vai corroendo os países da África, até que seus antepassados resolvem puni-los, roubando todo o país e deixando em seu lugar apenas um imenso buraco, por onde navega, flutuando, apenas o barco da morte, numa alegoria da roubalheira capaz de destruir tudo e todos.
     A gente recebe a opinião dos espíritos e até Zeca Andorinho já tinha dito a mesmíssima coisa_os antepassados não estavam satisfeitos com os andamentos do país. Esse era o triste julgamento dos mortos sobre o estado dos vivos.
     Já acontecera com outras terras de África. Entregara-se o destino dessas nações a ambiciosos que governavam como hienas, pensando apenas em engordar rápido. Contra esses desgovernantes se tinha experimentado o inatentável: ossinhos mágicos, sangue de cabrito, fumos de presságio. Beijaram-se as pedras, rezou-se aos santos. Tudo fora em vão: não havia melhora para aqueles países. Faltava gente que amasse a terra. Faltavam homens que pusessem respeito nos outros homens.  Vendo que solução não havia, os deuses decidiram transportar aqueles países para esses céus que ficam no fundo da terra. E levaram-nos para um lugar de névoas subterrâneas, lá onde as nuvens nascem. Nesse lugar onde nunca nada fizera sombra, cada país ficaria em suspenso, à espera de um tempo favorável para regressar ao seu próprio chão.
      Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.