Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 17 de dezembro de 2011



Corrupção endêmica

     Finalmente vem à tona o caso dos dossiês contra a filha de José Serra, Verônica, e seu marido Alexandre Borgeois, levantados pelo PSDB durante a campanha eleitoral de 2010, como sendo uma armação do PT para destruir a candidatura do tucano paulista.
     O livro, A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Junior (Geração Editorial), pretende esclarecer tudo a respeito da corrupção nos dois governos de FHC, na época das privatizações e o esquema de lavagem de dinheiro montado para encobrir tudo.
     A reportagem da edição da revista Carta Capital de 14 de dezembro, traz uma matéria de capa sobre o assunto, entrevistando o autor do livro. Já há até um site oferecendo download gratuito do livro antes que ele seja censurado  no endereço http://bolaearte.wordpress.com/..
    .Por outro lado, a revista Isto é, de 9 de dezembro, traz ampla reportagem sobre o esquema de fraudes montado no Ministério dos Esportes, ainda no tempo em que Agnelo Queiroz era ministro, à partir da história de Miguel Santos Souza, cujo papel seria o de fraudar convênios através de empresas-fantasma, para desviar dinheiro para o então partido do ex-ministro, o PCdoB.
     Na mesma edição a revista traz a acusação do Ministério Público contra o senador Cícero Lucena, PSDB da Paraíba, sobre fraudes em licitações no tempo em que era Prefeito de João Pessoa. Hoje Lucena é Primeiro-Secretário do Senado.
     Na UOL, esta semana, um ministro do Supremo Tribunal Federal, avisava que os crimes do mensalão poderiam prescrever, devido à demora do processo. Enquanto isso, seguem as denúncias contra o ministro Pimentel, do PT de Minas, que teria recebido um milhão de reais de uma empresa para passar um dia "conversando" com eles. Ele que é assessor pessoal da presidente Dilma desde a campanha eleitoral, imagine-se o que teria para contar nessa conversa que valesse tanto dinheiro.
     Se aparecer um partido comprometido com transparência de verdade, que mantenha as contas dos seus parlamentares abertas o tempo todo, que renuncie aos salários e benefícios parlamentares, periga ser um sucesso nas eleições. Hoje essa parece ser a maior urgência para o eleitor brasileiro. Acabar com a corrupção endêmica que compromete o esforço do povo brasileiro para melhorar de vida.
     Quanto às "vestais" do PSDB, sempre tão empenhadas em acusar a esquerda, cai a máscara, principalmente de José Serra, um indivíduo insidioso, rancoroso e cheio de truques sujos.
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     Golpe


     Por falar em corrupção, uma empresa fantasma, chamada Proseg, está enviando correspondências aos aposentados de todo o Brasil, avisando que depois de 13 anos de batalhas judiciais a pessoa ganhou um processo para receber um pecúlio de R$66.500,00 e mais um benefício em forma de aposentadoria e para recebê-lo precisa pagar as custas dos advogados, no valor de R$3.327,50 A correspondência vem com um número de telefone para esclarecimentos (11)7855-8800 e quando a pessoa liga uma mulher que se diz advogada atende e indica como fazer o depósito para liberação do benefício.
     Minha mãe recebeu a correspondência e resolvemos ligar para saber o que era. Claro que suspeitamos logo de um golpe. Mas bastou fazer uma busca na internet para encontrar uma enxurrada de reclamações.  
     Será que só a polícia não está sabendo do golpe?

Um mundo novo

    Estamos encerrando 2011, um ano longo mas promissor.
    Já repararam, amigos leitores, quantas mudanças ocorreram neste ano?
     As revoluções democráticas nos países árabes, os indignados pelo mundo lutando contra o capitalismo selvagem e o predomínio do setor financeiro (e suas crises cíclicas que arruinam países inteiros), as guerras do Iraque e do Afeganistão chegando ao fim, a ascenção dos emergentes, BRICS à frente, com o Brasil começando a ter voz no mundo e apesar da corrupção e dos problemas, melhorando nossas vidas.
     Mesmo neste aspecto,  a faxina de Dilma colocando o combate a corrupção em primeiro plano e, apesar dos pesares, a aliança de esquerda capitaneada pelo PT, acabando com a hegemonia secular da direita no Brasil e se preparando para derrubar seus últimos baluartes em 2012, seja em grandes cidades como São Paulo, seja nos últimos pequenos currais, pelo interior do Brasil. 
     A copa de 2014 e as olimpíadas, forçando nossas cidades a uma reciclagem geral, o povo saindo aos poucos da pobreza e começando a consumir, a vida mudando, tudo ficando informatizado com TVs digitais, 3D, tablets e outros aparelhos novos integrando as mídias, a internet tomando conta de tudo e a vida, apesar de tudo melhorando.
     A consciência planetária sobre o meio ambiente avançando rapidamente e até os países mais poluidores do mundo aceitando um acordo de limitação de emissões de carbono para controlar o aquecimento global.
     Não é pouca coisa. esperamos que 2012 não seja o anunciado fim do mundo, das previsões maias, mas o começo do fim de um mundo antigo, atormentado por guerras e nacionalismos anacrônicos e o início de outro, onde as nações se integrem cada vez mais e construam finalmente um mundo de paz e riqueza para todos, onde a fé dos homens não seja fruto da necessidade, da pobreza ou do desespero, mas da gratidão por uma vida plena e segura para todos.
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O Cemitério de Praga


     Este é o novo livro de Umberto Eco (Editora Record, Rio de janeiro e São Paulo - 2011) , o grande linguista e escritor italiano, autor de O Nome da Rosa, entre outros títulos. 
     Eu já tinha lido, recentemente, O Pendulo de Foucault, também de sua autoria, em que o autor cria uma trama entre editores que vão em busca de mistérios esotéricos, para depois se darem conta de que tudo não passava de uma grotesca falsificação. Mais do que isso, uma espécie de histeria coletiva de gente que se excita com teorias conspiratórias e fazem a fortuna de oportunistas que escrevem obras para esse público, procurando atender seus desejos de descobertas sensacionais e ocultas.
     Em O Cemitério de Praga, Eco vai mais longe e entra no mundo dos falsários, que criam documentos autênticos sobre histórias estapafúrdias, em torno de interesses de ocasião, seja de grupos políticos, seja de governos, seja de preconceitos raciais e religiosos.
     Tudo se passa na segunda metade do século XIX, quando as potências européias faziam seus joguinhos de espionagem, sempre contratando os serviços do personagem principal, que não hesita em desgraçar a vida de inocentes em troca de um bom pagamento, fazendo os serviços mais sujos para atender interesses escusos.
     Durante a trama, Eco nos leva por um passeio em meio a fatos históricos reais, como a luta de Garibaldi pela unificação da Itália, a Comuna de Paris, a guerra franco-prussiana e as conspirações que precederam a revolução russa de 1917, passando por personagens muito conhecidos que viveram naquela época, como Freud, por exemplo.
    Aliás, personagens é o que não falta no livro. A cada capítulo somos apresentados a dois ou três novos, que acompanham o principal, o capitão Simonini, e seu Alter-ego, o abade Dalla Picolla, que são a mesma pessoa. Simonini e Dalla Picolla se revezam nas páginas de um diário em que vão contando tudo que fizeram ao longo de suas vidas, enquanto estranham profundamente morarem na mesma casa sem nunca se verem e não entendem como, quando termina a narrativa de um começa a do outro, já que nem se lembram de se conhecerem.
     Mas o pano de fundo da história é a falsificação de um episódio, criado por Simonini e que ele considera a sua obra prima de falsário, destinado a acirrar o ódio contra os judeus na Europa, numa época em que os governos usavam o anti-semitismo como uma forma de atemorizar seus povos para mantê-los sob controle, usando a velha tática do inimigo comum.
     Este documento, que vai tomando forma ao longo da narrativa, sendo apresentado várias vezes ao longo do tempo a vários clientes diferentes, acaba se transformando nos famosos Protocolos dos Sábios do Sião, usados inclusive por Hitler como argumento para denunciar uma suposta conspiração judaica para dominar o mundo e implementar a sua terrível solução final, ou seja, o simples extermínio do povo judeu.
     A figura amoral de Simonini deve fazer refletir os que ainda se excitam com o esoterismo e as promessas de verdades ocultas a serem reveladas, sobre o fim do mundo e outras bobagens que circulam por aí.
      O pior é que Eco nos revela ao final, que, com excessão de Simonini, todos os personagens de sua obra realmente existiram, mostrando como foi possível manipular a opinião pública por tanto tempo, criando fatos inexistentes, pondo a perder a vida de muitos inocentes, para incrementar crendices e fantasias que visavam atingir, ora a Igreja Católica, ora a maçonaria, ora os judeus, ora os republicanos, ora os comunistas, numa sucessão de sujeiras de deixar tonto o leitor.
     Vejam esse diálogo de Simonini com um dos seus clientes, potencial comprador, para justificar a importância política de um documento falso que ele criara:
     "A multidão é bárbara, e age brutalmente em todas as ocasiões. Observem aqueles brutos alcoolizados, reduzidos à imbecilidade pelas bebidas, cujo consumo ilimitado é tolerado pela liberdade! Deveremos permitir-nos, e aos nossos semelhantes, fazer o mesmo? Os povos da cristandade estão desencaminhados pelo alcool; a juventude deles foi enlouquecida pelas orgias prematuras às quais nossos agentes instigaram... Na política, vence apenas a força genuína; a violência deve ser o princípio, a astúcia e a hipocrisia devem ser a regra. O mal é o único meio para alcançar o bem. Não devemos deter-nos diante da corrupção, do engano e da traição; o fim justifica os meios."
     Algo nesse discurso nos soa familiar?
     Pense nisso, meu caro leitor, e se puder leia o livro: vale a pena.