Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 31 de julho de 2011


RAPIDINHAS

Um fio de esperança

     O marasmo e a tristeza tomaram conta da cidade de Rio de Contas. O grupo que se reveza no poder há mais de 30 anos já não tem propostas para a cidade e se limita a perseguir opositores. O imobilismo é a marca registrada do atual governo, que usa o jovem prefeito apenas como uma cara nova para suas velhas práticas. Nada acontece no turismo, na cultura, não existem propostas para o desenvolvimento da agricultura ou da economia.
     Ao invés de buscarem atrair gente para a cidade, cuidam de expulsar as pessoas, para ficarem sozinhos mamando nas tetas da Prefeitura, tratando o povo como gado, que precisa pedir favores para poder obter seus direitos.
     Ninguém aguenta mais.
     No PT, que seria a opção para mudança, nada acontece. A única movimentação que se vê é a da vereadora Magdalena Mafra que tem feito um bom trabalho na Câmara, pela oposição, conseguindo benefícios reais para sua região, a parte alta do município conhecida como gerais.
     Magdalena, atualmente no PSB, base aliada do governo Wagner e Dilma, vai assim viabilizando sua candidatura a prefeita em 2012. Pelo visto a hora das mulheres governarem está chegando também para Rio de Contas. Esperamos que seja para o bem de todos.

Bye bye USA

     Por falar em imobilismo e atraso, os Estados Unidos continuam se afundando, graças ao reacionarismo dos republicanos, decididos a inviabilizar a todo custo o governo de Obama.
     Insistem que o Presidente americano corte benefícios sociais, tentando impor ao governo democrata o programa republicano de governo que levou os EUA à beira da falência. A única alternativa que resta a Obama é diminuir sua presença militar no mundo inteiro, acabando com a hegemonia que sustenta sua condição de potência global.
     Há males que vem para bem. Quem sabe assim nos livramos deles e o Brasil, junto com os outros BRICS encontra espaço para crescer mais e, junto com a América Latina, vai se afirmando como um novo pólo de civilização, neste pobre planeta tão castigado por guerras e velhos impérios.
     Na esteira da crise econômica dos EUA e da União Européia, nossas empresas já estão indo às compras, arrematando empresas falidas americanas e européias, num movimento conjunto com chineses, russos e indianos.
     Quem diria...

Copa 2014

     Confesso que fiquei com vergonha de ver o sorteio das eliminatórias da Copa 2014.
     O que era aquele tom de ufanismo provinciano, comandado por gente da TV Globo? Parecia que estávamos em plena ditadura militar, estilo Brasil Grande, ame-o ou deixe-o, etc.
     Ridículo.
     Ivete Sangalo cantando aquarela do Brasil junto com uma tal orquestra sinfônica de Heliópolis, de São Paulo...o que foi aquilo? Pra que dizer que os componentes da orquestra eram pobres? Para humilhar e mostrar que a elite branca que governa o Brasil é generosa?
     Coisas da Globo mesmo, que pelo visto vai dominar o espetáculo.
     Ainda tivemos que aguentar Galvão Bueno falando besteiras sem parar.
     Acho que a Globo coloca o Galvão pra fazer a gente assinar a Sky e poder assistir SporTV.
     Só assim a gente se livra dele. Deve ser uma estratégia de marketing.
     Até quando vamos ter que aguentar esse monopólio da burrice e mediocridade?
     Presidente Dilma Roussef, está na hora de uma reforma nas comunicações, que democratize a concessão de canais de televisão, acabando com os privilégios da família Marinho.

O grande circuito


Fazendo uma pesquisa para a Faculdade de Arquitetura onde leciono, descobri um artigo interessante sobre Fernando Peixoto, um arquiteto baiano que faz edifícios coloridos e causa muita polêmica entre os profissionais da área.
O artigo falava de despeito, citando outros exemplos de profissionais que ousaram ser livres na sua criatividade, sem dar explicações aos grupos que dominam a cultura brasileira e sofreram o mesmo tipo de preconceito.
Achei interessante, porque na mesma semana tive um debate com um amigo que me questionava sobre o porquê de eu não me apresentar como escritor, já que tenho alguns livros publicados.
Eu explicava a ele que não me sentiria um escritor enquanto não conseguisse alcançar o nível de um romancista, pelo menos de mediana qualidade e que, por enquanto, me sentia apenas um escrevinhador.
Mas na mesma semana, passando por Brasília, me detive na vitrine de uma grande livraria e fiquei observando os títulos que eles colocam em primeiro plano. Memórias de gente que não tem nada de bom para dizer, mas é rica e famosa, livros de auto-ajuda, de marketing sobre como vender mais ou de falsos hostoriadores que só sabem ridicularizar o Brasil, totalmente despidos de alguma qualidade literária ou mesmo humana, pertencentes a essa indústria de besteiras que dá muito dinheiro para os editores e outros best-sellers de autores muito ruins que escrevem apenas para vender.
Meus livros nunca estiveram expostos em primeiro plano, mas com certeza são melhores que muitos daqueles que estavam ali. Então me perguntei se meu amigo não tinha razão e se eu não estaria apenas me diminuindo, dando vazão a minha natural timidez e meu temor de me expor ao público.
Na verdade não mudei muito minha avaliação sobre o que escrevo, pois olho para os melhores ao me considerar apenas um escrevinhador. Como gostaria de escrever tão bem quanto um Agualusa, ou um Guimarães Rosa (Ô pretensão...), mas olhando para os lados, me lembrei também do prêmio Jabuti atribuído a Chico Buarque, que escreve muito mal.
Juntando tudo isso, me convenci de uma realidade que eu vinha apenas pressentindo há tempos, mas não tinha ainda me convencido dela. A verdade é que existe um grande circuito cultural, dominado por pessoas famosas e ricas no Brasil e que se você não estiver dentro dele, ou não contar com a sua benção, nunca será consagrado.
Outro caso emblemático que me veio à mente para confirmar a existência deste gueto cultural, foi o do filme O Pagador de Promessas, que ganhou o festival de Cannes em 1962, trazendo a única Palma de Ouro daquele festival para o Brasil até hoje.

Me lembro de assistir a uma entrevista de seu diretor, Anselmo Duarte, dizendo do desprezo com que era tratado por seus colegas cineastas após o prêmio. O entrevistador lhe perguntou a razão de seu filme, tão bom e tão premiado nunca ter sido reconhecido pelos outros diretores brasileiros da época, e ele respondeu que não entendia aquilo, mas que talvez fosse porque não pertencia ao círculo deles, era um outsider, e que eles não lhe perdoavam ter obtido tanto sucesso sem ter lhes pedido licença, sem ter passado pela cerimônia do beija-mão, necessária para ser reconhecido como integrante do grupo.
Assim também é na arquitetura. Sem nenhum desprezo pelas obras do renomado arquiteto Oscar Niemeyer, me pergunto se ele obteria tanto reconhecimento se não pertencesse a uma família tradicional carioca, assim como a família Buarque de Holanda, do excelente compositor, mas péssimo cantor e escritor, Chico Buarque.
Fernando Peixoto fez coisas lindas em Salvador, mas não pediu licença à academia e por isso até hoje é desprezado pelos que pretendem ser donos da cultura. Já vi gente se retirar de mesa de debate, por não aceitar a presença dele. Um absurdo.
Eu com certeza nunca aceitei o beija-mão e já fui muito discriminado por isto, embora nunca tenha me importado. Meu livro de iniciante, Repensando a Arquitetura, publicado logo após minha formatura, nunca foi citado por outros arquitetos, mas canso de ver publicações posteriores, de gente famosa, repetindo conceitos que eu lancei ali, num momento em que todos apenas repetiam a mesma cantilena antiquada e quando eu fui considerado uma pessoa inconveniente por me atrever a dizer coisas que a academia ainda não havia dito.
Apesar disso, sua pequena edição de apenas 1000 exemplares até hoje é encontrada nos sebos e ele consta da bibliografia de várias faculdades brasileira e até do exterior, apesar de já estar ultrapassado, pois falava de uma realidade de 1985.
Pior do que isso, esta semana fazendo a mesma pesquisa achei um autor conhecido que não apenas plagiou minhas idéias, lançadas numa publicação do diretório acadêmico da minha faculdade quando eu ainda era estudante, mas copiou até o título, se apoderando muitos anos depois das minhas idéias, que na época foram refutadas porque eram diferentes do que todo mundo dizia.
Me lembro que os próprios estudantes, filhos de famílias abastadas (as faculdades de arquitetura sempre foram muito elitizadas), me olharam com desprezo ao ler esse meu artigo, intitulado Arquitetura e Cultura Popular, onde eu propunha que os arquitetos se voltassem para a arquitetura que era feita pelo povo, sem arquitetos, para se inspirarem em busca de uma expressão nacional. Isso hoje está na moda e se chama arquitetura vernacular.
Mas eu nunca me importei e segui sempre em frente, na minha busca movida pela minha intensa curiosidade sobre o mundo, sem procurar reconhecimento de nada e sem me deter sobre os silêncios da crítica ou das editoras, sempre segui escrevendo e publicando.
Meu livro memorialista Contracorrenteza, então, é um caso típico. Considerado iconoclasta e inconveniente ao extremo, foi banido das livrarias (à pedido do PT, segundo um distribuidor de São Paulo), mas até hoje recebo pedidos  de gente que me diz estar procurando por ele há anos. Até da biblioteca do Congresso dos Estados Unidos recebi um pedido de envio de um exemplar, que atendi muito prazerosamente.
Para confirmar a existência deste grande circuito cultural, basta ver a programação da Flip, Feira Literária Internacional de Parati, cheia de gente famosa, ou de iniciantes patrocinados por eles, ou ainda de lançamentos de gente nova pertencente às famílias tradicionais brasileiras.
Isso é provincianismo. Nenhum país irá adiante se não se libertar do domínio cultural dessas minorias privilegiadas, pois não haverá a livre circulação de idéias, que estimule a inovação e a criatividade, nos mantendo sempre na rabeira da cultura mundial, fazendo e dizendo apenas aquilo que já é feito, dito e aceito pelos “donos da cultura”.
Abaixo o grande circuito e o provincianismo cultural!
Viva a liberdade de expressão e de criação!

sábado, 23 de julho de 2011

Rapidinhas

Acervo de Rio de Contas

     Fruto da dissertação de mestrado de Fabiano Mikalauskas de Souza Nogueira, intitulada "A Representação de Sítios Históricos: Documentação Arquitetônica Digital", realizada através do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (FAUFBA), sob a orientação do Prof. Dr. Arivaldo Leão de Amorim, foi criado o site www.acervoriodecontas.ufba.br, que ainda está em construção, mas já conta com imagens, textos, desenhos, vídeos e contará ainda com modelos 3D de algumas construções históricas e paoramas da cidade.
     Se você se interessa por arquitetura e patrimônio histórico, vale a pena acessar e se cadastrar.

TIC 2011

     O V Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção, TIC 2011, ocorrerá em Salvador, nos dias 04 e 05 de agosto. O tema deste ano é: BIM - Modelando a Construção do Futuro, sobre a tecnica conhecida como Buildind Information Modeling (BIM), que está revolucionando a forma de projetar em arquitetura.
     Para maiores informação visite o site do LCAD (Laboratório de computação gráfica aplicada à arquitetura e ao urbanismo): www.lcad.ufba.br. Para se inscrever (até o dia 31 de julho) visite o site da FAPEX: www.fapex.org.br/mof/Default.aspx


Lançamento de livro I

     Recebi da Secretária de Cultura de Livramento o convite para o lançamento do livro Minhas Andanças, de Franscisco Tanajura Machado.
     Numa terra de tão poucas iniciativas verdadeiramente culturais, é uma ocasião que deve ser prestigiada.
Neste sábado, dia 23, às 20 hs.

Lançamento de livro II

     Recebi do colega Argemiro Ribeiro de Souza, professor de História da Fainor, convite para lançamento do Livro Sertões da Bahia, a ser realizado em Salvador, no dia 06 de agosto. O livro é uma coletânea de artigos, organizada por Erivaldo Fagundes Neves.

Segundo a sinopse que me foi enviada:

"Este estudo coletivo dos sertões da Bahia pretende oferecer um panorama de viveres comunitários e de recortes regionais com o objetivo de ampliar as possibilidades de investigação de suas peculiaridades e estimular novos estudos de cotidianos históricos das diversas Bahias sertanejas. Organizado para uso de alunos de História da Bahia, atende também a interesses estudiosos da economia, da sociedade, da cultura e da vida política desta unidade federativa. Apresenta análises tanto de algumas opções temáticas quanto de determinados recortes espaciais, em formato diferente dos tradicionais compêndios de história de unidades federativas, que tentam abarcar as suas totalidades territoriais. Do mesmo modo que a História do Brasil, a da Bahia não se caracteriza por um somatório de fatos e dados regionais e locais ou de assuntos sobre determinados temas, porque deve registrar os grupos sociais nas suas articulações inter-regionais, nacionais e exteriores, cujas memórias se conseguem recuperar. ..."
     Importantes para quem quer entender a história dos altos sertões da Bahia, região a qual pertencem Rio de Contas e Vitória da Conquista.
     Vale a pena conferir.







segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rapidinhas

Uma constituinte para a Europa

     A União Européia chegou a uma encruzilhada: ou se transforma numa federação e contiua avançando na integração ou recua e abandona sua maior conquista, o moeda comum, o Euro.
     A atual crise mostrou que não adianta ter um banco central comum e uma moeda comum, se cada país tem autonomia para fazer o que quer com a sua economia. O resultado são políticas desencontradas, que formam um caldo de cultura perfeito para os especuladores.
     É claro que por trás das crises da Grécia, Portugal, Itália, Espanha e Irlanda, estão os bancos, que investiram onde não deviam, sem as garantias necessárias, muitas vezes dando aval a politicas eleitoreiras e irresponsáveis dos governos locais. Mas existe também um movimento especulatório que quer que esses países vão à falência, para impor os tais "ajustes", que implicam em privatizações e demissões em massa, reduzindo o poder dos sindicatos e aumentando o poder do capital, dentro das velhas propostas neoliberais que não convencem mais ninguém.
     Então, se os neoliberais não conseguem mais impor suas políticas através de partidos de direita, tratam de armar esses golpes especulativos para impô-las através de crises pré-fabricadas, que deixam governos e cidadãos desarmados para resisitirem ao assalto.
     A tentativa do capital europeu de impor uma Constituição neoliberal  fracassou com a recusa de holandeses e franceses em aprová-la. Agora tentam impor suas políticas de forma golpista, ilegal. A velha briga entre o que os europeus chamam de "burocracia de Bruxelas" e a vontade popular chegou a um ponto que só uma constituinte pode resolver.
     A velha direita nem fala nisso, pois uma Constituinte eleita seria soberana para construir políticas que colocassem o futuro daquelas sociedades nas mãos de seus cidadãos. A esquerda também não fala nisso, temerosa de que a perda de autonomia de seus países enfraqueça mais ainda seu poder. Mas, na verdade, não há outra alternativa ao retrocesso. Ou eles entendem que precisam se estruturar legalmente como uma federação ou a União Européia tende a se esfacelar.

O Estilo Dilma


      O Correio Braziliense reclama da falta de capacidade política da presidente, em função das medidas tomadas por ela para sanear o Ministério dos Transportes. Queriam que ela se sentasse à mesa para negociar com os corruptos, desses pequenos partidos oriundos da direita e que se abrigam agora sob as asas da chamada "base aliada".
     É claro que o Correio representa esses setores, que já tiveram tanto poder na capital federal e que agora vivem de migalhas do governo, e não se sente confortável nem para apoiar o governo Dilma, nem para deixar de apoiá-los quando eles perdem mais e mais poder.
     É uma situação ridícula e esdrúxula. Se colocam na oposição mas reivindicam apoio aos interesses dos seus aliados dentro do governo.
     Dilma resolveu o problema do Ministério da única maneira correta possível: expurgando os corruptos e indicando um ministro da confiança dela e que, ainda por cima, pertence ao PR, partido do antigo ministro. O que eles queriam? Os ministros tem que ser da confiança da presidente e não do chefe do partido. Parece que eles andaram muito mal acostumados nos últimos três governos.
     O estilo Dilma é simples e direto. Bobeou dançou.

Mia Couto


     Este é o nome do premiado autor moçambicano do livro que acabei de ler, intitutulado O último voo do flamingo (Companhia das Letras, São Paulo - 2005).
     Numa espécie de realismo fantástico africano, Couto conta as desventuras de um inspetor da ONU na longínqua vila de Tizangara, às voltas com um mistério que fazia os soldados das Nações Unidas explodirem sozinhos e, na medida em que vai nos mostrando toda a magia que regula o imaginário do povo africano, vai também revelando a grande tragédia da corrupção que vai corroendo os países da África, até que seus antepassados resolvem puni-los, roubando todo o país e deixando em seu lugar apenas um imenso buraco, por onde navega, flutuando, apenas o barco da morte, numa alegoria da roubalheira capaz de destruir tudo e todos.
     A gente recebe a opinião dos espíritos e até Zeca Andorinho já tinha dito a mesmíssima coisa_os antepassados não estavam satisfeitos com os andamentos do país. Esse era o triste julgamento dos mortos sobre o estado dos vivos.
     Já acontecera com outras terras de África. Entregara-se o destino dessas nações a ambiciosos que governavam como hienas, pensando apenas em engordar rápido. Contra esses desgovernantes se tinha experimentado o inatentável: ossinhos mágicos, sangue de cabrito, fumos de presságio. Beijaram-se as pedras, rezou-se aos santos. Tudo fora em vão: não havia melhora para aqueles países. Faltava gente que amasse a terra. Faltavam homens que pusessem respeito nos outros homens.  Vendo que solução não havia, os deuses decidiram transportar aqueles países para esses céus que ficam no fundo da terra. E levaram-nos para um lugar de névoas subterrâneas, lá onde as nuvens nascem. Nesse lugar onde nunca nada fizera sombra, cada país ficaria em suspenso, à espera de um tempo favorável para regressar ao seu próprio chão.
      Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.

domingo, 10 de julho de 2011

Brasília e a corrupção
     Fui criado em Brasília e acompanhei todas as etapas da evolução da cidade, mesmo depois que deixei de viver nela permanentemente, em 1972, pois sempre estou de volta para visitar minha família ou até mesmo para trabalhar, como fiz entre 1983 e 1987, entre 1993 e 94 e entre 2001 e 2004.
     Chegamos em setembro de 1960. Meu pai era do antigo IAPI e a cidade acabava de ser inaugurada e vivia-se numa espécie de acampamento de obras, uma mistura de esperança, solidariedade, modernidade e desafios para o futuro.
     Assisti a posse e à renúncia de Jânio Quadros, a posse conturbada de João Goulart e à chegada dos campeões do mundo de 1962, recebidos por Jango no Palácio do Planalto. Depois ao golpe de primeiro de abril de 1964. Nessa época minha mãe já era funcionária da Câmara dos Deputados e me levava para ver as sessões tumultuadas, das galerias do Congresso. Na véspera do golpe, impossível esquecer o debate entre o deputado golpista Padre Godinho e o deputado líder das ligas camponesas, Francisco Julião. Das galerias assisti também a posse de Castelo Branco, o primeiro presidente militar e depois assisti de perto à invasão da UnB e ao AI5, Ato Institucional que fechou o Congressou e instaurou o mais triste período da história moderna do país. Foi quando resolvi deixar a cidade, indo para o exterior.
     Assisti colegas de colégio fazerem fortuna do nada, como Luís Estevão e Paulo Octávio, ou assumirem o poder político, como Fernando Collor e Teotônio Villela, o filho. Vi muita gente subir e descer a ladeira da fortuna e da fama com a mesma velocidade e me acostumei a enxergar Brasília como uma terra de aventureiros. Qualquer um podia chegar na cidade e ter sua chance de subir na vida, pois não havia uma elite local tradicional, como nas outras cidades. Brasília sempre foi um campo aberto para os oportunistas.
     Também assisti a muita gente talentosa se perder nos meandros da burocracia, trocando vocações artísticas por um emprego seguro, um apartamento, casamentos quase sempre desfeitos, filhos e muito álcool nos bares aos sábados à noite.
     A percepção da desesperança que foi tomando conta da cidade me incompatibilizou cada vez mais com ela, até que em 2004 resolvi abandoná-la definitivamente, me mudando para a chapada diamantina e carregando comigo todas as frustrações das tentativas de viver lá.
     Antes disso tentei viver no Rio de Janeiro, onde nasci, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, onde me formei, em Manaus, onde pude conhecer as maravilhas da Amazônia trabalhando para a Shell, mas foi a Bahia que me prendeu, apesar de todos os seus problemas, pela simpatia e generosidade de sua gente.
     Lá me casei, me separei, tive filhos, saí para tentar mais uma, duas, tres vezes viver em Brasília, mas sempre retornei. Morei em Salvador, Itabuna, Ilhéus, Vitória da Conquista e Rio de Contas, trabalhei, fiz política, amei, fui amado, me separei, chorei amores perdidos, mas plantei raízes da minha alma. Lá vivo até hoje, apesar de visitas frequentes à Brasília para acompanhar os anos difíceis da velhice de minha mãe, cercada por três dos meus cinco filhos, que permanecem ao lado dela.
     Posso dizer que conheço profundamente a alma de Brasília e me entristeço muito em dizer aos leitores, que a corrupção plantou raízes profundas na cidade, não apenas na burocracia estatal, mas na própria população que, vindo na sua maioria de pequenas cidades, enxerga nas oportunidades de pequenos golpes a possibilidade de atalhos para o enriquecimento rápido, na ausência de partidos políticos verdadeiros, capazes de guiar o povo através de princípios, de bandeiras reais de luta, em busca da construção de uma nação organizada e próspera.

     Ouso dizer que se no Brasil ainda existem valores democráticos, eles são fruto de velhas tradições, alicerçados na herança das famílias, sejam elas ricas ou pobres, criadas nos valores do respeito. Ética e cidadania são apenas palavras vãs na boca de políticos, empresários e burocratas, todos em busca de enriquecimento rápido numa sociedade que só valoriza o dinheiro e o poder.
     Por isso não me espanto com os escândalos, como o do Ministério dos Transportes. Não se trata do ministro Nascimento, ou de seu partido, o PR, como quer a grande imprensa. A corrupção está instalada em toda a Esplanada dos Ministérios e centenas de pequenas quadrilhas se eternizam, sobrevivendo ás mudanças de governo, sejam eles de esquerda ou de direita, militares ou civis, formados por gaúchos, mineiros ou paulistas.
     Cito apenas dois casos que vivi pessoalmente.
     Em 2001 entrei para o Ministério da Integração Nacional, no governo FHC. A Integração era da "cota" do PMDB. Lá trabalhei até 2003 no Programa Faixa de Fronteira, analisando orçamentos de pequenas obras e fazendo viagens de inspeção nos municípios das fronteiras do Brasil.
     Os preços das obras eram determinados por uma tabela do Sinduscon (Sindicato das Indústrias da Construção Civil), segundo uma lei promovida pelo governo de Fernando Henrique. As tabelas do Sinduscon acompanhavam mais ou menos os preços de mercado, conforme aferíamos pela revista Construção, da editora PINI, publicação séria e respeitada. A única excessão era o Acre, terra do senador Nabor Junior, que detinha grande influência na indicação do ministro.
     Lá, a tabela era muito mais elevada e não adiantava discutir isso com nosso chefe, porque ele falava que isso não nos dizia respeito e tínhamos apenas que obedecer, naquela base do "quem pode manda e quem tem juízo obedece".
     Recebíamos ordens absurdas, e houve vários conflitos e ameaças de demissão entre os funcionários, até que Lula ganhou a eleição. Na véspera de sair do poder queriam que aprovássemos uma quantidade enorme de orçamentos, sem tempo hábil para examinar nada. Tive que inventar uma doença para me livrar da pressão e só retornei após a posse. Aí tudo parou. Ciro Gomes assumiu como ministro e colocou um sujeito para bisbilhotar tudo, tentando descobrir quem deveria sair e quem deveria ficar. Me chamaram e expliquei o que sabia, que a corrupção estava ligada ao Acre. Foram desmontando a quadrilha toda. Todo dia um era demitido até que, quase no final, um deles, conseguiu ficar, pois era casado com uma petista.
     Logo tudo voltava a funcionar, com novos chefes tomando conta do butim e mantendo a mesma lambança. A quadrilha tinha conseguido sobreviver.
     Pedi demissão e fiz concurso para o MEC. Passei e fui trabalhar com um programa de escolas estaduais. O trabalho era semelhante: analisar orçamentos. Logo me jogaram um imenso processo, que já tinha três volumes, sobre uns equipamentos de video-conferências para Universidades Estaduais da Bahia. O processo era uma loucura. Começava num volume, passava para o segundo, voltava para o primeiro, continuava no terceiro... Parecia ter sido embaralhado propositalmente para que ninguém entendesse nada.
     Com a experiência acumulada na Integração Nacional, estabeleci um roteiro paralelo, onde ia seguindo os despachos até conseguir entender onde estava a falcatrua. Tinham comprado um equipamento para cada Universidade Estadual ( a Bahia tem quatro) e dois para duas faculdades particulares de Salvador.
     Questionei meu chefe e ele me disse que isso não era de nossa alçada.
     Prossegui e finalmente encontrei um imenso superfaturamento. Pagaram R$200.000,00 por um programa windows, que custava R$600,00 e muito mais. Indeferi o projeto, citando no meu despacho todas as irregularidades encontradas. Foi um corre-corre. No outro dia o representante da Bahia (eram tempos de ACM), sempre tão solícito comigo, passou por mim sem me cumprimentar. Aí começaram as pressões. Eu tinha que aprovar o processo.
     Meus colegas falavam que a quadrilha lá era antiga, formada por ex-militares (meu chefe era um deles) e que vinha desde os tempos da ditadura. Pedi demissão novamente e fui para a Chapada Diamantina, onde cheguei num nível de stress que me fez ficar seis meses estafado. Antes de sair fiz a denúncia a uma superior que me disse ter protocolado a reclamação. Nunca houve nenhuma resposta.
     Depois disso foram tantos escândalos. Mensalão, as roubalheiras de Roriz e sua turma, a queda de Arruda, e outros tantos. O Ministério dos Transportes é apenas mais um e outros com certeza virão.
      O Procurador Geral da República tinha razão quando pediu uma intervenção no DF. A corrupção não é privilégio dessa cidade, que um dia foi chamada de Capital da Esperança, mas por aqui se tornou endêmica.

     Abraço a todos

    

    

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Rapidinhas 

Adeus ao topete
     Pra quem tem mais de trinta anos, é fácil lembrar do Presidente Itamar Franco, no exercício do poder.
     Apesar de mineiro, Itamar tinha topete bastante para enfrentar alguns poderosos da época, como Antonio Carlos Magalhães, que o ameaçou com o conteúdo de uma famosa pasta cor de rosa, onde haveriam denúncias contra ele. Itamar convocou ACM ao palácio e quando este entrou no seu gabinete, mandou entrar a imprensa e disse: "pronto governador, pode revelar o que o senhor tem contra mim". ACM não tinha nada e saiu desmoralizado.
     Itamar assumiu no lugar de Collor, envolvido em escândalos de corrupção e derrubado por um impeachmeant. Com seu jeitão esquisito, conseguiu restaurar a confiança no governo, ajeitar a economia e colocar o Brasil num rumo duradouro. Antes disso foi um lutador contra a ditadura, dando muitas dores de cabeça aos militares.
     Um homem digno.
Naufrágio à vista

     O novo pacote do FMI para a Grécia, que exige a demissão de 1/4 da força de trabalho do país, redução de salários, aposentadorias, aumentos de impostos, etc, para salvar os bancos alemães e franceses que agiram irresponsavelmente emprestando dinheiro sem garantias, tem cheiro de desastre iminente.
     O povo grego tem uma longa tradição de lutas políticas e não deve se subordinar docilmente a este novo absurdo, imposto por um partido que se proclama socialista, mas que na verdade não passa de um partido social-democrata totalmente rendido ao neoliberalismo, que ainda dirige os destinos da União Européia.
     A revolta grega, assim como a revolta dos "indignados" na Espanha, aponta para um novo ciclo político no continente, em que a governança econômica deve passar a se subordinar ao poder político. Isso pode significar um giro para a esquerda nos países atingidos pela crise do Euro.
     A bancarrota da Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, deve provocar intensos movimentos sociais e talvez até a saída de alguns desses países da zona do Euro, agravando a crise na economia dos países ocidentais, o que deve se refletir nos Estados Unidos também.
     Com a Europa e os Estados Unidos cada vez mais em baixa, reféns das aventuras dos banqueiros, a China deve ir às compras, entrando no mercado europeu e adquirindo empresas em dificuldades financeiras.
     Talvez sobre também para os outros BRICS, entre os quais o Brasil, que poderiam ver nesta crise uma oportunidade de expansão de suas empresas transnacionalizadas.
     Enquanto eles insistem no esqueminha neoliberal e vão se afundando, os Brics seguem crescendo, apesar dos solavancos, o que inclui toda a América Latina à reboque do Brasil, toda a Ásia, a reboque da China, e agora também a África, a reboque da África do Sul. Como já dizia Camões:
 Cessa tudo quanto a antiga musa canta, quando um poder mais alto se alevanta.

Será que eles foram lá?
                                            A "nova" nave Orion
Os americanos anunciam que as próximas naves que vão substituir o chamado ônibus espacial, retomarão o design das antigas cápsulas Apollo 11, que em 1969 foram responsáveis por levar os astronautas americanos à lua.
     Agora vejam se isso entra na cabeça de alguém. Os ônibus espaciais, muito maiores e confortáveis, nunca saíram da órbita terrestre, para sequer dar uma volta em torno da lua, em mais de 30 anos de serviço. Como acreditar que uma pequena cápsula, que na época era toda analógica, teria conseguido este feito?
     Eu tinha 18 anos quando isso aconteceu e me lembro dos mais velhos na época dizendo que era tudo mentira. A gente ria deles, chamava de atrasados, etc, mas depois, lendo as denúncias sobre uma suposta fraude nesta ida à lua, comecei a ficar na dúvida.
     Pra quem nunca leu nada a respeito, os indícios da fraude estariam nas sombras projetadas pelo módulo lunar pousado na lua, em 1969, pois em algumas fotos elas se projetam em direções diferentes, como se as sombras fosse provocadas por refletores.
      Como os americanos treinavam seus astronautas num deserto onde as condições geológicas são muito semelhantes às da lua, poderia ter havido uma fraude, cujo objetivo seria "vencer" a corrida espacial que eles travavam com os russos.
     Nunca nada ficou provado, nem os russos denunciaram nada.
     Agora, parece que o tempo voltou atrás e estamos de volta a 1969.
            A sombra da bandeira parece ir na direção oposta à do astronauta.