Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 27 de novembro de 2011

Rapidinhas

Neto prefeito? 


     Parece que o PT de Rio de Contas se encaminha para lançar mais uma vez a candidatura de Alfredo Neto, desta vez com o apoio da família Mafra, decisivo para eleição de qualquer prefeito na cidade.
     A união do velho grupo político, em torno do atual prefeito, parece estar facilitando a decisão do PT.
     Além da péssima administração, o atual mandatário juntou em torno de si tudo que há de pior na política riocontense e que ninguém aguenta mais. Na última eleição, Marcio Farias foi eleito justamente para romper com o velho grupo, com o qual acabou se unindo posteriormente. Seu governo, além de imobilista e incompetente, se destacou pelas perseguições políticas a todos que não votaram nele, perseguição personificada principalmente pela figura de seu braço direito, João Souto, que se comporta como um verdadeiro comissário político, fiscalizando tudo e todos na cidade, o tempo todo e discriminando até peões nas obras da Prefeitura, se tiverem votado com a oposição, num desrespeito completo aos princípios republicanos.
     Na área da cultura, o governo de Márcio tem sido um desastre, mantendo à frente da Secretaria uma pessoa completamente desqualificada e descompromissada com seus objetivos.
     No turismo a mesma coisa. Na agricultura, a Secretaria está entregue a um atravessador.
     A saúde continua abandonada, assim como a educação municipal.
     Nada foi feito pelo desenvolvimento do município nesses três anos de governo e o prefeito se mostra completamente avesso a qualquer diálogo com a população, se mantendo inerte, justificando o apelido de poste, que lhe dei no início do seu mandato devido à sua imobilidade.
     Nas atuais circunstâncias, a candidatura de Neto aparece como uma luz no fim do túnel. 
     Depois de três tentativas, parece que a população de Rio de Contas está se convencendo de que o município estaria em boas mãos com Neto e seu jeito tranquilo e responsável de conduzir as coisas. 
     Como Lula, Neto pode finalmente vencer as últimas resistências na sua quarta tentativa e transformar essa pérola da Chapada Dimantina que é Rio de Contas, no centro de cultura, turismo e agricultura orgânica que são suas vocações naturais, libertando a cidade da corrupção e do atraso, governando para todos e levando paz e prosperidade aos riocontenses.
     Que os anjos digam amém.  
   
      
     Caramba, a Som Livre está cada vez pior. Não lança nada que preste, só lixo!
     Impressionante o desserviço que esta empresa está prestando à cultura brasileira. Há muito tempo eles vem decaindo na qualidade mas agora chegou a um ponto absurdo. Os anúncios na TV Globo são de cantores da pior qualidade. Aliás a programação da Globo, em geral, está horrível. Eles só mantém a liderança porque as outras emissoras conseguem ser piores. Tirando a TV Brasil, as outras só pensam em copiar a Globo e nenhuma delas encara seriamente a possibilidade de construir uma nova grade de programação, com outros tipos de programas. Aos sábados e domingos não se consegue mais ver um filme que preste, só tem Luciano Huck, Gugu, Faustão e outras porcarias. Será possível que ninguem pode fazer algo melhorzinho? Será que só porcaria dá lucro?

Festival de Música e Talentos

      Por falar em música, excelente a iniciativa da rádio Rio de Contas FM, em, promover o Festival de Música e Talentos de Rio de Contas.
     No último sábado assisti à final do festival, sendo premiada como melhor intérprete de música popular, a jovem Julia Farias, que cantou "Tiro ao Álvaro", canção do velho e saudoso Adoniram Barbosa.
     Julia tem uma voz magnífica , que sustenta sem grande esforço e sem se preocupar em fazer volteios.
     O festival também comemorou os 288 anos do município de Rio de Contas.
     Parabéns a Kal da rádio, sempre batalhando pela cultura da cidade.

 Novamente a cultura do eucalipto

     Recebi o folder do seminário que está sendo realizado neste final de semana em Itarantim e Maiquinique, para discutir a intenção da empresa sueco-finlandesa, Veracel, de implantar uma gigantesca área de cultivo de eucalipto no sudoeste baiano, área que já sofre com a falta de chuvas sazonais e que pode ter seus poucos rios condenados ao desaparecimento por essa monocultura predatória.
  
     É preciso ficar atentos para impedir mais este atentado ao nosso meio ambiente natural, além do próprio meio social, sempre muito prejudicado por monoculturas, especialmente esta, que expulsa os agricultores do campo, gerando pouquíssimos empregos e provocando levas de migrantes para as cidades.    
     Tive oportunidade de visitar uma dessas áreas, na divisa de São Paulo com o Paraná (município de Itararé) e pude verificar a existência de um fenômeno que eu não conhecia, as favelas rurais, compostas por agricultores que ficaram sem terras e sem condições de se estabelecerem nas cidades.
     Esperamos que os prefeitos e vereadores dos municípios do sudoeste baiano fiquem bem atentos para impedir a consumação de mais este crime sócio-ambiental.
  

Os últimos soldados da guerra fria

     Este é o título do mais recente livro do escritor Fernando Morais (Companhia das Letras, São Paulo - 2011), autor de vários livros biográficos de grande sucesso, como Olga, sobre a esposa de Luis Carlos Prestes extraditada para a Alemanha nazista pelo governo Vargas e Chatô, sobre Assis Chateaubriand, o primeiro magnata da mídia brasileira, introdutor da televisão no Brasil.
     Em "Os últimos soldados..." Morais faz uma descrição detalhada da ação dos espiões cubanos infiltrados em organizações anticastristas em Miami, para prevenir ações terroristas contra Cuba. Mais do que isto, ele traça um perfil desconcertante da sociedade de Miami, povoada por exilados cubanos, chegados em sucessivas levas, que ele descreve no tempo e no espaço.
    É impressionante a desenvoltura com que as organizações anticastristas organizam atos de terrorismo com a complascência do governo americano, que resultam em mortes de civis inocentes dentro e fora da ilha.   
    Impressionante também é o sentimento de derrota que assola essa comunidade, que espera há 52 anos pela queda da ditadura comunista e a influência que ela exerce sobre a política norte-americana, pesando fortemente na eleição até de presidentes da república e contando com um lobby fortíssimo no Congresso americano.
     O livro desnuda a contradição entre o discurso oficial de guerra ao terrorismo do governo americano, largamente utilizado desde o ataque às torres gêmeas em 2001, e o apoio mal-disfarçado às atividades terroristas desses grupos.
     Tenho dois depoimentos pessoais a respeito do assunto, de épocas muito diversas, mas cuja compreensão só alcancei com a leitura deste livro.
     O primeiro de 1968, quando fui aos Estados Unidos, com apenas 16 anos. Era um desses programas de intercâmbio cultural em que a gente fica hospedado na casa de uma família americana. Passei 13 dias em Miami, mas precisamente em Highleah, uma espécie de bairro de Miami, com uma típica família americana. O pai era funcionário da antiga Pan American e a mãe enfermeira. Eles tinham dois filhos, Jimmy, da minha idade e Billy, que deveria ter uns 14 anos.
     O grupo de brasileiros de classe média começou frequentando as aulas de uma High School, ou seja, uma escola de ensino médio. Mas duramos apenas 3 dias. Em plenas férias de janeiro, ninguém queria saber de aulas. Demos um jeito de nos livrar da escola e passamos a frequentar as casas uns dos outros, conhecer a juventude local, ir a festinhas, etc.
     Um dia resolvi sair a pé, coisa que sempre gostei de fazer para conhecer lugares novos. Estávamos reunidos em algum lugar, uma espécie de clube, acho, e resolvi dar uma volta no quarteirão para sentir o clima da cidade. Saí caminhando por uma calçada e ia distraído olhando as coisas, tomando cuidado para não perder o caminho de volta, quando de repente um fusca passou por mim com dois jovens com cara de latinos. Um deles colocou meio corpo pra fora da janela e me jogou um ovo, acertando a perna da minha calça. Depois aceleraram e saíram rindo.
     Fiquei surpreso com a agressão gratuita e tratei de voltar ao grupo. Comentei o que havia acontecido e a americana que estava conosco comentou que "deviam ser cubanos".
     Depois disso conhecemos muitos jovens cubanos, principalmente umas cubanas muito bonitas que se entrosaram com a agente.
     A revolução na ilha tinha apenas 9 anos, mas Miami já estava cheia deles.
     Era estranho. Embora fossem latinos como nós, não tínhamos a familiaridade que temos com argentinos, uruguaios e outros sul-americanos. Alguns nem sabiam onde ficava o Brasil. Eram uma espécie de latinos americanizados, que pareciam ter perdido sua identidade depois da imigração, embora continuassem falando espanhol e dançando salsa.
     Quase trinta anos depois, em 1997, fui a Cuba, passar uma semana como turista.
     Já não havia a União Soviética e a guerra fria já era passado, mas em Cuba as coisas não estavam muito boas. Eles estavam vivendo o chamado período especial, em que a ilha teve que se virar para substituir os vínculos econômicos com o exinto campo socialista.  
     É justamente o período descrito no livro de Fernando Morais, quando os grupos anticastristas de Miami, vendo que o turismo trazia a Cuba os recursos que a ilha havia perdido, resolveram promover ações terroristas para prejudicar o fluxo de turistas.
     Eu e o amigo que viajou comigo percebemos a vigilância nas ruas e no hotel e muitas vezes ficamos irritados com isso, mas só agora entendi o que se passava e a necessidade de todos aqueles cuidados que muitas vezes nos provocavam um certo mal estar.
     Na véspera da nossa viagem de volta, um telefonema misterioso para o nosso quarto no Hotel Presidente, pediu para que levássemos um encomenda ao Brasil. Uma voz masculina ao telefone dizia que era um CD de um músico cubano que tinha acertado com uma gravadora em São Paulo e que alguém iria buscar no aeroporto.
     Meu amigo ainda titubeou: você acha que devemos levar?
     Tomei o telefone e falei firmemente que não iríamos levar encomenda nenhuma e ponto final.
     No fim sair de Cuba foi um alívio, nos libertando daquele clima tenso. E hoje, lendo o depoimento de Morais, percebi o perigo que passamos. Os terroristas usavam um explosivo chamado C-4, que ligado a um pequeno detonador pode ser programado para explodir algum tempo depois. Quem nos garante que a tal encomenda não seria uma bomba que explodiria nosso avião no ar, como aconteceu alguns anos antes com um voo da Cubana de Aviación, que ia da Guiana para Cuba, matando mais de 70 passageiros?
     O pior é que o terrorista número um, chamado Posada Carriles, autor deste e de inúmeros outros atentados terroristas, circula livremente por Miami, sob as bençãos da justiça americana que se recusa a extraditá-lo.
     Falando sério, não gosto dos Estados Unidos por todo mal que fizeram e fazem à humanidade, mas também não gostei nada dos cubanos. Nem dos exilados americanizados, agressivos, nem do regime da Ilha, com sua ditadura com discursos muito eloquentes e resultados econômicos muito decepcionantes.
     Parece que se acham mais importantes do que são e também que tem uma ligação umbilical com os Estados Unidos que os fazem ser uma espécie de reverso deles. Deveriam esquece-los e se integrarem mais na América Latina, da qual fazem parte, dar uma reformada geral naquele modelo econômico, se democratizarem e começar a olhar para o futuro.
     Os espiões cubanos cumprem longas penas de prisão nos Estados Unidos enquanto os terroristas de Miami circulam livremente. Quando isso vai acabar? Até quando os políticos de Washington vão continuar reféns desse lobby de criminosos? E até quando Cuba vai continuar querendo ser a líder ideológica de uma América Latina que já soube virar a página e está se livrando rapidamente da influência americana e dos resquícios da guerra fria?
      Enquanto o mundo muda, no estreito da Flórida, como diz o título do livro de Fernando Morais, uma velha história tenta sobreviver.