Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 25 de março de 2012

Rapidinhas

A Invenção de Hugo Cabret

     Muito bonito o filme de Martin Scorsese, premiado no Oscar 2012 (efeitos visuais, fotografia, direção de arte, mixagem e edição de som).
     Com uma fotografia noir (sombria), o filme, adaptado do livro de Brian Selznick, conta a história de um órfão, (interpretado por Asa Buterfield) filho de um relojoeiro, que vive dentro do enorme relógio de uma estação de trem e acaba se envolvendo com um antigo cineasta e sua sobrinha.
     Embora marcado pelo velho sentimentalismo das produções de holywood, inclusive com seu previsível final feliz, o filme acerta na homenagem ao grande pioneiro do cinema e inventor dos efeitos especiais, o mágico francês Georges Méliès (1861-1938).
     Apesar de ser uma homenagem a um gênio francês, o filme não deixa de fazer referências constantes a autores e cineastas ingleses e americanos, como querendo nos dizer que apesar de homenagear um francês, seu diretor acredita que o mundo vive à sombra da cultura anglo-saxã, numa demonstração de provincianismo da parte de Scorsese.
     Mas apesar de tudo, o filme consegue sair do lugar-comum das produções norte-americanas e proporciona bons momentos ao espectador, principalmente pela sua bonita fotografia e pelos efeitos especiais. Vale a pena conferir.

Dia mundial da água

     O Dia Mundial da Água, transcorrido em 22 de março, nos traz a triste realidade dos rios urbanos brasileiros, a maioria deles transformados em esgotos.
     Não há uma política pública nacional para obrigar as cidades a tratar seus efleuntes de esgotos e convivemos com este absurdo que é a morte lenta dos rios que cruzam nossas cidades.
     Um exemplo deste descaso é o Rio Verruga, em Vitória da Conquista, Bahia, considerado o rio mais poluído do Brasil, sob a indiferença de Prefeitos e Vereadores que se sucedem no poder sem nada fazerem para recuperá-lo.
     Uma vergonha!

90 anos do velho Partido

     O Partido Comunista Brasileiro, comemorou 90 anos de fundação e de existência contínua, apesar das inúmeras tentativas de acabarem com ele. É o partido político mais antigo do Brasil.
     Do PCB saíram vários partidos, formados através de dissidências, como o PSB nos anos 40, o PCdoB em 1962 e o PPS em 1990. Mas o partido sempre conseguiu sobreviver, reformulando seus conceitos, num mundo em eterna mutação.
     O PCB está na base de muitas conquistas importantes do povo brasileiro, como o direito de voto das mulheres, dos soldados e analfabetos, as leis trabalhistas, a criação da Petrobrás, a luta contra o fascismo e a ditadura militar e a defesa dos direitos constitucionais.
     Muitas idéias que hoje são comuns, foram objeto de muita luta para se tornarem aceitas pelas classes dirigentes brasileiras, interessadas em manter o povo na miséria e na ignorância. O PCB sempre esteve à frente dessas batalhas.
     Esperamos que o velho partido consiga se relançar com ideais renovados para continuar sua luta.

 
Adeus Chico

     O Brasil, e especialmente o Ceará, ficam mais tristes com a morte de Chico Anísio.
     Me lembro dele na praia do Leme, no Rio, com seus quatro pequenos filhos, na década de 1960, tomando sol no meio dos banhistas. E ele já era famoso.

Chico é dessas pessoas que acompanham a gente a vida toda. Impossível esquecê-lo. Alguém já disse que ninguém é insubstituível, exceto um humorista. Chico Anísio com certeza é um deles.

Decadência

     A novela Fina Estampa , que começou com a personagem Pereirão, de Lilan Cabral, dando aulas de dignidade feminina, chegou ao fim com o triste record de ser uma das piores, senão a pior, da história da emissora.
     Apesar de fabuloso elenco global, a novela pecou por falta de dramaturgia mesmo. Os textos eram muito ruins, o enredo como um todo não tinha pé nem cabeça e a direção deixou que uma grande atriz como Cristiane Torloni se transformasse numa histérica ridícula, sem nenhum propósito que não fosse tentar alavancar os índices de audiência com cenas de violência.
     A caricatura construída em torno do personagem Crô, só reforça o estereótipo do homossexual como irresponsável e desprovido de princípios, aumentando o preconceito contra os gays.
     Faltam novos autores, faltam novos diretores, faltam novos rumos. A Globo só consegue se repetir de forma cada vez mais patética.

Cruz e Sousa e o racismo

     Nesta semana, em que a horrenda serpente do racismo mostrou seus dentes na França, com o assassinato de crianças numa escola judaica e de soldados franceses, descendentes de africanos, nos Estados Unidos, com o assassinato de um jovem negro considerado suspeito por um vigilante, assim como no Brasil onde um homem que passeava com sua namorada foi espancado quase até a morte por dois jovens de classe média, apenas por ser negro, deixo a fantástica poesia de Cruz e Sousa, que nos lembra que por baixo da cor da nossa pele e dos nossos olhos, somos todos apenas pobres mortais.

Caveira
I
Olhos que foram olhos, dois buracos
Agora, fundos, no ondular da poeira...
Nem negros, nem azuis e nem opacos.
Caveira!
II
Nariz de linhas, correções audazes,
De expressão aquilina e feiticeira,
Onde os olfatos virginais, falazes?!
Caveira! Caveira!!
III
Boca de dentes límpidos e finos,
De curve leve, original, ligeira,
Que é feito dos teus risos cristalinos?!
Caveira! Caveira!! Caveira!!! 
Civilização e barbárie III


   Piratas, corsários e escravidão

     A pirataria nos mares, em especial no Atlântico, se desenvolveu largamente na época das grandes navegações, entre os séculos XV e XIX.
     Na medida em que portugueses e espanhóis dividiram o mundo entre eles, pelo tratado de Tordesilhas, aprovado pelo papa Alexandre VI, que era espanhol, as potências emergentes, França, Inglaterra e Holanda, não tinham como conquistar novas terras e por isso se associaram a piratas, para que eles atacassem os navios espanhóis e portugueses no Atlântico, que voltavam à Europa cheios de riquezas. Para que seus governos não ficassem comprometidos com essas ações, os governos desses países faziam acordos secretos com os piratas e assim podiam alegar que não tinham nada a ver com os ataques.
     Daí surgiu a separação entre os conceitos de pirata e corsário. Piratas eram bandidos que agiam por conta própria e corsários eram contratados por países, para cometerem seus crimes.
     Nessa época surgiram piratas e corsários franceses, holandeses, portugueses, espanhóis, chineses, irlandeses e até argentinos, mas o início dessa atividade está ligado às primeiras navegações gregas e romanas, quando esses estados atacavam comunidades costeiras para escravizar seus habitantes e pilhar suas riquezas.
     Primeiro a Grécia e depois Roma, foram estados escravistas e precisavam de crescente mão de obra para gerirem suas economias. Como os escravos não se reproduziam em quantidade suficiente, era preciso capturá-los em outros países ou comprá-los de piratas para alimentarem seus mercados, o que estimulava essa atividade.
     Os vikings e celtas e também praticavam as pilhagens e capturas de seres humanos para escravização. Como já vimos anteriormente, a escravidão era uma instituição generalizada no mundo.

Os piratas da Barbária
    Uma jovem européia é vendida em um mercado de escravos no norte da África

     Mais tarde os árabes se especializaram, montando verdadeiras esquadras para atacar navios e povoações, pilhando navios e cidades na Europa e aprisionando seres humanos que eram reduzidos a escravidão. Eles agiam à partir de portos localizados no norte da África, no que seria hoje o litoral da Argélia, Tunísia e Líbia, região conhecida antigamente como Berbéria (dos bérberes). As capitais da pirataria eram Argel e Trípoli, que apesar de fazerem parte do império Otomano, eram praticamente autônomas, sendo governadas por lideranças militares que cobravam 10% do produto dos saques. Esses líderes eram conhecidos como Paxás ou Beis.
     Os piratas da Berbérie (ou Barbária) atacavam principalmente navios e portos do mediterrâneo e do nordeste do oceano Atlântico, mas chegaram a fazer muitos prisioneiros na ilha da Madeira, nos Açores, na costa atlântica da Península Ibérica, na Irlanda, Islândia, Groelândia e até no norte do Brasil. Os indivíduos capturados eram vendidos como escravos nos mercados do norte da África, na Turquia e em todo mundo muçulmano.
     Sua atividade durou até 1830, quando a França conquistou Argel.
     Entre as populações aprisionadas e reduzidas à escravidão pelos piratas árabes, encontravam-se vários brasileiros e também norte-americanos. Como a quantidade de escravos era muito grande, foram criadas organizações de caridade para juntar fundos e resgatar escravos através do pagamento de resgates.
     Em 1720 frades trinitários conseguiram resgatar 365 cristãos que estavam escravizados em Argel, dentre eles os brasileiros, padre Romão Furtado de Mendonça, natural do Rio de janeiro, de 27 anos, Miguel de Sequeira, marinheiro paraense de 57 anos, uma maranhense de nome Esperança, de 25 anos e Manuel Tapuia, paraense de 14 anos, todos passageiros de um veleiro aprisionado nas costas do Maranhão e já com um ano de cativeiro. Foi libertada ainda uma mulher de nome Maria, pernambucana de 26 anos, que estava cativa há 12 anos e sua pequena filha Josefa, que tinha nascido em Argel.
     Em 1731 foram resgatados mais 193 cativos, entre eles o padre, Francisco da Rocha Lima, paraense de 42 anos e três de cativeiro, Inácio Machado, sergipano de 23 anos e cinco de cativeiro.
     Em 1739 mais 178 cativos foram resgatados, entre eles uma mulher de nome Maria Luisa, baiana, com 21 aos e dois de cativeiro e Antonio Fernandes da Silva, marinheiro pernambucano de 27 anos e quatro de cativeiro.
     Em 1784 dois navios norte-americanos, o Maria de Boston  e o Dauphine de Filadélfia, foram capturados vendidos e seus tripulantes reduzidos à escravidão durante 11 anos.
     Dentre os piratas árabes mais famosos, destacam-se os irmãos Barbarossa, Hizir (à direita) e Aruj; Turgut Reis (ou Dragut); Kurtogoli; Kemal Reis; Salih Reis e Murat Reis, cujo nome de batismo era Jan Janszoon, nascido holandês, e que atacou as costas da Islândia.

Os ingleses

     Traficantes de escravos ingleses, no tempo dos romanos, capturavam pessoas pobres de seu próprio país para vendê-los nos mercados de escravos em Roma e muito depois, na época colonial, passaram a pilhar todos os continentes, muitas vezes sob ordens da própria Rainha, como forma de enfraquecer os impérios português e espanhol.
     A Rainha Elizabeth inaugurou a atividade de contratar corsários, para roubar as cargas dos galeões espanhóis e portugueses que cruzavam o atlântico. Muitos desses corsários ingleses eram nobres e até oficiais da marinha britânica, que realizavam essa atividade paralela acobertados pelo seu próprio governo.
     Dentre os piratas ingleses que assolaram nossas costas, os mais famosos foram; John Hawkins, (à direita) que era traficante de escravos, Francis Drake, (à esquerda) também traficante de escravos, Thomas Cavendish, que era um nobre inglês, Walter Raleigh, Henry Morgan (que pertencia a uma família de militares) e Jack Rackham.
     Muitos desses foram condecorados pela rainha e são tratados como heróis até hoje, apesar de serem especialistas em torturar, matar e escravizar pessoas inocentes, sem falar nos roubos e pilhagens a cidades inteiras, inclusive no Brasil.
     O império inglês foi construído sobre os produtos desses roubos e saques, que encheram os cofres da Inglaterra, até então um país pobre e atrasado.
     Thomas Cavendish (à direita) atacou a cidade de Santos no dia de natal de 1591. Os corsários abriram fogo contra a cidade que era apenas um pequeno povoado, quando seus habitantes estavam na igreja e depois tomaram o lugar, permanecendo lá por dois meses, até não terem mais o que pilhar. Depois foram atacar o Espírito Santo, mas foram derrotados pelos moradores, e a vila que se defendeu bravamente passou a se chamar Vitória, em homenagem ao combate, hoje é a capital do Estado.
     Robert Withrington (à esquerda) e Cristopher Lister atacaram o recôncavo baiano por seis semanas, de abril a junho de 1587 e foram expulsos pelo governador Cristóvão de Barros, com a ajuda de índios flecheiros.
     Em 29 de março de 1595 James Lancaster tomou o porto de Recife, permanecendo lá por 31 dias, carregando seus três navios e mais outros doze que alugou de franceses e holandeses, com o fruto das suas pilhagens.

Franceses e holandeses

     Piratas e corsários franceses também atacaram o Brasil em seguidas ocasiões. Esses, além de pilhar e saquear os navios e as povoações costeiras, ainda sequestravam pessoas para vendê-las aos índios canibais, para que as comessem. Assim, as pessoas sequestradas eram reduzidas a não mais do que gado para o abate. Um deles foi Adolfo Mabile, que operava no delta do Parnaíba, no litoral do Piauí.
     Outro francês foi Jean François Duclerc (à direita), que atacou o Rio de Janeiro em agosto de 1710 no comando de seis navios, sendo repelido pelo fogo das fortalezas de Santa Cruz e de São João, rumando então para a Ilha Grande, famoso refúgio de piratas e de lá saqueando fazendas e engenhos. Tentaram ainda uma invasão por terra que também fracassou. Duclerc foi preso e posteiromente morto na prisão. 
No dia 12 de setembro do ano seguinte, 1711, o corsário René Duguay-Trouin, (à esquerda) também atacou o Rio de Janeiro,  desta vez à frente de uma esquadra de 17 navios e mais de 5.000 homens, conseguindo tomar a cidade, que teve que pagar um resgate de 610.000 cruzados em moeda, 100 caixas de açúcar e 200 cabeças de gado bovino para se livrar dos agressores.
     Dentre os holandeses, antes da invasão holandesa propriamente dita, destaca-se Paulus Van Caarden, que atacou Salvador e o recôncavo baiano em 1604.
     A diferença entre os corsários ingleses e os franceses e holandeses, é que esses últimos faziam parte de planos para instalação de colônias fixas de seus países, como ocorreu com os franceses no Rio de Janeiro e no Maranhão e com os holandeses na Bahia e Pernambuco, enquanto os ingleses, embora tenham tentado algum tipo de ocupação na Amazônia e no Vale do Paraíba, nunca chegaram a ter um projeto de colonização de grande porte no Brasil, se limitando às pilhagens.

Portugueses

     Durante a unificação de Portugal e Espanha, entre 1580 e 1640, período conhecido como união ibérica, muitos portugueses que não aceitavam o domínio espanhol se aliaram a corsários de outras nações para dar combate aos navios e colônias da Espanha. Como eram exímios navegantes e conhecedores dos mares, muitos deles foram usados como pilotos, como foi o caso de Nuno da Silva, recrutado em Cabo Verde pelo corsário inglês Francis Drake e que o conduziu na travessia do Estreito de Magalhães, no extremo sul da América, para chegar depois às costas do Perú, onde promoveu saques, permitindo-lhe ainda circundar o mundo em 1578.
     Sabe-se que um piloto português chamado Diogo Peres conduziu o pirata inglês James Langton em um saque aos espanhóis no Caribe e que os irmãos portugueses, Simão de Cordes e Baltazar de Cordes, tornaram-se os primeiros corsários holandeses, tendo atacado e saqueado a colônia espanhola do Chile entre 1598 e 1600.
     Outros corsários portugueses, ambos judeus, foram, Moises Cohen Enriques, que baseado na Jamaica e à serviço dos holandeses, atacava os navios espanhóis que seguiam entre Cuba e Cadiz, na Espanha, e David Abravanel, que se aliou ao inglês Francis Drake.
     Ainda no Caribe, Bartolomeu, o português, e Rock Brasiliano, (este um holandês que havia vivido no Brasil) se tornaram tristemente famosos pela violência contra suas vítimas, especialmente os espanhóis.
     Ao contrário dos ingleses, os portugueses não se orgulham das histórias de seus piratas, e procuram escondê-las, principalmente o fato de que muitos deles estavam à serviço do próprio rei de Portugal.

Chineses

     Houve também uma famosa pirata chinesa, que aterrorizava os mares do oriente. Cheng I Sao foi uma prostituta, antes de juntar-se ao pirata Cheng I e após a morte dele passou a comandar uma frota de cerca de 800 barcos de grande porte e 1.000 menores, divididas em seis esquadras, chegando a comandar mais de 70.000 homens. Também era conhecida por sua violência e crueldade contra suas vítimas.
    
Argentinos

     Em 1827 ocorreram tres ataques de corsários argentinos à Ilha Grande, no litoral do estado do Rio: um contra a fazenda Dois Rios, outro na Ponta dos Castelhanos e outro na Enseada das Palmas, todos repelidos pelos fazendeiros e militares brasileiros. No último ataque os argentinos perderam um navio que foi incendiado.
     Também há notícias de piratas argentinos e irlandeses nas águas do Piauí e do Maranhão.

A luta entre civilização e barbárie

     Diante de tanta violência, praticada por bandidos avulsos ou patrocinada por potências européias, fica difícil diferenciar onde estava a barbárie e a civilização. O saque de Espanha e Portugal (e posteriormente de Inglaterra e França) sobre as colônias, o extermínio e a escravização de tantos povos, principalmente de africanos para servirem de mão de obra na empreitada colonial, tudo isso se divide por uma tênue linha entre o que seria legal e o que seria simplesmente selvageria, promovida pelo mercantilismo e pelo escravismo.
     Para nós, brasileiros, enquanto nascia o sentimento da nacionalidade, nossas riquezas eram saqueadas, por colonizadores com a benção papal ou por piratas que primavam pela crueldade e desumanidade, muitos deles patrocinados por reis e rainhas.
     Mesmo entre nós, a barbárie da escravidão prosseguiria até 1888, e os hábitos de canibalismo entre os indígenas ainda eram comuns, o que demonstra que a civilização está sempre em constante luta contra a barbárie e, ainda hoje, a consolidação da democracia está longe de construir um estado capaz de prover uma verdadeira justiça social, embora tenhamos avançado bastante nos últimos anos.
     Civilização é, uma palavra com muitos significados, mas parece apontar para uma ordem jurídica consolidada através de um Estado, onde os direitos sejam estendidos a todos os cidadãos.
     Na historiografia, o termo civilização significa a superação do tribalismo e a constituição de um estado, seja reinado, império ou república, onde haja a palavra escrita e a existência de cidades, mesmo que mantenha parte da população escravizada ou submetida de alguma forma às classes dominantes.
     A evolução do termo vem se dando no sentido da ampliação dos direitos de cidadania a todos os seres humanos, principalmente após a Declaração dos Universal dos Direitos Humanos, aprovada pelas Nações Unidas em 1948, há escassos 64 anos. Mas as constantes guerras e genocídios promovidas pelo capitalismo, e a pobreza em que vive grande parte da humanidade, ainda deixam essa linha entre civilização e barbárie longe de uma definição clara.
     

Artigos consultados

http://pt.wikipedia.org/wiki/Piratas_da_Barb%C3%A1ria
http://www.ilhagrande.com.br/pages/br_historia_03.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_francesas_do_Brasil
http://www.portaldelta.com.br/v3/index.php?module=colunas&block=coluna&IdGeral=187
http://www.blogmercante.com/2010/08/a-famosa-pirata-chinesa-cheng-i-sao/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000100007
http://www.corsarios.net/depiratas/pi-piratas-ingleses.php
http://confrontos.no.sapo.pt/page9PiratasCorsarios.html
http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=556
http://pt.shvoong.com/humanities/1783962-escravid%C3%A3o-antiga/
http://universodahistoria.blogspot.com.br/2011/05/piratas-com-fome.html
http://educacao.uol.com.br/historia/expansao-maritima-inglaterra-franca-e-holanda-contestam-tordesilhas.jhtm

sábado, 17 de março de 2012

Rapidinhas

A cúpula das Américas e a visita de Harry

     Há 30 anos a Argentina retomou as ilhas Malvinas, invadidas pelos ingleses no século XIX. A Inglaterra foi à guerra com apoio dos Estados Unidos, que desrespeitaram um tratado interamericano (TIAR) que diz que caso qualquer país das Américas seja atacado por outro de outro continente, todos os países americanos deveriam apoiá-lo.
     O Tiar servia apenas contra os russos e é uma relíquia da guerra fria, ainda vigente (porque o Brasil não o denuncia?). Agora que a América Latina se une em torno ao boicote a navios com a bandeira ilegal das Malvinas, o príncipe Harry cujo irmão William anda por lá, fazendo demonstrações militares num helicóptero de guerra, vem ao Brasil segurar criancinhas no colo nas favelas cariocas, numa tentativa de angariar simpatia.
     Ridículo.
     Em paralelo os americanos vetam Cuba na tal Cúpula das Américas, na Colômbia. Quem deu a eles esse direito de veto? Outra relíquia da guerra fria. E nós, vamos participar desse beija-mão com a potência do norte? A única aliança real que existe nas águas do Atlântico sul é entre Estados Unidos e Inglaterra, o resto é submissão pura.
     O Brasil não tem nada que fazer nessa tal cúpula. E esse príncipe, representante da decadente aristocracia européia, não tem nada a fazer por aqui.
     Fora com essa gente!

Tchauzinho


     Já vai tarde Ricardo Teixeira. Dilminha conseguiu derrubá-lo, sem dizer uma palavra.
     Parabéns presidente! Pôxa, que faxina que não acaba nunca, né? A sujeira é muita!
     Até o Jerôme Valcke entrou na dança.
     É isso aí, respeito é bom e nós gostamos!

Horror!

     O massacre de famílias inteiras no Afeganistão, mostra o desespero dos americanos por não conseguir ganhar aquela guerra.
     Mas afinal, o que eles estão fazendo lá, junto com seus aliados ingleses, franceses, alemães, australianos, etc?
     Hora de enfiar a violinha no saco e ir embora.
     Já no século passado os ingleses e os russos tiveram que se retirar. Ninguém consegue dominar aquele país. Chega de guerras para defender pretensos orgulhos nacionais de países que não admitem ser derrotados. Aliás chega de guerras de qualquer tipo.
     A guerra deveria ser considerado um crime, assim como a tortura. Todo dirigente que provocasse uma guerra deveria ser apeado do poder, julgado e condenado. Isso não faz mais sentido.
     O mundo precisa é de paz.

Encontro literário em Livramento
     A professora Esther Lígia, uma das maiores batalhadoras pela cultura no sudoeste da Bahia, me manda convite para um encontro literário na cidade de Livramento.
     Fica aí o convite estendido a todos os interessados.
 

E por falar em literatura, deixo aqui um pouco da obra fabulosa de Manuel Bandeira,

POÉTICA


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente, protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade, tabela de co-senos, secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
Não quero saber do lirismo que não é libertação.



Manuel Bandeira

A Cidade Assassinada
        Era uma pequena cidade, no meio de serras lindas. Seus amanheceres e entardeceres eram inspiradores para todos que lá viviam. A quase 1000 metros de altitude, em plena Chapada Diamantina, no coração da Bahia, a cidadezinha era um oásis de paz, onde famílias centenárias viviam, criando seus filhos de portas abertas e onde a cordialidade era a marca registrada de seus habitantes.
     As cachoeiras e orquídeas eram uma marca registrada do seu ambiente natural e as pessoas chamavam o lugar de paraíso devido à paz que reinava. 
     A política do lugar, no entanto, era refém de um passado de coronelismo, mas mesmo assim tinha algo de pitoresco, e os habitantes lidavam com isso de forma jocosa, procurando tirar proveito das mentiras dos políticos, aceitando esse atraso como uma coisa que não interferia muito em suas vidas particulares, sempre pacatas.
     Suas festas eram conhecidas pela tranquilidade e originalidade, atraindo turistas e curiosos, que queriam encontrar ali algo que as cidades brasileiras já tinham irremediavelmente perdido e ficavam encantados com tudo, voltando sempre e cada vez mais a cada ano
     Até que uma alma ressentida, de um homem incapaz de realizar seus próprios desejos, resolveu se vingar da vida, destruindo toda aquela felicidade que o ofendia.
     É sabido que pessoas infelizes não gostam da felicidade alheia.  
     Resolveu então matar tudo aquilo, roubando a felicidade dos olhos dos mais velhos e destruindo a esperança nos olhos dos moços. 
     Acabou com as festas, transformando tudo num grande comércio onde só ele ganhava muito dinheiro. Começou a perseguir todos que tivessem um pequeno brilho de felicidade no olhar e a escravizar os que precisavam trabalhar na Prefeitura.
     Ficou decretado, então, que era proibido ser feliz e que todas as pessoas que tivessem idéias diferentes das dele deveriam ser expulsas ou silenciadas, para que ninguém se atrevesse novamente a sorrir.
     As pessoas, acostumadas a uma vida tranquila, não souberam como lutar contra aquela nuvem de tristeza que foi tomando conta de tudo e começaram a morrer.
     Primeiro morreu-lhes o sorriso nos lábios, depois o brilho nos olhos, e assim suas almas foram murchando, se apagando, como num terrível conto de fadas, onde a felicidade ficou presa num castelo cheio de espinhos.
     Assim a cidade foi morrendo. Os que tiveram forças para sair, se foram, deixando um vazio em seu lugar. A cada um que saía, o vazio aumentava, e aumentava também a satisfação daquele que queria matar a felicidade geral.
     Tudo começou a morrer, para que ele, o assassino da cidade, pudesse finalmente se vingar e ser feliz, dentro da sua imensa e incurável tristeza.  E apenas ele e seus escravos, que eram muito bem recompensados, desde então puderam viver, enquanto tudo o mais definhava, na tristeza e na solidão daquela serra, cada dia mais gelada.
     E até hoje a cidade vive assim, no dilema de ter de lutar contra o tirano que reduziu tudo a nada, tendo para isso que abandonar seu modo pacato de vida, ou simplesmente esperar que o tempo mude as coisas e leve embora o assassino da alegria, restaurando a luz nas suas vidas.
     Alguém sabe que cidade é essa?
    

domingo, 11 de março de 2012

Rapidinhas

Jogo duro...

     Em homenagem ao dia internacional da mulher...

61

     Agradeço a todas as mensagens pelos meus 61 anos. É muito bom ter amigos e uma família com uma cabeça tão boa. É a proximidade das pessoas que a gente ama, que nos mantém vivos.
     Um grande abraço a todos.

À Cecília


     A todas as mulheres que renunciam a seus sonhos para cuidarem das pessoas que amam.

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

-Cecília Meireles-
Civilização e barbárie II

A história de Lisboa
     Na continuação da pesquisa sobre civilização e barbárie, mergulhei na fascinante história de Portugal e de sua capital, Lisboa, tentando compreender a origem dos nossos ancestrais. Essa história de se divide em seis etapas:
I - A cidade fenícia

     Lisboa é a segunda cidade mais antiga da Europa, perdendo apenas para Atenas. É portanto, mais antiga que Roma, conhecida como a cidade eterna. Diz a lenda que Lisboa teria sido fundada pelo mítico herói, Ulisses, mas escavações arqueológicas recentes indicam a provável data de sua fundação por volta do ano 1.200 AC, pelos fenícios.
     Na língua fenícia era chamada de Alis Ubbo, que quer dizer "Porto Seguro", e se estendia da atual colina do castelo, até o rio Taghi ou "boa pescaria", nome que derivou para o atual Tejo (Tajo, na pronúncia portuguesa).
     De pequeno entreposto comercial, passou a ser um importante porto, dominado pela cidade-estado fenícia, Cartago, e às margens da baía do Tejo, também conhecida como Mar da Palha, floresceu uma importante indústria de pescados salgados. Alis Ubbo (ilustração ao lado) também comerciava sal e cavalos fornecidos pelos lusitanos, importante tribo de origem celta, que dividia a península com os íberos.

II - A cidade romana

     No século III AC, celtas e íberos foram conquistados   pelos romanos, na esteira das guerras púnicas, entre Roma e Cartago. Os habitantes de Alis Ubbo se aliaram aos romanos na conquista da península e deram combate aos lusitanos, cujo chefe gerreiro, Viriato, inflingiu várias derrotas aos generais romanos, até ser morto à traição.
     A cidade era chamada de Olissipo ou Olissipona (em latim vulgar), pelos romanos, e durante mais de 700 anos, até o início do século V DC, permaneceu sendo um importante porto que fazia a ligação entre as províncias romanas do norte e as do mediterrâneo.

III - As invasões bárbaras

     Com a decadência do Império Romano, Olissipo sofreu várias invasões de povos considerados bárbaros, sendo tomada primeiro pelos vândalos, povo de origem germânica (escandinava), depois por alanos, de origem persa e godos, também germânicos, que chegaram a saquear e incendiar a cidade, comandados pelo rei tribal Walia. Os suevos, povo germânico que havia conquistado um grande território ao norte da península ibérica e tinha sido convertido ao cristianismo, conquistam Olissipo em 469, integrando-a ao seu reino, cuja capital era Braga. O restante da península ficou pertencendo aos visigodos.
     Mais tarde, os visigodos, que também já tinham sido romanizados pelo cristianismo, conquistam o reino suevo, unificando toda a península.

IV - A cidade árabe

     Com tantos saques e invasões, a cidade viu reduzida sua população e importância comercial, até que em 711, se aproveitando de uma guerra civil no reino visigodo, os árabes invadiram a península Ibérica, que eles chamavam de Al Andaluz, sob o comando de Tariq, (ilustração à esquerda) da dinastia Omíada, cuja capital era a cidade de Damasco, na Síria.
     Olissipo, que era chamada de Al-Ushbuna ou Lissabona pelos árabes, é tomada por Abdelaziz Ibn Musa, um dos filhos de Tariq, vencendo o último rei Visigodo, Rodrigo.
     A partir daí a cidade renasce, é reconstruída de acordo com os padrões do oriente médio, com uma grande mesquita, um castelo no topo da colina, um palácio para o governador (Alcáçova), uma almedina (centro urbano) e volta a ser um grande centro administrativo e comercial, chegando a ter mais de 100.000 habitantes no século X.
     Interessante como todos esses nomes tem em comum o "L", seguido de uma vogal "U" ou "I"e um "S":  A-lis Ubbo, O-lissipo, O-lissipona, U-lishbona, A-l Ushbuna, Lis-sabona.

V - O império omíada e o califado de Córdoba

     O Império Omíada, seguiu-se à fundação da religião islâmica pelo profeta Maomé, por volta do ano 610. Até então os beduínos da Arábia eram politeístas e celebravam o culto de diversas divindades na cidade de Meca. Maomé é perseguido pelas suas pregações e foge de Meca para Medina, num episódio que ficou conhecido como Hégira.
     A idéia do monoteísmo ajuda a unificar a Arábia e o sucessor de Maomé, Abu Bekr, em nome de difundir o islamismo, começa a unificar os vários povos sob domínio árabe, primeiro conquistando a Síria, o Egito e a Mesopotâmia numa conquista que levaria os árabes a dominar depois o norte da África, a Península Ibérica, a Sicília, assim como a Pérsia, o Afeganistão e partes da China e da Índia, fundando um império que duraria cem anos.
     Questões religiosas começam a provocar divisões e em 750, rebeldes do Iraque conseguem derrubar a dinastia omíada, derrotando o Califa Marwan II. Apenas um membro do império, Abd Al-Rahman, consegue fugir e funda o Califado de Córdoba (ilustração à direita) na atual Espanha, dando continuidade à dinastia Omíada apenas na Europa, enquanto no restante do império surge a dinastia Abássida, que veria o explendor máximo da expansão da cultura árabe, com a difusão da sua língua e cultura, com o desenvolvimento das ciências e da matemática.
     À partir do século X, tribos turcas islamizadas começam a se tornar cada vez mais influentes no império até tomarem o poder e conferir o título de sultão ao imperador. Disputas entre sunitas e xiitas levam à fragmentação do Estado e em 1258, Mongóis tomam Bagdá, pondo fim ao Império Árabe.
     A dominação muçulmana na Europa, porém, continua e a reconquista vai se fazendo aos poucos.

VI - A fundação de Portugal

     O reino de Astúrias, na atual Espanha, que nunca havia sido dominado pelos árabes, começa a se expandir, conquistando teritórios muçulmanos. Com a morte do Rei Afonso III, o reino se dividiu entre seus filhos, nascendo os reinos de Leão, Navarra, Aragão e Castela. Ao reino de Leão, pertencia o Condado Portucalense, sediado na cidade do Porto (Porto de Cale, atual Gaia), no litoral norte. O rei Afonso VI de Leão, entrega a seu genro               
D. Henrique de Borgonha, o governo do Condado Portucalense e do Condado de Coimbra, que começa a manobrar para conseguir autonomia política e econômica. Seu filho, Afonso Henriques (acima à esquerda), mais tarde, depois de tomar o poder de sua mãe e vencer os mouros na batalha de Ourique, proclama a independência em 1139 e é aclamado como primeiro Rei de  Portugal, com o título de D. Afonso I. Surge assim o Estado português, com sede em Coimbra, que é reconhecido pelos espanhóis em 1143, com o Tratado de Castela. Portugal é considerado hoje como o primeiro estado-nação moderno da Europa.                                                                   
     Em março de 1147, os portugueses tomam a cidade de Santarém aos mouros e em 25 de outubro do mesmo ano, tomam Lisboa, depois de um cerco de tres meses, com auxílio de cruzados ingleses, normandos, flamengos e alemães que estavam de passagem em direção à Terra Santa, durante a segunda cruzada (ilustração acima à direita).

Civilização x religião

     Nota-se que os grandes impérios tendem a ser monoteístas, o que sugere uma ligação entre civilização e religião. Embora Roma tenha sido politeísta e só abraçado o cristianismo nos últimos séculos, foi a religião cristã que garantiu a sobrevivência da sua cultura política e jurídica.
     Parece que a superação do politeísmo, também chamado de paganismo pelos cristãos, tem a ver com o estágio civilizatório das sociedades humanas, já que em termos filosóficos introduz uma capacidade maior de abstração (um Deus único e invisível) e induz a unificação dos povos sob uma compreensão unificada do cosmos.

Miscigenação e formação nacional

     Para os que ainda se deixam seduzir pelas ideologias (idiotas) racistas, é bom saber que, somos descendentes de celtas, íberos, fenícios, romanos, suevos, visigodos e árabes (mouros) e judeus (cuja comunidade em Lisboa sempre foi muito grande e influente, desde o tempo dos fenícios). Portanto, muito antes da miscigenação de raças ocorrer no Brasil, entre portugueses, indígenas e africanos, ela já havia ocorrido na Europa.
     A história de Portugal e de Lisboa, está intimamente ligada ao comércio e à navegação, desde os seus primórdios, o que empurraria os portugueses para os descobrimentos e para a formação da nação brasileira.  
     Fontes: