Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Paiz
 
Um novo marco para a TV
 
 
     Quando a televisão começou no Brasil, revolucionando as comunicações, as emissoras eram apenas locais. Havia a TV Tupi do Rio, a de São Paulo, a Record em São Paulo, a TV Rio, a Difusora de Porto Alegre, a Itacolomy de Belo Horizonte, etc. Cada uma tinha sua programação própria, com muitos programas ao vivo, numa época em que ainda não haviam inventado o video-tape, ou seja, os programas gravados.
     Tudo era ao vivo ou então gravado em película de filme. Como nossas TVs não tinham muitos recursos para grandes produções, compravam muitos programas norte-americanos. Eram as séries como Bonanza, Rota 66, Papai Sabe-Tudo, Maverick, Bat Masterson, Patrulha Rodoviária, Perdidos no Espaço entre tantas outras.
     No década de 1960 surgiram as novelas brasileiras, inicialmente baseadas nas antigas novelas cubanas de rádio, como O Direito de Nascer, que durou dois longos anos na Tupi. Eram dramalhões, feitos entre quatro paredes, quase sem cenas externas. No final dos anos 60 a Tupi revolucionou o gênero com Beto Rockfeller, uma novela jovem, com cenas externas e um linguajar brasileiro, que rompia com o gênero dramático cubano-mexicano.
     Em 1965 surgiu a Globo, já com uma concepção de rede e em 1969, entrou no ar o Jornal Nacional, o primeiro noticiário exibido simultaneamente em várias cidades brasileiras, que depois se estendeu a todo território nacional. A produção de novelas cresceu muito, ocupando o espaço da programação importada e passamos a ver programas brasileiros. Daí para o surgimento das grandes redes de TV foi um passo. Na década de 1980 surgiram a Rede Record, o SBT, a Manchete, que depois virou Rede TV e a Bandeirantes.
     Depois vieram as TVs públicas e as redes de TV por assinatura, com mais de 100 canais, a maioria norte-americanos. Todos os dias surge um canal novo para crianças, a rede telecine, só de filmes, e canais como a Discovery, pretensamente científicos, etc.
     Mas esta evolução vem atropelando as política públicas brasileiras para o setor, que pararam no tempo da criação das grandes redes nacionais. O resultado é que assistimos a programas norte-americanos e até europeus o tempo todo, enquanto não podemos assistir a nenhum canal da América Latina.
     É muito fácil ver a CNN ou a BBC de Londres, mas impossível assistir um canal argentino, chileno ou peruano, o que nos leva de volta à situação do início da televisão no Brasil, quando dependíamos de programas americanos.
     O que está faltando é um novo marco para a TV, que permita a formação de redes latino-americanas, como a Euro-channel, por exemplo, que junta vários programas europeus em um só canal. Os programas passam nos seus idiomas de origem. Uma hora em francês, outra em inglês, outra em alemão, etc. E olha que lá eles tem dezenas de idiomas, enquanto por aqui só temos dois; português e espanhol.
     A formação de redes latino-americanas nos daria um leque muito maior de programação, além de permitir que acompanhássemos o dia-a-dia nos países vizinhos, nos libertando também da dependência cultural da programação norte-americana, que já vai formando uma geração inteira acostumada a ver Nova Iorque o tempo todo na TV, enquanto nem sabe onde fica Buenos Aires, Santiago do Chile ou Lima, e só conhece o deserto de Atacama pelos olhos deturpados da Discovery.
 
     
Rapidinhas
 À família e aos amigos

     Aproveito este espaço para agradecer a todos aqueles que me acompanharam em 2012, aos leitores deste blog, à minha família e meus amigos, presentes ou ausentes, neste lado ou do outro lado da vida, próximos ou distantes.
     A foto acima, tirada no já distante ano de 2005, reúne todos os meus filhos e netas, com exceção da neta Cecília que veio em 2009 e que está na foto abaixo comigo e meu companheiro Adriano, na piscina da pousada Chalé do Raposo, em Rio de Contas.

E ainda abaixo, (da esquerda para a direita) Cauã (sobrinho de Adriano), Cecília (neta) no colo de Micaele (filha), eu e atrás de mim Maria Luiza (sobrinha de Adriano) e à direita minha afilhada Esther. Todos na piscina do Raposinho em Rio de Contas.
 Felicidade é ter amigos e uma família livre e feliz.
A todos os que nos acompanharam neste último ano, um 2013 tranquilo e feliz.
 
Poesia da Semana
 

Poema de Ano-Novo

É preciso que nos encontremos diante do amor como as árvores fêmeas cuja raiz é a mesma e se perde na terra profana 
É preciso... a tristeza está no fundo de todos os sentimentos como a lágrima no fundo de todos os olhos 
Sejamos graves e prodigiosos, ó minha amada, e sejamos também irmãos e amigos. 
É preciso que levemos diante de nós o retrato das nossas almas como se fôssemos a um tempo a Verônica e o Crucificado 
Eu sou o eterno homem e hoje que a dor fecunda o tempo eu sinto mais que nunca a vontade de fechar os braços sobre a minha miséria. 
Fiquemos como duas crianças pensativas sentadas numa escada - todos serão os peregrinos e apenas nós os contemplados.
 
Vinicius de Moares
A primavera árabe avança
 
 
     O resultado do referendo sobre a nova constituição egípcia foi um passo importante para a consolidação da democracia representativa naquele país e em todo o Oriente Médio.
     A vitória do "sim", aprovando a constituição elaborada pela maioria de representantes da irmandade muçulmana, mostra a importância dessa organização na resistência às ditaduras ao longo de décadas e contra os interesses norte-americanos que as respaldavam.
     De tendência islâmica moderada, a irmandade mistura modernidade com os princípios islâmicos básicos, sem no entanto descambar para o fundamentalismo fanático. Esta parece ser a tendência em todo universo árabe que vai se libertando das ditaduras napoleônicas implantadas no século XX, enquanto Israel e as monarquias feudais, fortemente apoiados pelos Estados Unidos, continuam desnorteados diante das mudanças.
     O final da guerra civil na Síria, que se aproxima com a provável vitória da revolução contra o ditador Bashar El Assad, deve levar também a irmandade ao poder, para desagrado dos ocidentais.
     As manifestações de preocupação de americanos, israelenses e governos europeus, frente a nova constituição egípcia, assim como da agência Standart & Poors, representante dos interesses capitalistas do ocidente, sobre os novos rumos da política egípcia, demonstram que o país está na direção certa.
     O presidente Mursi tem agora uma árdua tarefa pela frente, a de reconstruir a economia e promover o realinhamento político do mais importante país árabe, de forma a se libertar da influência ocidental e recuperar a liderança que o Egito exercia anteriormente sobre toda a região.
     Assim que a revolução chegar ao final na Síria, depois de ter provocado mudanças profundas também na Líbia, Egito, Tunísia e Argélia, iniciando também processos democratizantes no Marrocos, Bahrein e Iemen, ela deve se mudar de armas e bagagens para as monarquias feudais, derrubando os últimos bastiões do poder ocidental na região. Aí será vez de Israel fazer a sua opção: ou aceita o Estado Palestino e aprende a viver em paz com as novas democracias árabes, renunciando ao sonho racista e expansionista de construir um império na região, ou corre o risco de ser destruído pelo novo poder árabe.
     Como dizia Camões: "Cessa tudo que a antiga Musa canta, que outro valor mais alto se alevanta..."