Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 29 de agosto de 2010

RAPIDINHAS

Onde há fumaça...


     Prezados leitores.

     No dia 12 de junho, publiquei uma nota neste blog sobre um possível encontro entre o PT e o DEM de Rio de Contas e fui desmentido veementemente no blog de Altemar (Notícias de Rio de Contas) por Regis, um militante do Partido, e por um anônimo,que me chamou inclusive de desonesto.
     Agora recebo novamente a informação de que teria havido uma reunião entre a ala da direita riocontense que está na oposição e o PT local. Ou melhor a ala do PT local que atualmente controla o partido depois de uma batalha judicial contra a parte do PT que participa do governo Márcio, o que inclui seus 2 vereadores.
     Então temos o PT dividido em duas partes: uma que apóia e participa da direita que está no poder e outra que negocia com a direita que está na oposição.
     Confuso? É claro que sim. Mas essa é a realidade atual.
     Desta vez resolvi consultar o próprio PT e enviei e-mail para Alfredo Neto, ex-candidato pelo PT à prefeito em 2008, para quem inclusive fiz campanha.
     Em sua resposta, neto confirma a reunião nos seguintes termos:

     Estive presente na reunião, juntamente Regis, Carlinhos, Gerado Júnior (Diretor do HGVC), Ricardo, Edson, Júlio Cézar e João de Bráulio; solicitada por vereadores do PSDB de Rio de Contas para tratar da decisão dos mesmos em apoiar o Governador Jacques Wagner e Senadores da Coligação Pra Bahia Seguir em Frente (Pinheiro e Lídice) e me coloquei à disposição para levar ao comando da campanha o apoio à reeleição do nosso Governador. Aproveitei a oportunidade para pedir votos para Marcelino Galo e Valmir Assunção por quem não revelaram apoio, dizendo-se comprometidos com outras candidaturas parlamentares.
     Vale ressaltar que o Diretório Municipal do PT foi formalmente convidado para a conversa, diferentemente de representantes de quem hoje dirige o município que buscou "minar" o partido, tratando com lideranças isoladamente. Além de não ter tratado de forma nenhuma o pleito de 2012, nenhum dos presentes se apresentou como liderança do Democratas.
     Complementando a informação prestada sobre a adesão de Vereadores à campanha de Wagner e Dilma , também estiveram presentes na reunião do San Felipo os companheiros Huxley e Renê.

     A pergunta que faço é a seguinte: será que o PT ainda pode ser um vetor de mudanças para Rio de Contas?
     Deixo a resposta para os leitores.


João Cândido

     Atenção pessoal do movimento negro e todos os que prezam a nossa liberdade: dia 22 de novembro próximo, completam-se 100 anos da chamada Revolta da Chibata no Rio de Janeiro, quando o marinheiro João Cândido liderou uma rebelião para acabar com os castigos físicos usados pelos oficiais (brancos) da Marinha Brasileira, contra os marinheiros, na sua maioria negros.
       João Cândido, que ficou conhecido como o Almirante Negro liderou a revolta que tomou quatro dos maiores navios da marinha de guerra da época e ameaçou bombardear  o Rio de Janeiro, antiga Capital da Repúbllica.
     Os encouraçados São Paulo e Minas Gerais assim como o Barroso e o Bahia, ficaram sob domínio dos revoltosos até o dia 26 de novembro, quando o Congresso aprovou uma lei abolindo os castigos físicos e anistiando os revoltosos.
     Mas logo após a rendição os amotinados foram presos e acusados de traição, sendo que 16 deles tiveram uma morte não explicada na prisão. Os que sobreviveram, inclusive João Candido, foram finalmente absolvidos no julgamento que se seguiu.
     Ele morreu pobre e tuberculoso, trabalhando como peixeiro no Rio de Janeiro.
     Só em 24 de julho de 2008, através da publicação da Lei Federal nº 11.756/2008 (assinada por Lula) no Diário Oficial da União, foi concedida anistia post mortem a João Cândido Felisberto, e aos demais participantes do movimento.
     O museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro tem um depoimento dele gravado no final de sua vida. Esse depoimento foi tomado em sigilo pelo museu, em plena ditadura militar e hoje constitui uma das jóias do seu acervo.
     Vamos homenagear João Cândido e os marinheiros de 1910, heróis do povo brasileiro.


Cena Contemporânea

      Está acontecendo entre 24 de agosto e 5 de setembro, o Festival Internacional de Teatro de Brasília - Cena Contemporânea, 2010. Além de vários grupos brasileiros este ano estão participando espetáculos da Espanha, Sérvia, Israel, Colômbia, Cuba, Suíça e Itália.
     A programação inclui:
     TILL - A SAGA DE UM HERÓI TORTO (Grupo Galpão/MG) PAISAGEM COM ARGONAUTAS (Kabia - Espacio de Investigación Dramática de Gaitzerdi - Espanha- foto ao lado);ILHAR ( Michelly Scanzi - DF); NÃO PRECISA CHORAR  (Teatro Viento de Agua/Cuba); NEVA ( Teatro en Blanco/Chile); TERAPIA DE RIS(C)O - POR UMA OUTRA VIA (Grupo S.A.J./DF); A CARTA DO ANJO LOUCO (William Lopes/DF); KABUL (Cia Amok de Teatro/RJ); DIZER CHUVA E QUE CHOVA ((Kabia - Espacio de Investigación Dramática de Gaitzerdi/Espanha); A BALADA DO PALHAÇO ( Grupo de teatro Artes & Fatos/GO); ENTREPARTIDAS ( Teatro do Concreto/DF); ABRACADABRA ( Luiz Päetow/SP); A COMÉDIA DOS ERROS (Adriano e fernando Guimarães/DF); O FILHOTE DO FILHOTE DO ELEFANTE (Esquadrão da Vida/DF); DESAVERGONHADA! (Anita Mosca/Itália); CABARÉ DAS DONZELAS INOCENTES (Murilo Grossi e William Ferreira/DF); CANÇÃO PARA SE DANÇAR SEM PAR (André Alfaia e Artur Tadeu Curado/DF); A DONA DA HISTÓRIA (Trup Estreante e Pé Nu Palco Grupo de Teatro/PE); TECENDO FIOS D'ÉTER (Companhia Fios de Éter/DF); ODISSEUS CHAOTICUS (ISH Theater/Israel); O JARDIM DO MUNDO (Creaciones Artísticas Las Cuatro Esquinas/Espanha); IN ON IT (Enrique Diaz/RJ);DULCE (RJ/Portugal); MEMÓRIA DA CANA (Os Fofos Encenam/SP); COISAS DE MULHER (As Caixeiras/Cia de Bonecas/DF); O BEIJO (Cia. Nova Dança 4/SP); A GALINHA CEGA (Corporación Gassho/Colômbia); FEDEGUNDA (Karen Acioly/RJ); AS TERRAS DE ALVARGONZÁLEZ (Centro Dramático Nacional e Geografias teatro/Espanha); A CELA (Cia Teatral Mapati/DF); SOLITÁRIO COWBOY ( Cie Phillippe Saire/Suiça).
     Maiores informações no site http://www.cenacontemporanea.com.br/.


  
     Pois é, amigos leitores, o site Operamundi é uma ótima alternativa para quem gosta de notícias na internet.
     Com uma visão bem mais à esquerda que os sites tradicionais, pertencentes ao que Paulo Henrique Amorim batizou de P.I.G. (Partido da Imprensa Golpista), o Operamundi traz notícias dos movimentos sociais no mundo e uma visão de sustentabilidade que passa muito longe dos indicadores de crescimento que os principais jornais nos fornecem, como se fossem uma coisa boa.
     Transcrevo abaixo um artigo tirado deste site, para os que não o conhecem.
A Globalização da revolução

     Institucionalizada pelos atenienses, a democracia tem perdido seu significado e valor nas mãos de séculos de incontáveis tiranos que a corromperam por completo. Seu significado inicial, claro e direto que diz “o poder do povo” tem pouco significado hoje. A palavra se enfraqueceu, ficou ultrapassada. Todo cidadão, isto é, aqueles que não eram escravos ou estrangeiros, podia representar-se no governo da cidade.
     A representação cidadã é hoje em dia pouco menos que uma ilusão, quase um mito. A chamada democracia é atualmente um eufemismo com poderosos efeitos sedativos sobre uma população sonolenta. Os chamados governos democráticos mantém seus súditos em estado hipnótico, fazendo-os crer que seus interesses como cidadãos, estão representados e protegidos por um grupo de pessoas que pouco ou nada tem em comum com eles.
     Para isto, os usurpadores das democracias modernas se serviram de poderosas armas de controle da sociedade. Tradicionalmente utilizou-se a fé e a bala contra o povo, e mais recentemente, a palavra.
Com a fé, em franco e claro retrocesso, e a bala destinada a democratizar distantes países ricos em recursos naturais, a palavra se tornou uma forte arma para usurpar as democracias ocidentais. A palavra foi moldada à imagem e semelhança do capitalismo globalizador, que a converteu na mais eficaz das armas já usadas contra o povo. Os meios de comunicação de massa tornaram-se a ultima etapa de aperto do pescoço do povo com a corda do capitalismo.
     Agora já não precisam ameaçar-nos com deuses que estão nos céus nem sequer com balas que levam gravada a palavra “democracia”. A palavra é agora a droga que se força o povo a consumir até deixar completamente anulada sua capacidade de pensar por si mesmo. Lança-se um slogan que é repetido por quase todos os meios, e a sensação estereofônica adquire uma nova dimensão com um efeito demolidor da vontade do individuo, e afinal, em sua liberdade. Cada qual é livre para pensar o que eu lhe inculto, se diria que repitam até a saciedade. Em uma espécie de Admirável Mundo Novo, que Huxley teria reescrito o sistema totalitário que é o capitalismo, pensa por nos, consome por nós, fala por nós, vive por nós. Tudo por nós, mas nada para nós. Sem nós. (observe neste mesmo texto que a palavra “nós” perde seu significado depois de tanta repetição. Tome-se este como um bom exemplo das práticas globalizadoras do capitalismo).
     Como povo, nos roubaram a palavra e a puseram a seu serviço, contra nós e contra a democracia. Servem-se dela para nos usar, nos manipular, para nos transformar em um número de uma grande lista de escravos ou estrangeiros a quem permitem uma representação e uma participação direta nisto que só eles chamam de democracia.
     Não é a democracia o sistema que se coloca contra o povo, não é a democracia o sistema de governo que prega o interesse privado de alguns poucos e atenta contra o interesse geral. Como temos permitido que se continue utilizando o termo “democracia” para definir justamente o contrário?
     Mas ainda há esperança, ainda temos algo a fazer pelo povo pisoteado. Como se tivesse passado despercebido, depositaram em nossas mãos um tipo de poder que emana de nós: o dinheiro, seu dinheiro, o alimento desta fera voraz, devoradora de homens e corruptoras de almas que é o capitalismo. O circulo formado pela corda ao redor do nosso pescoço só se fechará se deixarmos escapar este poder. O circulo só se fechará se consumimos e devolvemos ao circuito financeiro todo o dinheiro que esperam que geremos.
     Além do essencial, não consuma.
     Além de uma vida digna e suficiente, não consuma.
     Além de preservar o planeta, não consuma.
     Além do que seja moral, não consuma.
     Além do que te satisfaz, não consuma.
     Além do que consideraria justo e racional para teu vizinho, não consuma.
     Se não consumirmos além disto, essa máquina que nos degrada como pessoas se deterá, cedo ou tarde.
     Todo cárcere precisa de seus presos, todo supermercado precisa de seus clientes, todo capitalismo precisa de suas vitimas.
     Ficou demonstrado então que não vivemos em uma democracia, vivemos como aqueles escravos ou estrangeiros que esperavam em Atenas uma liberação que não chega, que temos que sair procurando onde quer que esteja. Juntos podemos encontrar.

Outro mundo é possível.

Victor J. Sanz
Histórias de outras vidas (26)                     

 Animalidades

     O ano? Talvez 1958 ou 59. A cidade: Rio de Janeiro.
     Éramos sócios do Fluminense, sim o clube de futebol das Laranjeiras.
     Íamos à pé de casa, na Marquês de Abrantes, passando pela Rua Paissandú, com suas enormes palmeiras imperiais, até a Avenida Pinheiro Machado, onde fica a sede centenária do clube.
     Muitos domingos de minha infância foram passados lá e vi a inauguração da grande piscina de saltos, no final da década de 50, com seu enorme trampolim-plataforma, de dez metros de altura.
     Um dia meu pai apresentou, a mim e meu irmão, Castilho, o grande goleiro.
     Meu pai tinha mania de mostrar tudo pra gente e mesmo sem conhecer as pessoas, se metia no meio e nos levava juntos.
     Os domingos no Fluminense eram agitados.
     Meus pais se encontravam com conhecidos e ficavam conversando, enquanto meu irmão ia nadar com seus amigos. Eu também tinha uma turminha de meninos mas, às vezes, gostava de me afastar e ficar sozinho, andando pelas instalações do clube.
     Ia para o estádio, subia nas arquibancadas e ficava lá sentindo aquele espaço enorme, vazio, aquelas vibrações deixadas no ar pelas torcidas de tantos jogos famosos.
     Gostava de subir nas plataformas da nova piscina de saltos e ficar sentado no último andar, no cantinho, vendo os atletas saltarem, dando aquelas piruetas no ar.
     Um dia um garoto me empurrou lá de cima.
     Eu estava distraído, pensando, quando senti o empurrão e me vi no ar, caindo, de barriga e rosto diretamente sobre a água. O impacto foi tão grande que perdi a consciência por alguns segundos. Quando voltei a mim já havia pessoas me tirando da piscina e o moleque que me empurrara ia sendo retirado pelo braço, sob intensa reprimenda de uma mulher, que parecia ser sua mãe e olhares gerais de reprovação.
     Ao contrário dos clubes de hoje, a vida social no Fluminense não girava em torno de comida e bebida na beira da piscina, mas de esportes mesmo.
     As pessoas se sentavam para conversar, mas não me lembro de garçons servindo bebidas, apenas mulheres de toca plástica de nadador e homens molhados ou com uniformes de tênis ou futebol.
     Muito mais saudável.
     Mas o que mais me impressionava era o vestiário.
     Na hora de ir embora, íamos para o vestiário tomar banho e trocar de roupa e eu ficava impressionado com a mudança no cenário.
     Homens que há pouco se vestiam com roupas boas, que diferenciavam sua condição social, circulavam agora completamente nus, aparentando grande naturalidade e continuavam conversando como se ninguém reparasse naquilo.
     Eu achava muito estranho.
     Se a roupa era tão importante lá fora, porque de repente naquele espaço amplo (o vestiário me parecia enorme) ela parecia não ter nenhuma importância.
     Mais do que isso, parecia nunca haver existido a roupa, nem a necessidade dela.
     Eu olhava para o rosto daqueles homens e não via nenhuma alteração. Era a única parte do corpo que se via igual, com ou sem roupa. Era a identidade da pessoa; o rosto.
     E o resto do corpo, não significava nada?
     Barrigas grandes, peitos peludos, pernas finas, bundas murchas ou gordas, ninguém parecia ver o corpo do outro.
     As genitálias eram um espetáculo à parte.
     Cabeludas, com seus pênis murchos e encolhidos, de todos os tamanhos e cores, sacos grandes, sacos miúdos, chamavam a atenção no meio do corpo, a maioria muito feia, mas era como se não existissem. Ninguém olhava para aquela parte tão visível do corpo.
     Naturalmente temiam que qualquer olhar pudesse ser interpretado como uma manifestação de interesse e, o pior, que o olhar fosse correspondido pelo outro com uma ereção. Aprendi ali a me comportar em vestiários masculinos, compreendendo aqueles códigos de conduta tão estranhos.
     Mas enquanto criança eu ficava espantado com aquela exibição toda, enquanto meu pai me ensinava que aquilo tudo era muito natural. Mas eu não entendia porque então não se podia andar pelado na rua, se era tão natural. Porque só ali era natural?
     Porque aqui todos são homens, explicava ele.
     Sim, então só não era natural para as mulheres, devia ser isto.
     Ele então me explicava que no vestiário feminino as mulheres também podiam ficar nuas.
     Mas depois, quando saíamos e aqueles mesmo homens se encontravam com suas famílias, já cobertos pela marca social das suas roupas, eu não podia deixar de ficar imaginando como seria aquela gente toda pelada, conversando.
     Pensava em como seria engraçado vê-los como realmente eram e como seria mais difícil manter as poses com que tentavam se diferenciar.
     Foi a minha primeira noção do ridículo da espécie humana.
     Um monte de homens nus, por mais que tentem manter a dignidade, ficam bem mais próximo de animais. E a animalidade é tudo que mais tentamos esconder de nós mesmos.
     Apenas o rosto é treinado para ser civilizado, o resto é pura animalidade.
     Para o meu olhar espantado de criança, essas convenções humanas me pareciam assustadoras.

     Boa segunda-feira à todos

     Ricardo Stumpf Alves de Souza