Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 14 de julho de 2012

Rapidinhas

Alegria, alegria
     Confesso que não esperava ser tão bem recebido pela família de meu amigo, Adriano Araujo, em Salvador. Família e amigos se reuniram para vê-lo e foram muito gentis comigo.
     É uma turma muito alegre, simpática e divertidíssima. Uma família grande e unida e que encara a vida de modo muito positivo. Um exemplo de amor e solidariedade.
     Os baianos tradicionalmente são gente alegre e solidária, mas essa família é realmente especial.
     Agradeço a Deus tê-los conhecido.

Olimpíadas S.A.



     A organização das olimpíadas de Londres está levando a extremos a dominação das grandes corporações sobre os eventos esportivos internacionais. Agora instalaram a censura sobre as roupas das pessoas que forem assistir aos jogos. Não serão permitidas manifestações políticas, como camisetas do Che Guevara, por exemplo, nem utilização de propaganda de empresas concorrentes das patrocinadoras dos jogos.
     É como se cada espectador tivesse um contrato assinado de exclusividade com as marcas que patrocinam o evento, o que além de ilegal, pois cerceia o direito de livre manifestação, é um sinal muito preocupante do avanço do controle social das empresas sobre a população, em detrimento da democracia.
     Já não basta o escândalo que está sendo a política de socorrer os bancos europeus com bilhões de euros, enquanto cortam salários, pensões e benefícíos sociais dos trabalhadores, agora passaram ao controle direto, com proibições e tudo mais.
     É o fascismo voltando, sob inspiração da Füehrer Angela Merkel, comandando a Europa. E sempre que isto aconteceu por lá, o resultado foi trágico. Nuvens escuras no horizonte da humanidade.

Bye Bye OEA

     E por falar nisso, o presidente da Organização dos Estados Americanos, OEA, o chileno Miguel Insulza, declarou que não houve golpe no Paraguai e que não há razões para este país sofrer sanções, numa nova demonstração de que não passa de um instrumento do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que já avisou que é contra sanções ao Paraguai.
     É o caso de se perguntar o que o Brasil ainda está fazendo nessa instituição, criada na esteira da guerra fria para defender os interesses norte-americanos.
     Incapaz de se pronunciar sobre a disputa colonial que a Inglaterra trava com a Argentina sobre as ilhas Malvinas, o que na prática significa apoio aos ingleses, mantendo há 50 anos Cuba excluída dos seus filiados e fazendo investigações sobre direitos humanos na América Latina, enquanto não tem coragem de investigar os crimes cometidos pelos Estados Unidos em Guantânamo e em outras partes do mundo (veja artigo do ex-presidente Jimmy Carter intitulado EUA: um recorde raro e cruel, no link abaixo) a OEA continua sendo o Ministério das Colônias, como definiu Che Guevara.
     Todos sabem que por trás dos golpes que destituiram Zelaya em Honduras e Lugo no Paraguai está a mão de gato dos americanos, numa tentativa de se contrapor aos governos de esquerda da América Latina. Mas o golpe no Paraguai nos atinge diretamente, dado o interesse americano em montar uma base militar junto à chamada tríplice fronteira, em Foz do Iguaçú.
     A OEA é uma relíquia da guerra fria que não serve mais aos nossos interesses. Com a criação do Mercosul, da Unasul e de outras instituições regionais,é hora de dizer adeus a essa instituição anacrônica, intenção já manifestada por vários presidentes latino americanos. Coragem é o que não falta a nossa presidente Dilma.

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/22928/eua+um+recorde+raro+e+cruel.shtml

Alfonsina y el mar

     E já que estamos falando de América latina, deixo aos leitores esta jóia que é a música Alfonsina y el mar, (letra em espanhol com tradução minha) de Mercedes Sosa, interpretada por ela mesma (no link ao fim da página). A música é bem conhecida, mas o que eu não conhecia era a história da poeta argentina, Alfonsina Storni, que a inspirou ao se suicidar entrando no mar, em 1938, logo após escrever a poesia Voy a dormir (também abaixo). Sem dúvida um adeus muito triste e poético.

Por la blanda arena     Pela areia macia
      Que lame el mar    Que o mar lambe
        Su pequeña huella    Sua pequena pegada
     No vuelve más    Não volta mais
              Un sendero solo    Um caminho solitário
         De pena y silencio llegó    De pena e silêncio chegou
             Hasta el agua profunda    Até as profundezas da água
               Un sendero solo   Um caminho solitário
          De penas mudas llegó   De penas mudas chegou
  Hasta la espuma   Até a espuma

         Sabe diós que angustia   Sabe Deus que angústia
            Te acompaño   Te acompanhou
      Que dolores viejos   Que dores velhas
           Calló tu voz   Calou tua voz
             Para recostarte   Para te recostares
     Arrullada en el canto   Aninhada no canto
     De las caracolas marinas   Dos caracóis marinhos
     La canción que canta   A canção que canta
    En el fondo escuro del mar  No fundo escuro do mar
      La caracola  O caracol

          Te vás Alfonsina  Te vais Alfonsina
            Con tu soledad  Com tua solidão
        Que poemas nuevos  Que poemas novos
      Fuiste a buscar  Foste buscar
         Una voz antigüa  Uma voz antiga
         De viento y de sal  De vento e de sal
  Te requiebra el alma  Te parte a alma
        Y la está llevando  E a está levando
       Y te vás hacia allá  E te vais para lá
            Como en sueños  Como em sonhos
                Dormida Alfonsina  Adormecida Alfonsina
           Vestida de mar  Vestida de mar

                Cinco serenitas  Cinco sereiazinhas
         Te llevarán  Te levarão
             Por caminos de algas  Por caminhos de algas
           Y de coral  E de coral
           Y fosforescentes  E fosforescentes
            Caballos marinos harán  Cavalos marinhos farão
               Una ronda a tu lado  Uma ronda a teu lado
          Y los habitantes  E os habitantes
           Del agua van a jugar  Da água vão brincar
              Pronto a tu lado  Logo ao seu lado

     Bájame la lámpara  Diminua a luz
               Um poco más  Um pouco mais
        Déjame que duerma  Deixe-me dormir
                     Nodriza, en paz  Ama de leite, em paz
                        Y se llama él  E se ele me procurar
         No le digas nunca que estoy  Não diga nunca que estou
                  Di que me he ido  Diga que fui embora

             Te vás Alfonsina   Te vais Alfonsina
              Con tu soledad   Com tua solidão
          Que poemas nuevos   Que poemas novos
        Fuiste a buscar   Foste buscar
           Una voz antigüa   Uma voz antiga
          De viento y de sal   De vento e de sal
   Te requiebra el alma   Te parte a alma
        Y la está llevando   E a está levando
       Y te vás hacia allá   E te vais para lá
           Como en sueños   Como em sonhos
               Dormida Alfonsina   Adormecida Alfonsina
         Vestida de mar   Vestida de mar
http://letras.mus.br/mercedes-sosa/37548/

Voy a dormir
Alfonsina Storni

Dientes de flores, cofia de rocío,      Dentes de flores, touca de sereno,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,        Mãos de ervas, tu, ama-de-leite fina,
tenme prestas las sábanas terrosas         Deixa-me prontos os lençóis terrosos
y el edredón de musgos escardados.      E o edredom de musgos escardeados.
     Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.     Vou dormir, ama-de-leite minha, deita-me.
Ponme una lámpara a la cabecera;    Põe-me uma lâmpada à cabeceira;
una constelación; la que te guste;     Uma constelação; a que te agrade;
    todas son buenas; bájala un poquito.     Todas são boas: a abaixa um pouquinho
        Déjame sola: oyes romper los brotes…     Deixa-me sozinha: ouves romper os brotos…
  te acuna un pie celeste desde arriba     Te embala um pé celeste desde acima
  y un pájaro te traza unos compases     E um pássaro te traça uns compassos
     para que olvides… Gracias. Ah, un encargo:    Para que esqueças… obrigado. Ah, um encargo:
  si él llama nuevamente por teléfono    Se ele chama novamente por telefone 
le dices que no insista, que he salido.   Diz-lhe que não insista, que saí…
(Tradução de Héctor Zanetti)







Tristeza vazia


     Prometi a mim mesmo e a alguns amigos, que não me envolveria na campanha eleitoral da minha pequena Rio de Contas, em 2012, cansado das mesmices e das mesquinharias locais, mesmo que me pese o enorme amor que aprendi a nutrir por aquela terra, eu que não nasci lá, mas em outro Rio, o de Janeiro, já lá se vão mais de 61 anos.
     Mas a entrevista publicada no blog Notícias de Rio de Contas, concedida pelo atual prefeito a um jornal chamado "O ECO", jornal que nunca tinha ouvido falar até então, e que parece destinado apenas a fazer eco às vozes dos poderosos de plantão, me entristeceu pelo imenso vazio que contém.
     É o vazio de quem não tem o que dizer e tenta inventar o impossível para justificar quatro anos de abandono e avareza em relação à sua terra.
     Rio de Contas tem três vocações explícitas: a pequena agricultura, a cultura e o turismo. Eu que fui presidente e fundador da Associação dos Pequenos Produtores Rurais, até que a doença de minha mãe me levasse de volta a Brasília para cuidar dela no seu final, pude conhecer de perto o abandono em que vivem e continuaram vivendo os pequenos agricultores do município, neste quadriênio que se finda. Suas necessidades são simples, como é simples sua própria vida. Precisam de assistência técnica para que aprendam novos e melhores caminhos que aumentem e melhorem sua produção.
     A Secretaria de Agricultura do Município, no entanto, com seus dois agrônomos, andava sempre tão envolvida na política que os mantinha sempre em reuniões, nunca tendo tempo para visitar e orientar os agricultores. Cuidavam de distribuir mudas como se isso fosse resolver os problemas dos que vivem da terra, desconhecendo as pragas e doenças que assolam os cafezais e outros cultivos, como os de morango, e se recusando a ajudar os que não podem pagar pelo conhecimento de um agrônomo.
     A EBDA, empresa criada pelo governo estadual para realizar esta atividade, tem um escritório na cidade mas que também se dedica exclusivamente à política , servindo apenas para promover quem está no cargo, feitas as alianças necessárias com o poder municipal.
     O Prefeito diz na sua entrevista que promoveu uma "revolução" na agricultura. Uma tristeza. Não fez nada por ninguém a não ser para beneficiar alguns correligionários que ganharam "projetos experimentais", que nunca passam disso. Não há escala nas ações municipais. Que o diga quem tem que vender sua laranja a R$10,00 para os atravessadores que infestam nossas estradas vicinais, muitas vezes preferindo dá-las aos porcos.
     Na área da cultura as declarações do nosso alcaide beiram o ridículo. Deixou um néscio como titular da pasta durante os quatro anos, como que para fustigar os artistas da terra, e apresenta como conquistas da sua gestão as obras do IPHAN, conseguidas ao tempo em que fui chefe do escritório local, vale dizer, a reforma das duas igrejas históricas e a assinatura do PAC das cidades históricas, que tive que ir pessoalmente à sede do governo para convencê-lo a participar do ato. Acabou com o São João da cidade, transferindo-o para sua base eleitoral, no distrito de Marcolino Moura e fez o mesmo com o carnaval tradicional, famoso na Bahia, entregando sua organização ao seu assessor mais odioso, o notório perseguidor de opositores, que o transformou num lucrativo negócio para si mesmo, feito de baixarias, drogas e violência.
     Quanto ao turismo, basta passear pela cidade em dias normais para ver o abandono das pousadas e hotéis. Pergunte-se a qualquer dono de pousada o que vem acontecendo com o fluxo de turistas, que se antes já era intermitente, agora há dias em que o vazio da cidade dá medo. Outro dia estava tão deserta que um amigo de Salvador a quem levei para conhecê-la me perguntou se não havia risco de sermos assaltados, tal o ermo em que se encontrava.
     O Secretário de Turismo, um jovem simpático e completamente desconhecedor do assunto, permaneceu no cargo todo este tempo, tocando seus negócios particulares, sem tomar nenhuma iniciativa. Os poucos dias festivos se resumem às tradicionais festas religiosas da cidade, cuja origem remonta há muito tempo atrás, e não tem nada a ver com esta administração.
     Tudo muito triste. Um imenso vazio que me dói profundamente, principalmente por ter sido este prefeito uma promessa de renovação, que desembocou no mais puro cinismo, e que ainda tenta nos convencer com seus olhinhos infantis de que é a mais cândida das almas.