Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 23 de janeiro de 2011

Rapidinhas

Hipocrisias

     Obama cobra direitos humanos do presidente da China. Esqueceu-se da invasão do Iraque, que matou centenas de milhares de civis iraquianos e da prisão de Guantanamo em Cuba, onde prisioneiros são mantidos ilegalmente debaixo de tortura?
     O Vaticano reclama das imoralidades sexuais de Silvo Berlusconi. Esqueceram-se dos escândalos de pedofilia que mostram que os padres estrupavam crianças há séculos, protegidos pelo próprio Vaticano?
     Casos explícitos de dupla moralidade. Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço.
                                             Nossa imprensa, como sempre, não questiona nada.

Cultura Global

     Esta edição do Big Brother Brasil 11, parece ter escolhido a escória das ruas para desfilar suas taras sexuais na TV. Dá a impressão que a profissão de modelo virou disfarce para todos os tipos de prostituição, seja masculina, feminina ou gay. Não quero ser injusto nem agressivo, mas ali todos tem cara de garotos ou garotas de programa. Esta é a contribuição da Globo para a nossa cultura?

                            Idiotia
     De nada adiantou construirem uma rodoviária nova em Brasília, com todos os atributos de um aeroporto moderno, tipo praça da alimentação e bilheterias eletrônicas para os receber os cartões de embarque. Os funcionários continuam praticando todas as idiotices implantadas no tempo de Joaquim Roriz. Formam uma imensa fila única para "conferir" os cartões de embarque, tentando impedir que pessoas entrem na plataforma de embarque antes do horário permitido (30 minutos). Com isso criam uma gigantesca confusão que anula toda a capacidade de absorção de público do terminal, com suas quatro bilheteiras para entrada simultânea criando um problema desnecessário para quem já está atrapalhado com suas bagagens.
     Puro exercício de autoritarismo, para mostrar "quem manda". Brasília infelizmente está cheia dessa idiotia de gente que veio dos grotões do entorno e quando consegue um cargozinho qualquer, quer fazer valer seus "pequenos poderes" sobre os outros.
     Além disso o terminal já está imundo, sem varredores que o mantenham limpo e com o único estacionamento privatizado, cobrando R$3,00 para quem vai apenas ficar alguns minutos para receber um parente ou amigo. O resultado é que todo mundo pára ao longo das vias de acesso, congestionando o trânsito, em locais proibidos. Mas lá no meio do estacionamento privatizado, umas 10 vagas são reservadas para uma locadora de automóveis, privilégio incompreensível.
     Em torno da estação existe muito espaço para fazer mais vagas e seria correto haver um estacionamento público e outro privatizado, dando ao usuário o direito de escolha. O próprio acesso à rodoviária obriga a gente a fazer voltas incompreensíveis.
     Tudo errado, governador Agnelo Queiroz. Valia a pena corrigir os acessos, aumentar os estacionamentos e entregar o terminal a um concessionário que tivesse o mínimo de compromisso com o interesse público e com a eficiência.
    
Histórias de outras vidas (37)
O Black and White
     O ano era 1972/73. O lugar; Santiago do Chile.
     Era uma época de grandes agitações sociais no Chile, que vivia sua revolução pacífica rumo ao socialismo, no governo de Salvador Allende. Eu, como milhares de estrangeiros, principalmente latino-americanos, tinha ido morar lá, fugindo da opressão das ditaduras militares que se multiplicavam pela América Latina, patrocinadas pelos Estados Unidos, em nome da defesa do "mundo livre", triste eufemismo.
      Santiago havia se convertido na meca da filosofia política do século XX, em torno da construção de um novo socialismo democrático e também numa Babel, com gente falando todas as línguas do mundo.
     Com pouco mais de 20 anos eu vivia na Calle Merced, num pequeno quarto e sala que dividia com um amigo, estudava e saía nas noites em busca de alegria e divertimento, como costumam fazer os jovens. E havia muito a ver. A Chile Films, uma distribuidora estatal de cinema, trazia filmes de todas as partes do mundo e os exibia em diversas salas próprias, num tempo em que os cinemas ainda não estavam confinados em shoppings. Me lembro de assistir  filmes búlgaros, húngaros, russos, cubanos, chineses, coisa que nunca mais vi.
     Espetáculos de dança e acrobacia chineses e de toda a Europa, frequentavam a cidade, sempre a preços acessíveis e haviam os pequenos bares para se saborear um bom vinho tinto, boates para assistir um autêntico streap-tease ao som de tangos, com seus violinos e bandoneons, além das peñas, casas de música chilena, como a Peña de los Parra, da família de Violeta Parra, onde se podia curtir músicos famosos ao vivo, como Victor Jara, cantando a nova canção chilena.
     Santiago era um burburinho, uma esquina da humanidade, uma festa de política e cultura, antes de se transformar no cemitério de Pinochet.
     E no meio daquela agitação política e cultural havia uma velha casa no centro da cidade, em estilo colonial espanhol, com colunas arredondadas na porta, um telhadão de telhas vermelhas e um piso xadrez, preto e branco, onde funcionava o velho cabaré Black and White.
     Quantas noites inesquecíveis naquele lugar, ouvindo cantores antigos e novos e dançando tangos e cumbias colombianas, com turmas de amigos e namoradas, embebedando-me com pisco-sauers, uma espécie de caipirinha feita com pisco, um aguardente de uva, muito saborosa.
     Mas isso foi num tempo em que lutava-se por ideais e não apenas por cargos como hoje.
     Quando olho para trás e penso nesses tempos heróicos, e vejo no que se transformou a esquerda de hoje, sinto uma tristeza imensa. Não apenas porque os partidos de agora não levantam mais nenhuma bandeira de libertação da humanidade, mas também pelos que morreram por elas e por ideais que foram vendidos tão baratos na "bacia das almas".
     Os próprios socialistas chilenos, nunca mais tiveram coragem de se levantar e hoje apoiam o neoliberalismo. No Brasil o PT tentou apagar a memória da luta dos comunistas e socialistas, como se a história tivesse começado em 1981, ano da fundação do partido e do seu discursinho social-democrata.
     O Black and White fechou, foi demolido, não existe mais, mas sua memória resiste naqueles que ali um dia se encontraram, embalados pelos sons da música latino-americana e pelos sonhos da construção de um novo mundo.

     Boa segunda-feira a todos

     Ricardo Stumpf Alves de Souza