Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 30 de janeiro de 2011

Rapidinhas

Viva a revolução!


     Que coisa boa ver os povos árabes se levantarem contra aqueles ditadores nojentos, sustentados pelos Estados Unidos há décadas por lá. Tunísia, Argélia, Egito, Iemen, Jordânia...falta a Arábia Saudita, o Kuait e os outros emirados árabes, onde famílias reais corruptas recebem bilhões em dólares dos americanos para manterem seus povos oprimidos e defenderem os interesses de israel.
     O ditador do Egito, queridinho de Washington e de Tel aviv, está lá há trinta anos e ainda quer colocar o filho no seu lugar. Enqaunto isso o povo amarga o desemprego, a pobreza, a repressão e a humilhação da fome. Mas na hora em que o povo perde o medo não há repressão que segure, afinal, não dá pra matar todo mundo, senão quem iria trabalhar para os opressores, não é mesmo?
     Devíamos fazer o mesmo aqui para expulsar certas figuras corruptas que nunca saem do poder, como o cínico Sarney, que se prepara continuar presidente do Senado. E ainda diz que está fazendo um "sacrifício"..., coitadinho dele.
     Que Alá proteja a todos nós.


Tente comprar uma tampa de vaso

     Minha mãe é cadeirante e me pediu para substituir a tampa do vaso sanitário por uma acolchoada, dessas macias. Primeiro a moça da loja me corrigiu:
     _Não é acolchoada: é almofadada.
     Que saco! Qual é a diferença? Parece esses cronistas do Correio Braziliense que ficam ensinando como é que a gente tem que falar certo. Depois me perguntou:
     _Qual é a marca do vaso?
     _Não sei, isso faz alguma diferença?
     _Ah, cada marca tem um tamanho diferente.
     _Mas antigamente isso era tudo igual, retruquei, ao que ela me olhou com certo desdém, como se eu vivesse em outro planeta.
     Liguei para casa e pedi para alguém conferir a marca.
     _Mas de qual modelo? Essa marca tem vários modelos diferentes.
     _Já irritado falei que não sabia.
     _Seria bom se o senhor trouxesse uma foto do vaso sanitário.
     Não acreditei que aquilo estava acontecendo. Fui em casa, peguei a tampa rígida e voltei à loja.
     _Asssim pela tampa não dá pra saber qual o modelo. Me disse outro vendedor enfastiado.
     Percorri várias lojas e não consegui achar a tal tampa almofadada para aquele modelo de vaso, cujos parafusos estão em lugar diferente das que encontrei.
     As fábricas de vasos sanitários, ao invés de padronizarem os equipamentos, ficam inventando coisas diferentes para obrigar o consumidor a comprar os "reparos", sejam bóias (cada dia mais complicadas) ou uma simples tampa, da marca deles. Eles chamam a isso de fidelização. Eu chamo de tentativa de escravizar o consumidor a uma marca, o que deveria ser proibido.
     Desisti e pedi pra minha filha comprar. Ela fotografou com o celular e saiu em campo, para tentar encontrar uma coisa que deveria ser muito fácil de achar.
     Alguém deveria tomar uma providência.

O Estilo Dilma

     Definitivamente, gosto do jeito de governar de nossa presidente. Me parece que ela vai do particular para o geral, sem grandes teorizações preliminares. Primeiro observa o que tem e depois traça uma trajetória possível dentro das suas prioridades, deixando as pessoas trabalharem enquanto vai avaliando desempenhos.
     Se continuar assim, muita gente que está neste ministério vai dançar, por falta de competência e de qualidades morais para acompanhá-la. Como diz o velho ditado: é no balanço da carreta que se ajeitam as melancias.
     E aqui vai uma sugestão para nossa Presidente: mande reavaliar o estatuto do funcionalismo púbico, que atualmente inviabiliza que servidores públicos denunciem seus chefes. Os funcionários sempre sabem onde estão as roubalheiras, mas não podem falar nada, senão são perseguidos e mesmo demitidos.
     Se eles pudessem falar, muita coisa seria revelada e muitas quadrilhas que se perpetuam nos ministérios, passando de governo em governo, seriam desbaratadas. Isso traria grande economia para o tersouro e daria uma nova motivação aos funcionários de carreira.
Fazer mais com menos, não é isso Presidente?
 

Histórias de outras vidas (38)

O Testamento do Judas

     Em 1985 fui morar em Itabuna, no sul da Bahia, para trabalhar na prefeitura. Lá conheci uma moça com quem quase me casei e acabei tendo um filho. Ela tinha duas famílias, uma biológica e outra adotiva, que a criou. Fiquei amigo das duas, mas me tornei mais amigo do pai adotivo, Zé Conrado.
     Pouco tempo depois ele ficou viúvo e sua família passou sempre a se reunir em torno dele.
     Quando eu ia a Itabuna passava lá com meus dois filhos pequenos, o neto dele e outro, de um segundo casamento. Ele era um cara especial, alegre, brincalhão, gostava de juntar as família e comer um churrasco tomando umas cachaças em infusão que fazia num quartinho nos fundos.
     Sua casa de dois pavimentos tinha um pátio interno, o que permitia que os churrascos fossem feitos numa área bem arejada, longe dos olhos dos vizinhos da rua. Coisa importante, pois Itabuna é uma cidade muito quente no verão e dada a muitas fofocas também.
     Almoçar lá sempre era um prazer e uma diversão. Na verdade me afeiçoei a Zé Conrado quase como um segundo pai, já que meu pai e eu nunca tivemos muita afinidade.
     Na última vez que o vi, ele estava na cadeira de rodas e saímos para passear justamente no dia dos pais. Fomos ao shopping de Itabuna, e para minha surpresa, perguntado sobre o que gostaria de fazer ele me respondeu que queria tomar um chopp. Tomamos vários chopps, eu, ele e seu sobrinho que fazia as vezes de seu cuidador.
     Sua cabeça estava ótima e a alegria era a mesma e ficou satisfeito ao ser reconhecido por velhos amigos, que o vieram cumprimentar. Conrado era um sujeito conhecido na cidade. Trabalhou como policial no setor de identificação e por isso conhecia quase todo mundo. Foi administrador de Itapé, quando este lugar ainda era um distrito de Itabuna. Muita gente o cumprimentava quando saíamos na rua. Até umas moças de aspecto meio liberal, uma vez vieram cumprimentá-lo num bar, quando estávamos tomando uma cerveja. mas ele fez cara de paisagem e disse que não sabia quem elas eram. Muito engraçado.
     Sair com ele era uma diversão. As vezes ia com toda a turma para minha casa em Ilhéus e na volta me mandava parar num restaurante para comermos Pitú e tomarmos cerveja. Mas ele não bebia muito. Com três cervejas caía no sono e roncava alto.
     Mas o mais engraçado era depois da Semana Santa, em Itabuna. Pra quem não é da Bahia, lá eles tem o hábito de fazer um testamento do Judas, antes da tradicional malhação. Ao contrário do Rio de Janeiro, o Judas na Bahia não é apenas um boneco de pano que se pendura no poste e que as crianças saem batendo com um pau até destroçá-lo. Lá ele é explodido por fogos de artifício enxertados dentro dele e que são acionados através de um fio, onde muitos fogos vão explodindo até que o fogo chegue ao boneco.
        Mas como muitas outras festas na Bahia, a malhação do Judas tem um festeiro oficial, que é o sujeito que organiza a festa, tendo inclusive autorização para arrecadar fundos para comprar os materiais necessários e montar o palanque, em local público, autorizado pela municipalidade. O festeiro oficial também é o testamenteiro, ou seja, ele é quem escreve o tal testamento, que é um monte de piadas com as pessoas da vizinhança.
     Então, vamos que na vizinhança exista uma Dona Maria, muito gorda, o testamento poderia dizer:
     _Para Dona Maria deixo a balança de pesar minhas vacas.
     Ou para um corno conhecido:
     _Para seu fulano deixo um chapéu com dois furos.
     E por aí vai. Mas ninguém pode se zangar com as brincadeiras, que provocam muitas risadas e fazem com que a comunidade se aproxime, numa espécie de lavagem coletiva de seus pecados.
     Pois Zé Conrado sempre foi o testamenteiro da festa do bairro Conceição. Além disso, ele e seu filho mais velho transformavam sua casa num verdadeiro paiol de pólvora, onde eram preparados os fios e as bombas, para o show pirotécnico da explosão final do Judas.
     Era assustador chegar lá na véspera do evento e ver aquela quantidade enorme de bombas e fios, as mulheres montando o boneco com panos e trajes velhos  numa confusão de gente entrando e saindo, e o testamento, ao qual ele dedicava muitas horas de preparo, até que se transformasse num enorme documento, em forma de pergaminho, que na hora da sua leitura era desenrolado num gesto teatral, caindo aos pés do palanque e avançando uns cinco metros em meio à multidão, já provocando muitas risadas pelo seu tamanho.
     O problema é que quando Conrado começava a leitura do enorme documento já tinha tomado algumas doses da sua cachaça especial de jabuticaba, feita numa infusão deixada de um ano para o outro, e começava a ficar sonolento e se atrapalhar com as palavras, o que tornava o evento mais engraçado ainda.
     Finalmente quando o fogo vinha queimando o fio e explodindo as bombas suspensas até chegar no boneco, ele já roncava em alguma cadeira próxima ao palanque, cuidado por seus familiares e por toda a vizinhança que o conhecia.
     Hoje, sem a liderança dele, a malhação do Judas no bairro Conceição não é mais a mesma, mas todas as vezes que me detive em sua casa para saudá-lo, seus olhos zombeteiros ainda me fizeram rir e admirar sua enorme alegria de viver.

     Boa segunda feira a todos

     Ricardo Stumpf Alves de Souza