Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 24 de maio de 2010



   

    Amor Virtual

     Prezados amigos leitores, estive no Rio de Janeiro em abril para rever amigos e resolver problemas particulares na minha cidade natal. Aproveitando a visita e o reencontro com uma amiga chilena, resolvemos procurar outra amiga comum dos tempos de Chile, que não víamos há 25 anos.
     As buscas na internet e nos velhos catálogos telefônicos que encontramos no apartamento do Rio não foram suficientes para encontrá-la e então resolvemos tentar seu último endereço, na verdade o enderêço de seus pais, que já eram idosos na última vez que a vimos.
     Meio sem jeito, minha amiga chilena desceu do carro em Copacabana, enquanto eu dava a volta no quarteirão, pois vagas ali eram impossíveis, e foi à portaria do edifício perguntar se alguém já tinha ouvido falar na nossa amiga. O porteiro disse que não apenas a conhecia, mas que ela ainda morava ali e estava em casa.
     Voltamos mais tarde com aquela tensão de quem vai para um reencontro sem saber direito o que vai acontecer, depois de tanto tempo. Mas fomos muito bem recebidos e posso dizer, fiquei mesmo emocionado por rever uma pessoa de quem sempre gostei muito.
     Ela continuava a mesma, alegre, engraçada, inteligente, bem informada e ligada em tudo. Conversamos e rimos muito, lembrando histórias do passado e pondo os assuntos em dia.
     Foi quando ela falou de um amigo virtual. A princípio achei que era apenas alguém que ela tinha conhecido na internet, mas depois, pelo seu tom de voz, percebi que havia algo maior.
     Imagine, amigo leitor, que ela conheceu um internauta tcheco, isso mesmo, da República Tcheca, e que eles conversaram durante anos pela internet, em inglês, se vendo apenas pela webcam, mas trocando idéias sentimentos e experiências de vida.
     Pelo pouco que conversamos deu para ver que a correspondência virtual havia se transformado numa grande amizade e mais do que isso, em amor.
     Mas seria possível alguém amar outra pessoa assim, à distância, sem nunca tê-la tocado ou sentido seu cheiro, ou posto seus olhos pessoalmente sobre ela?
     Ela me disse então, que estava muito preocupada, porque sabia que ele tinha um câncer e já faziam algumas semanas que ele, antes tão assíduo nas conversas, não entrava na internet.
     Segui minha viagem para Brasília e depois para Rio de Contas e só aí ela (agora na minha lista de bate-papo) me disse que ele realmente havia morrido. Depois de mandar muitas mensagens, finalmente havia recebido uma resposta de uma neta de seu amigo, dizendo que ele havia falecido durante o sono no mês de março.
     Muito emocionada me disse ainda que passou a se corresponder com essa jovem e através dela teve certeza de que era um bom homem, amado e respeitado por todos.
     Minha amiga agora se consola dizendo que ganhou uma neta, mas não esconde sua dor pela perda de um amor, que embora virtual, foi tão verdadeiro quanto qualquer outro.
     Isso me fez refletir sobre a imensa capacidade de amar que os seres humanos tem e de como essa enorme energia dentro de nós transforma constatemente o mundo, apesar daqueles que teimam em colocar o dinheiro no centro das coisas.
     Uma vez um desses filósofos disse a respeito do que importava na política de uma nação: é a economia idiota! A frase ficou famosa e é repetida sempre que alguém tenta pensar em ideais elevados, como uma forma de trazer as pessoas de volta à realidade.
     Mas não sei se por ser um idealista crônico, um sonhador de nascença, um construtor de utopias, prefiro acreditar que o que move o mundo é essa gigantesca energia do amor que existe dentro de nós e que foi tão bem resumida por aquele amigo que nos visitou há dois mil anos:
     Amai-vos uns aos outros!

     Abraço a todos

     Ricardo Stumpf