Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Uma Escola Família Agrícola
para Rio de Contas

     
 O projeto da EFA de Rio de Contas: um verdadeiro campus para desenvolver a agricultura no município    

     Pois é, amigos leitores, esse é o bonito projeto da Escola Família Agrícola, com que a arquiteta Scarlett Porto brindou o município de Rio de Contas.
     O projeto se situa na confluência das estradas que levam ao distrito de Mato Grosso e aos povoados de Fazendola e Caiambola, em terreno de propriedade do Sr. Carlos Bittencourt, pessoa muito comprometida com as questões sociais e que, em princípio, concordou em ceder a área para construção.
     Scarlett Porto me procurou há mais ou menos um ano atrás, porque buscava um tema para o seu trabalho final de graduação (TFG) na Faculdade de Arquitetura da UFBA, em Salvador. Seu interesse era fazer uma escola rural dentro da filosofia da Escola Família Agrícola. Alguém recomendou meu nome e eu a recebi em Rio de Contas, levei à Secretaria de Meio Ambiente, que demonstrou interesse pelo projeto e a encaminhou a algumas pessoas que poderiam fornecer dados sobre educação no município.
     Só agora, em julho, Scarlett me procurou novamente me convidando para fazer parte da sua banca de graduação, convite que aceitei com muito prazer.
     No dia 9 de julho participei da banca, em Salvador, que a aprovou.
     Na minha intervenção na banca, lembrei a importância do projeto para Rio de Contas, principalmente para os jovens do campo, sempre obrigados a migrar para as cidades por falta de perspectivas econômicas nas áreas rurais e lembrei-a também do seu compromisso com a cidade, coisa que ela prontamente reiterou.
     O projeto atenderia os jovens dos 12 povoados dos gerais em regime externo e ainda os jovens do baixio, em regime de semi-internato, 15 dias na escola e 15 dias em casa, pois é assim que essa filosofia se propõe a trabalhar com os estudantes de áreas mais distantes.
     A EFA de Rio de Contas tem o apoio da Associação de Pequenos Produtores Rurais (Citrus) e espera contar também com o apoio da Prefeitura local, em benefício do desenvolvimento da agricultura e da educação no município.
     A deputada federal Alice Portugal já se comprometeu a lutar pelo projeto na Câmara, em Brasília. Procurada por mim, em Vitória da Conquista, ela disse: gosto muito de Rio de Contas, tenho inclusive uma boa votação lá, mas nunca pude fazer muito pelo município. Quem sabe esse não será meu primeiro projeto para Rio de Contas?
    Oxalá seja! Deus abençoe Scarlett Porto, Carlos Bittencourt, Alice Portugal e todos aqueles que queiram ajudar Rio de Contas a ter uma agricultura moderna, produtiva, ecológica, assim como uma juventude rural resgatada do isolamento e antenada com o futuro.

Debate

     Poxa, que debatezinho chocho este da Band.
     Dilma pareceia mais preocupada com a imagem do que com as propostas. Serra, muito experiente e ágil, mas parece não ter proposta nenhuma, ou melhor, esconde suas verdeiras intenções (privatizar tudo, como sempre), para falar de saúde, educação, etc. Marina Silva é aquela coisinha sem graça, falando da sua vida de pobreza no Acre. História requentada. Plíno Arruda poderia ter pelo menos feito uma plástica. Aos 80 anos é um sacrifício ficar olhando para aquela cara tão feia, lançando propostas fora de contexto, de um modelo socialista que não existe mais.
     Aliás, igualdade nunca foi uma bandeira socialista, mas sim da revolução burguesa (liberdade, igualdade e fraternidade). Os marxistas sempre defenderam a cada um segundo a sua necessidade e de cada um segundo a sua capacidade. Ou seja, cada um dá o que pode e recebe o que precisa, o que é um reconhecimento de que igualdade é uma coisa utópica e racionalista, muito distante da realidade diversa da humanidade.
     Valia mais a pena ver São Paulo x Internacional na Globo, coisa aliás que a maioria dos telespectadores fez (o Ibope da Band foi de apenas 5% no debate).
     Acho engraçado o foco eterno em saúde, educação e segurança. Esses são serviços prestados pelo Estado (faltou o transporte). Mas governar não é cuidar apenas do que é obrigação do Estado, é principalmente formular políticas públicas em todas as áreas, para que o país se desnvolva mais e de forma equilibrada.
     Acho que os apresentadores da Band ainda estão em 1989.
    
    
Histórias de outras vidas (23)

   UM LAGO NOS ANDES

     O ano? Final de 1972. O lugar? San Fernando, Chile, onde fui passar um fim de semana na casa de meu amigo Lucho.
     Desde que havia chegado ao Chile, em junho de 1972, eu evitava a colônia brasileira formada por exilados e preferia ter amigos chilenos.
     Eu pensava que se havia ido morar naquele país devia conviver com o povo de lá, para entender sua cultura e conhecer a experiência do socialismo democrático de Salvador Allende.
     Muitos brasileiros que chegavam à Santiago, como eu, só se relacionavam com outros brasileiros e desenvolviam uma atitude negativa, falando mal do Chile e de seus costumes. Depois de algum tempo percebi que isso era uma espécie de síndrome comum em colônias de exilados. Acho que no fundo é um medo de se adaptar e não querer voltar mais ao seu país de origem.
     Lucho era meu colega na faculdade de arquitetura e às vezes me convidava para ir a San Fernando, sua cidade natal, que ficava mais ou menos a uma hora de trem de Santiago.
     Sua família morava num velho casarão de estilo espanhol com um pátio interno, avarandado, para onde todos os cômodos abriam portas e janelas. Sua jovem mãe era muito atenciosa comigo, me tratando como se fosse um filho.
     Quando eu chegava ela me cortava as unhas do pé, costurava minhas roupas e se preocupava com a minha saúde. Claro que eu gostava. Num país estrangeiro, sem família ou amigos brasileiros, encontrei ali um lar alternativo que me aquecia muito o coração. De vez em quando eu ia para San Fernando, passar o fim de semana.
     Daquela vez Lucho me convidou para ir à uma festa com sua família, numa área rural. Era uma espécie de almoço de fim de ano de colegas de trabalho de sua mãe. Ficamos lá um tempo, mas logo a reunião se tornou um pouco cansativa para nós, que não pertencíamos àquele grupo. Ele então me convidou a fazer uma trilha. Saímos e fomos subindo a encosta da cordilheira.
     Sim, a Cordilheira dos Andes é uma presença constante na vida chilena. De qualquer lugar do país em que se olhe para oeste, ela está sempre lá. Algumas cidades ficam ao pé da montanha, como Santiago e San Fernando e também o tal clube onde acontecia a festa.
     Fomos subindo e respirando aquele ar puro e tudo foi ficando muito bonito, a vegetação foi ficando rarefeita e continuamos até encontrar um lago.
      Lucho me disse que às vezes vinha até ali sozinho, quando queria pensar, e tomava banho sem roupa, em comunhão com a natureza. Achei a idéia ótima. Logo tiramos nossas roupas e nos metemos na água, que estava gelada, naquele domingo de verão.
     Lá de cima podíamos observar a cidade embaixo e as montanhas ao redor.
     O contato daquela água no corpo e a visão daquele ambiente fantástico, fez com que eu me sentisse vivo de uma maneira inesquecível. Era como se de repente todos os desígnios da minha vida ficassem claros.
     Naquele momento senti como se todas as barreiras que me separavam da natureza subitamente desaparecessem e eu conseguisse voltar à ela, me sentir parte dela.
     A consciência do meu lugar neste mundo, intrinsicamente ligado à natureza foi se reforçando ao longo da vida. Os valores materiais do mundo nunca me interessaram muito. Sempre vivi como alguém que está de passagem, observa tudo, sente as coisas e se vai, experimentando novos caminhos.
     Um observador participante, ávido por conhecer, sentir, experimentar. Talvez sabendo no subconsciente que esta vida é só um estágio, nesse planeta belíssimo, e que logo o estaremos deixando e colhendo os frutos das nossas ações por aqui.
     Uma consciência que fui adquirindo aos poucos, mas que naquele momento mágico, se tornou clara para mim, na água gelada de um lago tão alto, tão isolado e silencioso.

     Boa segunda-feira à todos

     Ricardo Stumpf Alves de Souza