Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Rapidinhas

Igreja dos reis magos



     Em visita a Vitória do Espírito Santo, fui passear pelas praias ao norte da capital, no município de Serra e encontrei essa preciosidade: a igreja dos Reis Magos, na localidade de Nova Almeida, sobre uma elevação, pertinho do mar.
     A edificação é de 1615 e foi construída pelos jesuítas para catequização dos índios, que ainda vivem nas redondezas. Desde 1943 é tombada opelo Iphan e já passou por várias restaurações.     
     Além da igreja, há ao lado o convento dos jesuítas. Na verdade o edifício segue as normas dos colégios jesuítas da época, com a igreja e a área onde viviam os alunos reclusos e os padres jesuítas, separadas pela torre dos sinos.
     A área do convento/escola tem um pátio interno e através dela também se alcança a igreja. Quem entra por esse pátio sai na frente do altar e tem aquele impacto. É uma peça linda, toda esculpida em madeira (foto ao lado). Uma coisa incrível.
     No centro do altar uma pintura à oléo sobre madeira representa os três reis magos.
          O visual do local é de tirar o fôlego, com vista para as praias lá embaixo e para o povoado de Nova Almeida, com suas duas pontes.
     Uma beleza. Não deixe de visitar
      
Mude de canal

     Sinceramente, não entendo esse tipo de campanha que se faz pela intenet visando tirar do ar o BBB12, acusando-o de ser antiético, um insulto à cultura, etc.
     Ninguém é obrigado a assistir a nenhum programa e os telespectadores podem mudar de canal quando quiserem. Se estão reclamando é porque querem continuar a assistir a TV Globo, cuja programação, em geral, prima pelo baixo nível cultural e pela manipulação da informação.
     Não vejo ninguém fazer campanha para tirar do ar o Programa do Ratinho, que é pura baixaria, ou o do Gugu, que não passa de um monte de idiotices sentimentalóides, ou mesmo o Domingão do Faustão, que é outra porcaria, sem falar no horror que é o Silvio Santos.
     Na verdade parece que as pessoas estão hipnotizadas pela programação e não gostam de alterações.
     Pra quem quer ver programas com nível cultural mais alto, sugiro a TV Brasil ou a TV Escola (pra quem tem parabólica), que tem coisas excelentes. Tirar o BBB12 do ar não vai mudar nada. O que resolve é mudar de canal.

Dilma e os direitos humanos

     A postura da presidente Dilma Roussef sobre direitos humanos em Cuba tem três lados. O primeiro é o mais visível, quando ela diz que o tema não deve ser usado como arma política e idológica.
     Os americanos que tanto criticam Cuba, tem uma prisão dentro da ilha, que está completamente fora das leis internacionais, onde mantém há mais de uma década prisioneiros sem acusação formal, submetidos a torturas e maus tratos, muitos deles sequestrados em seus próprios países por forças da CIA. Também não admitem que houve um golpe em Honduras e apóiam o governo eleito em condições completamente antidemocráticas. Honduras é hoje o país onde mais se desrespeitam os direitos humanos e onde ocorreu em 2011 o maior número de assassinatos de jornalistas de oposição.
     Aliás, o histórico de apoio americano a ditaduras, inclusive à brasileira, é imenso.
     O outro lado é a prática diplomática do Itamarati de fazer as coisas na surdina. Eles sabem que a democratização em Cuba será um processo difícil, que passa por uma negociação interna muito densa e apostam que a liberação virá aos poucos. Uma espécie de abertura lenta e gradual, como ocorreu no Brasil, e sabem que nós podemos ser fiadores dessa negociação, desde que não nos coloquemos em atitude crítica ao regime.
     Então procuram se manter numa posição de neutralidade pró-ativa, apoiando o processo e apostando que a longo prazo a ilha aceitará a cláusula democrática da Unasul, para ser aceita como membro pleno, o que reforçaria muito a posição geopolítica da América latina, visto que a Ilha tem um peso militar e político considerável.
     O último viés é econômico. A abertura em Cuba, em direção a uma economia mista de estilo chinês, poderia alavancar o desenvolvimento da ilha tornando-a, no futuro, uma base de exportação de produtos e serviços brasileiros para os Estados Unidos e Europa devido à sua posição geográfica, por empresas nossas com investimentos lá.
     Mas a postura do governo cubano negando a saída da blogueira Yaoani Sanchez não ajuda nada. Perderam a oportunidade de se livrar de uma voz incômoda, já que no Brasil ela teria que renunciar ao seu blog, por não poder exercer atividades políticas. A lógica da burocracia cubana é burra como a de todos os regimes autoritários.
O Primo Basílio

     Tenho procurado suprir as falhas na minha formação literária, lendo, às vezes, clássicos da literatura que me passaram despercebidos pela vida. É o caso do romance O Primo Basílio, do escritor português Eça de Queirós ( na foto abaixo, à direita), que só agora tive oportunidade de ler, embora já tivesse assistido à alguns capítulos da minissérie na TV.
     Numa bela edição da Ateliê Editorial (São Paulo, 2004), comecei a ler desinteressadamente, mas fui logo arrebatado pela história. Um enrêdo simples, ao qual o próprio autor colocou o subtítulo de Episódio Doméstico, onde uma esposa devotada é tentada a trair o marido com um primo que retorna rico do Brasil e é vigiada e chantageada por uma empregada.
     Mas a história ganha importância na medida em que o autor descreve a sociedade portuguesa da época (1878), especialidade dele, que eu já havia conhecido na fantástica minissérie da TV Globo, Os Maias. Sem dúvida a melhor minissérie feita até hoje pela emissora e a melhor atuação que eu conheço do ator Fábio Assunção.
     Portugal do final do século XIX, com sua decadente monarquia, que atrasava o país diante de uma Europa às voltas com revoluções políticas, como a Comuna de Paris, e econômicas, principalmente a  revolução industrial.
     A sutil comparação entre a miséria do povo e as afetações de uma burguesia tributária de empregos públicos, praticante de uma oratória vazia e pretensiosa, exemplificada magistralmente na figura do Conselheiro Acácio, sempre cheio de frases de efeito, atribuindo-se valores morais que não tinha, numa sociedade hipócrita, onde a vida secreta dos fidalgos e da nascente burguesia era povoada de amantes, traições e problemas intestinais, vai revelando o lado tragicômico do atraso português.
     Nas descrições sutis dos sentimentos dos personagens e dos ambientes da Lisboa da época, o autor nos faz viajar por uma situação política bem demarcada no tempo e no espaço, enquanto, ao mesmo tempo, nos revela com maestria traços universais da natureza humana.
     As afetações do primo, que havia enriquecido especulando no Brasil e passa a olhar Portugal com o olhar típíco das elites subalternas, que admiram as metrópoles e passam a desprezar o seu próprio país, assim como seu machismo egoísta e devasso, indiferente ao sofrimento que causava em consequência das suas conquistas amorosas, que só visavam seu próprio prazer e o estímulo de sua vaidade, são de comportamentos exemplos que existem até hoje entre nós.
     A situação de dependência e submissão das mulheres, expostas à violência dos homens, assim como as rebeldias exaltadas daqueles que não conseguiam as benesses do Estado, mas que se extinguiam rapidamente assim que uma posição era conquistada, também ainda se vem muito por aqui.
     A capacidade do autor em nos prender é impressionante, sem fazer nenhuma concessão à qualidade do texto. No meio do romance, encontrei a parte que Arnaldo Antunes lê na música Amor I Love You, cantada por Marisa Monte:
     E Luisa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria dum luxo radioso de sensações!
     Uma beleza de livro. Uma jóia da língua portuguesa.