Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 11 de dezembro de 2011

Rapidinhas

Estrada da morte

     A BR-116, no trecho entre Vitória da Conquista e Feira de Santana se tornou uma sentença de morte para centenas de brasileiros que precisam trafegar por ela, simplesmente porque não suporta mais o tráfego pesadíssimo de carretas que transportam grande parte das meradorias que circulam entre o sul-sudeste e o nordeste.
     Este trecho da maior rodovia do Brasil já deveria ter sido duplicado há mais de 20 anos, no entanto, não entendo porque, nunca entra nos planos do governo, que já duplicou várias partes da mesma rodovia, mais ao norte e mais ao sul.
     No último domingo, dia 04, voltei de carro de Salvador para Vitória da Conquista, no dia seguinte ao acidente que vitimou 34 pessoas em Brejões. Denecessário dizer que viajei assustado, embora sempre que viaje pela Rio-Bahia me previna muito. São milhares de carretas enfileiradas, coladas umas às outras, rodando a mais de 100 km por hora, enquanto automóveis e ônibus ficam espremidos entre elas.
     Passar no local do acidente foi muito triste.
     Já vi muita gente morrer nesta estrada, por absoluto descaso das autoridades. Até quando vamos assistir a isso? Feira de Santana se tornou um importante pólo industrial, Vitória da Conquista também está crescendo rapidamente. Entre as duas, Jequié já desponta como uma importante cidade do sertão baiano.
     Mas o tráfego de carretas vem de muitas partes do Brasil, já que a116 liga o Rio Grande do Sul à Fortaleza.
     Caberia aos prefeitos da região uma mobilização para incluir no PAC a obra de duplicação desta rodovia tão importante para o Brasil.
     Aliás, o gigantesco tráfego de mercadorias já viabilizaria uma ferrovia, que cobrisse o mesmo trajeto, tirando milhares de carretas das estradas. Ferrovia e duplicação, seria a solução adequada. Será que dá pra gente sonhar com isso ou vamos continuar assistindo a cada vez mais gente morrer tragicamente?


Empreendedorismo?

     
Gente, não existe coisa mais chata do que o discurso dos administradores de empresa, desses que endeusam o SEBRAE e ficam dando aulinhas de capitalismo para os desempregados.
     Um horror!
     Acho que foram eles que inventaram os livros de autoajuda. Só pode! Ficam repetindo aquelas frases de efeito, tentando motivar as pessoas a só pensar em sucesso, em ganhar dinheiro, "vender" sua imagem pessoal, como se a pessoa fosse um produto de consumo.
     Depois reclamam que o mundo está violento, que os valores humanos estão desaparecendo...
O resultado dessa mentalidade gerencialista é esse mesmo. Se o que importa é ser bem sucedido na vida, então vale tudo, traficar, matar, roubar, desde que a pessoa consiga "atingir seus objetivos".
     Os heróis dessa gente são a Miriam Leitão (Arghh!), o Henry Ford, o Walt Disney e o dono da Wall Mart.   
     Mas será que empreendedorismo é isso? Eles dizem que empreender é inovar e criar, mas levam tudo para o lado do capitalismo mais selvagem. Será que não dá pra empreender em outras áreas que não seja só a busca de lucros? Para mim empreender é ter iniciativa. Em qualquer área.
     Lula foi um empreendedor na política. Mudou o Brasil. Gandhi também e mudou a humanidade. Irmã Dulce, o Marcehal Rondon, Juscelino Kubitschek, os grandes cientistas como Pasteur com sua penicilina e outros que fazem avançar a medicina. todos foram empreendedores. 
     Empreender não é só saber ganhar dinheiro, nem transformar tudo em mercadoria. Isso está errado. E o SEBRAE está impregnado desta mentalidade mesquinha horrível. Por isso as empresas brasileiras não duram nada. Empreender é ser criativo, mas sobretudo pensar no ser humano, na natureza, no que pode ser melhorado, no que é justo. Tanta criatividade neste país, perdida na mesquinharia de querer apenas auferir lucros, lucros e mais lucros.
     O lucro sustenta a empresa, mas se ela não tiver outro objetivo além desse, não passa de um projeto pessoal de acumulação de riqueza. A empresa precisa ter outro objetivo além da acumulação, algo que beneficie realmente a humanidade, seja uma invenção que facilite a vida, uma forma nova de se comuicar, um remédio para velhas doenças... Só querer lucro não leva à nada.
     Os protestos pelo mundo afora, mostram que esse modelinho está pra lá de falido. Chega desse velho capitalismo sórdido, disfarçado de coisa moderna.

Patrimônio Ameaçado

      O centenário Teatro São Carlos, de Rio de Contas, um dos teatros mais antigos do Brasil, está ameaçado de ruir, por descaso da Prefeitura Municipal, proprietária do prédio, que não lhe dá a manutenção adequada.
     O prédio é tombado pelo IPHAN, mas o Secretário de Cultura local não entende o que é isto. Casado com a funconária administrativa do escritório local do Instituto, os dois, não deixam que nenhum arquiteto permaneça na cidade à frente do órgão, tecendo intrigas e ameaças a todo profissional designado para lá.
     A funcionária usa o cargo para perseguir pessoas que são contra o Prefeito e o Secretário, transformando uma repartição pública Federal, num ninho de intrigas e usando o pequeno cargo que conquistou sem concurso, para fazer política.
     Enquanto isso, o teto do histórico São Carlos ameaça desabar.
    
Projeto de Arquitetura

     
 Estou terminando um ano de ensino de Projeto em uma faculdade recém criada, em Vitória da Conquista, Bahia. Peguei as quatro primeiras turmas que ingressaram em março e segui com três delas no semestre seguinte, ensinando Projeto I, no primeiro semestre e Projeto II no segundo semestre.
     Quando ingressei na Faculdade de Arquitetura, no distante ano de 1976, em Porto Alegre, os alunos só tinham aulas de projeto à partir do quinto semestre. Os quatro primeiros eram tomados com matérias preparatórias, como composição, desenho técnico, matérias teóricas de história, cálculo, etc.
     No primeiro seminário sobre currículo de arquitetura que fizemos em 1978, na UFRGS, uma das reivindicações foi que os alunos tivessem contato com projeto desde o primeiro semestre. De lá pra cá esta passou a ser uma prática comum nas faculdades de arquitetura brasileiras.
     Mas mesmo quando dei aulas de projeto na UnB, na década de 90, eram ainda apenas seis semestres de projeto. Agora são dez.
     Mas como ensinar projeto para alunos que acabaram de entrar no curso, sem a menor noção de desenho ou de metodologia de projeto? Ainda mais numa faculdade que estava abrindo suas portas e não tinha ainda nenhuma experiência acumulada?
     A ementa do curso de projeto I colocava a composição em primeiro lugar, muito corretamente.
     Nos lançamos ao primeiro mês, às aulas de composição, primeiro no plano, valorizando, movimento, ritmo, repetição, direção, sentido, cor e harmonia. Trabalhamos primeiro com pintura sobre papel, colagens e depois passamos aos trabalhos com volumetria. Tentamos trabalhar com Lego, o joguinho de armar, mas a experiência foi um pouco problemática, em função da dificuldade em achar peças adequadas à escala necessária (o Lego original é muito pequeno) e o preço. Como o original é muito caro, os alunos começaram a comprar umas cópias baratas que não se encaixavam bem. Mas mesmo assim conseguiram produzir alguns volumes bem interessantes e puderam sentir a forma, pela primeira vez, brotando das suas mãos e da sua capacidade de criar.
     Para encerrar a primeira unidade, propus aos alunos que escolhessem prédios na cidade e fizessem uma proposta de requalificação de fachadas, em forma de maquetes, ainda sem escala definida, (eles já estavam tendo aulas de maquete na disciplina de Plástica I e de expressão gráfica em Desenho I), desde que não houvesse mudanças na estrutura da edificação. A proposta era fazer maquetes em que uma face representava o edifício como é hoje e a outra a fachada requalificada.
     Uma surpresa. No final do primeiro mês de curso, recebi maquetes muito interessantes.
(nas fotos, a fachada original à esquerda e a modificada à direita)
     A seguir passamos à noção de planta baixa e escala, num rudimento de desenho técnico, que ainda estava sendo ministrado na disciplina de Desenho I, para que eles sentissem como era "entrar" numa edificação.
     Depois de um pequeno exercício, passamos a um seminário sobre condicionantes legais, para que eles entendessem o que era um Plano Diretor e um Código de obras, o que nos levou a tomar contato com a situação de extrema poluição do único córrego da cidade, o Rio Verruga, e resultou num movimento público denominado Abrace o Rio Verruga, que chamou a atenção da opinião pública local.. À partir daí fomos para um segundo exercício de projeto, uma pequena casa acoplada a um barzinho, num bairro popular da cidade, já com terreno definido e noções sobre orientação solar e divisão da planta em áreas; social, íntima e de trabalho.
     Por último passamos à um exercício de requalificação de um construção em final de obra. Eram três sobradinhos geminados, e aí já foi exigida uma primeira noção de apresentação de projeto, com pranchas com margem e carimbo, plantas, cortes e fachadas.
     Os resultados foram animadores e já pudemos observar os prmeiros talentos brotando das turmas.
     Em projeto II, começamos o semestre com um longo seminário sobre "Correntes contemporâneas da Arquitetura", que serviu para que os alunos aprendessem a identificar o que era um projeto moderno, um pós-moderno, uma arquitetura tradicional, vernacular, etc.
     Depois iniciamos nosso projeto do semestre, que era uma residência unifamiliar em uma área nobre da cidade, permitindo a eles grande liberdade criativa, já que o terreno era extenso (756m2) e o uso dos conhecimentos adquiridos até então.
     Novamente resultados muito animadores, com a reafirmação dos novos talentos que vão surgindo em Vitória da Conquista.
     No encerramento, com a apresentação das maquetes (nas fotos acima), além dos desenhos e um pequeno memorial descritivo, pudemos verificar o acerto da linha implementada pelo curso de arquitetura da FAINOR, o primeiro na região sudoeste da Bahia.
     Como profissional me senti realizado por poder coduzir estes jovens a bom termo, com resultados muitos promissores.