Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 30 de junho de 2012

Rapidinhas

Abraço da morte

     Não sei porque tanto escândalo em torno da aliança entre Lula e Maluf em São Paulo. Parece que os analistas políticos nunca viram o PT abraçar um líder da oposição só para afundá-lo de vez. É o famoso abraço da morte. Eles são especialistas em fazer isso. Depois de aceitar a aliança com o PT o líder e seu partido nunca mais podem falar mal do partido. Ficam, assim, impedidos de exercer sua antiga ideologia de direita e não tem mais espaço pra crescer em campo nenhum. Ficam abafados.
     O eleitorado de São Paulo é tradicionalmente conservador. Lula sabe que precisa desse voto conservador pra ganhar a eleição e não pode contar com os que já estão comprometidos com o PSDB. Seu único espaço para crescer junto à direita era Maluf, que não apresenta nenhum risco para ele. É um líder decadente e desmoralizado, em fim de carreira.
     Serra tem a desvantagem de arrancar na corrida eleitoral com 30%, seu teto histórico e não tem pra onde crescer. Haddad, com as alianças armadas por Lula pode tudo.
     Política é arte do demônio.

O golpe do agrotóxico

     No Paraguai, os brasiguaios declararam apoio ao golpe parlamentar que derrubou Fernando Lugo, alegando que uma nova resolução da Secretaria Nacional do Meio Ambiente de lá, obrigava os fazendeiros a declarar, com dois dias de antecedência, o horário em que seriam aplicados agrotóxicos nas lavouras, o tipo de produto, sua toxicidade e os possíveis danos que poderiam causar à saúde humana, já que as nuvens de agrotóxicos não respeitam cercas e se espalham pelas propriedades vizinhas.
    A reclamação partiu de pequenos agricultores paraguaios incomodados com as intensas fumigações promovidas pelos latifundiários brasileiros, que ganharam terras no tempo da ditadura do general Stroessner.
     Acho que pela primeira vez o Paraguai estava dando uma lição de civilidade ao Brasil e ao mundo. Na verdade essa é uma excelente idéia e deveria ser adotada entre nós também.
     Se cuidam tanto do mal que a fumaça do cigarro pode causar aos não fumantes, porque permitir que essas nuvens de agrotóxicos se espalhem sobre terras e cidades, contaminando todos nós?
     Os latifundiários reagiram pensando nos seus lucros e na sua liberdade de fazerem o que quiserem, não importando, ou não, se vão prejudicar os pequenos que vivem ao seu lado. Mas por trás desta reação está também a milionária indústria do agrotóxico, que se sentiu ameaçada.

Esperança de Renovação em Rio de Contas


     Sábado, dia 30 de junho o PDT e o PT de Rio de Contas lançaram as candidaturas de Dr. Cristiano para Prefeito (foto acima) e de Wilton (Tim) para vice. A aliança conta com grande apoio e simpatia da população, sendo favorita para vencer o pleito de outubro deste ano, quando enfrentará a tentativa de reeleição do atual prefeito, Marcio Farias, cuja administração foi marcada pelas perseguições aos que não votaram nele em 2008, fraudando o princípio constitucional que obriga os governantes eleitos a trabalharem em prol de toda a cidadania.
     Esta situação afungentou os investidores da cidade fazendo com que, nos últimos quatro anos o município mergulhasse numa espiral de atraso e estagnação, situação que deve ser revertida com a eleição do jovem Dr. Cristiano, dando novo impulso ao desenvolvimento sustentável desta jóia da Chapa Diamantina, no coração da Bahia.
     Além de PDT e PT, participam da chapa o PCdoB, o PMDB e o PSL.
     Este último sofreu, inclusive, uma tentativa de impedimento para que realizasse sua convenção, onde decidiria pelo apoio a chapa PDT-PT, com o fechamento, por ordem da prefeitura, do Club Riocontense, onde se realizaria o evento.
     Os convencionais, no entanto, conseguiram transferir o encontro para outro lugar e permaneceram firmes no seu apoio à chapa da renovação e convocaram este blog para documentar o momento, ainda pela manhã, em que afixavam na porta do Club o aviso de mudança da convenção para a sede da Associação dos artífices.

    
     Os convencionais do PSL enfrentam a truculência dos que tentam impedir a renovação na política riocontense.





Mário Luz entre os formandos na Dulcina

     Peço licença aos leitores para tietar um pouco meu filho Mário (ao centro, de colete), que acaba de concluir seu curso de artes cênicas, na tradicional Faculdade de Teatro Dulcina de Moraes em Brasília, com a peça Vilarejo Distante, de autoria do próprio elenco.
     Mário começou a fazer teatro em Rio de Contas, onde participou da fundação e atuou no grupo Loucos por Arteatro. Na mesma cidade também trabalhou como locutor da Rádio Rio de Contas FM, onde dirigia o programa Balanço Modulado.
     A qualidade de todo o elenco já foi ressaltada por mim na edição anterior, quando passei também a ficha técnica do espetáculo.
     Destaco também a participação de minha neta Joana (última à direita), como atriz convidada. Ela que tem apenas 10 anos, interpretou a criança e foi muito bem avaliada pelo grupo e pelos espectadores.
     Mais um talento artístico desponta na família.
     Como pai e avô é impossível não se orgulhar.
Trabalho e vida


     O que é um bom emprego?
     É o que paga um bom salário, embora não te faça feliz?
     É o que te permite realizar seus sonhos, ajudar a humanidade, mas não paga suas contas?
     O que dizem as empresas?
     Suba na vida! Venha fazer parte da nossa família! Nos ajude a construir um sonho! E daí por diante.
     Mas o que é subir na vida? Acumular coisas?
     Que família é essa das empresas que na primeira crise demite seus familiares, deixando-os na porta da rua?
     Que sonho é este que as empresas constroem, senão o sonho de riqueza e poder de seus proprietários?
     Os sindicatos pedem bons salários, estabilidade, segurança, preocupados sempre com a situação econômica dos seus filiados, mas não se preocupam com a felicidade deles.
     Quem de nós já não teve aquela sensação terrível de se sentir obrigado a ir trabalhar, sabendo que vai encontrar um ambiente ruim, infeliz, deprimido?
     Mas afinal, o que pensam os departamentos de pessoal das empresas sobre o prazer dos funcionários em trabalhar? Será que alguém se preocupa com isso, ou só pensam em forçá-los a produzir mais e mais, aumentando os lucros.
     Na verdade trabalhar com prazer é uma das melhores coisas desta vida. Se as empresas descobrissem isso, como tudo seria diferente! Mas os ambientes de trabalho são tão ruins, tão carregados de negatividade, que as pessoas já chegam trazendo o peso de outras experiências negativas e se armam contra os colegas, os chefes, as ordens, o horário e tudo mais que lhes é imposto, prejudicando seu desempenho. Estão se vingando de outras humilhações a que foram submetidos.
     Me lembro de uma desenhista que tive quando era o chefe de uma seção de projetos numa repartição pública, em Brasília. Ela me pediu para ajudá-la a ser transferida para o local onde eu trabalhava e por fim veio trabalhar conosco. Mas logo de início se tornou muito agressiva comigo. Eu não entendia, pois sempre a havia tratado bem. Só depois de alguns meses ela me confessou que tinha profunda antipatia por arquitetos, pois no lugar de onde ela veio, eles nem falavam com os desenhistas.
     Depois que ela percebeu que nosso ambiente era diferente, se desarmou, relaxou e ficou muito simpática. Ou seja, ela tinha trazido a carga de outro ambiente.
     O melhor trabalho é aquele em que a gente se diverte. Não é à tôa que os trabalhadores brincam com ditado; "a gente ganha pouco mais se diverte", ou como dizia aquele parachoque de caminhão: Tá ruim mas tá bom!
     Há muitos anos percebi que um bom ambiente de trabalho vale mais do que um salário mais alto. O ideal é que os dois andem juntos, é claro, mas tendo que escolher, prefiro sempre me divertir, pois a maior parte de nossas vidas nós passamos em ambientes de trabalho. Na verdade tirando a convivência familiar, o trabalho é a experiência mais importante de nossas vidas.
     E quando vejo pessoas que trabalharam a vida toda em ambientes ruins e não puderam ter a felicidade de construir alguma coisa em que acreditavam, de conviver com gente alegre e brincalhona, de dar o sangue para participar de um esforço coletivo vitorioso, percebo como se tornam pessoas tristes e amargas. Talvez tenham até "subido na vida", ou "participado da grande família empresarial", ajudando a construir o sonho dos seus proprietários ou chefes, mas perderam suas vidas sem construir nada de seu, sem aproveitar aquela sensação boa de colocar um tijolinho na experiência da humanidade.
     Trabalho é vida e quando ele é bom, a vida também se torna boa, mesmo que seja difícil.
    

      
    
    

domingo, 24 de junho de 2012

Rapidinhas

Mais uma turma de artes cênicas se forma na Dulcina

     Assisti em Brasília ao espetáculo Vilarejo Distante, escrito e montado pela turma de artes cênicas que está concluindo o curso neste semestre na Faculdade Dulcina de Moraes.
     A peça trata do universo humano das pequenas ciddades, onde aparentemente todos são felizes e despreocupados, mas que esconde as mesquinharias humanas, que pelo pequeno tamanho da comunidade, acabam por se tornar conhecidas de todos.
     Essa verdade universal sobre as pequenas cidades fica muito bem representada no texto, onde a natureza humana de cada um vai se revelando aos poucos até seu desfecho trágico.
     Muito bonito o texto e a atuação do elenco, especialmente da pequena Joana Alves.
     Para quem quiser assistir, a peça ainda está em cartaz neste sábado e domingo no Teatro Dulcina, às 20,h. com entrada franca. A platéia é para apenas 70 espectadores.
     Abaixo a ficha técnica.

Sabe aquele tipo de lugar onde muitos desejariam morar? Aquele em que você acorda de manhã sem o barulho irritante dos despertadores, ou carros buzinando, ou até mesmo os vizinhos brigando logo cedo? Não, nada disso existe aqui. Aqui todos se conhecem e se ajudam. Ninguém... faria nada. Aquilo nunca aconteceria aqui.
ELENCO:
Alessandra Sales
Flávio Monteiro
Jeferson Alves
Mário Luz
Murillo Rocha
Sami Maia
Sérgio Dhubrann
ATORES CONVIDADOS:
Joana Alves
Paulo Wenceslau
DIREÇÃO, ILUMINAÇÃO e TRILHA:
Rodrigo Fischer
PREPARADORA VOCAL
Gislene Machado
COREOGRAFIA
Lívia Bennet
DRAMATURGIA
Direção e Elenco
COLABORAÇÃO DRAMATÚRGICA
Jonathan Andrade
OPERAÇÃO DE LUZ:
Anna Moura
OPERAÇÃO DE SOM:
Arthur Machado
CENOGRAFIA:
Ricardo Baseggio
FIGURINO:
Flávio Monteiro
COLABORADORES DO PROCESSO:
Diana Diniz
Eduardo Barón
Fernando Gutiérrez
Jonathan Andrade
Luana Miguel
Roberta Matsumoto


A sombra do fascismo

     O golpe de estado disfarçado no Paraguai dá bem a medida da nova estratégia da eterna aliança dos Estados Unidos com as elites mais atrasadas da América Latina. Como em Honduras, fingiram seguir as regras constitucionais para derrubar um presidente eleito, em um rito sumário, sem direito de defesa, para defender os interesses dos grandes proprietários de terras, assustados com as invasões dos "sem-terra" de lá, que ameaçam seu predomínio (1% dos proprietários rurais detém 77% das terras paraguaias).
     Lugo não é o culpado pela situação, que é antiga, mas o pretexto foi usado para restabelecer a ordem anterior, com a velha direita no poder.
     Os Estados Unidos e Canadá, a "colônia do norte", já se manifestaram à favor do golpe, o que nos mostra o rastro de quem arquitetou a coisa toda: a CIA e Departamento de Estado americano.
     Para isso utilizaram um sujeito chamado Horácio Cartes, com ligações com o narcotráfico e a ditadura chilena de Pinochet. Cartes é o pré-candidato à presidência pelo Partido Colorado, o mesmo que sustentou a ditadura do general Alfredo Stroessner, que durou de 1954 a 1989.
     Não se iludam, eles não vão se contentar com pequenos países, como Honduras e Paraguai. Primeiro testam nestes para depois aplicar nos grandes, Brasil inclusive. É hora de reagir.

O mundo dominado pelas grandes corporações

     Este pode ser o enunciado final da Rio + 20, onde as grandes questões sociais, levantadas em paralelo pela Cúpula dos Povos, foram totalmente ignoradas.
     A preocupação da ONU é a de permitir uma transição para a chamada "economia verde", sem ruptura com os interesses das grandes corporações que dominam a economia mundial e fraudam a democracia construída com tanto sacrifício pelos povos da Terra.
    

     Este blog acaba de completar 20.000 acessos. Obrigado a todos os que tem me prestigiado com sua leitura e seus comentários.




    

Prezados amigos leitores.
     Recebi de meu amigo Esmeraldo Filho, de Vitória da Conquista, esta história incrível. Um mestrando de psicologia social da Universidade de São Paulo, se disfarçou de gari para comprovar a sua tese sobre "invisibilidade pública". Vale a pena ler.
     E tem gente que ainda diz que a luta de classes não existe.
     Sua experiência é uma lição para todos nós.
     A entrevista foi transcrita do Diário de São Paulo.

PSICÓLOGO GARI


Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da
"invisibilidade pública". Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam
apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse
critério, vira mera sombra social.

Fonte: Plinio Delphino,
Diário de São Paulo.

"A moral e os costumes que dão cor à vida, têm muito maior importância do que as
leis, que são apenas umas das suas manifestações.
A lei toca-nos por certos pontos, mas os costumes cercam-nos por todos os lados,
e enchem a sociedade com o ar que respiramos. 
Toda ação repetida gera hábito.
O hábito muda o caráter.
O caráter muda a existência.
Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível"


O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos
como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao
olhar da maioria, os trabalhadores braçais são "seres invisíveis, sem nome". Em
sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da
"invisibilidade pública", ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e
não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o
salário de R$ 400,00 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior
lição de sua vida:

"Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um
sopro de vida, um sinal da própria existência", explica o pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser
humano. "Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim,
não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e,
sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado
em um poste, ou em um orelhão", diz. Apesar do castigo do sol forte, do
trabalho pesado e das humilhações diárias, segundo o psicólogo, são acolhedores
com quem os enxerga. E encontram no silêncio a defesa contra quem os ignora.

Diário - Como é que você teve essa idéia?

Fernando Braga da Costa - Meu orientador desde a graduação, o professor José Moura Gonçalves Filho, sugeriu aos alunos, como uma das provas de avaliação,
que a gente se engajasse numa tarefa proletária. Uma forma de atividade
profissional que não exigisse qualificação técnica nem acadêmica. Então,
basicamente, profissões das classes pobres.

Com que objetivo?

A função do meu mestrado era compreender e analisar a condição de trabalho deles
(os garis), e a maneira como eles estão inseridos na cena pública. Ou seja,
estudar a condição moral e psicológica a qual eles estão sujeitos dentro da
sociedade. Outro nível de investigação, que vai ser priorizado agora no
doutorado, é analisar e verificar as barreiras e as aberturas que se operam no
encontro do psicólogo social com os garis. Que barreiras são essas, que
aberturas são essas, e como se dá a aproximação.

Quando você começou a trabalhar, os garis notaram que se tratava de um estudante
fazendo pesquisa?

Eu vesti um uniforme que era todo vermelho, boné, camisa e tal. Chegando lá eu
tinha a expectativa de me apresentar como novo funcionário, recém-contratado
pela USP pra varrer rua com eles. Mas os garis sacaram logo, entretanto nada me
disseram. Existe uma coisa típica dos garis: são pessoas vindas do Nordeste,
negros ou mulatos em geral. Eu sou branquelo, mas isso talvez não seja o
diferencial, porque muitos garis ali são brancos também. Você tem uma série de
fatores que são ainda mais determinantes, como a maneira de falarmos, o modo de
a gente olhar ou de posicionar o nosso corpo, a maneira como gesticulamos. Os
garis conseguem definir essa diferenças com algumas frases que são simplesmente
formidáveis.

Dê um exemplo.

Nós estávamos varrendo e, em determinado momento, comecei a papear com um dos
garis. De repente, ele viu um sujeito de 35 ou 40 anos de idade, subindo a rua
a pé, muito bem arrumado com uma pastinha de couro na mão. O sujeito passou
pela gente e não nos cumprimentou, o que é comum nessas situações. O gari, sem
se referir claramente ao homem que acabara de passar, virou-se pra mim e
começou a falar: "É Fernando, quando o sujeito vem andando você logo sabe se o
cabra é do dinheiro ou não. Porque peão anda macio, quase não faz barulho. Já o
pessoal da outra classe você só ouve o toc-toc dos passos. E quando a gente está
esperando o trem logo percebe também: o peão fica todo encolhidinho olhando pra
baixo. Eles não. Ficam com olhar só por cima de toda a peãozada, segurando a
pastinha na mão".

Quanto tempo depois eles falaram sobre essa percepção de que você era diferente?

Isso não precisou nem ser comentado, porque os fatos no primeiro dia de trabalho
já deixaram muito claro que eles sabiam que eu não era um gari. Fui tratado de
uma forma completamente diferente. Os garis são carregados na caçamba da
caminhonete junto com as ferramentas. É como se eles fossem ferramentas também.
Eles não deixaram eu viajar na caçamba, quiseram que eu fosse na cabine. Tive de
insistir muito para poder viajar com eles na caçamba. Chegando no lugar de
trabalho, continuaram me tratando diferente. As vassouras eram todas muito
velhas. A única vassoura nova já estava reservada para mim. Não me deixaram
usar a pá e a enxada, porque era um serviço mais pesado. Eles fizeram questão
de que eu trabalhasse só com a vassoura e, mesmo assim, num lugar mais
limpinho, e isso tudo foi dando a dimensão de que os garis sabiam que eu não
tinha a mesma origem socioeconômica deles.

Quer dizer que eles se diminuíram com a sua presença?

Não foi uma questão de se menosprezar, mas sim de me proteger.
Eles testaram você?
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica
sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima
estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles.
Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço.
Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as
latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a
gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca
apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e
claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de
refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem
barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece
que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: "E aí, o jovem
rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?" E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou.
Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?

Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei
no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi
escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei
em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente
conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma
sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma
angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido
sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho
atordoado.

E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?

Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações
pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor
meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma
idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore,
um orelhão.

E quando você volta para casa, para seu mundo real?

"Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido
nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa
experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são
meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias.
Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o
trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um
animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem
uma 'COISA".

domingo, 17 de junho de 2012

Rapidinhas

Novos caminhos 

     As críticas mais comuns que aparecem nos jornais e sites, a respeito da política nacional, dizem respeito a falta de seriedade do Congresso Nacional, à corrupção dos políticos, que só agem em benefício próprio e à falta de "jogo de cintura" da presidente Dilma para dialogar com o Congresso.
     A mesmice reinante na imprensa nacional não percebe que uma coisa é o contraponto da outra. Dilma não negocia com o Congresso porque é contra essa politicagem do "é dando que se recebe" e trata de montar uma equipe com gente qualificada para os cargos.
     Por isso sua popularidade se mantém alta, justamente porque ela não participa desse tipo de política.
     Aos poucos ela vai impondo um novo padrão de gestão, baseado na competência técnica, enquanto os deputados e senadores da base, "ensaiam" rebeliões, mas não tem pra onde correr.
     Pode ser que uuma nova pratica politica esteja se consolidando, deixando para tras velhas raposas da politica nacional e ate, quem sabe, os atuais partidos, enrolados com sus mensaloes.

Aquelas pequenas coisas


     Desmontar a casa de minha mãe, recém falecida, foi ter que lidar com um monte de pequenos objetos que ela colecionou durante toda a vida. Isto foi muito difícil, pois cada coisa tinha o seu significado e a sua lembrança.
     Eu nao quis quase nada. Preferi guardar dela os melhores momentos, suas bençãos e ensinamentos.
     Dentre as poucas coisas que peguei, um CD de Mercedes Sosa, cantando a musica aquellas pequeñas cosas, com o cantor espanhol Joan Manuel Serrat, que eu não ouvia há anos.
     Impossível nao relacionar as duas coisas. Nao deu pra não chorar muito.
     Divido com vocês, amigos leitores, esta gravação belíssima (com uma tradução minha para o português)

Aquellas Pequenas Cosas

Uno se cree          A gente acredita
que las mató           que as matou       
el tiempo y la ausencia  o tempo e a ausencia
Pero su tren        Mas o seu trem
vendió boleto          vendeu passagem
de ida y vuelta.  de ida e volta

Son aquellas pequeñas cosas,   Sao aquelas pequenas coisas
que nos dejó un tiempo de rosas      que nos deixou um tempo de rosas
en un rincón,    em um canto
en un papel      em um papel
o en un cajón.       ou em uma caixa

Como un ladrón      Como um ladrao
     te acechan detrás   Te observam detras
de la puerta     da porta
Te tienen tan  E nos tem
a su merced      a sua merce
como hojas muertas     como folhas mortas

que el viento arrastra allá o aquí,  que o vento arrasta ali e aqui
que te sonríen tristes y      que te sorriem tristes e
nos hacen que  nos fazem
lloremos cuando     Chorar quando
        nadie nos ve    ninguem nos ve

http://www.youtube.com/watch?v=qhxQqv975QQ

Piauí
Crânio de homem pré-histórico no Museu do Homem Americano    

Prezados amigos
     A semana passada, vindo de Fortaleza para Brasília de carro, percorri boa parte do interior do Piauí, do meio para o sul, e fiquei admirado com as coisas que vi.
Boas estradas asfaltadas, muitas cidades cheias de vida e de dinamismo econômico, prenunciam que aquela região está se desenvolvendo muito rapidamente, embora as cidades ainda careçam de boa infraestrutura.O Piauí é uma mistura muito interessante de passado e futuro. 
     De Fortaleza até a divisa do Piauí, seguimos pela BR-020 e depois até Picos, uma cidade ainda desestruturada, mas cheia de vida e de grandes negócios, a maior produtora de mel do Brasil. De lá seguimos pela BR-230, em direção à Floriano, passando por Oeiras, antiga capital do Estado (fundada em 1695, tornou-se capital em 1759 e foi capital até 1851), uma cidade histórica, com um patrimônio surpreendente, bem preservado pelo IPHAN.     
     Patrimônio histórico em Oeiras


Frontão da Igreja de Nossa Senhora da Vitória

     Em Floriano, cidade natal do Marechal Floriano Peixoto, descobrimos que estávamos às margens do rio Parnaíba, já na divisa com o Maranhão. A cidade, muito movimentada e confusa, estruturada em torno de uma avenida principal que vai serpenteando desde uma parte mais alta até a praça, próximo à beira-rio, possui uma orla muito simpática, com bares e restaurantes e um pequeno porto, de onde parte um barquinho de passageiros rumo à cidade que fica do lado maranhense: Barão de Grajaú. Uma grande ponte rodoviária faz a ligação entre os dois estados.
     Na beira do rio um agradável restaurante flutuante, típico da amazônia, demonstrando que já estávamos entrando em outro ambiente (sempre achei que o Maranhão é muito mais norte que nordeste). O jantar no restaurante flutuante foi bom e barato. Boa comida e cerveja gelada para relaxar do estirão desde Fortaleza.




Beira-rio em Floriano, às margens do Parnaíba e o restaurante flutuante

     Claro que não resistimos a pegar o barquinho e ir a Barão de Grajaú, pagando R$1,00 por pessoa, e de repente nos vimos no meio de uma animada festa de São João, no meio de uma praça iluminada, com um daqueles parquinhos com roda gigante, tiro ao alvo, etc.
     Em Floriano também encontramos alguns prédios históricos muitos bonitos em bem conservados.

À esquerda, prédio histórico em Floriano (atual sede do CRAS da cidade). À direita a animação da festa de São João em Barão de Grajaú.
     No dia seguinte seguimos pela rodovia estadual PI-140, rumo a Canto do Buriti. estrada ótima, de asfalto novinho em folha. Em Canto do buriti, vimos a placa: São Raimundo Nonato. Estava 100 Km fora do nosso trajeto, mas não deu pra resistir. Há anos eu sonhava em visitar este lugar.
     Pegamos ourtra estrada que parece um tapete, por uma caatinga linda e deserta, até chegar à entrada da cidade onde nos aguardava uma enorme estátua de um tatú e a placa que procurávamos, indicando o Parque Nacional da Serra da Capivara, local de descobertas arqueológicas importantíssimas, feitas pela arqueóloga Niéde Guidon e sua equipe.

     Seguimos até o parque, passando por outras estátuas gigantes de exemplares da fauna local, (uma siriema e duas onças) e conseguimos contratar um guia para visitar alguns sítios arqueológicos e a famosa Pedra Furada (parecida com a de Jericoacoara, no litoral do ceará). Muito pouco para tantos sítios que o parque oferece (mais de mil), assunto para uns três dias de visita. Mas valeu a pena.

                              Eu estou embaixo das onças gigantes
     O parque é muito organizado e limpo. É preciso pagar R$75,00 para um guia e mais R$11,00 por pessoa (estudantes pagam meia). Mas vale a pena.

     Visitamos a Toca do Boqueirão, onde se encontram alguns dos desenhos mais famosos, como a Capivara, que dá nome ao parque e O Beijo". Passa-se sobre uma passarela próxima a um imenso paredão que se inclina sobre nós, onde estão os desenhos, para que se possa visualizá-los de perto.


     Os desenhos são mesmo incríveis. As idades variam de 5.000 a 12.000 anos, sendo que muitas eras se superpõem, podendo haver desenhos com milhares de anos de diferença entre si, no mesmo painel.
     Eles são um recado direto dos habitantes de outras eras para nós. Um grafite que alguém deixou para o futuro e que continua lá, preservado.


À esquerda, a capivara que deu nome ao parque. à direita, a cena conhecida como "o beijo". Abaixo à esquerda, painel com cores variadas e desenhos de épocas diferentes superpostos. À direita a famosa "pedra furada", obra da natureza, quando a região ainda era fundo de mar.


    
     A próxima surpresa é o Museu do Homem Americano, situado nas proximidades da ciadade de São Raimundo Nonato, em área da UNIVASF, Universidade do Vale do São Francisco.
     A entrada do museu, por uma estradinha esburacada, não promete nada, mas o museu em si é uma jóia high tech, no meio da caatinga. Todo auto explicativo, cheio de painéis eletrônicos, tem um enorme salão, onde estão um grande sofá em forma de arco e uma tela de cinema, onde as figuras desenhadas nos paredões são apresentadas em movimento e agrupadas por temas: caça, sexo, lutas, animais, seres humanos, etc. Muito bom.


À esquerda, entrada do Museu do Homem americano em São Raimundo Nonato. À direita, a cena do beijo, em animação, na grande tela no interior do museu.



O maná do Gurguéia

     Saindo de São Raimundo Nonato, tivemos que retornar 110Km para Canto do Buriti, de onde retomamos nossa viagem pela rodovia PI-324 em direção a Eliseu Martins, e em seguida pela BR-135 em direção ao sul, que nos levaria até Barreiras na Bahia, e paramos para dormir numa pequena cidade chamada Colônia do Gurguéia. Mas logo que tomamos a BR-135, uma placa me chamou a atenção. Ela dizia: você está entrando no maná do Gurguéia. Procurei me lembrar do significado da palavra maná,  (um alimento inesgotável de origem divina). Que coisa estranha seria aquela? Eu já havia estranhado no mapa a quantidade de cidades cujos nomes faziam referência ao tal Gurgéia (Colônia do Gurguéia, Alvorada do Gurguéia, Redenção do Gurgéia e São Gonçalo do Gurguéia). Já no pequeno hotel, revendo o mapa, verifiquei que Gurguéia é o nome de um rio que a BR-135 vai acompanhando. Pensei que a proximidade do rio pudesse dar à região a possibilidade de irrigação de plantações e que por isto seria um lugar propício ao desenvolvimento da agricultura, já que a terra ainda é barata e sol não falta por lá.
Mas o dono do restaurante em que fomos jantar me esclareceu que a riqueza da região está no enorme lençol subterrâneo existente no vale do Rio Gurguéia e na facilidade de perfurar poços de onde a água jorra, sem auxílio de bombas, a uma altura de até 50 metros.
     No outro dia pudemos confirmar esta realidade, passando por vários desses poços na beira da estrada, alguns inclusive com águas termais.

Dois poços artesianos de águas termais, paralelos, jorrando água na beira da BR-135. Paga-se R$1,00, por pessoa, pelo banho numa piscina abastecida com estas águas.

     Realmente estava explicado o tal Maná. O vale do Gurgéia é um verdadeiro presente de Deus e tende a se tornar uma imensa e rica região de produção agrícola, o que já se pode ver pelo intenso tráfego de caminhões e pelas grandes propriedades que estão se estabelecendo à beira da estrada.
     A cidade de Bom Jesus, situada mais ou menos no meio do vale, já é considerada a maior fronteira agrícola do Brasil.

Placa na entrada de Bom jesus atesta a vitalidade econômica da região.

     Assim, o Piauí nos apresenta desde o passado pré-histórico, com o acervo arqueológico mais importante do continente americano, passando pelo passado histórico de Oeiras e Floriano, até o futuro da sua região sul, onde nos próximos anos deverá ocorrer uma explosão econômica de grandes proporções.
     São muitas surpresas para uma viagem só. 

domingo, 10 de junho de 2012

Rapidinhas
Eu sou o 132
     Esse é o nome do movimento estudantil que está tomando conta do México.
     O movimento começou depois que o candidato do PRI, um partido que já governou o México por 70 anos, foi vaiado numa universidade e chamado de assassino.
     O motivo de tudo é que esse candidato, chamado Peña Nieto, já foi governador de um estado mexicano e mandou reprimir uma manifestação, há alguns anos atrás, causando a morte de muitas pessoas. O político reagiu dizendo que a vaia e os xingamentos haviam sido obra de "meia dúzia de extremistas", infiltrados na platéia onde ele fazia sua palestra.
     Os 131 estudantes que estavam presentes no ato contra Peña Nieto reagiram, mostrando suas carteiras de estudante e fazendo questão de se identificar para provar que não eram apenas meia dúzia. A solidariedade, então, se espalhou pelos outros campus universitários do país, onde todos os estudantes agora fazem questão de dizer que eram o centésimo trigésimo segundo estudante, querendo mostrar que a rejeição a Peña Nieto é muito maior do que ele pretende admitir.
     O movimento já fez com que o candidato perdesse vários pontos na pesquisa para o primeiro turno das eleições presidenciais, que ocorrem dia primeiro de julho.
Hora de poupar

     As nuvens negras no horizonte da economia mundial, já estão fazendo o consumidor brasileiro ficar mais cauteloso.
     Apesar dos estímulos do governo para aumentar o consumo, o medo da crise está fazendo com que os brasileiros prefiram quitar suas dívidas antes de se lançar em novas aventuras consumistas.
     O consumo é uma boa locomotiva para a economia, mas tem limites, já que é feito a base de crédito, o que significa endividamento.
     Melhor seria estimular a poupança, de preferência em bancos estatais, que não correm o risco de ir à falência. Assim o governo tem dinheiro para investir em grandes obras e gerar emprego e renda, e não há riscos para o consumidor e nem para o país.
     Como dizia o velho anúncio da formiguinha: quem guarda tem.

Ray Bradbury
     Outro dia, conversando com uma amiga, falei do meu apreço pelos filmes da Disney. Minha amiga ficou surpresa: você gosta da Disney? Talvez pela minha postura muito crítica em relação aos Estados Unidos, principalmente a sua política externa, ela pensava que eu não podia gostar de nada que eles fizessem.
     Pelo contrário, adoro os filmes da Disney, sem violência, sempre com um conteúdo adequado, familiar e com mensagens positivas. Como sou cinéfilo, acompanho desde menino as obras deles. Os clássicos, como A Bela Adormecida, Bambi (hoje considerado um precursor do movimento ecológico) e outros, marcaram minha infância. Mas eles continuam fazendo coisas muito boas até hoje e também se destacam como empresa que respeita os direitos humanos.
     Mas não é só a Disney que eu admiro. Na juventude fui um leitor entusiástico dos autores de ficção científica americanos. Li quase tudo de Isaac Asimov (um russo naturalizado americano), de Arthur Clarke e de Ray Bradbury. Por isso foi com muita pena que li sobre sua morte, aos 91 anos. Suas Crônicas Marcianas foram um dos primeiros livros de ficção científica que li e me ajudaram a abrir a mente para as possibilidades do futuro. Farenheit 451, que vi no cinema, na obra de François Truffaut, também foi marcante na minha formação. Sobre uma sociedade onde os livros eram proibidos e os bombeiros serviam para procurá-los e queimá-los.
     Inesquecível a cena final em que uma mulher ateia fogo aos livros que guardava secretamente, enquanto contempla com um sorriso irônico um exemplar de Mein Kampf, de Adolf Hitler, como a nos dizer que o futuro poderia nos trazer coisas muito piores do que o nazismo.
     Muito devemos a estes autores e sua capacidade de prospectar o futuro.


Exposição de Silvio Jessé

     Recebi o convite do professor e artista plástico Silvio Jessé, que estará com uma exposição de estampas Santo Antoninas, no dia 15 de junho, às 20,00h, no Ânimapop, Espaço de Decoração e Moda, na Av. Jorge Teixeira, 960, bairro Candeias, em Vitória da Conquista, na Bahia.
     Pela qualidade do artista, não dá pra perder.


Em defesa da vida e da lógica

Corpo de criança recém nascida é retirado de um rio
     Em 2010, durante a campanha eleitoral, defendi aqui a legalização do aborto e fui muito criticado por isto. Na época, o assunto estava sendo objeto de manipulações apaixonadas, tanto pelo candidato José Serra, quanto pela candidata Marina Silva, que tentavam imputar a Dilma Roussef a pecha de ser a favor do aborto. José Serra o fazia de forma oportunista, como tudo que ele faz e Marina Silva por questões religiosas, que ela misturou com política, mistura que acabou com suas pretensões presidenciais.
     Agora, que não estamos mais sob aquele tipo de bombardeio midiático, volto ao assunto para defender meu ponto de vista, cansado de ver nas manchetes de jornais, bebês sendo jogados em rios, lagoas, no lixo em sacos plásticos ou em terrenos baldios, por mães desesperadas que sabem que não terão condições de criá-los.
     Em primeiro lugar quero esclarecer que não sou a favor do aborto. Acho uma prática muito ruim, que deve ser evitada a qualquer custo. Mas também sou contra a hipocrisia de achar que no Brasil tal prática não existe. Ela existe sim e é muito comum, embora feita na clandestinidade. Me arrisco a dizer que a maioria das mulheres brasileiras em idade reprodutiva já a praticou em algum momento das suas vidas, e o fez com risco de suas próprias vidas.
     Portanto a afirmação das várias confissões religiosas de que a legalização dessa prática iria permiti-la livremente no Brasil, não passa de um discurso que tenta impor sua fé religiosa aos leigos. Inclusive os espíritas, confissão a qual me filio, também olham para o lado quando se mostra a estatística de abortos clandestinos e as mortes de mulheres produzidas por eles.
     O aborto, assim como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras práticas da vida sexual e reprodutiva humana, não podem ser eternamente prisioneiros de discursos religiosos, pois são temas ligados às liberdades e aos direitos civis dos brasileiros.
     Do mesmo modo que o discurso religioso vai contra a legalização do aborto, também vai contra a educação sexual nas escolas e a distribuição gratuita de camisinhas para a população. Ou seja, querem fingir que o problema não existe e levá-lo para uma esfera moral, enquanto a mídia não cansa de estimular a libido da população através de filmes e novelas onde a sexualidade explícita é mostrada como uma virtude.
     O aborto precisa ser legalizado no Brasil, para que possa ser combatido, ressalvado o período de 90 dias de gestação, ou seja, antes que o coração da criança comece a funcionar, quando tecnicamente a vida do ser humano se inicia.
     Com a legalização, seria possível ter estatísticas confiáveis e criar programas para a prevenção da gravidez indesejada, principalmente entre jovens adolescentes e entre mulheres muito pobres, incapazes de criarem seus filhos, salvando assim muitos bebes de serem mortos depois de nascerem, afogados, triturados vivos em caminhões de lixo, atropelados dentro de sacos plásticos ou simplesmente jogados nas ruas para morrerem de frio ou serem salvos pela sorte.
     A reprodução humana merece um tratamento mais responsável por parte da sociedade brasileira. Fingir que o problema não existe é uma atitude criminosa e irresponsável, que só contribui para o seu agravamento.
     Com a legalização e o controle através de programas adequados, poderíamos conseguir a diminuição dos abortos praticados no Brasil e salvar muitas vidas, não apenas dos pequenos que são gerados sem serem desejados, mas das mães que morrem nas mesas das fazedoras de anjinhos, assim como das vidas de muitas jovens que ficam comprometidas pela gravidez precoce.
     Proibir o aborto não é a melhor maneira de combatê-lo, assim como não o seria proibir o fumo. Observem o sucesso das campanhas antitabagistas, que já fizeram milhões de brasileiros abandonar o cigarro (eu, inclusive). É muito melhor conscientizar do que proibir. Legalizar não significa liberar, mas ao contrário, significa estabelecer controles para melhor combater esse problema.
     É uma simples questão de lógica.
    

segunda-feira, 4 de junho de 2012


Rapidinhas

Incêndios

     Este filme, concluído em 2010 após cinco anos de filmagens, pelo canadense Denis Villeneuve, é um dos retratos mais realistas e trágicos da época em que vivemos. Com um ritmo tranquilo e um roteiro convencional, Villeneuve nos leva a viajar pela tragédia das guerras do Oriente Médio, no final do século XX.
     Sem fazer referência ao país onde se passa a trama, embora nos dê pistas de que se trata da guerra civil do Líbano, na década de 1970, a história mostra todo o absurdo e as tragédias humanitárias que acontecem  numa guerra entre cristãos e muçulmanos, onde todas as fronteiras da civilização são ultrapassadas.
     O resultado é a barbárie e suas consequências sobre a geração seguinte, que no caso do filme, é composta por refugiados em outro país (o Canadá) e que ignoram suas origens..
     A descoberta do passado de uma mãe que enfrentou todas as agruras de uma guerra em busca de um filho e seu trágico reencontro com ele, são o pano de fundo para que possamos entender que nenhuma guerra se justifica e nem se restringe a um só país, mas atinge toda a humanidade.
     A atuação da atriz belga, Lubna Azabal, no papel da mãe é fantástica. as interpretações de Mélissa Désormeaux-Poulin, como a filha, Maxim Gaudette como o filho e Rémy Girard, como o testamenteiro, são corretas e abrilhantam o filme.
     Não deixe de ver. É imperdível!    

Que arquitetura é essa?

     Pretensiosa e triste, enchendo de mais cinza o já cinza ambiente das nossas cidades.

     Não é tradicional brasileira, não é moderna, ...meio americana, meia contorcida, com medo da cor e da alegria, mas se achando "contemporânea".
     Cheia de telhadinhos, de pequenos volumes, mas sem um traço preponderante.
     Pertence a uma nova classe média emergente, sem lastro cultural, que não sabe onde se localizar dentro do universo da elite brasileira. Não sabem quem são, a que mundo pertencem e ficam no meio do caminho.
     Enquanto isso, no resto do mundo...
     Viva a alegria...(Chile)
    E viva o prazer...


     De estar gostando de viver ( Rainbow House)

Egípcios

     Enquanto na Síria o povo ainda luta para se livrar do seu ditador sanguinário, os egípcios tomam um porre de liberdade, protestando contra tudo. Se as eleições demoram eles protestam, se as eleições ocorrem eles protestam, se seu time de futebol perde, eles protestam... Viva a democracia!