Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Paiz



Lógica Corporativa, lógica burocrática e lógica cidadã

     Impressinonante como as empresas tentam impor aos cidadãos a lógica que rege seus negócios. O mundo corporativo é movido por uma cultura própria, baseada na competição e que valoriza a capacidade de convencimento e de liderança.
     Quem já trabalhou em grandes empresas sabe o que é ouvir essas aulinhas de como se comportar, como ser "ético" (ou o que eles consideram que seja ética, como por exemplo, não usar produtos dos concorrentes), como "vender" sua imagem para ser bem sucedido, influenciando pessoas e chefes para conseguir bons resultados no seu trabalho, e até como se pronunciar nas redes sociais, evitando ser crítico, para que o olho dos empresários na rede não identifique na pessoa uma possível fonte de problemas.
     Por outro lado, quem já trabalhou em órgãos públicos sabe como funciona a lógica da burocracia. "quem pode manda e quem tem juízo obedece", diz um dos mais odiosos ditados brasileiros, que serve de justificativa para toda corrupção que anda por aí. Aliás a corrupção também existe nas empresas privadas e, frequentemente, anda de mãos dadas com a corrupção nos órgãos públicos, como podemos ver nos esquemas denunciados no escândalo conhecido como Mensalão.
     Mas a lógica burocrática, fundamentalmente, busca a riqueza através do poder, enquanto a lógica corporativa é o inverso, buscando o poder através da riqueza.
     A lógica burocratica preza antes de tudo a obediência, que garante a eficiência do poder exercido pelos que estão no comando, e através dele, seu acesso à riqueza. A lógica corporativa preza a eficiência, que garante os lucros que vão gerar o poder, que se estrutura ao redor do dinheiro.
     Contra as duas, existe a lógica da cidadania, que é a do bem estar coletivo, dos direitos civis e humanos, que se estruturam através das leis. É a lógica do progresso da humanidade em direção à um mundo melhor, onde todos tenham acesso aos bens e serviços que os valorizem como ser humanos e lhes permitam buscar a felicidade.
     O entrelaçamento dessas três lógicas, desses três discursos, se dá nos meios de comunicação e nos chamados "aparelhos ideológicos" da sociedade, (escolas, mídia, igrejas, etc), resultando numa formação discursiva que pode tender mais para uma ou para outra lógica.
     No capitalismo extremado a lógica corporativa transforma tudo em mercadoria, enquanto nos regimes com tendências estatizantes a lógica da obediência, baseada no patriotismo e em outras justificativas, prevalece. Nas sociedades profundamente democráticas, a lógica da cidadania se sobrepõe às outras duas e as domina, transformando empresas e Estado em instrumentos de progresso da humanidade.
     Nada disso, porém, fica claro para a população, que oscila entre uma e outra lógicas, enquanto vai formando sua experiência de vida coletiva. Países mais desenvolvidos tendem à terceira lógica, a da cidadania, mas como todos os demais, sofrem intensa pressão dos outros dois grupos.
     O Brasil avançou muito na cidadania, mas ainda não foi capaz de identificar com clareza os grupos que trabalham contra ela, seja no poder estatal, seja no mundo corporativo.
     O julgamento do mensalão talvez seja uma excelente oportunidade para passar isto à limpo, principalmente quando se conta com juízes da estatura de um Joaquim Barbosa, verdadeiramente comprometidos com a cidadania brasileira.
Rapidinhas
Bola murcha
     Me desculpem, mas os 8 x 0 sobre a China não me convenceram. Acho que arranjaram um adversário fácil pra encher a bola de Mano Menezes, um técnico que prima pela arrogância e pela incapacidade de montar um time ofensivo.
     Chega de terno Armani, imitando treinadores europeus, mas não resolve e na hora de dar entrevistas fica com aquela cara de idiota. Deve ter aprendido com aquele outro, o Parreira, com aquele sombrancelha levantada estilo Fabian da novela.
     Quando é que alguém vai ter coragem de desvendar a máfia que existe dentro da CBF, com treinadores convocando jogadores só pra valorizar seus passes e ganhar por fora? Romário fez uma denúncia grave sobre isto na semana passada, mas parece que a grande imprensa esta macomunada com tudo.
     Deve ter muito dinheiro rolando por baixo do pano.
     Enquanto isso, o hexa em 2014 parece um sonho cada vez mais distante.
Bola cheia
     Bahia e Vitória estão muito vivos no capeonato brasileiro, séries A e B. Os 4 x 0 do Bahia sobre o Vasco foram de tirar o fôlego (embora o Vasco não tenha jogado nada). Um time que estava na zona de rebaixamento, de repente crescer desse jeito, é mesmo impressionante.
     Enquanto isso, o Vitoria continua liderando a série B.
     Pelo visto, em 2013, se o mundo não acabar, teremos Bahia e Vitória na primeira divisão, com direito a Ba-Vi, na nova Arena da Fonte Nova, que está ficando belíssima.
     Só falta um prefeito que dê um jeito na capital bahiana.
     E viva a Bahia!

PIG, contas de luz e impostos


     A presidente Dilma teve a coragem de reduzir a conta de energia elétrica, contrariando o poderoso lobby das concessionárias de energia, que compraram as estatais no governo FHC a preço de banana.  
    A lógica  é simples: os tucanos diziam que o governo do PT não iria respeitar os contratos assinados durante a privatização, falta gravíssima no mundo corporativo e capaz de desmoralizar qualquer governo. Lula e Dilma respeitaram os tais contratos, que permitiam que empresas estrangeiras explorassem nosso mercado com preços abusivos durante 15 anos, mas agora o prazo dos contratos acabou, e a presidente pode estabelecer novos parâmetros para formação de preços, levando à redução.
     Durate os 15 anos em que os contratos duraram o PIG, Partido da Imprensa Golpista, leia-se Rede Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja, etc, nunca reclamaram dos preços, que impediam que os produtos brasileiros se tornassem competitivos no exterior.
     Agora que os preços foram reduzidos, imediatamente começaram as críticas, dizendo que os preços da energia no Brasil ainda são muito mais altos que o de vários países.
     A mesma coisa em relação aos impostos. O governo Dilma vem praticando a maior redução de impostos (ou mesmo a simples supressão deles), da história moderna brasileira. As manchetes da imprensa, no entanto variam sempre entre notícias negativas. Quando o governo arrecada muito, eles vem com o impostômetro, mostrando quantos dias os brasileiros tem que trabalhar para pagar impostos.
     Quando o governo abaixa os ditos impostos, a manchete muda para: cai a arrecadação fiscal, como se isso fosse uma coisa ruim.
     A verdade e que eles estão ficando sem ter o que dizer, enquanto assistem seus partidos de direita, DEM e PSDB, minguarem até a ameaça de extinção. Só falta agora alguém refundar uma imprensa séria neste país.

Poesia da semana

Soneto da fidelidade


De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Vinícius de Moraes
Site: Mundo das Poesias
http://mundo-das-poesias.blogspot.com/2012/08/soneto-de-fidelidade.html#ixzz26joj1RuQ
Hegemonismos
     Leio em alguns sites, debates entre "experts" norte-americanos sobre a possibilidade da China desafiar o que eles chamam de supremacia americana durante o século XXI.
     Uns apontam a decadência econômica dos Estados Unidos e a rápida ascenção da China, como indicador inequívoco de que os chineses vão ser a nova potência mundial até a metade do século. Outros dizem que não, que os Estados Unidos já deram mostras de que são capazes de se reinventar a cada crise e ressurgem sempre mais fortes e que a supremacia militar deles não poderá ser desafiada por nenhum país do mundo nos próximos 50 anos. Lembram que há alguns anos atrás se dizia que o Japão superaria os EUA e até mesmo a União Soviética iria ultrapassá-los, mas que nada disso aconteceu.
     O estranho nesse debate é que nenhum desses pensadores norte-americanos, sequer admite a possibilidade de um mundo sem hegemonias, um mundo de paz e cooperação, o que demonstra o caráter belicista do imaginário daquela nação, inclusive no seio das suas melhores universidades e, o que é pior, demonstra que não aprenderam nada com a história recente da humanidade.
     Me lembro que, na última grande expansão da União Européia, em 2004, alguns políticos daquele continente lembraram que todos, ou quase todos os países que formavam a nova União, já tinham sido impérios, em algum tempo da história. Ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, italianos, austríacos, húngaros, vikings, etc., e que todos tinham aprendido que os impérios são efêmeros, só levam à guerras e destruição e que só a cooperação e o respeito mútuo pode levar a um futuro de estabilidade.
     Quem diria, em 1939, que a máquina de guerra da Alemanha poderia ser vencida, tal a disparidade de forças entre os alemães e o conjunto dos demais países? Quem diria, em 1975, que o pequeno Vietnã, poderia vencer a incrível máquina de guerra americana que invadiu seu país com 500.000 soldados? E no entanto isso aconteceu.
     O presidente Obama, definiu uma nova estratégia militar para os Estados Unidos, elegendo a Ásia como o novo teatro de guerra americano, e fez isso no pressuposto de que a China passaria a desafiá-los cada vez mais naquela região do mundo. Agem como se o mundo fosse deles e qualquer desafio à sua hegemonia é considerado uma ameaça à sua segurança nacional.
     Não percebem que o mundo está cada vez menor e mais integrado, que as nações estão se democratizando rapidamente neste século (vide revoluções árabes) e se voltando para o desenvolvimento de suas potencialidades, o que só pode ser alcançado plenamente através da cooperação econômica. Daí ser natural o surgimento de áreas de integração econômica, como a União Européia, o Mercosul e outras pelo mundo, um mundo onde nações armadas querendo impor seus interesses aos demais vão se tornando cada vez mais anacrônicas.
     Não percebem, os experts americanos, que o que vencerá a hegemonia americana não será uma nova potência a desafiá-los, mas a cooperação cada vez maior entre as nações, e o nivelamento econômico entre elas, que forçará a nação norte-americana, em algum momento da sua história, a se reinventar de outra maneira, deixando de tentar se impor ao mundo como um poder coercitivo, que não passa de uma fachada para alimentar sua imensa indústria bélica, para se integrar verdadeiramente num mundo globalizado e unido por ideais de paz e desenvolvimento harmônico.
     Europeus, russos, chineses, indianos, africanos, árabes, assim como os latino-americanos e asiáticos em geral, já perceberam isso, enquanto os americanos ainda tentam desempenhar um papel que ficou para trás, desenhado por estrategistas do século XX para uma realidade que não existe mais.