Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 30 de junho de 2012

Trabalho e vida


     O que é um bom emprego?
     É o que paga um bom salário, embora não te faça feliz?
     É o que te permite realizar seus sonhos, ajudar a humanidade, mas não paga suas contas?
     O que dizem as empresas?
     Suba na vida! Venha fazer parte da nossa família! Nos ajude a construir um sonho! E daí por diante.
     Mas o que é subir na vida? Acumular coisas?
     Que família é essa das empresas que na primeira crise demite seus familiares, deixando-os na porta da rua?
     Que sonho é este que as empresas constroem, senão o sonho de riqueza e poder de seus proprietários?
     Os sindicatos pedem bons salários, estabilidade, segurança, preocupados sempre com a situação econômica dos seus filiados, mas não se preocupam com a felicidade deles.
     Quem de nós já não teve aquela sensação terrível de se sentir obrigado a ir trabalhar, sabendo que vai encontrar um ambiente ruim, infeliz, deprimido?
     Mas afinal, o que pensam os departamentos de pessoal das empresas sobre o prazer dos funcionários em trabalhar? Será que alguém se preocupa com isso, ou só pensam em forçá-los a produzir mais e mais, aumentando os lucros.
     Na verdade trabalhar com prazer é uma das melhores coisas desta vida. Se as empresas descobrissem isso, como tudo seria diferente! Mas os ambientes de trabalho são tão ruins, tão carregados de negatividade, que as pessoas já chegam trazendo o peso de outras experiências negativas e se armam contra os colegas, os chefes, as ordens, o horário e tudo mais que lhes é imposto, prejudicando seu desempenho. Estão se vingando de outras humilhações a que foram submetidos.
     Me lembro de uma desenhista que tive quando era o chefe de uma seção de projetos numa repartição pública, em Brasília. Ela me pediu para ajudá-la a ser transferida para o local onde eu trabalhava e por fim veio trabalhar conosco. Mas logo de início se tornou muito agressiva comigo. Eu não entendia, pois sempre a havia tratado bem. Só depois de alguns meses ela me confessou que tinha profunda antipatia por arquitetos, pois no lugar de onde ela veio, eles nem falavam com os desenhistas.
     Depois que ela percebeu que nosso ambiente era diferente, se desarmou, relaxou e ficou muito simpática. Ou seja, ela tinha trazido a carga de outro ambiente.
     O melhor trabalho é aquele em que a gente se diverte. Não é à tôa que os trabalhadores brincam com ditado; "a gente ganha pouco mais se diverte", ou como dizia aquele parachoque de caminhão: Tá ruim mas tá bom!
     Há muitos anos percebi que um bom ambiente de trabalho vale mais do que um salário mais alto. O ideal é que os dois andem juntos, é claro, mas tendo que escolher, prefiro sempre me divertir, pois a maior parte de nossas vidas nós passamos em ambientes de trabalho. Na verdade tirando a convivência familiar, o trabalho é a experiência mais importante de nossas vidas.
     E quando vejo pessoas que trabalharam a vida toda em ambientes ruins e não puderam ter a felicidade de construir alguma coisa em que acreditavam, de conviver com gente alegre e brincalhona, de dar o sangue para participar de um esforço coletivo vitorioso, percebo como se tornam pessoas tristes e amargas. Talvez tenham até "subido na vida", ou "participado da grande família empresarial", ajudando a construir o sonho dos seus proprietários ou chefes, mas perderam suas vidas sem construir nada de seu, sem aproveitar aquela sensação boa de colocar um tijolinho na experiência da humanidade.
     Trabalho é vida e quando ele é bom, a vida também se torna boa, mesmo que seja difícil.
    

      
    
    

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