Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 10 de junho de 2012

Em defesa da vida e da lógica

Corpo de criança recém nascida é retirado de um rio
     Em 2010, durante a campanha eleitoral, defendi aqui a legalização do aborto e fui muito criticado por isto. Na época, o assunto estava sendo objeto de manipulações apaixonadas, tanto pelo candidato José Serra, quanto pela candidata Marina Silva, que tentavam imputar a Dilma Roussef a pecha de ser a favor do aborto. José Serra o fazia de forma oportunista, como tudo que ele faz e Marina Silva por questões religiosas, que ela misturou com política, mistura que acabou com suas pretensões presidenciais.
     Agora, que não estamos mais sob aquele tipo de bombardeio midiático, volto ao assunto para defender meu ponto de vista, cansado de ver nas manchetes de jornais, bebês sendo jogados em rios, lagoas, no lixo em sacos plásticos ou em terrenos baldios, por mães desesperadas que sabem que não terão condições de criá-los.
     Em primeiro lugar quero esclarecer que não sou a favor do aborto. Acho uma prática muito ruim, que deve ser evitada a qualquer custo. Mas também sou contra a hipocrisia de achar que no Brasil tal prática não existe. Ela existe sim e é muito comum, embora feita na clandestinidade. Me arrisco a dizer que a maioria das mulheres brasileiras em idade reprodutiva já a praticou em algum momento das suas vidas, e o fez com risco de suas próprias vidas.
     Portanto a afirmação das várias confissões religiosas de que a legalização dessa prática iria permiti-la livremente no Brasil, não passa de um discurso que tenta impor sua fé religiosa aos leigos. Inclusive os espíritas, confissão a qual me filio, também olham para o lado quando se mostra a estatística de abortos clandestinos e as mortes de mulheres produzidas por eles.
     O aborto, assim como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras práticas da vida sexual e reprodutiva humana, não podem ser eternamente prisioneiros de discursos religiosos, pois são temas ligados às liberdades e aos direitos civis dos brasileiros.
     Do mesmo modo que o discurso religioso vai contra a legalização do aborto, também vai contra a educação sexual nas escolas e a distribuição gratuita de camisinhas para a população. Ou seja, querem fingir que o problema não existe e levá-lo para uma esfera moral, enquanto a mídia não cansa de estimular a libido da população através de filmes e novelas onde a sexualidade explícita é mostrada como uma virtude.
     O aborto precisa ser legalizado no Brasil, para que possa ser combatido, ressalvado o período de 90 dias de gestação, ou seja, antes que o coração da criança comece a funcionar, quando tecnicamente a vida do ser humano se inicia.
     Com a legalização, seria possível ter estatísticas confiáveis e criar programas para a prevenção da gravidez indesejada, principalmente entre jovens adolescentes e entre mulheres muito pobres, incapazes de criarem seus filhos, salvando assim muitos bebes de serem mortos depois de nascerem, afogados, triturados vivos em caminhões de lixo, atropelados dentro de sacos plásticos ou simplesmente jogados nas ruas para morrerem de frio ou serem salvos pela sorte.
     A reprodução humana merece um tratamento mais responsável por parte da sociedade brasileira. Fingir que o problema não existe é uma atitude criminosa e irresponsável, que só contribui para o seu agravamento.
     Com a legalização e o controle através de programas adequados, poderíamos conseguir a diminuição dos abortos praticados no Brasil e salvar muitas vidas, não apenas dos pequenos que são gerados sem serem desejados, mas das mães que morrem nas mesas das fazedoras de anjinhos, assim como das vidas de muitas jovens que ficam comprometidas pela gravidez precoce.
     Proibir o aborto não é a melhor maneira de combatê-lo, assim como não o seria proibir o fumo. Observem o sucesso das campanhas antitabagistas, que já fizeram milhões de brasileiros abandonar o cigarro (eu, inclusive). É muito melhor conscientizar do que proibir. Legalizar não significa liberar, mas ao contrário, significa estabelecer controles para melhor combater esse problema.
     É uma simples questão de lógica.
    

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