Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 10 de outubro de 2010

Rapidinhas

Viva Tiririca

     A burguesia elitista de São Paulo odeia Tiririca. Quer cassá-lo, impedir que os 1.300.000,00 votos que ele teve ameacem o seu teatro político, onde bandidos quatrocentões, que vendem o Brasil e rifam o povo alegremente, em nome de seus negócios escusos, posem de gente séria.
     Tiririca é a negação de tudo isso, é o desmascaramento da hipocrisia da tradicional elite paulistana.
     Não é a primeira vez que esse tipo de voto de protesto faz sua aparição e irrompe com força na política brasileira. Em 1958 os paulistanos elegeram um rinoceronte como vereador. Sim, prezados leitores, num tempo em que o voto era escrito numa cédula de papel, Cacareco (esse era o nome do rinoceronte) teve imensa votação (mais de 100.000 votos), suficiente para elegê-lo vereador, superando muitos políticos "sérios".
     Em 1988 o fenômeno se repetiu, com o Macaco Tião, um chipanzé também muito bem votado (mais de 400.000 votos) para prefeito do Rio. E mesmo nas eleições passadas (2006), tivemos Clodovil, o costureiro boquirroto com a maior votação de São Paulo, seguido de Paulo Maluf.
     A diferença é que desta vez, ao contrário das anteriores, o personagem parece estar consciente do seu papel e o desempenhou muito bem durante a campanha, tornando o seu deboche o maior voto de protesto que se tem notícia no Brasil.
     E agora? O que fazer com Tiririca no Congresso Nacional? Como será seu desempenho? tentará fazer leis ou continuará sendo apenas uma negação, uma denúncia, um deboche?
     De qualquer forma ele representa muito melhor do que o PT ou os partidos ditos "conscientes", a crítica ao sistema político, incapazes de resolver os problemas nacionais e representar os interesses do povo.

Tropa de Elite 2

     O filme consegue ser melhor do que o primeiro. Assim como Tiririca, mas de forma muito mais contundente, desmascara a hipocrisia do sistema político brasileiro, mostrando a relação íntima entre bandidos e políticos e a corrupção que domina o sistema eleitoral.
     É uma pancada forte no espectador, mesmo nos mais críticos, mas como no primeiro filme, nos enche de esperança de que essa guerra possa ser ganha, principalmente enquanto houverem pessoas dispostas a denunciar e a mudar essa realidade.
     Direção, fotografia, trilha sonora e atuação do elenco excelentes.
     O ponto que foi muito criticado no primeiro filme, com a identificação dos movimentos de direitos humanos como obstáculos à justiça, é muito bem resolvido neste, na medida em que a realidade aproxima esses dois grupos, os policiais honestos e os que lutam honestamente pelos direitos humanos, numa aliança onde todos aprendem e ensinam as lições mais amargas.
     Não deixe de assistir.


     Segundo Turno

     Ao contrário do que deseja a vendida direção nacional do PV, Marina Silva parece que vai se comportar como a pessoa séria que todos a consideravam. Ao invés de trocar apoio e votos por cargos está preparando a abordagem correta, ao levar aos dois candidatos seus pontos programáticos principais. Essa era a grande contribuição que Marina podia dar ao segundo turno das eleições presidenciais, ou seja, forçar que o desenvolvimentismo de Serra e Dilma incorporasse a dimensão ambiental, sem a qual o Brasil não pode mais prosseguir.
     Vamos agora observar até que ponto essa incorporação se dará com a seriedade necessária pelos dois candidatos. Não podemos mais conviver com o desmatamento dos nossos biomas, com a tolerância das autoridades, principalmente na Amazônia. É preciso dar um basta nisso. Esperamos que o assunto seja levado ao debate do segundo turno (ao invés de se resumir a baixarias do tipo religioso em torno do aborto e outras questões de consciência). Lixo, esgotos, proteção da flora e fauna, escolha de modelos energéticos e padrões de urbanização são discussões que já passaram da hora de entrar na agenda política brasileira.
     Seguem abaixo os 42 pontos do documento que Marina encaminhou à Serra e Dilma.
1- Transparência e ética
1.1 Não instituição de qualquer mecanismo de tutela ou controle sobre a liberdade de imprensa;
1.2 Transparência das informações sobre execução orçamentária do governo federal disponibilizando na internet dados primários do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), permitindo o acompanhamento da execução dos contratos e dos processos decisórios inclusive dos conselhos de governo e agências reguladoras;
2- Reforma eleitoral
2.1 Encaminhamento ao Congresso de reforma política com adoção do voto distrital misto, lista cívica e financiamento público de campanhas.
3- Educação para a sociedade do conhecimento
3.1 Elevação do investimento em educação do setor público para 7% do PIB, priorizando novos investimentos na direção da universalização do acesso à pré-escola e à creche;
3.2 Eliminação do analfabetismo entre jovens de 15 a 30 anos até 2014 e erradicação do analfabetismo até 2018;
3.3 Valorização dos professores da rede pública na sua remuneração, acesso universal a computador e internet, programas de aperfeiçoamento, formação continuada e fóruns democráticos para aprimoramento de currículos e métodos pedagógicos;
3.4 Viabilização, nos primeiros seis meses de governo, da aprovação no Congresso da Lei de Responsabilidade Educacional e a criação do Sistema Nacional de Educação;
4- Segurança pública
4.1 Programa de subsídios à manutenção na escola ou em curso técnico profissionalizante de todos jovens em situação de risco;
4.2 Fundo nacional de segurança para complementar os salários dos policiais civis e militares de forma a garantir sua dedicação exclusiva à segurança pública;
4.3 Encaminhar, no prazo de seis meses, PEC para reforma do modelo policial brasileiro.
5- Mudanças climáticas, energia e infraestrutura
5.1 Agência reguladora independente para a Política Nacional de Mudanças Climáticas;
5.2 Publicação de estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil e, a cada três anos, seu inventário completo;
5.3 Estabelecimento de indicadores de intensidade de emissões de GEE na economia brasileira com suas metas de redução previstas em Lei, tornando-as obrigatórias;
5.4 Aumento em 10%, até 2014, da participação das energias renováveis na matriz energética brasileira;
5.5 Fim dos leilões de energia para novas termoelétricas movidas a óleo diesel ou carvão mineral;
5.6 Inclusão efetiva da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética;
5.7 Supressão do IPI sobre fabricação de veículos elétricos e híbridos;
5.8 Estabelecimento de um Plano Nacional Decenal de Infra-estrutura compatível com as metas de redução de emissões de GEE;
5.9 Moratória de novas usinas nucleares ainda não autorizadas pelo Congresso Nacional;
5.10 Criação do Sistema Nacional de Prevenção e Alerta sobre Desastres Naturais, incluindo publicação anual de mapa de áreas vulneráveis a desastres naturais;
5.11 Painel científico independente para monitorar a segurança na exploração do pré-sal;
5.12 Universalização do acesso à banda larga em todo Brasil;
5.13 Plano de geração de empregos verdes na transição para economia de baixo carbono;
5.14 Cumprimento das condicionantes socioambientais em relação ao projeto Belo Monte;
6- Seguridade social: saúde, assistência social e previdência
6.1 Comprometimento de 10% do orçamento federal para saúde conforme previsto na emenda 29/2000 e sua regulamentação no Congresso Nacional em 2011;
6.2 Programa Saúde da Família (PSF) para, pelo menos, 80% da população brasileira, até 2014 com redução de três mil para dois mil do número de pessoas atendidas por cada equipe;
6.3 Carreira para os integrantes do PSF feita de forma solidária entre governos federal, estaduais e municipais;
6.4 Aumento para 75% dos domicílios com acesso à rede de esgoto e pelos menos 50% com tratamento do esgoto coletado, até 2014, com vistas à universalização do serviço até 2020;
6.5 Implantação da rastreabilidade e rotulagem de alimentos transgênicos;
6.6 Programas sociais de terceira geração contemplando a inclusão produtiva como desdobramento dos programas de transferência de renda;
7- Proteção dos biomas brasileiros
7.1 Desmatamento zero de vegetação nativa primária e secundária, em estágio avançado de regeneração, em todos os biomas brasileiros, ressalvadas situações de premente interesse público;
7.2 Veto a propostas de alteração do Código Florestal que reduzam áreas de reserva legal, preservação permanente ou promovam anistia a desmatadores;
7.3 Implementação da meta de 10% dos biomas brasileiros incluídos em unidades de conservação;
7.4 Apresentação de Plano Nacional para Agricultura Sustentável;
8- Gasto público de custeio e Reforma Tributária
8.1 Limitação da expansão dos gastos de custeio do governo federal à metade do crescimento do PIB;
8.2 Proposta de reforma tributária nos seis primeiros meses de governo contemplando: Simplificação e restrição drástica da regressividade dos impostos; Informação clara ao consumidor do valor dos impostos na composição dos preços de produtos e serviços que adquira;
8.3 Revisão da tributação, incentivos e renúncias fiscais de acordo com impacto sobre o meio ambiente e intensidade de emissões de GEE.
8.4 Redução substancial dos cargos comissionados de livre provimento;
9- Política externa
9.1 Política externa orientada pela promoção da paz, liberdade, democracia e respeito aos direitos humanos.
10- Fortalecimento da diversidade socioambiental e cultural
10.1 Conclusão da demarcação e homologação das terras indígenas e criação de fundo para apoiar projetos indígenas e das demais populações tradicionais;
10.2 Implementação do Sistema Nacional de Cultura, ampliando seu orçamento promovendo a descentralização dos recursos e das políticas culturais;
10.3 Combate a toda forma de discriminação racial, sexual e religiosa.
     Recebi de um leitor os 42 pontos completos e já substituí os do jornal Estado de São Paulo, que havia publicado ontem. Obrigado Adriano. Pena que no debate acirrado da Band, de ontem nenhum desses pontos entrou em pauta. Creio que nos próximos debates eles entrarão.
     Particularmente gostaria de esclarecimentos em 3 pontos: o que é a Lista Cívica proposta na reforma eleitoral, e como seriam os Sistemas Nacionais de Educação e Cultura, propostos por esta agenda.
 
Boa segunda-feira à todos

Ricardo Stumpf Alves de Souza



    

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