Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 24 de outubro de 2010

   Hora de avançar

     Pois é, prezados leitores, a radicalização na reta final desta campanha, coincidindo com as greves na França e em outras partes do mundo,  está me fazendo lembrar os idos de 1968, quando as massas populares começaram a ir para as ruas no mundo inteiro, em uma série de movimentos paralelos, cuja única conexão parecia ser o interesse em dar fim a uma ordem estabelecida no pós-guerra, onde o poder tinha sido partilhado por poucos em benefícios de poucos, em nome da moral, da família, da religião e da ideologia.
     Naquela época, uma mudança se fazia necessária e as forças da mudança se chocaram amplamente com as forças da ordem, numa escala planetária, que teve como consequência o mundo em que vivemos hoje. E não é pouca coisa.
     Em termos morais, as mulheres reivindicavam o direito a uma vida sexual plena e livre, como os homens, e dispunham da pílula anti-concepcional como arma para garantir que sua liberdade sexual era possível.
     Horror entre as famílias tradicionais que achavam que as mulheres tinham que casar virgens ou os homens não as aceitariam. Mas o amor livre era a palavra de ordem revolucionária.
     Na França estudantes se rebelaram contra uma reforma universitária, mas na verdade a revolta era contra a quinta república, de Charles De Gaulle, que significava o domínio das famílias e das idéias tradicionais, sobre a sociedade, que reivindicava uma democracia de massas, onde a cultura se libertasse da caretisse de uma elite conservadora e opressiva, que além de sufocar os desejos dos jovens mantinha os operários e seu movimento sindical emparedados, como se fossem marginais, ao reivindicar o direito de viver e consumir como os ricos e a classe média o faziam.
     No Brasil o protesto era contra uma ditadura que, em nome da liberdade, no tirou todos os direitos e vendeu o país aos americanos. Nos Estados Unidos era contra a guerra do vietnã e sua lógica destruidora de povos, em nome de uma luta ideologica e também contra o racismo, que mantinha os negros excluídos.
     Na Tchecoeslováquia lutava-se contra o domínio soviético e sua ditadura do proletariado, construída também em nome de uma ideologia que começava a fazer água por todos os lados.
     O mundo estava cansado, queria respirar e conseguiu. 
     De Gaulle caiu, a liberdade sexual feminina triunfou, a guerra do vietnã acabou, com a derrota dos americanos, as ditaduras latino-americanas caíram, assim como as ditaduras do leste, a União Soviética desapareceu e a América Latina se levantou, a democracia de massas se consolidou, os negros se libertaram do apartheid dentro e fora da África.
     Em poucas décadas muita coisa mudou, mas nem tudo.
     Os conservadores resisitram como puderam. Na década de 90, introduziram o neoliberalismo no vácuo ideológico do comunismo e começaram a tentar recuperar terreno, reduzindo os direitos conquistados. A resistência, porém, se deu dentro do jogo democrático. O mundo estava cansado de revoluções.
     O imperialismo americano sobreviveu, enfraquecido pela ausência de um rival que justificasse suas guerras de conquista. Na parte mais atrasada do mundo a luta se reacendeu, entre o fanatismo religioso islâmico e os interesses capitalistas. Mas o extremismo religioso caminhou na direção contrária da história, tirando direitos das mulheres, implantando ditaduras teocráticas e recorrendo ao terrorismo puro e simples, se aproximando mais da direita que das correntes libertárias.
     Do lado de cá, no entanto, a democracia nos garantiu alguns avanços. Um operário governou o Brasil, um índio governa a Bolívia, um negro governa os Estados Unidos, embora ainda estejamos longe de nos libertarmos do domínio das grandes corporações capitalistas.
     Agora a direita tenta avançar mais um pouco, retomando iniciativas cujo único propósito é reafirmar seu domínio político para explorar os pobres em benefícío de poucos, sejam eles religiosos no Irã, empresários no Brasil ou militares em Honduras e Equador.
     A direita é sempre contra a democracia, embora fale em nome dela. A direita é sempre contra a expansão dos direitos, embora fale em ordem e progresso.
     Mas do lado democrático o cansaço das revoluções também parece que vai se dissipando e os povos novamente se levantam para lutar por mais direitos. Na França luta-se contra a reforma da previdência, no mundo inteiro pelos direitos dos gays, nos países islâmicos, pelo direito a se libertar da opressão israelense, sempre apoiada pelos americanos, e pela fundação do Estado Palestino.
     E no Brasil enfrentamos uma contra-ofensiva da direita que pretende retomar o poder para nos reduzir novamente à submissão, instituir o desemprego em massa e vender o país ao velho e decadente imperialismo americano. Lutamos contra um modelo de imprensa, onde a comunicação está nas mãos das famílias mais influentes e poderosas, aliadas do grande capital, para que dominem a mente do nosso povo, implantando como um chip nos seus cérebros, as idéias que lhes interessam, os hábitos de consumo que os enriquecem, em detrimento da saúde do povo e do planeta.
     Lutamos todos também por um novo modelo econômico, que não destrua, mas preserve nosso planeta Terra, onde queremos que nossos descendentes continuem a viver por muitos milênios.
     Creio que 2010 foi um ano de semeadura e 2011 será um ano de abertura. Abertura de novas idéias, de novas realidades que se descortinarão aos poucos, em meio aos conflitos entre as forças da mudança e as que querem que o mundo ande para trás, no embate dialético que a cultura humana sempre experimenta, testando novas hipóteses, construindo novas utopias, que vão moldando o futuro e mostrando o caminho.
    
    Boa segunda-feira à todos.

    Ricardo Stumpf Alves de Souza
    
    
    
    

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