O Paiz
O Arco do Futuro
A proposta de Fernando Haddad para São Paulo, batizada de Arco do Futuro, incorpora uma série de estudos e proposições, feitas pelos urbanistas nos últimos anos, em relação ao modelo de cidades que vem sendo praticado no Brasil.
Quando terminei meu mestrado em urbanismo, em 1998, e escrevi a dissertação intitutalada A Cidade e Sua Sombra, cheguei a algumas conclusões inesperadas, que foram surgindo da pesquisa.
Pesquisa é assim mesmo, a gente começa pensando que vai chegar a um lugar e de repente chega a outro completamente diferente.
Quando comecei e escolhi como objeto de estudo o lugar dos pobres dentro das cidades, pensei que fosse demonstrar que as favelas estavam se expandindo, em função da exclusão social, e que em pouco tempo nossas cidades virariam grandes favelões, com pequenas ilhas de classe média.
No entanto a pesquisa demonstrou exatamente o oposto, que a área ocupada por favelas e invasões estava diminuindo, embora a população favelada estivesse aumentando. Isso significava que a especulação imobiliária, ou o mercado, estava ganhando terreno em relação à cidade informal, que tendia a se comprimir em favelas cada vez mais densas e verticalizadas.
Outra conclusão inesperada, que deu origem ao título da pesquisa, foi a lógica de localização das favelas. Ao contrário do que eu imaginava, elas não tendiam a se localizar apenas em terrenos baldios, em vazios urbanos, mas tendiam a estar próximas de áreas onde predominavam empregos no setor terciário da economia, ou seja, comércio e serviços, já que o emprego na indústria vem caindo historicamente, em função da automação.

Era como se a favela, ou a cidade informal, onde vivem os trabalhadores, se comportasse como uma sombra da cidade formal. Para cada bairro formal novo, surgia uma sombra que o acompanhava, onde moravam os trabalhadores.

Por outro lado, o discurso tradicional dos urbanistas era o da setorização, que levava a um zoneamento que criava zonas habitacionais separadas das comerciais, como se elas não pudessem conviver harmonicamente. Isso levava a um deslocamento forçado das pessoas entre seus locais de moradia e de trabalho, a um custo muito alto, seja de passagens, seja de combustível, provocando engarrafamentos e poluição do ar.
Daí a necessidade de invadir e criar favelas próximas aos empregos.

Só falta ter coragem de mexer no vespeiro da especulação imobiliária, tema tabú no Brasil.
Embora as cidades européias e norte-americanas já utilizem, há mais de um século, uma série de instrumentos legais para controlar a valorização dos preços dos terrenos, na chamada reforma urbana, no Brasil este termo ainda provoca arrepios e é considerado coisa de comunistas.
Mas um dia a gente chega lá. Por enquanto, a proposta do Arco do Futuro é um passo importante para estabelecer novos parâmetros e melhorar a qualidade de vida nas nossas cidades. É um marco, que deve influenciar todo o planejamento urbano no Brasil.
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