Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 11 de março de 2012

Civilização e barbárie II

A história de Lisboa
     Na continuação da pesquisa sobre civilização e barbárie, mergulhei na fascinante história de Portugal e de sua capital, Lisboa, tentando compreender a origem dos nossos ancestrais. Essa história de se divide em seis etapas:
I - A cidade fenícia

     Lisboa é a segunda cidade mais antiga da Europa, perdendo apenas para Atenas. É portanto, mais antiga que Roma, conhecida como a cidade eterna. Diz a lenda que Lisboa teria sido fundada pelo mítico herói, Ulisses, mas escavações arqueológicas recentes indicam a provável data de sua fundação por volta do ano 1.200 AC, pelos fenícios.
     Na língua fenícia era chamada de Alis Ubbo, que quer dizer "Porto Seguro", e se estendia da atual colina do castelo, até o rio Taghi ou "boa pescaria", nome que derivou para o atual Tejo (Tajo, na pronúncia portuguesa).
     De pequeno entreposto comercial, passou a ser um importante porto, dominado pela cidade-estado fenícia, Cartago, e às margens da baía do Tejo, também conhecida como Mar da Palha, floresceu uma importante indústria de pescados salgados. Alis Ubbo (ilustração ao lado) também comerciava sal e cavalos fornecidos pelos lusitanos, importante tribo de origem celta, que dividia a península com os íberos.

II - A cidade romana

     No século III AC, celtas e íberos foram conquistados   pelos romanos, na esteira das guerras púnicas, entre Roma e Cartago. Os habitantes de Alis Ubbo se aliaram aos romanos na conquista da península e deram combate aos lusitanos, cujo chefe gerreiro, Viriato, inflingiu várias derrotas aos generais romanos, até ser morto à traição.
     A cidade era chamada de Olissipo ou Olissipona (em latim vulgar), pelos romanos, e durante mais de 700 anos, até o início do século V DC, permaneceu sendo um importante porto que fazia a ligação entre as províncias romanas do norte e as do mediterrâneo.

III - As invasões bárbaras

     Com a decadência do Império Romano, Olissipo sofreu várias invasões de povos considerados bárbaros, sendo tomada primeiro pelos vândalos, povo de origem germânica (escandinava), depois por alanos, de origem persa e godos, também germânicos, que chegaram a saquear e incendiar a cidade, comandados pelo rei tribal Walia. Os suevos, povo germânico que havia conquistado um grande território ao norte da península ibérica e tinha sido convertido ao cristianismo, conquistam Olissipo em 469, integrando-a ao seu reino, cuja capital era Braga. O restante da península ficou pertencendo aos visigodos.
     Mais tarde, os visigodos, que também já tinham sido romanizados pelo cristianismo, conquistam o reino suevo, unificando toda a península.

IV - A cidade árabe

     Com tantos saques e invasões, a cidade viu reduzida sua população e importância comercial, até que em 711, se aproveitando de uma guerra civil no reino visigodo, os árabes invadiram a península Ibérica, que eles chamavam de Al Andaluz, sob o comando de Tariq, (ilustração à esquerda) da dinastia Omíada, cuja capital era a cidade de Damasco, na Síria.
     Olissipo, que era chamada de Al-Ushbuna ou Lissabona pelos árabes, é tomada por Abdelaziz Ibn Musa, um dos filhos de Tariq, vencendo o último rei Visigodo, Rodrigo.
     A partir daí a cidade renasce, é reconstruída de acordo com os padrões do oriente médio, com uma grande mesquita, um castelo no topo da colina, um palácio para o governador (Alcáçova), uma almedina (centro urbano) e volta a ser um grande centro administrativo e comercial, chegando a ter mais de 100.000 habitantes no século X.
     Interessante como todos esses nomes tem em comum o "L", seguido de uma vogal "U" ou "I"e um "S":  A-lis Ubbo, O-lissipo, O-lissipona, U-lishbona, A-l Ushbuna, Lis-sabona.

V - O império omíada e o califado de Córdoba

     O Império Omíada, seguiu-se à fundação da religião islâmica pelo profeta Maomé, por volta do ano 610. Até então os beduínos da Arábia eram politeístas e celebravam o culto de diversas divindades na cidade de Meca. Maomé é perseguido pelas suas pregações e foge de Meca para Medina, num episódio que ficou conhecido como Hégira.
     A idéia do monoteísmo ajuda a unificar a Arábia e o sucessor de Maomé, Abu Bekr, em nome de difundir o islamismo, começa a unificar os vários povos sob domínio árabe, primeiro conquistando a Síria, o Egito e a Mesopotâmia numa conquista que levaria os árabes a dominar depois o norte da África, a Península Ibérica, a Sicília, assim como a Pérsia, o Afeganistão e partes da China e da Índia, fundando um império que duraria cem anos.
     Questões religiosas começam a provocar divisões e em 750, rebeldes do Iraque conseguem derrubar a dinastia omíada, derrotando o Califa Marwan II. Apenas um membro do império, Abd Al-Rahman, consegue fugir e funda o Califado de Córdoba (ilustração à direita) na atual Espanha, dando continuidade à dinastia Omíada apenas na Europa, enquanto no restante do império surge a dinastia Abássida, que veria o explendor máximo da expansão da cultura árabe, com a difusão da sua língua e cultura, com o desenvolvimento das ciências e da matemática.
     À partir do século X, tribos turcas islamizadas começam a se tornar cada vez mais influentes no império até tomarem o poder e conferir o título de sultão ao imperador. Disputas entre sunitas e xiitas levam à fragmentação do Estado e em 1258, Mongóis tomam Bagdá, pondo fim ao Império Árabe.
     A dominação muçulmana na Europa, porém, continua e a reconquista vai se fazendo aos poucos.

VI - A fundação de Portugal

     O reino de Astúrias, na atual Espanha, que nunca havia sido dominado pelos árabes, começa a se expandir, conquistando teritórios muçulmanos. Com a morte do Rei Afonso III, o reino se dividiu entre seus filhos, nascendo os reinos de Leão, Navarra, Aragão e Castela. Ao reino de Leão, pertencia o Condado Portucalense, sediado na cidade do Porto (Porto de Cale, atual Gaia), no litoral norte. O rei Afonso VI de Leão, entrega a seu genro               
D. Henrique de Borgonha, o governo do Condado Portucalense e do Condado de Coimbra, que começa a manobrar para conseguir autonomia política e econômica. Seu filho, Afonso Henriques (acima à esquerda), mais tarde, depois de tomar o poder de sua mãe e vencer os mouros na batalha de Ourique, proclama a independência em 1139 e é aclamado como primeiro Rei de  Portugal, com o título de D. Afonso I. Surge assim o Estado português, com sede em Coimbra, que é reconhecido pelos espanhóis em 1143, com o Tratado de Castela. Portugal é considerado hoje como o primeiro estado-nação moderno da Europa.                                                                   
     Em março de 1147, os portugueses tomam a cidade de Santarém aos mouros e em 25 de outubro do mesmo ano, tomam Lisboa, depois de um cerco de tres meses, com auxílio de cruzados ingleses, normandos, flamengos e alemães que estavam de passagem em direção à Terra Santa, durante a segunda cruzada (ilustração acima à direita).

Civilização x religião

     Nota-se que os grandes impérios tendem a ser monoteístas, o que sugere uma ligação entre civilização e religião. Embora Roma tenha sido politeísta e só abraçado o cristianismo nos últimos séculos, foi a religião cristã que garantiu a sobrevivência da sua cultura política e jurídica.
     Parece que a superação do politeísmo, também chamado de paganismo pelos cristãos, tem a ver com o estágio civilizatório das sociedades humanas, já que em termos filosóficos introduz uma capacidade maior de abstração (um Deus único e invisível) e induz a unificação dos povos sob uma compreensão unificada do cosmos.

Miscigenação e formação nacional

     Para os que ainda se deixam seduzir pelas ideologias (idiotas) racistas, é bom saber que, somos descendentes de celtas, íberos, fenícios, romanos, suevos, visigodos e árabes (mouros) e judeus (cuja comunidade em Lisboa sempre foi muito grande e influente, desde o tempo dos fenícios). Portanto, muito antes da miscigenação de raças ocorrer no Brasil, entre portugueses, indígenas e africanos, ela já havia ocorrido na Europa.
     A história de Portugal e de Lisboa, está intimamente ligada ao comércio e à navegação, desde os seus primórdios, o que empurraria os portugueses para os descobrimentos e para a formação da nação brasileira.  
     Fontes:



    

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