Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 26 de setembro de 2010

Tuberculose x Surdez

     Um amigo que pegou tuberculose, fez o tratamento do SUS e se curou, ficou repentinamente surdo de um ouvido. Sem entender consultou especialistas que encontraram uma lesão no ouvido esquerdo mas não sabiam explicar a causa. Investigando por conta própria descobriu que alguns remédios para tuberculose podem casuar surdez em pessoas com certo tipo de gens. Mas ninguém alerta para isso nem faz o exame genético para saber se o paciente pode ou não ser submetido a esse tipo de tratamento. Um descaso com os pacientes da rede pública que se submetem de boa fé ao tratamento achando que estão seguros. Veja a reportagem abaixo, traduzida de um site mexicano.
Alerta universitária sobre antibióticos que causam surdez

     18/05/2010
     Utilizados contra a tuberculose, a estreptomicina e seus derivados, provocam dano irreversível no ouvido, advertiu Graciela Meza Ruiz, do Instituto de Fisiologia Celular
     A estreptomicina, um antibiótico que no México se utiliza no tratamento contra a tuberculose, causa surdez nos pacientes, advertiu Graciela Meza Ruiz, pesquisadora do Instituto de Fisiologia Celular (IFC) da UNAM.
     “Os médicos sabem que a estreptomicina e seus derivados, a kanamicina, a gentamicina e a amikacina, causam surdez, mas os seguem receitando porque são muito eficientes para tratar a tuberculose, estão no quadro básico de medicamentos e são baratos. É uma irresponsabilidade, porque o dano é irreversível”, alertou a doutora em bioquímica.
     O problema, adicionou a experiente em fisiologia e bioquímica do ouvido, é que esses antibióticos, além de destruir a bactéria causadora da tuberculose, destroem as células do ouvido.
     “Nas caixas, onde vêm embalados esses medicamentos, se adverte que podem alterar o equilíbrio, causar surdez e ocasionar lesões renais”, comentou a pesquisadora adscrita ao Departamento de Neuropatología Molecular do IFC.
     Também, ocasionam movimentos incontroláveis dos olhos, tontura, vertigem e ataxia, descoordenação de diferentes partes do corpo, como braços e pernas; portanto, impedindo de caminhar corretamente.
   A pesquisadora adicionou que estes três antibióticos, pertencentes ao grupo dos aminoglucósidos –descobertos na década de 1940 nos Estados Unidos e utilizados por longo tempo para combater diferentes infecções-, estão proibidos em vários países, devido a seus efeitos secundários.
   “Utilizam-se indistintamente no México para combater a tuberculose, com doses fortes de até uma grama diária, durante seis meses ou um ano”, detalhou.
   No entanto, comentou Meza Ruíz, existe uma medicina alternativa contra a tuberculose, que não gera surdez, composta por três substâncias: rifampicina, isoniazida e pirazinamida. É mais 10 vezes cara, mas não causa danos ao ouvido.

   Dano celular e molecular

   Em seu laboratório, a universitária realizou investigação experimental com ratos, para identificar os danos da estreptomicina e seus derivados no ouvido, órgão escondido no osso temporário, que se localiza no crânio.
   “Isto permite a passagem da estreptomicina e seus derivados da corrente sanguínea, ao interior do ouvido, onde essas substâncias se acumulam. Em vez de degradar-se, permanecem dentro, causando a morte de células muito específicas”, explicou.
   Dos milhares de milhões de células que existem no cérebro, umas 20 mil são exclusivas do sistema auditivo, daí que os danos por lesões dificultem sua reposição de maneira natural.
   A especialista adicionou que nas primeiras etapas de acumulação do fármaco, quando se ataca às células do sistema vestibular do ouvido, o paciente com tuberculose sente tontura, visão imprecisa e dificuldade para caminhar. Conforme avança o tratamento e aumenta o dano às células auditivas, a pessoa fica totalmente surda.

     Mutação no DNA mitocondrial

     Quando estudava no laboratório o alvo molecular da estreptomicina, Graciela Meza indagou por que alguns pacientes ficam surdos em pouco tempo, enquanto outros, com o mesmo tratamento, têm um dano gradual.
     “Encontramos que a ação da estreptomicina e seus derivados se exacerba naqueles que têm uma mutação no DNA mitocondrial, que os torna hipersensíveis ao medicamento”, comentou.
     Outras investigações realizadas com populações orientais, árabes e espanholas, tinham localizado essa mutação, que não se encontrou em populações mexicanas de indivíduos com tuberculoses.
     O DNA mitocondrial é um material genético localizado na mitocondria celular, que é a “fábrica de energia” indispensável para a sobrevivencia das células. Diferente do DNA nuclear, o mitocondrial é passado aos filhos através da mãe.
     “Em pacientes com mutação no DNA mitocondrial, a morte celular é mais rápida, pois não há energia para manter com vida às células”, explicou Meza.
     Em seu estudo, identificou num indivíduo do Distrito Federal (capital do México) uma mutação no DNA mitocondrial, que não tinha sido descrita antes na literatura científica e nos apressamos a procurá-la em outros pacientes e na população em geral.

     Novo teste

     Para detectar alguma mutação na mitocondria de maneira fácil e singela, Meza Ruiz desenvolveu um teste que consiste num exame de sangue da pessoa que será submetida a tratamento com estreptomicina e seus derivados.
     “Se se comprovar que o paciente tem a mutação, podemos recomendar cientificamente que se utilize em seu tratamento o medicamento alternativo. O ideal é que ninguém seja tratado com estes antibióticos daninhos, mas com o teste de sangue, ao menos poderemos sugerir que se proteja aos que têm maior risco”, finalizou.


Um comentário:

micaele disse...

A medicina e mesmo um mistério.As vezes achamos que tomar certos tipos de remédios vai nos ajudar, mas as vezes traz mais problema de saúde como foi esse caso.Por isso que tem cientistas para que estudem bastante antes de colocar o medicamento nas farmácias.