Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 26 de setembro de 2010

   PIG - Imprensa e Golpismo

     Paulo Henrique Amorim criou o termo PIG, sigla de Partido da Imprensa Golpista, se referindo à grande imprensa brasileira, que finge uma imparcialidade política, mas na prática manipula as informações para favorecer os candidatos conservadores, nas eleições, agindo mais como um partido político do que como órgãos de comunicação.
     Ultimamente Lula tem criticado essa imprensa, e por isso tem sido acusado pelo mesmo conjunto de jornais e revistas que formam o PIG, de ser contra a liberdade de imprensa.
     Engraçado isso, a imprensa se sente ofendida com críticas. Ela pode criticar a vontade mas não pode ser criticada. Não há nenhuma dúvida de que os artigos da Folha de São Paulo e do Globo, das revistas Veja Época e outros, são tendenciosos. Não se trata de mentir, mas de focar em tudo que é negativo, para criar uma imagem ruim do governo. Então se a economia cresce 1% em um mês e no outro cresce 0,5%, a manchete não é: Economia cresce 0,5% no mês, mas crescimento cai a metade no mês. As duas dizem a mesma coisa, mas a segunda olha pelo lado inverso, pelo que a notícia tem de ruim. Quem passa os olhos fixa em  crescimento pela metade e tem a impressão de que o país está andando pra trás.
     As fotos também ajudam. Um Serra sorridente ao lado de uma Dilma de cara fechada, querem dizer: esse é bom e esta é ruim.São truques simples do jornalismo.
     Agora que a eleição se aproxima e a direita vê com desespero seu projeto político naufragar, então partem para o denuncismo. Se alguém quiser investigar as falcatruas da filha de Serra e seu marido, é uma intromissão intolerável na privacidade dela, uma tentativa de golpe, mas eles podem investigar o filho de Erenice Guerra e denunciar o que quiserem. Porque não deixam quebrar também o sigilo da filha de Serra?
     Toda eleição eles inventam um dossiê, já repararam? Em 2002 teve o dossiê que acusdava os figurões do PSDB de mandarem dinheiro pra Ilhas Caimã. Disseram que era uma tentativa de golpe e não deixaram investigar. Em 2006 teve outro dossiê, relacionado a um dinheiro de campanha. Também não deixaram investigar, Agora a filha do Serra.
     Ou seja, investigar a direita é proibido, mas o PT e a esquerda em geral devem ser sempre atrelados a algum escândalo pra ver se o eleitor se impressiona e muda o voto. A Globo fez isso em 89, no último debate, com a denúncia sobre a filha de Lula, a Lurian. Quem assisitu se lembra da manipulação que deu  a eleição a Collor, o candidato da família Marinho e dos outros grandes órgãos de imprensa.
     Isso é liberdade de expressão ou é golpismo? Uma mídia nas mãos de 12 famílias comandando a opinião púiblica de um país inteiro à favor dos seus próprios interesses, é um modelo correto de comunicação?
     Vejam o artigo abaixo (do site OperaMundi), escrito por um norte-americano, sobre a manipulação da mídia americana em relação à Venezuela e como a imprensa do mundo inteiro repete as mentiras sobre aquele país, como forma de influenciar as eleições e vejam se isso é democrático.

16/09/2010 - 11:34

Mark Weisbrot
Washington

     A economia venezuelana: os meios de comunicação se enganam de novo
     A maioria dos meios de comunicação frequentemente mergulha de cabeça quando o governo norte-americano lança uma séria campanha política e de relações públicas na área da política externa. Mas nenhum caso tem sido tão emblemático quanto o da Venezuela. Até mesmo no período anterior à guerra no Iraque havia um número significativo de jornalistas e escritores que não engoliam a versão oficial. No caso da Venezuela, contudo, a imprensa mais se parece com um jurado de doze pessoas, mas apenas um cérebro.
     Como a oposição venezuelana decidiu apoiar sua campanha para as eleições de setembro no alto índice de homicídios no país, a imprensa internacional foi inundada por artigos sobre o assunto – alguns altamente exagerados. De fato, trata-se de uma conquista de relações públicas impressionante para a oposição venezuelana. Embora a maioria dos meios de comunicação venezuelanos, medida pela audiência, ainda pertença à oposição política no país, o mesmo não ocorre com a imprensa internacional. Normalmente é necessário algum tipo de gancho noticioso, um marco que seja, como o homicídio número 10 mil, ou uma declaração política da Casa Branca para que se inicie uma campanha de imprensa desta magnitude. Neste caso, contudo, bastou uma decisão da oposição política venezuelana de que o assunto principal da campanha seria o homicídio, e a imprensa internacional comprou a história.
     O tema de "todas as más notícias, o tempo todo" era esmagadoramente dominante, inclusive durante a expansão econômica histórica da Venezuela, de 2003 a 2008. A economia cresceu como nunca, a pobreza caiu mais de 50% e houve grandes avanços no problema do desemprego. O gasto real por pessoa mais que triplicou e a atenção médica gratuita foi estentida a milhões de pessoas. É preciso procurar muito para encontrar estes dados básicos apresentados como tal em algum artigo da imprensa atual, embora os números não sejam questionados pelos economistas das organizações internacionais que trabalham com as estatísticas.
     Por exemplo, em maio deste ano, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), da ONU, concluiu que a Venezuela havia reduzido a desigualdade mais que qualquer outro país do continente entre 2002 e 2008, conseguindo a distribuição de renda mais equitativa da região. Este dado ainda não foi mencionado pela grande imprensa internacional.
     A Venezuela entrou em uma recessão em 2009, e pode-se imaginar quanto os meios têm destacado o crescimento do PIB comparado à época em que a Venezuela crescia mais rapidamente do que todas as economias do hemisfério. Depois, em janeiro de 2010, quando o governo desvalorizou a moeda, a imprensa previu um grande recrudescimento da inflação, de até 60% para este ano. A "estagflação" – a recessão acompanhada de uma inflação crescente – virou uma palavra da moda.
     A inflação "fora de controle" nunca aconteceu. Na verdade, a inflação dos últimos três meses, que chegou a 21% em uma taxa anualizada, está consideravelmente mais baixa do que antes da desvalorização. Esta realidade é mais um exemplo de que os economistas, as principais fontes da imprensa, têm um conhecimento limitado do verdadeiro funcionamento da economia venezuelana.
     A Venezuela, aparentemente, começou a sair da recessão no segundo trimestre deste ano. Sobre uma base anualizada e com ajuste sazonal, a economia cresceu 5,2% no segundo trimestre. Em junho, o Morgan Stanley projetou uma contração da economia de 6,2% neste ano e 1,2% em 2011. O FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta uma situação de penumbra e perdição de longo prazo para a Venezuela, com um recuo do PIB per capita durante os próximos cinco anos. Vale mencionar que o FMI virou um concorrente dos autores de Dow 36.000 em termos de prognósticos criativos, com suas subestimações repetidas e disparatadas sobre a economia venezuelana durante a expansão.
     É possível que tudo isso pareça normal se comparado com a maior economia do mundo, os Estados Unidos, onde a grande maioria dos meios de comunicação, de uma maneira ou de outra, falhou ao não prever as maiores bolhas de ativos da história do mundo – o mercado de valores e a subsequente bolha imobiliária. Mas houve exceções importantes aqui, como por exemplo o New York Times em 2006. No caso da Venezuela – bem, pode-se imaginar.
     Claro que não se pode garantir que o crescimento venezuelano continuará. Para isso, o governo terá de assumir o compromisso de manter altos os níveis da demanda agregada. Nesse sentido, a situação imediata é parecida com a dos EUA, a zona europeia e várias outras economias desenvolvidas que, no momento, sofrem com uma recuperação lenta e incerta.
     Na Venezuela, são mantidas as reservas de divisas adequadas, há um superávit do intercâmbio e da conta corrente, os níveis da dívida pública externa são baixos e há uma boa capacidade de empréstimos estrangeiros, caso seja necessário usá-los. Isto foi demonstrado mais recentemente em abril, com um empréstimo da China no valor de 20 bilhões de dólares (cerca de 6% do PIB venezuelano). Assim, é extremamente improvável que a Venezuela enfrente uma escassez de divisas. Portanto, os gastos e investimentos públicos podem ser usados no que for necessário para garantir que a economia cresça o suficiente para obter um aumento do índice de emprego e melhorar os padrões de vida, como foi feito antes da recessão de 2009. (Nosso governo nos EUA poderia fazer o mesmo, inclusive com mais facilidade, mas isso não parece estar na lista de prioridades no momento). Esta situação pode perdurar por muitos anos.
     Aconteça o que acontecer, podemos esperar uma cobertura completa de um lado da história por parte dos meios de comunicação. Por isso, lembre-se: quando ler o New York Times ou escutar a rádio pública dos EUA falando sobre a Venezuela, você estará recebendo a Fox News. Se desejar algo mais equilibrado, terá de procurar na internet.
*Mark Weisbrot é co-diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), em Washington. É doutor em economia pela Universidade de Michigan. Ao lado de Dean Baker, é autor de Social Security: The Phony Crisis (University of Chicago Press, 2000) e de várias pesquisas sobre política econômica. Preside a organização Just Foreign Policy. Também é um dos roteiristas do documentário mais recente de Oliver Stone, South of the Border. Artigo originalmente publicado no The Guardian.

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