Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Uma Constituinte para a Europa II

     A crise econômica européia tem um viés político evidente.
     Como administrar uma moeda única com 27 políticas econômicas diferentes e independentes?
     A  solução seria avançar da união monetária para a união política, criando uma federação.
     As resistências a esta solução, vem da reação à perda de poder nacional de cada país, ao transferir para um governo federal as decisões antes tomadas em âmbito local, mas isso já vem ocorrendo, e de uma forma muito pior, com a transferência de poder dos estados menores para a Alemanha e França.
     Numa federação européia, o Parlamento Europeu representaria os vários povos, com bancadas proporcionais às suas populações, e um Senado representaria cada país, igualitariamente, garantindo que todas as decisões teriam que atender aos grandes e aos pequenos Estados.
     É uma solução simples e democrática, utilizada em todas as federações, como os Estados Unidos e o Brasil, mas não vem sendo aventada pela burocracia da União Européia que tentou impor de cima para baixo uma Constituição feita entre quatro paredes, apenas aprovada através de referendos.
     Não conseguindo seu intento, inventou um Tratado Europeu, que não deixa de ser um constituição disfarçada, imposto através do mecanismo de referendos, e que representa na prática, os interesses das grandes corporações européias e dos bancos.
     São esses interesses que agora tentam impor a política de austeridade, mais uma vez à revelia da vontade popular, alegando que está respaldada pelo tal Tratado Europeu. Essa política visa apenas transferir renda dos mais pobres para os mais ricos, empobrecendo a população e enriquecendo as corporações. É um golpe político e econômico que visa destruir o estado de bem estar social, construído ao longo de séculos pelas lutas dos trabalhadores europeus, e levá-los de volta a um capitalismo selvagem.
     Todos sabem que uma política de recessão aplicada em época de depressão econômica, apenas desacelera mais e mais a economia, agudizando o problema. Mas o importante, para eles, não é o crescimento agora, são as tais reformas estruturais, as mesmas que Collor e Fernando Henrique tentaram implantar no Brasil, privatizando empresas e destruindo direitos adquiridos dos trabalhadores. Lula também fez a mesma coisa no início de seu governo, com a reforma da previdência, que roubou dos trabalhadores direitos adquiridos há décadas.
     São essas tais reformas que nossa direita não cansa de cobrar dos governos. É tudo que eles sonham: a economia deixada nas mãos do mercado, o Estado reduzido ao mínimo suficiente para apenas policiar o povo, enquanto o capital fica livre para especular à vontade, acabando com as proteções sociais e jogando as populações num vale tudo competitivo, no qual só os mais fortes sobrevivem.
     Quando o governo da Grécia falou em consultar o povo para ver se este aceitava as condições impostas pela Troika (FMI, Comissão Européia e Banco Central Europeu) Angela Merkel ficou furiosa. O povo não podia ser consultado. Agora querem enfiar goela abaixo dos gregos esse acordo, que joga o povo na miséria, ameaçando que se ele não for aceito o país terá que se retirar da zona do Euro, como punição.
     A Europa é um continente civilizado, com povos antigos e cultos. Até quando vai aceitar esta situação? Já passou da hora de alguém de bom-senso propor a formação de uma federação através de uma assembléia constituinte para resolver essa confusão.
    
     

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