Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 27 de maio de 2012



D. Lucy


     Pois é, amigos leitores, acabo de perder minha mãe, D. Lucy, que faleceu neste domingo, dia 27 de maio, às 7,00 da manhã, aos 87 anos.
     Desde a morte de meu pai, há cinco anos, que ela vinha fazendo seu caminho de volta. Primeiro deixou de andar, depois começou a confundir as coisas, como se não quisesse ir mais a lugar algum, nem entender mais nada deste mundo.
     Fizemos tudo que foi possível para reanimá-la, mas ela não reagia. Não aguentou perder seu companheiro de 62 anos de vida em comum e se deixou simplesmente ir levando.
     Reformei sua casa, rodeei ela de netos e bisnetos, para que tivesse alegria e fiz o que pude para estar ao seu lado, apesar da minha vida fora de Brasília. Mas nada deteve sua marcha irremediável rumo ao desligamento desta vida.
     Lucy foi uma batalhadora incansável. Feminista, sempre incentivou as mulheres da família para que fossem independentes dos seus maridos (coisa que ela sempre foi) e se valorizassem, superando o papel de sombra dos homens e a imagem de objeto de consumo que a sociedade capitalista tenta criar em torno da figura feminina.
     Me lembro do jogo de estréia do Brasil na Copa de 94, nos Estados Unidos, em que passistas seminuas de escolas de samba, representaram o Brasil, e ela revoltada disse: porque a mulher brasileira tem de ser apresentada sempre deste jeito?
     D. Lucy foi funcionária concursada da Câmara dos Deputados, onde trabalhou por 30 anos e, lá, foi chefe das CPIs durante 15 anos, em plena ditadura militar. Até bomba tentaram colocar nos cofres que guardavam documentos sob sua responsabilidade, mas ela não se intimidava e enfrentava com igual coragem, as queixas dos deputados da Arena e do MDB, sempre em busca de conseguir vantagens que ela contestava com o regimento em mãos.
     Era figura respeitada por funcionários e parlamentares, devido ao seu trabalho árduo e absolutamente correto. Me falou que viu e soube de coisas muito sérias nas CPIs, mas quando eu pedia que ela contasse ou escrevesse sobre esses assuntos, ela desconversava. Não podia, era uma questão de ética, dizia.
     Iconoclasta, metodista anticlerical até sua meia idade, dizia que devia ter sido queimada nas fogueiras da igreja Católica pois não gostava de padres e do papa. Nunca tomou uma Coca-cola na vida. Dizia que não tomava aquilo que ela não podia saber o que continha.
     Com a maturidade se tornou Messiânica e perdeu o preconceito contra todas as igrejas. Entrava em qualquer uma, inclusive as católicas, e fazia suas orações.
     Foi uma mãe, avó e bisavó muito carinhosa e nos ajudou a todos na vida, tanto materialmente quanto moralmente, sempre ensinando o caminho correto.
     Não posso me queixar da sua partida. Fui um privilegiado em ter uma mulher forte e esclarecida como ela, no papel de mãe.
     Espero que ela agora encontre os que foram antes dela, meu pai, seu irmão e sua irmã, seus próprios pais e muitos outros.
     A vida passa tão depressa...logo nos encontraremos novamente.
     Um grande beijo minha mãe, que Deus te abençoe e guie nessa nova vida.

3 comentários:

Thaís Neves disse...

Professor, lhe desejo muita força nesse momento tão difícil!A perda é algo que doi muito..mas que podemos superar com o tempo. E então, meus sentimentos! Abraços Thaís Neves

Thaís Neves disse...

Professor, lhe desejo muita força nesse momento tão difícil!A perda é algo que doi muito..mas que podemos superar com o tempo. E então, meus sentimentos! Abraços Thaís Neves

Unknown disse...

Eduardo, perder dói muito, mas ver quem a gente ama se perdendo dói mais... Te desejo forças para que a dor não leve a alegria da sua vida. Sua mãe trilhou um bom caminho, ela vai continuar seguindo por ele.
Paz pra vocês...