Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 1 de abril de 2012

Famílias e grupos na Bahia


     Depois de tantos anos morando na Bahia, ainda me surpreendo percebendo coisas nessa sociedade.    
     A importância da família para os baianos é muito maior do que no sudeste ou no centro-oeste, por exemplo. Lá, as pessoas se casam, tem filhos, que crescem e cada um segue seu rumo, se visitando às vezes, procurando viver independentes uns dos outros.
     Na Bahia não. As famílias ficam grudadas a vida inteira. Se possível morando perto uns dos outros até morrer.
     Os baianos são muito tradicionais, apesar de gostarem de mostrar que são abertos e modernos. Mas não. Formam grupos fechados, principalmente em Salvador, onde a entrada de um elemento estranho num grupo qualquer, seja de amigos, seja de trabalho, é uma coisa que tem que passar pela aprovação de todos os membros, e não é rápida não. Demora muito.
     Aparentemente são muito receptivos, mas não se engane, é só aparência.
     Mas qual a razão destas atitudes? Eles dizem que são solidários, amorosos, se preocupam uns com os outros, mas eu acho que não é só isso. Tem uma espécie de instinto de defesa. A Bahia foi muito discriminada por muito tempo, devido ao seu atraso. O livro A Bahia no século XIX: Uma Província no Império, da historiadora Kátia Mattoso, explica bem as razões deste atraso, ocorrido principalmente na segunda metade do século XIX e na primeira do século XX.
     Mas na segunda metade do século passado a Bahia começou a correr atrás do protagonismo que teve nos tempos da colônia e do Império. Hoje é uma das economias mais importantes e que mais crescem no Brasil, embora ainda acumule problemas sociais imensos e gargalos de infraestrutura que atravancam o deslanchar da sua economia.
     Mas o nó de tudo isso está na política. Quem mora na Bahia está assistindo na TV uma verdadeira avalanche de propaganda antecipada das eleições, sem que o TRE mova uma palha para impedir. Mário Kértz, ACM Neto, Benito Gama, Mário Negromonte, Jutahy Magalhães, Marcos Medrado, Jonival Lucas, Antônio Imbassahay e outras figurinhas carimbadas estão toda hora na TV e alguns deles só faltam dizer explicitamente: vote em mim para prefeito de Salvador, num flagrante desrespeito à lei eleitoral.
     A inércia do TRE prova que a Bahia continua uma terra sem lei, controlada por pequenos grupos que se eternizam no poder. Todos esses que eu citei acima são políticos muito antigos. Não há renovação. A grande novidade na política baiana ainda é o PT e o governador Jaques Wagner, enquanto em outros estados o PT já está antigo.
     Parece que a Bahia está sempre 20 anos atrás.
     Essa falta de aplicação da lei é uma prova de que não há um Estado na acepção da palavra, capaz de defender o cidadão, para que ele possa ser efetivamente livre. Daí os clãs familiares e o grupismo dos baianos, que se fecham em pequenos círculos de autoajuda para sobreviverem.
     Essa me parece ser a explicação mais lógica para essa atitude, que se por um lado protege os baianos da sua própria sociedade, por outro impede a livre circulação das idéias, necessária para que o pensamento contemporâneo, e mais especificamente a ciência, se desenvolvam.
     Enquanto não conseguem se libertar de suas próprias contradições, os baianos, especialmente os soteropolitanos, continuam vivendo a ilusão de que Salvador é a cidade mais linda do mundo, sem perceber que ela se transformou numa grande favela, e achando que vivendo em grupinhos ou em clãs fechados, vão chegar a algum lugar.
     É claro que a Bahia é imensa e tem áreas bastante dinâmicas, como o sudoeste (Vitória da Conquista), o oeste (Luís Eduardo é um assombro de crescimento e riqueza), Juazeiro e Feira de Santana, que se transformou num grande pólo industrial. E a continuar essa discrepância regional entre as regiões mais dinâmicas e a capital, não vai demorar para que surjam outros movimentos separatistas, como o que quer fundar o Estado de São Francisco na região oeste.
     O povo baiano tem muitas coisas bonitas. É realmente um povo alegre e generoso. Falta virar a página e se integrar ao século XXI, se não quiser ficar para trás outra vez.
    

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