Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 19 de setembro de 2010

Cuba e a economia socialista

     Prezados amigos

     Cuba tem voltado aos noticiários nas últimas semanas, com a volta de Fidel Castro à vida pública, devido às suas publicações, que ele intitula Reflexiones, acessíveis na internet através do site http://www.cubadebate.cu/ também conhecido como Blog do Fidel.
     O velho líder tem surpreendido com algumas auto-críticas importantes, como aquela em que admite a perseguição aos homossexuais em Cuba, nos anos 60 e 70. Diz que a culpa foi toda dele, que foi um grande erro e que foram anos de muita injustiça. Também admitiu a um jornalista americano, que o modelo de economia da ilha não funcionava mais, o que depois desmentiu. Mas os jornalistas que o ouviram confirmaram o seu desabafo num momento de descontração.
     Como tudo o que ele diz até hoje serve de orientação para muita gente, dentro e fora de Cuba, naturalmente ele teve que se desmentir, para não desmoralizar completamente o governo do Partido Comunista, mas notícias recentes dão conta de que o governo cubano vai demitir cerca de 500 mil funcionários, que serão realocados para a iniciativa privada, que assim vai ampliar muito seu espaço na economia da ilha.
     Ou seja, os cubanos finalmente estão compreendendo que estatismo não significa necessariamente socialismo e para que os meios de produção se desenvolvam é necessária uma classe que surgiu historicamente para isso, a burguesia, mesmo que seja controlada pelo Estado e pelo Partido Comunista, como fazem os chineses.
     Já falei aqui sobre modelos econômicos (modelos, do dia 01 de agosto de 2010), analisando a economia-política chinesa. Atualmente, com a falência do estatismo soviético e mais recentemente do neoliberalismo promovido pelo grande capital nos anos 90, temos dois modelos vigentes no mundo, o socialdemocrata europeu e o chinês, todos dois com variações pelo mundo. Na América Latina a social-democracia avança, temperada pela lembrança aventureira de Che Guevara e por um sentimento de libertação da hegemonia americana que as vezes nos leva a um tipo de afirmação anti-imperialista meia ridícula, ao estilo Chavez. Mas a América espanhola adora caudilhos, como Perón, Trujillo e o próprio Fidel Castro. Nós também tivemos nossos caudilhos nacionais, como Vargas e muitos outros locais, como Antonio Carlos Magalhães, Tenório Cavalcanti, Gilberto Mestrinho, etc, etc. Mas acho que os nossos são menos falantes.
     Na Ásia, o modelo chinês se espalha, porém com um viés democrático, ou seja, estado forte que controla o capital, mas com eleições livres, direitos civis, etc.
     Mas o que me intriga nisso tudo, é saber o que resta de todas as teorias econômicas do socialismo. Sim, porque as análises que conhecemos sobre o chamado comunismo são, na sua maioria, propaganda contra ou críticas políticas, principalmente em relação à ausência de democracia. Mas eles tinham escolas de economia que formaram profissionais especializados em planejamento e tinham teorias sobre como administrar aquilo tudo, como desenvolver uma economia que gerasse pleno emprego, planejando o consumo, o aumento da renda e da produção nos seus famosos planos quinquenais e conseguiram manter tudo isso equilibrado. Durante 74 anos a economia soviética funcionou assim. Será que nada restou de todos esses instrumentos desenvolvidos por eles? Será que nada se aproveita de uma experiência tão longa?
     Agora que os ardores ideológicos já se acalmaram e que não existem mais modelos econômicos muito definidos, talvez fosse o momento de se estudar um pouco essa experiência tão marcante, para entendê-la melhor e ver o que se pode aproveitar, porque com certeza alguma virtude haveria de ter, para durar tanto tempo. E vejam bem, não se trata de estudar Marx, porque ele estudou o capitalismo na sua obra fundamental, O Capital, mas não pode estudar o socialismo, porque este não existia de fato. Apenas lançou alguns princípios sobre os quais Lenin construiria seu modelo político e econômico. Mas mesmo Lenin tentou inovar, com sua Nova Política Econômica, nos anos 1920, que caminhava para algo como o modelo chinês. Com sua morte prematura, Stalin consolidou o modelo estatista e burocrático que levaria o campo socialista a um beco sem saída. Resta saber se tudo que se escreveu e praticou ao longo desses 74 anos, foi apenas um esforço em vão ou se podemos aproveitar alguma coisa.
     As mudanças finalmente parece que estão chegando em Cuba. Quem sabe eles poderão nos fornecer essa resposta?

Um comentário:

Jefferson disse...

Quem sabe com a NEP cubana tenhamos novas perspectivas para um mundo melhor.