Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A primavera árabe avança
 
 
     O resultado do referendo sobre a nova constituição egípcia foi um passo importante para a consolidação da democracia representativa naquele país e em todo o Oriente Médio.
     A vitória do "sim", aprovando a constituição elaborada pela maioria de representantes da irmandade muçulmana, mostra a importância dessa organização na resistência às ditaduras ao longo de décadas e contra os interesses norte-americanos que as respaldavam.
     De tendência islâmica moderada, a irmandade mistura modernidade com os princípios islâmicos básicos, sem no entanto descambar para o fundamentalismo fanático. Esta parece ser a tendência em todo universo árabe que vai se libertando das ditaduras napoleônicas implantadas no século XX, enquanto Israel e as monarquias feudais, fortemente apoiados pelos Estados Unidos, continuam desnorteados diante das mudanças.
     O final da guerra civil na Síria, que se aproxima com a provável vitória da revolução contra o ditador Bashar El Assad, deve levar também a irmandade ao poder, para desagrado dos ocidentais.
     As manifestações de preocupação de americanos, israelenses e governos europeus, frente a nova constituição egípcia, assim como da agência Standart & Poors, representante dos interesses capitalistas do ocidente, sobre os novos rumos da política egípcia, demonstram que o país está na direção certa.
     O presidente Mursi tem agora uma árdua tarefa pela frente, a de reconstruir a economia e promover o realinhamento político do mais importante país árabe, de forma a se libertar da influência ocidental e recuperar a liderança que o Egito exercia anteriormente sobre toda a região.
     Assim que a revolução chegar ao final na Síria, depois de ter provocado mudanças profundas também na Líbia, Egito, Tunísia e Argélia, iniciando também processos democratizantes no Marrocos, Bahrein e Iemen, ela deve se mudar de armas e bagagens para as monarquias feudais, derrubando os últimos bastiões do poder ocidental na região. Aí será vez de Israel fazer a sua opção: ou aceita o Estado Palestino e aprende a viver em paz com as novas democracias árabes, renunciando ao sonho racista e expansionista de construir um império na região, ou corre o risco de ser destruído pelo novo poder árabe.
     Como dizia Camões: "Cessa tudo que a antiga Musa canta, que outro valor mais alto se alevanta..."


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