Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mudar
 
 
     Há muitos momentos na vida em que precisamos mudar. Quando somos crianças, mudamos constantemente, acompanhando nosso corpo e nossa mente que crescem, recebendo a formação e as lições de vida daqueles que cuidam de nós, nos alimentam e educam.
     Depois vem a fase difícil da adolescência, quando nosso corpo se transforma finalmente naquilo que vamos ser e desabrochamos para uma vida plena de adultos. Então entramos numa fase de transição rápida, quando passamos a ter uma vida sexo-afetiva, e viramos cidadãos, com documentos: identidade, título de eleitor, carteira de motorista, de reservista para os rapazes, de trabalho, certidão de casamento, etc.
     Logo nos vemos à frente de muitas responsabilidades, como cuidar de filhos e de uma família, dando-lhe sustento e provendo o mesmo cuidado que recebemos no início de nossa vida.
    Então vem as responsabilidades profissionais, que exigem de nós mais responsabilidades,  maturidade, competência, capacidade de trabalho e conhecimento técnico específico de uma atividade, que será o nosso ganha pão durante o resto da vida.
     Para os que tiveram a felicidade de se graduar em alguma profissão de nível superior, isso implica em melhorar constantemente, valorizando seu currículo e adquirindo mais e mais conhecimentos com a experiência profissional que se acumula.
     Depois vem a fase em que nossos filhos entram na adolescência e passam a nos desafiar, tentando se afirmar sobre nossos conceitos, e passamos à defensiva, numa fase difícil também para pais e mães.
     Logo eles se vão de casa, cuidar de suas próprias vidas e nos quedamos com as lembranças deles, tendo que nos adaptar à uma vida que de repente se esvaziou. Aí entramos na fase de cuidar daqueles que nos cuidaram e que já tendo atingido a velhice, agora necessitam de nossa atenção.
     Quando eles se vão, já estamos entrando na nossa própria velhice e vem a fase da aposentadoria, em que temos que nos adaptar novamente a uma vida que se esvaziou mais ainda, sem filhos, sem trabalhos, até que, finalmente, precisemos também de alguém para cuidar de nós.
     Embora esse roteiro seja mais ou menos parecido para todos, com variações que a sorte e o destino nos preparam, a verdade é que estamos sempre mudando nesse itinerário terrestre, e isso quase nunca é fácil.
     Daí vem o aprendizado. Daí vem o sentido da vida, para que quando cheguemos ao final deste caminho, que todos temos que percorrer, uns mais outros menos, possamos dizer que aprendemos alguma coisa, que nosso espírito evoluiu alguns passos, que tiramos algumas lições do nosso caminhar.
     Mas a verdade é que nem todos evoluem. Conheço pessoas que se orgulham de não mudar nunca, de serem sempre as mesmas, como se isso fosse uma virtude.
     Conheço também pessoas que são verdadeiros vulcões, em eterna erupção, deitando lava que vai se transformando em pedra pelos caminhos onde passam, tal seu furor de transformação, sem que consigam tirar alguma conclusão de tantas transformações que experimentam pela vida.
    Outros simplesmente passam pela vida a contemplá-la, sem vontade de fazer nada, de ser nada, apenas deixando o tempo passar e sendo levadas pelas circunstâncias.
     Enfim, as experiências humanas de vida são tão variadas que seria impossível estabelecer uma gradação no que diz respeito às mudanças, já que estamos em constante movimento, como todo o universo.
     Mas há uma experiência sublime, capaz de nos fazer avançar profundamente no espaço da consciência, que age sobre nós como um casulo de borboleta, transformando um ser rastejante em um belíssimo e fugaz ser alado, capaz de irradiar beleza, consagrando a mudança como instrumento evolutivo da natureza.
     É o amor, que quando chega, muda tudo. Ele não tem hora para chegar. Pode chegar na época da reprodução, quando somos jovens e nos sentimos fortemente atraídos para uma vida conjugal, pode vir na tenra infância ou mesmo na velhice, nos surpreendendo com suas luzes e cores.
     Há aqueles que passam pela vida sem sentir essa grande transformação. Esses perderam a oportunidade de fazer sua maior mudança. Há aqueles que se iludem e confundem os chamados do corpo ou da solidão com esse sentimento profundo. E há aqueles que passam por ela e sofrem, mas mesmo assim foram abençoados pela luz da mudança mais profunda pela qual um ser humano pode passar e que nos aproxima mais dos mistérios do criador.
     Por isso, não devemos temer as mudanças. Elas sempre nos trazem algo novo, alguma coisa da qual sempre podemos tirar alguma lição. Ou como dizia aquele filósofo: mudo porque penso.
     Melhor ainda, poderíamos dizer: mudo porque estou vivo.


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