Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um mundo doente

     Revirando as coisas da casa de minha mãe, que fui obrigado a desmontar, achei um livro muito interessante, intitulado Receitas para ficar doente, do médico Marcio Bontempo (editora Hemus, Guarulhos, SP).
     O livro, escrito nos anos 80, descreve o absurdo dos tratamentos médicos voltados para a cura de problemas causados pela má alimentação que nós, seres humanos, estamos acostumados, sem que a medicina faça nada para prevenir os pacientes das causas dos seus problemas.
     O autor fala em duas indústrias complementares, a dos alimentos e a da medicina. A dos alimentos nos envenena com seus excessos de sal, açúcar branco, vários tipos de aditivos colocados nos alimentos (corantes, acidulantes, emulsificantes, aromatizantes, etc), carnes cheias de hormônios, além de estímulos ao consumo de alcool. Depois que ingerimos tudo isso e adoecemos, vem a indústria da medicina nos vender planos de saúde, muitos remédios e os serviços desses que deveriam nos orientar sobre nossa alimentação, mas não o fazem: os médicos.
     É um mundo doente e que lucra com as doenças. O estômago, que deveria receber o alimento que nos sustenta, virou um parque de diversões, para ajudar a humanidade a superar sua depressão, causada por uma vida idiotizada, feita de consumismo, de alienação e de submissão aos interesses das grandes corporações.
     Tudo se encaixa. Eles nos dominam fazendo com que acreditemos que temos que nos matar de trabalhar para subir na vida, gerando muito lucro, depois quando ficamos deprimidos com a falta de sentido disso nos vendem a ilusão de que consumindo cada vez mais nos sentiremos melhor.
     Quem sabe com um carro novo você poderá realizar todos os seus sonhos?
     Como isso também não funciona, sugerem que bebamos muita cerveja com os amigos para festejar e para acompanhar um churrasquinho. Já repararam como cada vez mais as pessoas oferecem churrascos? Ninguém imagina que possa haver alguém que não coma carne. Tenho dois filhos vegetarianos e acompanho a dificuldade cada vez maior deles para se alimentarem. Pede-se um pastel de queijo num boteco qualquer e... só tem com presunto. Não há nada só de queijo?, perguntam, e os atendentes respondem enfastiados que não. Mas tem de frango! Dizem. E frango não é carne? Não é um animal morto?
     A Terra virou um imenso matadouro para alimentar 7 bilhões de carnívoros, que se divertem comendo bichos criados nas condições mais vis de reclusão e tortura, e frequentemente mortos de maneira cruel, para tentar acreditar que suas ilusões de consumo são uma maneira adequada de viver.
     Quanto dinheiro gasto para construir churrasqueiras ao lado de piscinas, nas quais se recebem com orgulho os convidados, sem pensar no que estão comendo e bebendo: veneno!
     É tudo uma grande ilusão que vai acabar logo nos hospitais, onde a medicina entra com seu arsenal de exames tecnológicos, que ainda temos que acionar a justiça para que os planos de saúde aceitem pagar, mas que não impedem a progressão das doenças muito bem semeadas pelos alimentos contaminados que ingerimos, e pelo excesso de alcool e de proteína animal.
     Uma loucura!
     Enquanto isso os vegetarianos são olhados com desconfiança. Gente esquisita! Eles mesmos tem que ingerir alimentos contaminados, já que a soja, sua principal fonte de proteínas, está tomada de agrotóxicos, principalmente a soja transgênica, que é maioria nas prateleiras dos supermercados.
     Mas o que importa tudo isso, não é mesmo? A economia precisa crescer, dar lucros e tudo isso faz parte do nosso modelo de vida (e de morte). Comer, adoecer e usar muitos remédios e planos de saúde, dá até status.
     Um cidadão que só coma comida saudável e não adoeça, está conspirando contra o sistema. É um verdadeiro subversivo, como se dizia nos tempos da ditadura, pois está tentando impedir a realização de toda a lógica deste sistema: fazer com que as grandes corporações que dominam o mundo acumulem mais e mais riquezas e poder.
     E se você não aceitar empregos estressantes e competitivos, que desencadeiam todo esse processo, será visto como um preguiçoso que não quer trabalhar. O negócio é viver correndo de um lado para o outro para mostrar aos outros que você é um sujeito trabalhador, responsável e cumpridor dos seus deveres, mesmo que isso o torne um pai ausente e agressivo, um marido violento, um motorista histérico, que no fim do dia precisa tomar uma cervejinha para conseguir relaxar e fazer um sexo muito ruinzinho, só pra provar pra si mesmo que ainda dá no couro.
     Como dizia aquela música: Êh vida de gado, povo marcado, povo feliz!

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