Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 9 de outubro de 2011

Violência nas escolas 


     Estou cansado de ouvir as mesmas opiniões conservadoras sobre violência nas escolas.
     De que antigamente não era assim e sou do tempo em que os alunos respeitavam o professor e precisamos de mais disciplina, etc. Mas a verdade é que ninguém quer ver a falência de um sistema que se baseia justamente na disciplina e na imposição, para lidar com anseios e demandas de uma geração que não aceita mais ser reduzida a meros ouvintes e quer ser tratada com respeito.
     É incrível como os professores e as próprias escolas nunca assumem sua parte de culpa nos eventos. A responsabilidade é invariavelmente atribuída aos próprios alunos ou às suas famílias, além de outros fatores recorrentes, como a televisão, a internet, as drogas, o consumismo, etc.
     Não se trata de negar a violência que existe nas ruas, e que não poderia deixar de invadir o espaço das escolas (porque só a escola seria preservada desse fenômeno?), mas de perceber que a maioria dos professores não sabe lidar com seus alunos, não tem a menor noção de psicologia e nem de democracia e não faz questão de ter.
     A escola em si, seja ela pública ou privada, brasileira ou estrangeira, de todos os níveis, com honrosas excessões, se baseia no autoritarismo, onde um sujeito, professor ou professora, pretende ter um domínio absoluto sobre os outros, que são tratados como meros objetos, seres passivos, que tem que aceitar tudo o que o professor diz ou faz, como se ele fosse infalível, se sujeitando a vários tipos de punição caso não se submeta docilmemente.
     Quem já não teve um daqueles professores terríveis, que faz gato e sapato com seus indefesos alunos, descarregando suas frustrações e até mesmo suas taras sobre eles? E o que se faz para coibir tantos abusos? Nada.
     O professor tem sempre a razão, é sempre a vítima. Até parece que nenhum  de nós foi vítima desse tipo de coisa no nosso tempo de escola. A diferença é que agora a possibilidade de regir violentamente saiu das telas do cinema e chegou às nossas esquinas. A revolta e a humilhação do aluno, antes curtidas em silêncio raivoso e descontadas no colega mais fraco através do bulling, tomou coragem para revidar diretamente naquele que simboliza a opressão dentro da sala de aula: o professor.
     É incrível como as escolas, tão descuidadas no ensino do português e da matemática, são tão ciosas em colocar alunos em filas, como se fossem soldados, estabelecer proibições de todo tipo e fazê-los se sentirem tão inferiores diante da autoridade do professor.
     Para que isso? Porque não estabelecer uma regra de respeito mútuo entre professores e alunos dentro de sala de aula? Os alunos não são cidadãos? Não é isso que se apregoa aos quatro ventos, de que é preciso formar cidadãos críticos e conscientes? Mas como fazê-lo se eles são reduzidas a condição de seres-objetos?
     Não sei se é porque fui formado numa escola onde a democracia era a base do relacionamento entre professores, estudantes e funcionários, o antigo CIEM, da Universidade de Brasília, mas como professor nunca tive essa dificuldade em me relacionar com meus alunos.
     Existem alunos problemas? Existem, claro. Lidar com gente nunca é fácil. Mas isso existe também nas empresas, nas repartições públicas, nas associações de qualquer tipo. Faz parte da natureza humana ser contraditório e há uma maneira melhor de lidar com isso do que apenas com medidas disciplinares.
     Talvez seja chegada a hora de uma nova educação, mais libertária, com uma democracia verdadeira dentro das escolas, que vá além das meras eleições para diretor ou para escolher representantes estudantis, onde o aluno possa fazer seu próprio currículo, desenvolver livremente sua vocação, produzir conhecimentos, ao invés de apenas recebê-los empacotados (embolorados?), trabalhar junto com os profesores na construção desse conhecimento novo, sem a preocupação de ter de se manter sob a sombra de um mestre, que na maioria dos casos, nem tem competência para propor nada de novo.
     Enquanto os professores continuarem entricheirados em seus sindicatos, reivindicando apenas aumentos, sem discutirem uma nova educação e insistindo em se manter em seus pedestais, temo que a violência só vá aumentar.E enquanto a escola pública depender de prefeitos e governadores descompromissados e a escola particular continuar a ser um simples negócio visando lucros, nada vai mudar, a não ser para pior.

      

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