Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 26 de junho de 2011

A volta do elefante

    Em 1990, durante o governo Collor, a direita brasileira iniciou uma violenta campanha pelas privatizações.
Para isso os empresários interessados em se apoderar das empresas estatais usavam um elefante como símbolo do Estado, que segundo eles seria pesado e lento, em oposição às empresas privadas que seriam leves e ágeis.
     Este tipo de campanha surge sempre quando os empresários neoliberais querem se expandir para atividades ocupadas pelo governo e, para quem não se lembra, os governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso, entregaram centenas de empresas eficientes e rentáveis aos empresários, que depois as "enxugaram", demitindo milhares de funcionários, e levando muitas delas à falência, como foi o caso da antiga Vasp, pertencente ao governo paulista. Ou então aumentaram o preço dos seus serviços dezenas de vezes, fazendo com que o consumidor pagasse muito mais por serviços muito piores, como no caso das empresas de energia elétrica ou telefônicas (quem não tem queixas contra a Oi?).
     Desde o triunfo do governo Lula não se ouvia mais esse argumento, dado o desastre que foi o governo Collor e também à quase falência que FHC levou o Brasil em 1998, inclusive reprimindo greves e movimentos sociais para beneficiar o capital.
     Agora, talvez apostando no esquecimento e embalados pelo esgotamento da capacidade do Estado brasileiro em investir mais, o que levou o governo Dilma a estabelecer a concessão de alguns aeroportos para a iniciativa privada, eles voltam à carga, trazendo seu personagem principal, o elefante, de volta.
     Interessante observar que isso ocorre no momento em que a Europa vai a falência, justamente por ter adotado o modelo privatista, em que principalmente os bancos privados fazem a verdadeira governança econômica dos países, agindo irresponsavelmente, sem controle nenhum dos cidadãos e levando populações de países desenvolvidos como a Grécia, a Irlanda e Portugal ao desespero, na medida em que querem que o povo pague a conta das suas aventuras empresariais, quando estas fracassam (e sempre fracassam), para salvar...os bancos.
     Então na verdade a coisa funciona ao contrário: é o Estado que dá segurança ao cidadãos e a governança privada quem massacra o povo com o peso das sua irresponsabilidade.

    

A capa da revista Época, que mostra um elefante sentado sobre um ser humano, não deveria ser dedicada ao Estado, mas sim aos bancos e seu representante maior de sempre, o FMI, que estes sim massacram os povos do mundo inteiro.
     Os protestos europeus dizem que não haverá democracia enquanto o povo não controlar a economia e que esta não pode ficar nas mãos de uma minoria que não dá satisfações do que faz, e depois quer que o povo pague a conta. Ou seja, querem um controle maior do Estado sobre os empresários.
     Entenda-se que aqui quando se diz Estado, não se está dizendo simplesmente Governo, mas sociedade civil organizada.
     Então na verdade o elefante são eles e a legenda da capa de Época deveria ser: Bancos S.A.


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