Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O amor

     Amar é difícil, mas é fundamental.
     Ninguém vive sem amor, nem mesmo uma planta, cujas raízes se beneficiam da umidade das outras ao seu lado, da chuva que cai, dos ventos, pássaros e insetos que espalham suas sementes. Nem os animais sobrevivem sem amor, seja o de uma cadela pelos seus cachorrinhos, seja de um ser humano pelo seu gato de estimação.
     O amor move a terra, tanto quanto a competição entre os que aqui habitam. Solidariedade e competição convivem nesse estranho mundo em que precisamos daqueles com os quais competimos. Sem um ou outro, perecemos.
     Mas o convívio amoroso entre os seres humanos é mais complicado pois nele interfere aquilo que nos diferencia dos outros animais: a nossa inteligência.
     Reagimos às atitudes do outro através da observação e do processamento das mensagens que suas atitudes vão nos passando. Assim podemos perceber padrões de comportamento, atos de egoísmo ou de desprendimento, que fazem a gente se afastar ou aproximar do ser amado.
     Depois de uma longa convivência, então, já conhecendo defeitos e virtudes, conseguimos fazer um balanço daquilo que é positivo e negativo no outro, tomando isso como base para decidir a continuidade ou não da convivência.
     Casamentos não são mais para sempre, mas duram enquanto o saldo do relcionamento for positivo para ambos, a não ser que haja uma sujeição de um pelo outro, que leve à submissão e à dominação, fazendo a parte dominada aceitar uma relação que lhe é prejudicial, por medo das consequências de uma separação.
     Em geral isso ocorre após um longo processo de auto-desvalorização, em que apessoa se acha incapaz de merecer algo melhor do que aquilo que tem. Desvalorizar a pessoa, é portanto, uma forma de submete-la, de dominá-la, para enfraquecer sua capacidade de reagir ao domínio.
     Depois de se libertar de uma relação dessa, quando a pessoa consegue recuperar sua auto-estima, geralmente fica mais zelosa de sua auto-preservação, repudiando logo atitudes que pretendam desvalorizá-la. Fica mais atenta e mais liberta também, o que pode causar uma impressão de soberba ou de arrogãncia no outro.
     Mas é preciso mesmo ficar atento, pois por trás das palavras calientes de amor, muitas vezes se escondem vícios e defeitos de personalidade que não tem nada a ver com os sentimentos.
     Mas apesar de todos os riscos, amar sempre vale a pena, mesmo quando a convivência se torna impossível. Na verdade o único derrotado no amor é aquele que não consegue amar. Quem ama, de uma forma ou de outra, sempre sai vitorioso, pois mesmo se sentindo prejudicado sabe que conseguiu vivenciar a experiência fantástica de sair de si mesmo e de sentir que um sentimento tão forte o invade a ponto de dar mais valor ao outro que a si mesmo.
     Ou como resumiu magistralmente Luis de Camões:

Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer,
É um andar solitário entre a gente
É um nunca contentar-se de contente,
É um cuidar que ganha em se perder

É um querer estar preso por vontade,
É servir a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata, lealdade,

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si mesmo é o amor?


2 comentários:

Adriano Araújo disse...

Belíssimo texto.
O amor, realmente, é o sentimento maior. Não importa a forma, a intensidade, nem o tipo, ele sempre é verdadeiro, enquanto sentimento. Contudo, é preciso que seja vivido em sua essência, límpido, sem defesas. O amor que escravisa não é amor, quem ama cuida, preserva e protege, o resto é paixão e passa, o amor não, ele se aquieta num canto até ser cutucado, dai... quando verdadeiro, reacende, avassalador.

Claudete Eloy disse...

Aceitar o outro como ele é e amá-lo seja lá como ele for,é a forma mais pura de amar.Mesmo sem a menor esperança de ter o ser amado um dia, mas sem sofrer com isto, pelo contrário, se sentindo repleta de amor e felicidade, porque quem ama sempre é feliz. É, o amor pode chegar a níveis inimagináveis pela maioria dos mortais que acreditam que todo amor tem que ser recíproco e obrigatóriamente acabar na cama. Há amores tão intensos que se bastam por si só. Quem ama desta forma é um ser pleno e seu amor imaculado, permanecerá perfeito porque a carne não o corromperá. Quem não entende o que eu digo, nunca amou de verdade nesta vida. O AMOR não é para ser explicado e sim sentido, só quem sente tem idéia do que possa ser AMAR. Tentar explicar, definir ou teorizar sobre o amor é a maior das tolices. O amor não é lógico, e extrapola qualquer coisa que dele tente se dizer.Por isto me calo.