Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sexta-feira, 4 de março de 2011

Rapidinhas

A Fera de Caxias


     Eu era pequeno e ainda morava no Rio, quando uma mulher seqüestrou uma menina, filha do seu amante que a havia deixado, e a assassinou como vingança. Seu pequeno corpo foi encontrado dentro de um poço dias depois e a criminosa ficou conhecida como A Fera da Penha, bairro onde ocorreu o crime.
     50 anos depois a história se repete, também no Rio de Janeiro, com o assassinato da menina Lavínia, de apenas sete anos, assassinada pela amante de um homem que queria se vingar dele por motivos ainda não esclarecidos.
     Segundo depoimento do pai, exibido pela televisão, a assassina teria ameaçado se vingar na filha, caso o amante a deixasse. Segundo outra versão, ela queria dinheiro.
   Independente do motivo, essas tragédias são causadas, na maioria das vezes por psicopatas, que não sentem absolutamente nada ao causar dor nos outros. Como se prevenir de tais coisas? Com certeza, dando mais valor à família e não se envolvendo em aventuras sexuais, numa época de liberalidade e hedonismo.  
     Existem coisas mais importantes do que o prazer. A família é uma delas. Sem querer embarcar em nenhuma onda conservadora, a família, não importa o seu formato, precisa ser mais protegida e respeitada no Brasil.
Vaudeville

     O empresário da noite, Ricardo Amaral, lançou seu livro de memórias, onde conta suas peripécias como dono de boates da moda nos anos 60, 70 e 80. Sua esposa Gisela Amaral e ele deram muitas entrevistas à TVs e revistas, se vangloriando da vida que levavam.
     Não tive estômago para ler seu livro e conferir se ele conta, entre os seus feitos notáveis, o fato de que provocou um acidente na rodovia Rio-São Paulo em 1973, quando sua Mercedes-benz atravessou a pista em alta velocidade e veio chocar-se de frente com um Volkswagen de um casal que voltava do seu sítio em Barra do Piraí, matando os dois.
     Ricardo Amaral não teve seqüelas graves, enquanto Gisela quebrou uma perna. Mas para evitar escândalo, se aproveitando das suas boas relações com os governos da ditadura, Ricardo comprou a polícia da baixada fluminense para que o casal fosse rapidamente enterrado como indigente, antes que a imprensa soubesse do caso e pudesse causar algum prejuízo à sua imagem de empresário da alegria da noite carioca.
     O dois mortos eram meus tios, Thomas Maracajá e sua esposa, irmã de minha mãe, Cyrene Stumpf Maracajá.
     Quem impediu que o enterro acontecesse foi um agente funerário de Barra do Piraí que conhecia meu primo, filho deles, funcionário do Banco do Brasil na época, e o avisou. Meu primo localizou os corpos dos pais, nus, sobre uma pedra, no necrotério de uma cidade da baixada, prontos para serem enterrados e esquecidos.
     Resgatou-os, deu a eles um enterro decente e conseguiu condenar Ricardo Amaral a dois anos de cadeia, pena que ele não cumpriu pelo benefício da Sursis, uma figura jurídica que permite manter em liberdade quem é condenado até dois anos no máximo. É claro que ele conseguiu o benefício devido às suas boas relações com as autoridades militares da época.
     Duro é vê-lo ainda hoje sendo tratado como herói pela imprensa, continuando com sua vida boa, seu vaudeville, enquanto nossa família teve que se contentar em ficar sem Maracajá e Cirene, duas figuras lindas, sem ver a justiça ser feita.



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