Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 9 de janeiro de 2011

Battisti

     Não apoio nenhum tipo de terrorismo, que significa matar pessoas inocentes para criar um clima de terror na sociedade. Cesare Battisti era participante de um grupo comunista revolucionário, na Itália dos anos 70o que não significa necessariamente que ele fosse um terrorista. Em geral o terrorismo era utilizado apenas pela direita. A esquerda atacava os representantes dos governos que combatia e não pessoas inocentes. Mas alguns grupos podem derivar para ações inconsequentes e não se pode saber exatamente o que aconteceu neste caso específico
     A alegação de que aquele era um governo democrático foi desmentida nos anos seguintes pela Operação Mãos Limpas, levada a cabo por juízes italianos, que colocaram na cadeia os principais políticos que a esquerda armada italiana combatia. Pode-se dizer que essa limpa geral promovida foi fruto indireto da luta dos esquerdistas, que não suportavam mais a farsa de uma falsa democracia que servia para que grupos se apoderassem dos recursos públicos, numa grande armação da qual participavam quase todos os partidos e políticos importantes da Itália.
     A condenação de Battisti foi feita quando o estado italiano estava sob "leis de excessão", feita por esses governos corruptos para enfrentar os grupos armados que estavam estragando sua festa. Por isso ela não foi aceita em vários países democráticos, como a França, que chegou a conceder asilo político a ele. Durante seu julgamento, alguns membros do seu grupo armado foram beneficiados com delação premiada, o que significa que bastava denunciar alguém para ter sua pena reduzida. Como Battisti estava foragido, os outros jogaram toda a culpa nele, que nunca pode se defender no tribunal, sendo julgado à revelia. Ele sempre negou a participação nos atentados que provocaram a morte das quatro pessoas de que é acusado. Testemunhas oculares do fatos, falaram em um homem alto e louro. Battisti é baixo e moreno.
     Tudo isso indica que pode haver um erro judiciário no caso dele, daí a decisão de Lula de não extraditá-lo para a Itália. É claro que nossos telejornais não contam essa história, chamando-o apenas de terrorista e de assassino. Vale lembrar que o atual governo da Itália representa os mesmos setores que Battisti combatia e não pode ser considerado democrático, já que seu primeiro ministro é dono dos jornais, das televisões, fez passar uma lei no parlamento que proibe que ele seja processado e governa à favor dos mesmos grupos que se beneficiavam das tramóias que a esquerda combatia nos anos 70.
     Se alguém quiser ter uma idéia mais clara do caráter fascista do governo Berlusconi, sugiro assistir o documentário Viva Zapatero, de Sabina Guzzanti (nada a ver com o primeiro ministro espanhol Zapatero), que conta em detalhes como a direita italiana intimida jornalistas e estabelece a censura sobre todos aqueles que ousam criticar Berlusconi.(para ver uma sinopse do filme entre em http://www.youtube.com/watch?v=2zgOM8jbWHk&feature=related). Pude assisti-lo no canal Telecine Cult, no dia 01 de janeiro, na Sky.
     Battisti significa tudo que os neofascistas italianos mais odeiam, porque é um combatente que não se rendeu e não se submeteu. Se ele é culpado ou não só saberemos quando a Itália tiver novamente um governo decente e verdadeiramente democrático, capaz de reabrir seu caso e permitir que ele se defenda.     
     Enquanto isso não acontecer, acho correta a decisão de Lula de permitir sua permanência no Brasil e considero vergonhosa a decisão do presidente do STF, Cesar Peluso, de reabrir o caso, depois do tribunal ter decidido que a palavra final ficaria com o Presidente da República. Peluso parece estar com medo da reação italiana e jogou a decisão para o ministro Gilmar Mendes, cujas posições direitistas são fartamente conhecidas.
     Esperamos que isso ainda possa ser revertido. Com a decisão de Lula, a permanência de Battisti na prisão entrou na área da ilegalidade e sinaliza um julgamento político, influenciado pela ultra-direita italiana, que pode comprometer a imagem da justiça brasileira.

Boa segunda-feira à todos

Ricardo Stumpf Alves de Souza

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