Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 21 de novembro de 2010

Rapidinhas

Dia de Visita
     Atenção amantes do teatro e das artes plásticas: vai começar a mostra Dulcina de Teatro e Artes Plásticas, que ocorre duas vezes por ano, com trabalhos dos alunos da faculdade Dulcina de Moraes, em Brasília.
     Antes da estréia, porém, está em cartaz (último dia hoje, 21 de novembro às 20,00h.) um sucesso da penúltima mostra, agora em circuito comercial:  Dia de Visita, baseado em duas peças de Plínio Marcos que tratam sobre o sistema carcerário brasileiro: Barrela e Mancha Roxa.
     Encenado nos subterrâneos do Centro Comercial Conic, o público é tratado como se fosse uma turma que vai visitar um presídio, sendo recebido pelos "guardas" que os encaminham para as celas. Aí pode-se escolher entre as celas masculina e feminina, em corredores diferentes. Em frente às celas, pequenas arquibancadas para assistir aos espetáculos que se desenrolam atrás das grades. Ao final das encenações o público se dirige a outra cela e assiste ao outro espetáculo. Assim, as duas peças são encenadas duas vezes seguidas. Barrela (na cela masculina) é uma das primeiras peças escritas por Plínio Marcos e A Mancha Roxa (na feminina) a última.  
     Curiosamente as duas tratam do mesmo tema, o precário sistema carcerário brasileiro, embora o abordem sob foco diferente (violência sexual e DSTs nas prisões).
     Bom programa para nossos distraídos parlamentares que nunca se preocupam com o destino dos presos no Brasil. O espetáculo é chocante, na crueza do seu realismo, mas dá voz aos que nunca tem voz, especialidade do autor.
Dirigido por de Francis Wilker e Nei Cirqueira.
Produção; Cia Fábrica de Teatro/DF.




Um Terrível Equívoco


     Acabo de passar 6 anos e meio na selva colombiana junto com Ingrid Betencourt, lendo o impressionante relato do seu sequestro pelas Farc, a guerrilha colombiana, no livro Não há silêncio que não termine (Cia Das Letras, São Paulo - 2010).
     Venho sofrendo há dias com essa leitura pela qual eu ansiava desde que Ingrid fora solta. Já havia comprado um pequeno livro com a carta que ela escrevera à sua mãe desde o cativeiro, mas nada se compara a este tremendo panorama memorialista com que ela nos brinda, no seu excelente texto, para nos fazer cair na realidade da tragédia latino-americana.
     Minha primeira reação ao terminar de ler o livro foi me olhar no espelho e chorar envergonhado, me perguntando como pude apoiar as Farc, como pude ter simpatia por esse grupo capaz de cometer tantas desumanidades em nome de uma revolução que não faz mais sentido, embora sempre tenha me posicionado contra os sequestros?
     Que terrível equívoco! Agora entendo o silêncio dos cubanos, que há anos não apóiam mais esse movimento, que se desvirtuou para uma espécie de afirmação personalista de heróis do campo, sem ideologia maior que a própria grandeza que tentam construir.
     Pobres de nós, latino-americanos, espremidos entre o império norte-americano e nossas próprias incongruências absurdas.
     Nós brasileiros, que lutamos tanto pela democracia não podemos apoiar um movimento que se dá o direito de escolher indiscriminadamente pessoas que vai retirar da vida civil, inclusive crianças e idosos, submetendo-os à um submundo, uma vida de cão, que consiste em ser arrastados pela selva acorrentados pelo pescoço, sem nenhuma dignidade, para serem usados como moeda de troca.
     Nada justifica o que eles fazem, nem mesmo a indiferença da burguesia colombiana em relação à miséria do seu povo, principalmente nas áreas rurais, nem o horror dos paramiliatres e da corrupção, num país em que o tráfico de coca corrompeu até os revolucionários.
     Está na hora da Colômbia ter um governo democrático de esquerda que distribua suas riquezas e encerre de vez essa guerra absurda.
     Pensei que Ingrid fosse ser candidata a presidente da Colômbia nas últimas eleições. Mas como poderia voltar à vida pública sem antes tirar dos seus ombros essa imensa carga de sofrimento? É isso que ela acaba de fazer através do seu depoimento.
     É muito impressionante, não apenas pela descrição detalhada dos fatos, das experiências vividas, da maneira como as Farc se organizam, dos flagelos inflingidos aos prisioneiros, mas pelo olhar humano que soube descobrir as belezas ocultas, revelar as sombras, levantar os véus do que se passava em cada ser humano envolvido nessa trama terrível.
     Liberta pelas suas palavras, quem sabe Ingrid possa dar um jeito naquele país, que ninguém melhor do que ela conhece agora. Não deixem de ler.

Reencontro


     Convidado por Regina Reis, participei sábado, dia 20, do jantar de confraternização da turma de 1985, da faculdade Dulcina de Teatro, onde fui professor em 1984. Fiquei emocionado com a lembrança e a amizade dela e também com os reencontros calorosos no restaurante Le Jardim, no Clube de Golfe.       
     Muito bom ver os talentos que nasceram ali e floresceram, vindos agora de todo o Brasil, se reencontrando e traçando planos para o futuro. A Dulcina continua sendo a alma do teatro braziliense. Antes fomos assistir à peça Última Cena para Lorca, concepção e direção de André Amaro, no teatro Caleidoscópio.  Belíssimo espetáculo, de um rigor impressionante, tanto nas atuações quanto na parte musical, passando ao público toda a energia e a musicalidade do povo espanhol. Lindo!
No domingo mais reencontros num almoço no Beirute.

Boa segunda-feira a todos

Ricardo Stumpf Alves de Souza

Um comentário:

Unknown disse...

Grande professor RICARDO aqui é seu amigo e aluno RICARDO ABBEHUSEN como vão as coisas?
liguei hoje dia 24/04/2017 para FAINOR e tive a noticia que o Senhor não leciona mais naquela instituição de ensino. Estarei fazendo um mestrado na nossa área de arquitetura e urbanismo na UFBA Universidade Federal da Bahia. Onde o ilustre professor estiver trabalhando se ocorrer uma vaguinha estarei a disposição para passar adiante meus conhecimentos. Abraço
71 98900-0003