Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 14 de novembro de 2010

Cidades sustentáveis III

     Arquitetura orgânica

     Uma das coisas mais interessantes que apareceu no universo da arquitetura nos últimos anos, foi o conceito de arquitetura orgânica.
     Ao contrário das construções denominadas verdes ou ecológicas, as construções orgânicas não se propõem apenas a respeitar a natureza, em relação ao dispêndio de energia ou ao uso de materiais de construção que não impactem o meio ambiente. Elas são, na verdade, mais um movimento estético que ecológico, mas sua estética está ancorada na natureza, naquilo que os permaculturistas chamam de bordas e padrões.
     Essa concepção é interessantíssima pois investiga a funcionalidade das formas da natureza e a maneira como um meio se relaciona com outro através das suas bordas. Explico.
     Segundo a permacultura (cultura permanente) a margem de um rio, por exemplo, é um local de trocas entre duas realidades diferentes dentro de um mesmo ecossistema. O meio líquido e o meio sólido, da terra, trocam substâncias através das suas margens, ou bordas.
     Segundo eles, o mesmo acontece também numa horta, onde há uma atividade de troca com o meio não-horta, mais intenso nas suas bordas, porque é ali que se encontram mais frequentemente os personagens dos meios distintos. Nas bordas haveria mais polinização das flores, por exemplo, porque seria a primeira fronteira que as abelhas encontrariam. Outros insetos que interagem com as plantas, passariam mais por ali do que pelo centro, etc.

     Isso significa que haveria um dinamismo maior nessas áreas de fronteira entre meios distintos, onde a produtividade também seria maior.
     Baseado nisso, em termos de agricultura orgânica, passa ser interessante aumentar a extensão das bordas, para que as trocas também aumentem exponencialmente. Isso explicaria, na natureza, alguns formatos de folhas muito recortadas, por exemplo.
      A observação desses desenhos naturais, como as curvas de rios, bordas de folhas, ou mesmo corpos de animais, como algumas conchas de crustáceos ou de caracóis, inspiraram muitos arquitetos que trabalham com construções ecológicas a recortar ou voltear mais suas edificações, em busca dessa funcionalidade natural que permitiria, por exemplo, um aumento de superfícies de troca de calor ou de absorção de sol e água.
     Os resultados estéticos da arquitetura orgânica são surpreendentes, porque ao invés de parecerem estranhos eles soam familiares. São como coisas que já vivemos antes, em nosso passado ancestral.
     É claro que aliando essa conceituação a técnicas modernas de design chega-se a coisas verdadeiramente lindas e muito agradáveis de se habitar, embora ainda muito longe de poderem ser construídas em larga escala por nossa sociedade industrializada e cada vez mais urbana.
     São coisas para cidades do futuro, com poucos habitantes, onde o crescimento demográfico e a especulação sobre o solo forem pesadelos do passado, mas sinalizam, sem dúvida, um caminho a ser percorrido.

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