Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 12 de setembro de 2010

   Libertação
    


     Prezados amigos.

     Semana passada escrevi sobre o Cena Contemporãnea, festival de teatro internacional, que ocorre em Brasília todos os anos. Dentre as cinco peças que pude assistir, comentei a Balada do Palhaço, de Plínio Marcos, cujo texto final me encantou.
     O texto trata da disputa entre idealismo e pragmatismo, tão atual nesse momento em que as utopias foram todas enterradas pelo capitalismo, em nome de uma realidade que se mostra cada vez mais absurda.
Mas ao contrário da ideologia dominante nos dias de hoje, Plínio faz a apologia do idealismo, não como uma construção utópica de coisas inantigíveis, mas como a matéria prima da verdade, como o único caminho para a libertação da humanidade da sua condição de submissão às realidades dadas como naturais.
     Enquanto o pragamtismo rasga nossos sonhos em nome de uma realidade medíocre, enquanto nossa sociedade abandona o caminho da transformação e envereda pelo da gestão de um mundo que poderia ser muito diferente, mas que nunca muda, Plínio reafirma o contrário.
     Eles nos dá um texto, que embora sem título específico (é apenas parte do texto completo), é uma verdadeira oração à vocação, à liberdade, à força criadora e transformadora que existe em cada ser humano.
     O palhaço Bobo Plin, ao abandonar o circo na última cena, escolhe seu ideal, em detrimento das promessas de ganhos feitas pelo dono do circo, sem dúvida representando o empresário com sua ideologia pragmática.
     O texto, de 1986, é de uma incrível clarividência porque antevê o que estava para acontecer na sociedade brasileira e mundial, no início da rolo compressor neoliberal dos anos 90.
     E então, amigo leitor, se você é daqueles que está na dúvida entre sua vocação e o pragamatismo de um bom emprego, leia e tire suas conclusões.

(Fala do palhaço Bobo Plin na cena final de Balada de um Palhaço)

Ó ideal

Que estás no meu céu interior
Verdade viva
Que faz da minha alma
Imortal
Para que tua tendência
Evolutiva
Seja realizada,
Para que teu nome
Se afirme pelo trabalho
Para que tua revelação
Seja manifestada a cada
Espetáculo
A cada espetáculo concede-me
A idéia criadora
Que assim como ela está
Entendida no meu coração
Seja entendida no meu corpo.


Ó ideal

Preserva-me dos reflexos
da matéria
Que eu compreenda
Que o sofrimento benfeitor
Está na origem da minha
Encarnação
Livra-me do desespero
E que teu nome seja
Santificado
Pela minha coragem
Na prova.


Ó ideal

Faze com que eu não diferencie
O fracasso do sucesso
E perdoa a minha
Dificuldade de comunicação
Assim como eu perdôo
Os que não tem ouvidos de ouvir
Nem olhos de ver

Ó ideal

Destrói meu orgulho
Que poderia afastar-me
Da tua luz-guia
Nutre meu devotamento
Porque és,
Ó ideal
A realeza, o equilíbrio, a força
De minha intuição.

Plínio Marcos

Nenhum comentário: