Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 29 de novembro de 2009

RIO DE CONTAS: A CULTURA ABANDONADA III

PRODUTORES CULTURAIS

Prezado amigo leitor, na sequência das entrevistas sobre a cultura riocontense, publicamos hoje a entrevista com Carlos Landulfo, mais conhecido como Kal da Rádio.

Kal é o âncora da rádio comunitária de Rio de Contas, prestando inúmeros serviços à comunidade. Fizemos a ele duas perguntas: a primeira foi a mesma feita aos entrevistados anteriores: O que você acha da situação atual da cultura em Rio de Contas?



Acho que antes existiam mais manifestações culturais do que hoje. Tinha a Marujada, Terno das Africanas, a Festa da Primavera e havia também casas de candomblé, que desapareceram. Isso mais pelo lado da cultura negra.

Ainda existem cantores na cidade, sem incentivo, sem produção e sem capacitação, enquanto os poucos professores de música são mal remunerados.

Quando os cantores locais são contratados para algum evento é disponibilizado para eles, o pior som e o pior palco, sendo que ainda recebem menos que os artistas de fora. Muita gente que tocava em ternos de reis trocou o terno por um teclado, para ganhar mais.

Temos o Terno de Reis da Várzea, o do Pirulito e o de João de Lúcia, que não quer mais sair por ter sido discriminado (chamado de jegada, que é outra coisa).

Muita gente chega aqui, filma as manifestações e depois some. Os artistas daqui já ficam desconfiados, pois não sabem o que vai ser feito com as imagens, se vão ganhar dinheiro em cima da imagem e da arte deles.

As domingueiras foram um fracasso, em termos de produção. Tudo improvisado e sem qualidade.

Seria necessário fazer um levantamento das manifestações culturais do município, separando o que é folclore, do que é cultura viva, o que é arte do que é artesanato.

Folclore é cultura parada no tempo, serve mais para que as pessoas se reconheçam, uma coisa de identidade mesmo, embora muito bonita e festiva. Cultura viva é arte contemporânea, em movimento constante. As duas tem que ser estimuladas.

Artesanato é habilidade repetitiva. Arte é criação. As duas atividades são importantes e tem que ser incentivadas. A verdade é que não existe cultura sem apoio, sem incentivo, sem financiamento.

Veja a Rádio Comunitária: nós gastamos muito para legalizar a rádio e hoje concorremos com uma rádio comercial, não recebemos nenhum incentivo do governo federal, estadual ou municipal, para nos manter, ao contrário, vivemos prestando serviços gratuitos para o governo local e para a sociedade. Por isso não podemos manter uma programação de melhor qualidade, porque precisamos faturar comercialmente para cobrir os custo de manutenção e temos que trabalhar para todos os públicos.

A segunda pergunta foi:

Você tem uma produção de documentários, batalhou e conseguiu o cinema digital para a cidade (que ainda não foi instalado). Você acha que temos condições de criar um pólo de produção de cinema, documentários e animação, em Rio de Contas?

Não falta talento. O que falta é incentivo, estrutura.

Temos atores, atrizes, músicos, roteiristas, compositores... O que falta é um espaço. O Teatro está todo esbagaçado, sem som e iluminação. Temos inclusive um filme feito aqui, no ano passado, para as eleições. Foi uma experiência muito positiva. Deveríamos ter cursos de arte e música. Para implantar um pólo de cinema seria preciso aprimorar os artistas e técnicos locais. Faltam cursos de arte em geral.

Sobre essa polêmica entre carnaval tradicional e axé, sou a favor da diversidade musical, mas com controle de qualidade.O carnaval é o único momento em que vejo os músicos de Rio de Contas tocando, embora ganhando muito menos (e sempre os últimos a receber).

Mas ainda acho que um carnaval diferenciado atrairia um outro tipo de turistas e daria mais renda para a cidade. Um carnaval mais tranqüilo, com mais cor e mais máscaras.

Eu apóio a criação de uma Secretaria de Cultura.

(Kal é presidente da Associação Comunitária Idéias e Ações dos Nativos de Rio de Contas. É conselheiro eleito e atuante do Conselho Tutelar, comunicador da Rádio Rio de Contas FM e também produtor de documentários)



Abraço a todos



Ricardo Stumpf

Um comentário:

micaele disse...

Kal falou tudo nessa entrevista,pois algumas pessoas de Rio de Contas não dá valor aos artistas de Rio de Contas.Agora quando chega perto das ferias eles logo arrumam toda a cidade para que as pessoas tenha a imagem de Rio de Contas ser uma cidade preservada.E agente que vive aqui sabemos bem a realidade que nao e nada boa.Os artista daqui precisam de incentivo e precisa ser tratado do mesmo jeito que tratam os de fora.Se nao valorizamos os artista daqui os turistas não irá valorizar tambem.